Nunca fui grande fã dos clássicos, até que no 9º ano do Ensino Fundamental, meu professor de literatura passou como leitura A Viuvinha e Cinco Minutos e foi aí que me apaixonei, não só por nossos clássicos da literatura, mas por José de Alencar. Principalmente, por José de Alencar. Depois veio Lucíola, que é sem dúvidas o meu romance romântico urbano favorito. E o grande livro desta resenha.
Em Lucíola, Alencar dá a voz à Paulo Dias, que conta, por meio de cartas, como começou seu relacionamento com uma mulher, Lúcia.
Paulo chega a cidade do Rio de Janeiro e logo é convidado por seu amigo, Sr. Sá, à Festa da Glória. E então seus olhos batem em Lúcia, que desde o primeiro momento arrebata seu coração. De início, nosso mocinho fica encantado com a beleza da nossa mocinha, mas nem sabia o que estava por trás de todo aquele charme.
Um dos grandes ”segredos” – nem tão secretos assim -, de Lúcia é que ela é uma meretriz – gostaria de dizer que depois que aprendi a falar meretriz, não parei mais.
Eles são apresentados por Sá, que já havia sido amante de Lúcia. E após saber dessas coisas, Paulo continua atrás da bela jovem, afinal, seu coração palpitava pela moça.
“Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida só se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade.(…) Terminei ontem este manuscrito, que lhe envio ainda úmido de minhas lágrimas. Relendo-o, admirei como tivera a coragem de alguma vez, no correr desta história, deixar minha pena rir e brincar, quando meu coração ainda sente saudade, que sepultou-se nele para sempre. É porque, repassando na memória essa melhor porção de minha vida, alheio-me tanto do presente, que revivo hora por hora aqueles dias de ventura, como de primeiro os vivo, ignorando o futuro, e entregue todo às emoções que senti outrora. (…) Há seis anos que ela me deixou; mas eu recebi sua alma, que me acompanhará eternamente. Tenho-a tão viva dentro e presente no meu coração, como se ainda visse reclinar-se meiga para mim. Há dias no ano e horas no dia que ela sagrou com a sua memória, e lhe pertencem exclusivamente. Onde quer que eu esteja, a sua alma me reclama e atrai; é forçoso então que ela viva em mim. (…) Há nos cabelos da pessoa que se ama não sei que fluido misterioso, que se comunica com o nosso espírito. (…)”
De início, eles criam uma amizade, e após, acabam tornando-se amantes. Paulo não queria mais Lúcia como uma cortesã e percebe que a mesma, também não queria que ele fosse apenas mais um de seus ganhos ao longo da vida. E então, decidem iniciar uma relação que se mostra ser toda conturbada, cheia de brigas e términos, que sempre levavam a nossa protagonista de volta a sua vida de prostituta.
Na tentativa de deixar tal vida de lado, Lúcia se muda para ara uma casa mais simples no interior junto com sua irmã mais nova, Ana. E neste momento, que é um dos meus favoritos, nós vemos que o amor entre Paulo e Lúcia vai muito além de um amor carnal, torna-se algo espiritual, algo que só eles sentem e conseguem descrever. E neste momento, Lúcia conta para Paulo todos os motivos que a levaram até tal status na sociedade do Rio de Janeiro, tudo que passou e que a levou a torna-se quem se tornou.
Após tal confissão, ela descobre que está grávida, mas não aceita tal acontecimento. Ela acredita que seu corpo é sujo e não é capaz de gerar uma vida. E vem a falecer, deixando Paulo com a promessa de que cuidaria de Ana, sua irmã, até o dia de seu casamento.
Alencar me toca com sua escrita e a forma como descreve Lúciola – minha personagem favorita de toda obra Alencariana. O fato da nossa mocinha encontrar o amor e querer mudar de vida por ele, para ser feliz com ele, me toca de uma forma sem igual e inunda meus olhos de lágrimas. Sua busca pela autopiedade e esquecimento do passado é bonita e emocionante de se ver, pena que o final acabara sendo tão trágico, já que a mesma não consegue se perdoar por conta da sociedade que não sabe esquecer seus atos.