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Anti-heróis: A nova fase

Todo mundo tem uma história trágica de amor. Aquele romance que tinha tudo para dar certo e não deu. Aquele romance que deu certo por muito tempo e algo trágico separou. Alguém, que mesmo com o passar do tempo e das circunstâncias ainda faz seu coração bater mais forte. Nós queremos ouvir a sua história e publicar aqui, no Beco Literário na nossa nova seção: anti-heróis.

Baseado no álbum novo do Jão, Anti-herói, que conta a história de um amor que devastou e foi embora, nós vamos ouvir a sua história e reescrevê-la aqui no Beco Literário para que possa ser eternizada e ressignificada, afinal todo mundo tem o seu the one that got away.

ATENÇÃO: O RELATO ABAIXO TEM GATILHOS DE SUICÍDIO, ESTUPRO, RELACIONAMENTOS ABUSIVOS E AGRESSÃO VERBAL E EMOCIONAL. NÃO PROSSIGA CASO VOCÊ SEJA SENSÍVEL A UM DESSES ASSUNTOS E NÃO DISPENSE AJUDA PROFISSIONAL.

CVV – Centro de Valorização da Vida – Ligue 188 se precisar conversar

Eu tentei suicídio uma vez. Quase deu certo. Algumas semanas depois, conforme as coisas foram se assentando, eu concordei em deixar isso pra trás e começar uma nova fase da minha vida. Eu só não esperava que essa nova fase fosse ser uma pior que a anterior.

Eu ainda estava muito fragilizada, com tudo o que aconteceu e com toda a minha vida. Eu me sentia muito perdida com as coisas que aconteciam e como eu daria continuidade nas coisas.

Foi então que conheci um rapaz chamado Bruno*, por acaso. Eu nunca o tinha visto antes e me chamou a atenção o quanto ele era legal. Fiquei na minha, eu não queria me envolver com mais ninguém. As pessoas me incentivaram a querer ficar com ele. Uma pessoa que eu nunca tinha ouvido falar. Mas, como eu queria começar uma nova fase na minha vida, acabei topando. Uma amiga minha até tentou me alertar, me trazer de volta para a realidade, dizendo que eu não o conhecia muito bem, mas eu acabei ignorando.

Conversamos poucas vezes até que viramos namorados. Tudo em menos de um mês. Ele demonstrava ser bem fofo e eu sentia vontade de te-lo perto de mim. Ele me fazia bem e eu acabei achando que minha nova fase seria incrível. Foi então que as coisas começaram a mudar e eu não tive mais forças de lutar.

Os momentos que eram para serem especiais, legais, não foram. Ele começou a querer coisas que eu não queria. Ele queria me agarrar. Passar a mão em lugares que eu não gostava. E eu não conseguia fazer nada. Ele era mais forte que eu. Comecei a ter muito nojo dele e de mim mesma.

Tudo isso era muito ruim para mim. Eu não sentia como se houvesse respeito comigo. Fui desvalorizada, perdi minha voz. Eu não tinha ninguém que pudesse me ajudar. A pessoa que eu deveria confiar era a pessoa que eu menos confiava.

Quando eu tomava banho, eu sentia um nojo intenso de mim mesma. Eu me culpava demais por estar começando minha nova fase e estar passando por aquilo. Eu não conseguia terminar com ele, porque eu ainda sentia algum tipo de afeto. Apesar de hoje eu perceber que não sei que tipo de afeto era aquele.

Me senti presa a ele. Mas ao mesmo tempo, eu pensava: se não for com ele, não vai ser com mais ninguém. Eu já tinha passado por tanta coisa ruim, o próximo poderia ser bem pior. E se ninguém mais me querer? Por que alguém mais iria me querer depois de tudo isso?

Dias se passaram e ele me tocou de novo. Mas dessa vez foi de outra forma. Ele simplesmente fez aquilo que eu mais temia. Não tentei me afastar porque nunca adiantou. Esse dia, da minha “nova fase” ficou marcado pra sempre na minha vida.

Nunca mais me vi digna de ser amada. Eu tinha perdido aquilo que tinha mais orgulho de ter. Senti muita vergonha do que aconteceu.

Algumas semanas depois ele terminou comigo e saiu falando por aí que eu era louca. Mas se tem uma coisa que eu sou, é vítima. Ainda é difícil admitir e pensar que fui estuprada, desrespeitada, violada. Já faz alguns anos e até hoje me sinto mal por não ter forças para me livrar daquilo.

