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Deve-se viver apesar de
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Deve-se viver apesar de

Tem uma frase da Clarice Lispector de “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” que diz que devemos viver apesar de. Que é o apesar de que nos empurra pra frente.

“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.

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Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita fui a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”

E, recentemente, venho pensando sobre trabalho. Apesar de, temos trabalho pra fazer. Todos nós. Alguns trabalham para ter o que comer. Outros trabalham pra ter uma casa limpa. Outros trabalham fazendo terapia. Todos trabalham limpando a bunda. Tudo isso é trabalho. Higienizar, dar brilho, manter… É tudo trabalho.

Existem coisas na vida que são prazeirosas e coisas que não são. E existem coisas que são apenas trabalho. Não são nada, mas ainda sim devem ser feitas. E deve-se viver apesar de.

Encarar o trabalho dessa forma tem feito o trabalho ser mais leve. De vez em quando, me sinto sobrecarregado. Culpado. Triste. Queria viver só sendo escritor de ficção e me sinto mal de ter que escrever coisas da vida real para ganhar dinheiro e sobreviver. Mas isso é manutenção da minha vida social. Manutenção é trabalho. Precisa ser feito, não precisa sempre dar prazer. E nem sempre vai.

Talvez nada na vida sempre dê prazer. É ingenuidade pensar assim. Talvez nem se eu fosse um escritor de ficção em tempo integral tipo o Stephen King, eu teria prazer sempre.

E o fato é que isso me mata. Eu sou comandado pelo princípio de prazer, pelo ID, como chamaria Freud. E outras pessoas conseguem encarar o trabalho apenas como trabalho e viver apesar de.

Eu não consigo. Me mata encarar o trabalho como trabalho e encarar como algo que precisa ser feito.

Precisa ser feito apesar de.

a vida é o que você faz dela
Livros, Resenhas

Resenha: A vida é o que você faz dela – Conselhos para pessoas criativas, Adam J. Kurtz

Inspiração e perspectiva para quem produz arte (ou qualquer outra coisa).

Da mente inquieta do designer Adam J. Kurtz vem um chamado para todos os que passam pelos desafios do processo criativo. A partir de uma série de miniensaios manuscritos, este livro oferece toda a sabedoria e empatia de Adam Kurtz, em uma conversa de artista para artista.

“Mestre da injeção de ânimo leve e brincalhona.” ― BuzzFeed

“Adam cruza a linha entre artista & terapeuta.” ― Vice

“Todas as palavras de Adam J. Kurtz são cheias de sabedoria, empatia, acolhimento e boas sacadas.” ― Alanis Morissette

A vida é o que você faz dela foi um livro que conheci por indicação de uma influenciadora que trabalha com artes e design, no Instagram. A promessa do livro é que ele seria uma série de conselhos para pessoas que trabalham diariamente com criatividade, com shots de inspiração e força. Porque sério, só quem trabalha com criatividade sabe o quanto é difícil.

Na época, procurei em e-book e não estava disponível, então esperei um pouco mais e comprei no formato físico mesmo. Quando recebi, entendi tudo. A vida é o que você faz dela vai além de uma leitura, ele te convida para uma viagem que se desdobra em uma linha tênue entre arte e terapia.

O livro é curtinho, pequeno, daqueles que você lê num tapa só. As folhas são lindas, bem decoradas e com frases de aconselhamento para lidar com o dia-a-dia pesado de depender da criatividade e da inspiração para se trabalhar. Cada página é destacável e você pode fazer quadrinhos com as que você mais gosta. Separei algumas que amei, mas ainda tenho dó de destacar e enquadrar:

Quando li “A vida é o que você faz dela” era início de pandemia e a adaptação com os novos modelos de trabalho ainda se faziam muito presentes. O livro é justamente sobre esse momento, com assuntos que permeiam nossa relação com o trabalho. Nele, vemos pautas sobre superar medos, trabalhar para parentes, como ser mais feliz, como se desligar do trabalho de forma leve e palpável.

