A notícia que a Turma da Mônica ganharia um filme em live-action, divulgada em 2017, mexeu com o imaginário de milhares de pessoas, afinal, a galera do bairro do Limoeiro está presente na memória afetiva de diversas gerações. Adaptação da HQ “Laços”, publicado em 2013 pela Panini Comics, a história se deriva de um projeto da Maurício de Sousa produções que proporcionou releituras dos personagens sob a visão de diversos artistas brasileiros, neste caso, Vitor e Lu Casfaggi. Com direção de Daniel Rezende, que havia dirigido anteriormente Bingo: O Rei das Manhãs (2017), o filme Turma da Mônica – Laços cumpre bem o seu papel de apresentar o “Universo Turma da Mônica” nas telonas, sem precisar recorrer a técnicas caricatas ou que forçassem algum apego pelo peso nostálgico dos personagens principais.
É preciso, antes de tudo, reforçar que se trata de um filme infantil, logo, esperar grandes plow-twists e histórias complexas está completamente fora de cogitação. Mas desde seu começo, ao apresentar as características dos personagens, o filme demonstra que a escolha de elenco não se baseou em semelhanças físicas dos atores escolhidos aos personagens, mas também características próprias que reforçassem tal visão. Giulia Benite , Kevin Vechiatto, Laura Rauseo e Gabriel Moreira – Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão respectivamente – demonstram em tela um entrosamento e harmonia entre si que tornam a obra mais leve de acompanhar. Existiu ainda a preocupação de não apostar em violência física para definir Monica, uma vez que todas as cenas em que Sansão é usado para derrotar os seus inimigos nós não vemos a ação em si, nos restringido a ouvir sons e ver expressões daqueles que estão ao redor da cena. Com um visual colorido e despojado, a ambientação do filme grita “cidade do interior”, com seus coretos, cercas, pipoqueiros e vendedores de balões, nos levando para um universo onde crianças não ficam presas a gadgets o dia todo.
Se o entrosamento e desenvolvimento do elenco infantil ao decorrer do filme é boa, é preciso destacar dois personagens adultos que mandaram muito bem em seus papéis: Fafá Rennó ao dar vida a Dona Cebola chegou inclusive a chocar por sua semelhança com a mamãe que ficamos acostumados a acompanhar nas páginas de gibi – inclusive, aqui vem uma surpresa, pois em todas as divulgações realizadas, Monica Iozzi é destacada por dar vida a Dona Luísa, a mãe da dentuça “dona da rua”, porém, nos poucos momentos em que apareceu, foi engolida Fafá. Já Rodrigo Santoro ao viver o personagem Louco deu um banho, trazendo um alívio cômico (seria demais dizer que foi até mesmo filosófico?) necessário, uma vez que precisamos admitir que o filme fica bastante lento em determinado momentos.
Entrando neste aspecto sobre a lentidão apresentada no meio do filme, em que determinadas cenas até se assemelham a algumas barrigas para gerar tempo, é necessário nos lembrarmos sobre o público alvo que a história mira. Apesar de ter me incomodado, acompanhei uma sessão com diversas crianças e seus pais e as pude ouvir estar apreensiva e até mesmo com medo, especialmente em um momento em que a turma se adentra em um cemitério no meio da floresta – rendendo até cenas previsíveis como quando Cascão e Cebolinha se assustam consigo mesmos. Para um espectador mais adulto, tais momentos podem não ter sido o ápice do filme, mas, para as crianças que acompanhavam, com certeza, foi o clímax de tudo.
Por fim, podemos encorajar aqueles que são fãs da Turma da Monica a assistir ao filme, e o melhor, que assistam acompanhados de seus filhos, sobrinhos, primos ou irmãos. Será uma experiencia rica para ambos: aos mais velhos pelo fator nostálgico, que acaba sendo inevitável e alcançado de forma leve, e aos mais novos pela aventura e carisma que esbanja dos 4 personagens principais. Foi lindo ver a sensibilidade que a obra de Maurício de Sousa foi tratada – Ah! E claro, a breve participação do próprio cartunista, momento que deixa qualquer um com um sorriso de orelha a orelha.