Eu não sei se conseguiria evitar o pior naquele tempo. Faziam poucos meses que eu tinha quase morrido. E de certa forma, isso só me deixou ainda pior.

Tem uma história como “A nova fase” e quer contar aqui na “Anti-heróis”? Envie para [email protected]. *Os nomes foram e serão trocados para manter as identidades devidamente preservadas.

os últimos momentos
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Anti-heróis: Os últimos momentos

Todo mundo tem uma história trágica de amor. Aquele romance que tinha tudo para dar certo e não deu. Aquele romance que deu certo por muito tempo e algo trágico separou. Alguém, que mesmo com o passar do tempo e das circunstâncias ainda faz seu coração bater mais forte. Nós queremos ouvir a sua história e publicar aqui, no Beco Literário na nossa nova seção: anti-heróis.

Baseado no álbum novo do Jão, Anti-herói, que conta a história de um amor que devastou e foi embora, nós vamos ouvir a sua história e reescrevê-la aqui no Beco Literário para que possa ser eternizada e ressignificada, afinal todo mundo tem o seu the one that got away.

ATENÇÃO: O RELATO ABAIXO TEM GATILHOS DE AGRESSÃO, BEBIDAS, DROGAS E VÍCIOS. NÃO PROSSIGA CASO VOCÊ SEJA SENSÍVEL A UM DESSES ASSUNTOS E NÃO DISPENSE AJUDA PROFISSIONAL.

Quando ela viu aqueles olhos verdes, ela sabia que seria dele e jamais poderia imaginar como seriam os últimos momentos daquele romance. A paixão veio instantânea, mas com o tempo, ela só crescia.

A distância não ajudava, a saudade estava cada dia maior. Como ficar longe de um amor tão avassalador assim? Qualquer distância parece ser maior que mil oceanos. Em três meses, veio a surpresa: ela estava grávida.

Aquela gravidez não era algo esperado ou planejado, mas era o fruto desse afeto que parecia queimar cada partícula do dois enamorados. Mas, com essa surpresa, veio uma consequência: O que nós faremos agora? Como vamos criar esse filho? Não precisaram nem responder. O aborto espontâneo levou toda a surpresa e esperança de dissecar a distância embora. Mas claro, nada podia separar esse grande amor.

Os anos se passaram rapidamente, o amor aumentou até certo ponto e depois parou. Parou, mas prevaleceu, firme e forte, por um fio. Mas um fio de aço, maleável, que aguentava todos os trancos da vida. Mas com os anos, veio a convivência. Com a convivência, vieram as brigas, as diferenças, os desafetos… Junto com tudo isso, também surgiram algumas coadjuvantes: as bebidas e as drogas.

Ela o amava muito, talvez mais que a si própria. Talvez, porque ela não conseguia ver o amado sofrer de tal forma. Será que fujo porque me amo? Será que fujo porque não quero o ver se destruir assim? Será que amar é destruir? Ela não sabia. Pegou a filha que o tempo devolveu, pegou a mala de mão e tudo o que pode empacotar e fugiu. Saiu pela porta da frente, querendo voltar, mas sabendo que talvez nunca voltasse, sabendo que aqueles poderiam ser os últimos momentos…

E ele se acabou ainda mais. Bebidas, drogas, bebidas, drogas, bebidas, bares…. De bar em bar, suas dores ficavam na mesa, abafadas pelo consolo rápido. Pela anestesia. Até que chegou o fatídico dia em que tudo mudou.

Francisco*, vem cá se tu é homem mesmo! E ele foi. Não podiam ferir sua masculinidade. Carregado pelo surto de adrenalina fortalecido pelas bebidas e pelas drogas, armado pela realidade turva da qual ele tanto se anestesiava. Ele foi, mas não voltou. Teve sua vida ceifada a uma única garrafada.

Ele ali, no asfalto, jogado, viu sua vida passar diante dos seus olhos. E antes de morrer, nos seus últimos momentos, ele falou Joelma*, Nataly*…. Como se pedisse desculpas para a amada e para a filha.

Hoje, as únicas coisas que sobraram foram as lembranças. Aquelas que estão na mente e aquelas que estão eternizadas em mim, sua única filha.

E minha mãe ainda chora pelo seu amado há 10 anos….

Tem uma história como “Os últimos momentos” e quer contar aqui na “Anti-heróis”? Envie para [email protected]. *Os nomes foram e serão trocados para manter as identidades devidamente preservadas.