Primeiramente, começo parafraseando Gregório Duvivier: me desculpem o transtorno, mas preciso falar da Clarice (e do Gregório, também). Confesso que, como um bom fanboy, dei um berro na sala de cinema quando vi que Gregório e Clarice estreariam um filme juntos e ainda por cima, como pares românticos. Achei que era atual, e me desiludi ao saber que foi gravado quando estavam juntos, há sei lá quantos anos atrás.
Foi então que na última segunda (12), três dias antes da estreia, vem a bomba: Gregório publica um texto na Folha de S. Paulo, onde é colunista, sobre a Clarice. Se meu coração derreteu? Completamente. Há quem diga que é abusivo, estratégia de marketing para promover o filme, uma afronta… Eu prefiro aceitar que é apenas um textinho de agradecimento. Ok, uma parte de mim já aceita que é propaganda do filme.
ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS A PARTIR DESTE PONTO!
O filme começa contando a história de Eduardo, interpretado por Duvivier, que mora em São Paulo desde criança, quando seus pais se separaram. Sua mãe, ficou no Rio de Janeiro, cidade em que nasceu e passou parte da infância. O rapaz vive uma vida monótona e completamente regrada: todos os dias acorda, corre, toma seu café e vai trabalhar na empresa de patentes da família. Aos finais de semana, visita todos os restaurantes gourmet com a noiva Viviane, interpretada pela Dani Calabresa, típica patricinha paulistana. Hamburgueria gourmet, strogonofferia gourmet, nhoqueria gourmet… Sem nenhum poder de escolha, Eduardo se vê levado pela rotina e pela manipulação de Vivi e do pai.
É quando sua mãe falece, e ele é obrigado a viajar para o Rio de Janeiro, que começa a sessão nostalgia. Em visita a casa antiga da família, ele rememora os sonhos da infância, e se vê cada vez mais afundado em tristeza, por ter largado a mãe, para morar com o pai, na capital. De tão desesperado, ele chega a abraçar um coelho gigante e rosa, de pelúcia no aeroporto.
E é lá que sua história muda. Ao ser questionado, Eduardo sente algo diferente dentro de si, e vira Duca, apelido que usava na infância. Duca é o oposto de Eduardo, apesar de serem a mesma pessoa. Irreverente, quer viver a vida carioca, curtir a praia e o sol, sem grandes preocupações. É aqui que vemos os estereótipos que o filme trata, de maneira central. O paulista, preocupado com negócios e sem lazer, e o carioca, que não quer nada com nada.
Duca então, conhece Bárbara, interpretada por Clarice Falcão, que coincidentemente, é a moça que se veste de urso no aeroporto para alegrar as pessoas. Juntos, eles tem uma história louca que acaba por se transformar em romance nos primeiros minutos de filme. Mas há um problema: ao dormir, Duca volta a ser Eduardo, e não se lembra de nada que fez, enquanto estava na personalidade carioca.
É nesse transtorno que o desenrolar do filme acontece, nos impasses entre Duca-Bárbara, e Eduardo-Vivi. Confesso que sofri o filme todo com as cenas em que Gregório contracenava diretamente com Clarice, já que a sintonia dos dois é inacreditável, até mesmo nas telonas. Cheguei a entender o grande agradecimento do rapaz, em seu texto do jornal, por ter feito um filme com a ex-esposa, que ele diz ser o grande amor da sua vida.
Com uma fotografia impecável, e uma trilha sonora fofíssima, discordo da maioria das críticas negativas que li, e digo, vão para o cinema. Nem que seja para ver Clarice e Gregório. As cenas de romance te farão suspirar, e são permeadas com diálogos que cortam o coração e conseguem até mesmo a arrancar algumas lágrimas.
Com o típico final feliz, concluído como conto de fadas, recomendo o filme com a convicção de que voltarei aos cinemas antes de sair de cartaz, para rever esse tórrido romance, desenrolado entre balões, transtornos e milhões de awwwn entre uma cena e outra.