Redemoinho em dia quente conta a história de mulheres da região do Cariri, no Ceará, com muito realismo, ao mesmo tempo em que vemos aquelas pitadas do jornalismo literário, com a fantasia, e as críticas sociais sempre muito intrínsecas a cada palavra. Quem me conhece sabe o quanto eu amo esse tipo de leitura. Crônicas, contos, histórias reais contadas por meio da literatura, com os artifícios da fantasia e as reflexões da sociedade. O livro de Jarid é um prato cheio de tudo isso.
Devo dizer que não foi uma leitura fácil para mim, apesar do livro ter fácil leitura, no geral. Demorei para me conectar ao livro, para entender do que se tratava. Não costumo ler as sinopses antes, só me jogo de cabeça. E minha falta de conhecimento e de vivência com a cultura apresentada pela autora em suas páginas foi algo que me pegou logo de cara, mas que depois foi se aliviando…. O livro é uma porta de entrada, um convite para que você mergulhe e conheça a cultura, o cotidiano, os costumes. Parecia que, a cada conto, eu estava ali, ao lado da autora, enquanto ela ouvia essas histórias da boca das próprias personagens. Me senti um ouvinte atento, me senti no Cariri mesmo sem nunca ter pisado lá. Leia nossa resenha completa, clicando aqui.
Sinopse: Escritora conhecida por seus cordéis, Jarid Arraes estreia no gênero dos contos em Redemoinho em dia quente. Focando nas mulheres da região do Cariri, no Ceará, os contos de Jarid desafiam classificações e misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres. Uma senhora católica encontra uma sacola com pílulas suspeitas e decide experimentar um barato que a leva até o padre Cícero, uma lavadeira tenta entender os desejos da filha, uma mototáxi tenta começar um novo trabalho e enfrenta os desafios que seu gênero representa ― Jarid Arraes narra a vida de mulheres com exatidão, potência e uma voz única na literatura brasileira contemporânea.
Frases de “Redemoinho em dia quente”
“No dia, me dei a desculpa de que não valia a pena arriscar minha segurança por causa de um cachorro. Porque com cachorro era assim mesmo. As pessoas faziam isso.”
“(…) mais fácil ser adulta, tia, porque deixamos que todas as coisas se enfiem por debaixo. Damos novas regras à brincadeira de esconde-esconde; quanto estamos mais velhos, tudo o que queremos é que as verdades, os defeitos insuportáveis, o que os outros não foram capazes de ser, tudo isso encontre o lugar da casa que é menos visível, menos frequentado. Que lá fique, habite e pouco seja alimentado.”
“Hoje eu percebo que se apegar ao seu eu destruído é mais comum do que os outros pensam.”
“Pois o verdadeiro desafio em aceitar e amar os loucos está em enxergá-los amantes da vontade de ver tudo pegar fogo. E eu sempre fui incendiária.”
“Nossos dias de semana improváveis, meu quarto sempre com a porta fechada para te preservar lá dentro.”
“Escrevi: estamos em romaria, com pouca fé, mas paixão.”
“Pensando o que significava ser mulher na época de Maria, se era só engravidar do Espírito Santo e parir, ou se José também lhe puxava pelo preço e soltava xingamentos quando o dia dela estava num pé ruim.”
“Agora ela se mudou para o mundo das almas penadas, sem pena de mim.”
“Olhos de quem estava acostumada a afundar injustiças no fundo do corpo.”
E aí, qual foi a sua preferida?