Agora você pode conferir o 1º capítulo traduzido exclusivamente para o Beco Literário:
Capítulo 1: Você pode por favor parar de matar meu bode?
NOTA MENTAL: Se você leva uma Valquíria para tomar um café, você vai ficar com a conta e com um corpo morto.
Eu não via Samirah al-Abbas a quase 6 meses, então quando ela ligou e disse que precisávamos conversar sobre uma questão de vida ou morte eu concordei na hora.
(Tecnicamente eu já estou morto, o que significa que toda essa história de vida ou morte não funcionou, mas mesmo assim… Sam soava ansiosa.)
Ela ainda não tinha chego quando eu cheguei no Thinking Cup em Newbury Street. O lugar estava lotado como sempre, então eu entrei na fila para comprar café. Alguns segundos depois, Sam voou, literalmente, logo acima da cabeça dos donos do Café.
Ninguém olhou ou piscou. Mortais comuns não são muito bons em entender de coisas mágicas, o que é muito bom, senão teríamos moradores de Boston gastando a maioria do seu tempo correndo em círculos fugindo em pânico de gigantes, trolls, ogros e einherjar com machados de batalha e café quente.
Sam pousou perto de mim no seu uniforme escolar – tênis brancos, calças cáqui e uma camisa de manga comprida da marinha com o logotipo da King Academy nela. Um hijab verde cobria seus cabelos. Um machado estava pendurado em seu cinto. Eu estava bem convencido de que o machado não fazia parte das normas da escola.
Por mais grato que eu estivesse por vê-la, notei que a pele embaixo dos seus olhos estava mais escura que o normal. Ela estava tremendo sobre os próprios pés.
“Oi, ” eu disse. “Você está horrível.”
“Muito bom te ver também, Magnus.”
“Não, quero dizer… não horrível como diferente do normal horrível. Apenas horrivelmente exausta. ”
“Quer que eu arranje para você uma pá para você cavar esse buraco mais fundo? ”
Levantei minhas mãos, me rendendo. “Onde você esteve durante um mês e meio? ”
Os ombros dela enrijeceram. “Minha carga horária esse semestre está me matando. Eu estou ensinando crianças depois da escola. Depois, como você deve lembrar, tem o meu trabalho de meio período ceifando almas e realizando missões ultrassecretas para Odin. ”
“Vocês crianças de hoje e seus horários ocupados. ”
“E no topo de tudo isso… tem as aulas de pilotagem. ”
“Aulas de pilotagem? ” Nós tínhamos passado do limite. “Tipo aviões? ”
Eu sabia que o sonho da Sam era ser piloto profissional algum dia, mas eu não tinha me dado conta que ela já estava tendo aulas. “Você pode fazer isso com dezesseis anos? ”
Os olhos dela faiscaram de empolgação. “Meus avós nunca que poderiam pagar pelas aulas, mas os Fahdlans têm um amigo que tem uma escola de pilotagem. Eles finalmente convenceram Jid e Bid”
“Ah.” Eu sorri. “Então as aulas são um presente de Amir. ”
Sam corou. Ela é a única adolescente que eu conheço que é comprometida, e é fofo como ela fica nervosa quando fala sobre Amir Fahdlan.
“Essas aulas foram as coisas mais esclarecedoras, mais incríveis… ” Ela suspirou nervosamente. “Mas chega disso. Eu não te trouxe aqui para falar da minha carga horária. Nós temos um informante para encontrar. ”
“Um informante? ”
“Essa pode ser a chance que eu tenho esperado. Se a informação dele for boa.“
O celular dela tocou. Ela tirou ele do bolso, olhou para a tela e amaldiçoou. “Eu tenho que ir. ”
“Mas você acabou de chegar. ”
“Negócios de valquíria. Possivelmente um código 3-8-1: morte heroica em progresso. ”
“Você tá inventando isso.”
“Não estou.”
“Então… alguém pensa que está prestes a morrer e mandam uma mensagem pra você ‘Estou caindo! Preciso de uma Valquíria urgente!’ seguido por um monte de emojis de carinhas triste?”
“Eu me recordo de ter pego sua alma e levado para Valhalla. Você não me mandou mensagem. ”
“Sim, mas eu sou especial. ”
“Apenas pegue uma mesa lá fora, ” ela disse. “Encontre meu informante. Eu estarei de volta o mais breve possível. ”
“Eu não sei nem como o seu informante aparenta ser. ”
“Você vai reconhece-lo quando o ver. ” Sam prometeu. “Seja corajoso, e me compre um bolinho. ”
Ela voou para fora como uma Super Muçulmana, me deixando paea pagar nosso pedido.