Eu nunca tinha lido livros nessa linha, de criatividade, exceto Destrua este diário, em épocas áureas e amei a experiência. Agora só preciso da coragem para encher a minha casa com os quadrinhos das páginas destacáveis.

Atualizações

“Carpir ramas é pesado, pagam pouco para muito trabalho. E trabalho pesado…”

Vi sua foto no Facebook e bombava de curtidas e compartilhamentos. Uma garota trans, de pouca idade, carpindo ramas de batata. A legenda dizia que travesti rejeitada e odiada pela família trabalha duro e não dispensa trabalho nenhum. Parece uma linda história de superação se não fossem apenas fatos que evidenciam a decadência social de um grupo que mal é representado dentro de sua própria comunidade. O T no cenário LGBTQ+ ainda é alvo de muito preconceito e violência. Segundo pesquisa do G1, 9 em cada 10 pessoas trans acabam na prostituição. E ainda piora: sua expectativa de vida é de 35 anos, segundo dados do Senado Brasileiro. Metade da média nacional.

Entrei em contato com ela, é de poucas palavras e de família humilde. No começo, ainda como quem não confia em qualquer um, se mostra meio tímida ao contar sua história. “Nasci em uma família muito religiosa e preconceituosa, sempre tive a certeza que tinha algo de errado comigo e que ser menino não era o meu destino”, começa a desabafar S.C., de 16 anos, cursando o terceiro ano do ensino médio em Sapé, no interior da Paraíba. “Dos meus 8 anos em diante, meus pais perceberam que eu fugia muito do meio masculino e me fizeram ter medo de ser eu mesmo. Sofri muito bullying e tive que mudar de escola 5 vezes”, conta.

Dificuldades

S.C. começava a entender que não era igual as outras crianças quando começou a ser perseguida na escola. Apanhava e era excluída de todas as outras. Ainda sem se descobrir mulher trans, fazia de tudo para sua mãe não deixar ir para a escola no dia seguinte. “Meu desempenho nos estudos começaram a cair. Eu não prestava atenção na aula e só pensava o quão rápido eu teria que correr para chegar em casa e os meninos não me baterem na hora da saída”, relembra.

Aos 12 anos, veio o divórcio dos pais. Sua mãe mudou de estado e ela ficou porque ainda estava na metade do ano letivo. Seus pais trabalhavam em uma fazenda e vinham vê-la somente a cada dois meses. “Tive que morar sozinha durante um ano na nossa antiga casa, foi aí que comecei a trabalhar. Foi muito difícil arrumar algo decente, mas sempre busquei ganhar meu dinheiro da forma mais honesta possível”, confessa.

Trabalho infantil

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2016, o Brasil tem aproximadamente 2 milhões de crianças e jovens trabalhando, com idades entre 5 e 17 anos e, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estão entre as atividades que mais oferecem risco à saúde, ao desenvolvimento e à moral das crianças e adolescentes, o trabalho nas ruas, nas carvoarias, nos lixões, na agricultura e no trabalho doméstico.

“Fiz amizade com uma vizinha que me deu todo o apoio. Ela tinha um barzinho e lá eu comecei a trabalhar atendendo as pessoas, servindo mesas”, continua S.C., que apesar da pouca idade, era um “rapaz” bem desenvolvido, alto e com aparência de 17 anos, segundo explica. E foi nesse cenário que sua inocência começou a ser corrompida.

No bar em que trabalhava, vários homens tentaram a aliciar, oferecendo dinheiro em troca de relações sexuais. “Segundo eles, ‘um novinho era muito bom’”, revela, enquanto se atropela para dizer que sempre dispensou, mas trabalhava também em outros lugares. “Fazia serviços em um salão de beleza, juntava reciclagem para vender e aos poucos ia conseguindo meu dinheiro”, avalia.

“O que vemos com a utilização de mão de obra infantil não é algo que ‘enobrece’, como disse o presidente Bolsonaro”, afirmou o Senador Paulo Rocha, da Paraíba, em pronunciamento após declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, em defesa o trabalho infantil. “Quem explora a mão de obra das crianças, na verdade, só procura reduzir os custos para aumentar seus lucros”, completa.

