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Review: The Sinner (2017)

Era por volta das 18 de um domingo. Bianca tinha ido me visitar e antes de ir embora disse “miga, vamos ver só um episódio dessa série aqui rapidinho”. Ela tinha me recomendado The Sinner várias vezes, mas eu sempre alegava que não tinha tempo.

Minha amiga jogou a Parte I (ep. 1) dá série no meu colo e depois foi embora. Por volta da uma da manhã, eu estava desesperada mandando mensagem pra ela. Precisava muito conversar sobre o que eu tinha acabado de assistir.

Traguei as 8 Partes de The Sinner de uma vez só. A série dramática de suspense, baseada em romance de mesmo nome, lançado em 1999, da autora alemã Petra Hammesfahr, tem uma estrutura narrativa que procura nos deixar vivendo 6 horas seguidas em plena tensão, procurando saber como tudo aquilo vai terminar.

A fórmula não é nova, pode ser vista em várias produções do gênero e nós já a esperamos: fazer com que o espectador crie várias hipóteses + refutar todas no final + “estava aqui o tempo todo só você não viu”.

Ainda assim, The Sinner se aproveita muito bem das prerrogativas de seu gênero. Cada parte (ou episódio) acrescenta novas informações à narrativa à medida que contradiz ou desmente informações de episódios anteriores, terminando com um gancho bem construído para a parte seguinte.

Ademais, a direção é eficiente; a filmagem repleta de cenas com uns planão da porra; as atuações de Jessica Biel e Bill Pullman estão excelentes; e o tempo da narrativa e da filmagem apresentam-se muito bem trabalhados em favor do gênero.

De perto, ninguém é normal

A série foi divulgada a partir da seguinte premissa:

The question is not what happened, the question is: why.


Em um dia de descanso na praia com sua família, Cora Tannetti (Jessica Biel) de repente esfaqueia um homem desconhecido até a morte. Tudo parecia estar resolvido: todos viram o crime acontecer, Cora confessou e havia provas incontestáveis. Caso encerrado? Não para o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) que desconfia da “simplicidade” com que tudo foi resolvido e inicia uma investigação para entender por que uma mãe de família, sem antecedentes criminais e aparentemente “normal”, esfaquearia um homem à luz do dia em uma praia lotada.

Harry é o detetive das narrativas policiais o qual tem um quebra-cabeça em mãos, agora, precisa resolvê-lo. Acompanhamos seus passos e as novas pistas que encontra, ficamos frustrados quando alguma dessas pistas leva a um beco sem saída e comemoramos ao conseguir estabelecer ligações entre as personagens que aos poucos são mostradas. Contudo, o grande mérito da série está na profundidade psicológica destas personagens.

A partir do modelo contemporâneo de criação de narrativas que evidencia a preferência por anti-heróis, personagens imorais, lunáticos, excêntricos, inescrupulosos, etc., The Sinner traz duas personagens principais (Cora e Harry) que para além da narrativa, elas mesmas são um quebra-cabeça, mostrando um conflito essencial que pode estar presente em todos nós: a essência x a aparência.

A história se desenvolve em torno do que está à mostra e do que está escondido: uma mãe, esposa e trabalhadora exemplar que guarda um passado de abusos; um detetive persistente e talentoso que não consegue salvar o próprio casamento e tem gostos sexuais masoquistas.

THE SINNER – “Parte VI” – Pictured: Bill Pullman como Harry Ambrose, Jessica Biel como Cora Tannetti – (Photo by: Peter Kramer/USA Network).

A própria abertura da série, baseada no Teste de Rorschach, faz referência a questões psicológicas que estarão presentes na narrativa, principalmente a relação consciente x subconsciente e acontecimentos traumáticos que podem modificar nossa existência.

Em resumo, The Sinner se apresentada como uma série totalmente dentro do gênero suspense, contudo, se destaca pela complexidade das personagens, pelas atuações de Biel e Pullman, pela beleza dos quadros e pela atenção dada à psicologia das personagens.

Continua?

Estreando em 2 de agosto de 2017, The Sinner teve somente 1 temporada, dirigida por Derek Simonds. A história de Cora foi concluída no último episódio (8) e todos os mistérios foram revelados. Contudo, em algumas entrevistas, Derek não destacou a possibilidade de dar continuidade à trama.

Podendo ser vista também como uma minissérie, a produção está com 94% no site rottentomatoes.com e tem tido boa recepção da crítica e dos espectadores, fatores que podem animar a rede USA Network a querer comprar uma segunda temporada.

Caso haja mesmo uma continuidade, provavelmente ela será baseada na personagem de Harry que no final no último ep ainda não conseguiu solucionar seus problemas pessoais.

Com ou sem continuação, a “moral” da série é clara: há um pecador dentro de todos nós.