Eu comprei dois cafés extragrandes e dois bolinhos e encontrei uma mesa do lado de fora.
A primavera chegou cedo em Boston. Manchas de neve suja ainda se agarravam aos freios como placa bacteriana, mas as cerejeiras estalaram com botões brancos e vermelhos. As janelas das lojas exibiam as mais sortidas plantas florescidas. Turistas lotavam as ruas para aproveitar a luz do sol.
Sentado do lado de fora da cafeteria, confortável em minha recém-lavada calça jeans, camisa e uma jaqueta jeans, eu me toquei que essa seria a primeira primavera em 3 anos que eu não seria um sem-teto.
Março passado, eu estaria arrecadando comida de lixeiras. Estaria dormindo embaixo da ponte do Public Garden, vagando por aí com os meus parceiros Heart e Blitz, evitando os policiais e tentando ficar vivo.
Então, dois meses atrás, eu morri lutando contra um gigante de fogo. Acordei no Hotel Valhala como um dos guerreiros einherjar de Odin.
Agora eu tenho roupas limpas. Eu tomo banho todos os dias. Eu durmo em uma cama confortável todos os dias. Posso me sentar nessa mesa de café, comer comida que eu realmente tenha pago por ela, e sem estar preocupado com quando o guarda me expulsaria dela.
Desde meu renascimento, eu me acostumei com um monte de coisas estranhas. Viajei os Nove Mundos encontrando deuses Nórdicos, elfos, anões e um monte de monstros cujo os nomes eu não consigo pronunciar. Consegui uma espada mágica que está presa ao meu pescoço na forma de um cordão com um pingente que é uma runa. E além disso, tive uma conversa de derreter os miolos com minha prima Annabeth sobre os deuses Gregos que estão em volta de Nova York e fazem a vida dela bastante complicada. Aparentemente a América do Norte estava cheia de Deuses Antigos. Nós temos uma grande infestação.
Tudo isso eu aprendi a aceitar.
Mas voltar para Boston em um belo dia de primavera, passeando por ai como uma criança normal?
Isso foi estranho.
Analisei a multidão de pedestres, procurando pelo informante de Sam. Você vai reconhece-lo quando vê-lo, ela prometeu. Perguntei-me que tipo de informação esse cara tinha, e porque Sam definiu como caso de vida ou morte.
Minha visão se prendeu na loja do outro lado da rua. Acima da entrada, a placa de bronze e prata ainda brilhava orgulhosamente: Blitzen’s Best, mas a loja estava fechada. A janela da frente estava coberta por uma camada de papel posta por dentro, com uma mensagem escrita à mão com marcador vermelho: Fechado para remodelamento. Voltamos em breve!
Estava esperando que pudesse perguntar a Samirah sobre isso. Eu não tinha a menor ideia do motivo do meu velho amigo Blitzen ter desaparecido subitamente. Um dia a algumas semanas atrás, eu estava andando e encontrei a loja fechada. Desde então, não tenho ouvido nenhuma palavra de Blitz ou Hearthstone, o que não era do feitio deles.
Pensar nisso me deixou tão preocupado que eu quase não vi nosso informante antes que ele tivesse quase em cima de mim. Mas Sam estava certa: Ele se destaca na multidão. Não é todo dia que você vê um bode em um casaco caro.
Havia um chapéu de porco preso entre seus chifres encaracolados. Um par de óculos escuros estava preso ao seu nariz. Seu casaco caro vivia se emaranhando em seus cascos traseiros.
Apesar de seu inteligente disfarce, eu o reconheci. Eu matei e comi essa cabra em particular em um outro mundo, o que é o tipo de experiência que você não esquece.
“Otis, ” Eu disse.
“Shhh, ” Ele disse. “Eu estou disfarçado. Me chame de… Otis. ”
“Eu não estou seguro de que essa seja a definição de disfarce, mas ok. ”
Otis, conhecido como Otis, subiu na cadeira que eu tinha reservado para Sam. Ele se sentou em seus quartos traseiros e botou seus cascos frontais em cima da mesa.
“Onde está a Valquíria? Ela está disfarçada também? ” Ele cheirou a pasta suspensa na cadeira da mesa ocupada mais próxima como se achasse que Sam estaria escondida dentro da pasta.
“Samirah teve que ir ceifar uma alma, ” Eu disse. “Ela voltará logo. ”
“Deve ser muito legal ter um propósito na vida, ” Otis suspirou. “Bem, obrigado pela comida. ”
“Isso não é pra…“
Otis devorou o bolinho da Sam com embalagem e tudo.