Ao fazer 13 anos, S.C. se mudou para morar com a irmã. Contra sua vontade, foi e ficou 3 meses sem trabalho, até que saiu pelas ruas e encontrou um emprego em um lava-jato. “Percebi que não era aceito pelos meus outros colegas de trabalho, por causa do meu jeito afeminado, decidi sair depois que um me acertou no pescoço com aquele jato de água, que inclusive, doeu”, aponta. E de fato, as maiores dificuldade das empresas, nos dias de hoje, está em repassar suas culturas de diversidade por toda a hierarquia, e a população trans é a que mais sofre com assédios morais e muitas vezes, sexuais.

Os estudos somados à rotina intensa de trabalho começaram a sobrecarregar a garota, que ainda estava no auge de sua infância. “Eu também fazia bicos, carpia quintais, frente de casas e ia pra casa no fim do dia, só dava tempo de me trocar e ir pra escola, a pé, mesmo sendo bem distante. Perdi as contas de quantas vezes eu chegava em casa quase meia noite”, evidencia. E em casa, ainda fazia o trabalho doméstico da irmã que trabalhava demais. Lavava louça, lavava roupa e ainda deixava o café da manhã pronto para o dia seguinte. “Vivi assim por quase 2 anos até que vim morar com a minha mãe, e foi quando decidi ser eu mesma. Eu já tinha me assumido gay aos 14 anos e aos 16, decidi que viveria como mulher trans”, explica S.C. cheia de determinação, como quem parece estar cansada de viver com sua felicidade às custas de terceiros.

Vida nova, trabalho antigo

“Meu pai se negou a falar comigo”, relembra como quem não quer dar muita importância ao assunto e continua, “mas aqui fiz bons amigos que me aceitaram da forma que sou”. No entanto, o preço que se paga por ser quem é pode ser caro para algumas pessoas. S.C. comenta que ainda luta com alguns pensamentos da mãe, mas que continua firme em busca de sua independência. “Aqui na minha cidade é muito ruim de trabalho”, suspira. Porém, o buraco é mais embaixo. As políticas sociais estratégicas para o enfrentamento do trabalho infantil, somada às declarações polêmicas do líder do Executivo, assim como a precarização da fiscalização, trata-se de um visível mascaramento da realidade social trágica de milhões de crianças e adolescentes. Fato que só piora com a proibição da educação sexual nas escolas, cujo preconceito acaba por recair diretamente em pessoas trans, como S.C.

“Apesar de eu não ser aceita, sou uma mulher feliz só pelo fato de ter perdido todo medo que eu tinha de ser eu mesma.”

Hoje em dia, S.C. trabalha carpindo ramas de batata. “Carpir ramas é pesado, pagam pouco para muito trabalho. E trabalho pesado”, revela. Durante as 7 horas de expediente diário, com 15 minutos de descanso por 40 reais sob extrema pressão, ela ainda encontra sua motivação para ser quem é. “Tô seguindo tentando vencer, sempre fui uma mulher esforçada sem medo de trabalho pesado, sou uma ótima aluna na escola e me encontro com notas muito boas”, sorri em meio a tantas injustiças. “Outras pessoas com quem trabalho, recebem 50 reais por diária, e eu recebo só 40. Existe uma desigualdade apesar do trabalho ser o mesmo”, denuncia.

Escola

Dividindo-se entre carpir ramas, reciclar lixo e a escola, perguntei a S.C. como era lidar com tudo isso. “O que mais tem por aqui é lixo nas ruas, eu vou no meu ritmo e decido minha carga horária na reciclagem. Acho que assim estou ajudando minimamente o planeta”, comemora.

Na escola, ela se considera feliz com a aceitação dos colegas e professores. “É a primeira escola que vejo abraçar tanto a causa LGBTQ+. Todos os eventos a gente aborda esse tema com várias áreas diferentes, lá eu me sinto em casa e amada”, declara.