Na mesa próxima a nossa, um casal de idosos olhou para meu amigo bode e sorriu. Talvez o senso mortal deles tenha percebido que era uma criança fofa ou um cachorrinho divertido.
“Então,” Tive um momento difícil vendo Otis devorar a pasta da mesa ao lado e ver o amontoado de papéis babados escorrendo pelo seu casaco caro. “Você tinha alguma coisa pra nos contar? ”
Otis arrotou. “É sobre o meu mestre.”
“Thor.”
Otis estremeceu.
“Sim, ele.”
Se eu trabalhasse para o deus do Trovão, eu também estremeceria ao ouvir o nome de Thor. Otis e seu irmão, Marvin, puxavam a carruagem do deus. Eles também proviam um estoque de carne de bode infinito. Toda noite, Thor mata os dois e os devora no jantar. Toda manhã, Thor ressuscita eles. Esse é o motivo pelo que vocês têm que ir para a escola crianças. Para quando vocês crescerem não terem que arranjar um emprego como bode mágico.
“Eu finalmente tenho uma pista. ” Otis disse, “Sobre aquele certo objeto que meu mestre perdeu. ”
“Você quer dizer o mart…”
“Não diga isso em voz alta!” Otis avisou. “Mas, sim… seu mart.”
Lembrei-me do último janeiro, quando conheci o deus do Trovão. Bons tempos ao redor da fogueira, ouvindo os peidos de Thor, falando sobre suas séries favoritas, reclamando sobre seu martelo perdido com o qual ele costumava matar gigantes e assistir streaming de séries, e mais peidos.
“Ainda está perdido? ” perguntei.
Otis bateu seus cascos contra a mesa. “Bem, não oficialmente, é claro. Se os gigantes soubessem com toda certeza que Thor está sem o seu você-sabe-o-quê, eles invadiriam o mundo dos mortais, destruiriam tudo e me mandariam para um fosso extremamente fundo. Mas, não oficialmente…sim. Nós temos procurado por meses sem sorte. Os inimigos de Thor estão ficando mais ousados. Eles sentem fraqueza. Eu falei para o meu terapeuta que isso me lembra quando eu era uma criança bode na escola de bodes e os valentões me intimidavam. ” Otis ficou com um olhar extremamente distante em seus olhos de bode amarelos com duas listras pretas. “Eu acho que foi quando meu stress pós-traumático começou. ”
Essa foi a minha deixa para passar horas falando com Otis sobre seus sentimentos. Sendo uma pessoa ruim como sou, não aproveitei.
“Otis, ” Eu disse, “Da última vez que nós vimos você, nós encontramos um bom bastão de ferro para usar como arma substituta. Ele não é exatamente indefeso. ”
“Não, mas o bastão não é tão bom quanto o.…mart. Ele não inspira o mesmo terror nos gigantes. Além disso, Thor fica nervoso ao tentar ver suas séries. A tela é pequena e o sinal é péssimo. Eu não gosto quando Thor está nervoso. Fica mais difícil pra mim de manter o meu espaço feliz.
Um monte de coisas sobre isso não fazia sentido: Por que Thor teria tanto problema pra encontrar seu próprio martelo; como ele conseguiu manter o segredo sobre sua perda longe dos gigantes por tanto tempo; e a ideia de que Otis tivesse um espaço feliz.
“Então, Thor quer a nossa ajuda. ” Eu adivinhei.
“Não oficialmente. ”
“Claro que não. Todos nós temos que usar casacos caros e óculos escuros. ”
“Essa é uma excelente ideia, ” Otis disse. “De qualquer forma, eu disse à Valquíria que manteria ela informada já que ela é a encarregada de Odin… você sabe, missões especiais. Essa é a primeira pista boa que eu consegui sobre a localização daquele certo objeto. Minha fonte é confiável. Ele é um outro bode que vai ao mesmo psiquiatra. Ele ouviu alguns rumores no seu celeiro.
“Você quer que nós persigamos uma pista baseada em fofoca de celeiro que você ouviu na sala de espera do psiquiatra. ”
“Isso seria incrível. ” Otis tinha se levantado tanto sobre os cascos traseiros que eu fiquei com medo que ele caísse da cadeira. “Mas vocês precisam que ser muito cuidadosos.”
Precisei de toda a minha força para não rir. Eu joguei pegue-a-bola-de-lava com gigantes de fogo. Eu voei de águia sobre os terraços dos prédios de Boston. Eu pulei de cima da Serpente do Mundo dentro do Massachusetts Bay e derrotei o lobo Fenrir com um novelo de lã. Agora esse bode estava dizendo para ter cuidado.
“Então onde está o mart?” Eu perguntei. “Jotunheim? Nilfheim? Peidodethorheim?
“Você está provocando” O óculos preto escorregou sob o focinho do Otis. “Mas o mart está em um diferente tipo de local perigoso. Está em Provincetown.”
Eu tinha memórias vagas sobre o local. Minha mãe me levou no local para um final de semana durante um verão quando eu tinha 8 anos. Lembrei-me de praias, cascas de lagostas e um monte de galerias de arte. A coisa mais perigosa que encontramos foi uma gaivota com síndrome de intestino irritável.
Otis abaixou a sua voz. “Tem um carrinho de mão em Provincetown – o carrinho de mão da Criatura.”
“Isso é como um carrinho de rolimã?”
“Não, não. Uma Criatura…” Otis estremeceu. “Bem, uma Criatura é um poderoso morto-vivo que gosta de coletar objetos mágicos. Uma tumba de uma Criatura é chamada de…é chamada de carrinho de mão. Desculpe, eu tenho dificuldades em falar sobre Criaturas, me faz lembrar do meu pai.”
Isso levantou mais um monte de questões sobre a infância do Otis, mas eu decidi deixa-las para o terapeuta dele.
“Tem um monte de lar de Criaturas Vikings mortos-vivos lá?” Perguntei.
“Só uma, até onde sei. Mas é o suficiente. Se aquele certo objeto estiver lá, será bem difícil de recuperar debaixo da terra e guardado por magias poderosas. Você vai precisar dos seus amigos — O anão e o elfo.”
Isso seria ótimo, se eu tivesse alguma ideia de onde qualquer um desse amigos estavam. Eu esperava que Sam soubesse mais do que eu.
“Por que Thor não vai e checa esse carrinho de mão ele mesmo?” Perguntei. “Espere…deixe eu adivinhar. Ele não quer chamar atenção. Ou ele quer nos dar uma chance de ser heróis. Ou é trabalho pesado e tem algumas séries que ele está atrasado.”
“Para ser justo,” Otis disse. “A nova temporada de Jessica Jones acabou de começar a ser exibida via streaming.”
Não é culpa do bode, eu disse a mim mesmo. Ele não merece levar um soco.
“Tudo bem,” Eu disse. “Quando a Sam chegar aqui, vamos falar sobre estratégia.” “Eu não estou tão certo de que deveria esperar com você.” Otis lambeu uma migalha da sua lapela. “Eu devia ter mencionado isso antes, mas entenda, alguém… ou alguma coisa…tem estado me perseguindo.”
Os pêlos da minha nuca se arrepiaram. “Você acha que eles te seguiram até aqui?”
“Não tenho certeza,” Otis disse. “Espero que meu disfarce tenho jogado eles para longe.”
Ah, incrível. Pensei.
Eu verifiquei a rua mas não vi nenhum óbvio inimigo. “Você conseguiu dar uma boa olhada nesse alguém-barra-alguma coisa?”
“Não,” Otis admitiu. “Mas Thor tem uma gama muito grande de inimigos que adorariam impedi-lo de pegar de volta o seu… o seu mart de volta. Eles não gostaria que eu passasse essas informações para você, especialmente essa última parte. Você tem que avisar Samirah que…”
THUNK.
Vivendo em Valhalla, estou acostumado com armas mortais vindo absolutamente do nada, mas mesmo assim eu fiquei surpreso em ver um machado atravessado no peito do Otis.
Eu pulei sobre a mesa para ajudar Otis. Como filho de Frey, deus da fertilidade e da saúde, Eu consigo fazer algumas coisas bem legais do tipo primeiros socorros mágicos de vez em quando. Mas assim que eu toquei Otis eu percebi que era tarde demais. O machado tinha atravessado seu coração.
“Oh, deuses.” Otis tossiu sangue. “Eu vou apenas…morrer… agora.”
Sua cabeça pendeu para trás. Seu chapéu de porco saiu rolando pelo pavimento. Uma moça sentada atrás de nós começou a berrar em pânico como se tivesse acabado de perceber que Otis não era um bebê fofo ou um cachorrinho. Ele era, de fato, um bode morto.
Olhei pelos terraços dos prédios do outro lado da rua. Julgando pelo ângulo que o machado veio, ele deve ter vindo de algum lugar mais ou menos…Sim. Eu peguei um lampejo de movimento, assim que o assassino desviou para fora da vista, uma figura vestida de preto com um capacete de metal.
Tanta coisa por um agradável copo de café. Puxei o pingente mágico do meu cordão e corri atrás do assassino de bodes.
P.s.: em caso de reprodução, favor dar os devidos créditos.