E além de tudo, S.C. diz que é feliz. “Apesar de eu não ser aceita, sou uma mulher feliz só pelo fato de ter perdido todo medo que eu tinha de ser eu mesma. O V. (nome de batismo) não existe mais. Agora é a S.C. e sempre foi ela que me deu forças pra seguir”, se emociona e finaliza, “Porque não foi fácil. Mas ainda tenho mais objetivos para conquistar.”

Atualizações

Saiba como conseguir o visto adequado para trabalhar e estudar na Irlanda ou Austrália

Fazer intercâmbio e adquirir um pouco de experiência no mercado de trabalho no exterior é o desejo de muitos brasileiros. Mas para quem pretende conciliar as atividades de trabalhar e estudar em outro país, é preciso estar atento a algumas questões.

Para auxiliar nessa empreitada, a Diretora da Divisão de Vistos da CI – Intercâmbio e Viagem Fátima Kaiser, explica o caminho para adquirir o visto certo em dois dos destinos favoritos dos brasileiros para estudar e trabalhar: Austrália e Irlanda.

É importante saber que nem todos os países permitem conciliar trabalho e estudo, por esse motivo é essencial pesquisar bem os destinos. A Austrália e a Irlanda são dois destinos que têm o mercado de trabalho bastante receptivos a estrangeiros, o que facilita na hora de tirar o visto de estudante”, explica a diretora.

Pensando nessa realidade, a CI realizará a Feira Trabalhar e Estudar- Irlanda e Austrália no dia 16 de setembro, em São Paulo, direcionada para quem pretende fazer um intercâmbio que alie curso de idioma e trabalho em algum dos dois países. A feira acontecerá também em outras duas cidades, Rio de Janeiro e Porto Alegre, nos dias 19 e 21 de setembro, respectivamente.

HORA DE TIRAR O VISTO DE ESTUDANTE PARA A AUSTRÁLIA

A terra dos cangurus é um ótimo destino para quem pretende estudar e ainda encontrar um emprego. Com o visto adequado, o aluno que estiver matriculado em uma escola por mais de 3 meses, pode trabalhar até 20 horas semanais. “Um diferencial da Austrália é que para tirar o visto de estudante, a pessoa pode optar por se matricular em um curso profissionalizante, se ela já tiver um bom nível de inglês”, comenta.

Como tirar o visto? Antes de tudo, é preciso se cadastrar no site do Departamento de Imigração Australiano. “Apesar de estar em inglês, as informações solicitadas no formulário são simples, como nome, motivo da viagem, se alguém vai viajar junto com o intercambista e o tempo de permanência no país”, explica Fátima.

Além da documentação obrigatória, o Departamento ainda pode solicitar evidências de sua capacidade financeira e proficiência na língua inglesa, dependendo do curso escolhido.

HORA DE TIRAR O VISTO DE ESTUDANTE PARA A IRLANDA

O procedimento para conseguir o visto para a Irlanda é feito no próprio país de destino. “O primeiro contato com a imigração que o estudante terá será no aeroporto de Dublin, então ele já deve ter preparado toda a documentação necessária, deixar tudo em mãos e de fácil acesso, para não perder ou esquecer nada no caminho”, comenta.

Para conseguir a permissão de trabalho no país, o estudante precisa estar matriculado em um curso de inglês acima de 25 semanas, e terá que se registrar no escritório geral da imigração, que pode conceder visto para 8 meses. “Uma dica importante é agendar o quanto antes a entrevista no escritório da imigração. Se tiver com toda a documentação certa, pode marcar até aqui pelo Brasil, agilizando o processo na Irlanda”, informa a diretora

Nos dois casos é importante deixar claro a intenção da entrada no país. Na Austrália, a clareza na hora de preencher o formulário facilitará a aprovação do visto ainda aqui no Brasil, e na Irlanda aumentará a chance de adquirir o visto Stamp 2, esticando a sua estadia no país”, conclui Fátima Kaiser.