Nos últimos dias, realizamos uma entrevista exclusiva com a autora Laura Spíndola, escritora de Os Dois Lados da História. Ela, que sempre teve a escrita presente em sua vida e foi extremamente simpática conosco, falou um pouco sobre sua obra, seus personagens, inspirações e deu conselhos para aqueles que querem seguir a carreira na escrita.
Beco Literário: De onde veio a ideia de escrever um livro? Era um sonho de criança seu, ou surgiu repentinamente?
Laura Spíndola: De certo modo, a escrita sempre esteve presente na minha vida, embora a ideia de fato de ser escritora tenha brotado pouco antes de começar a escrever “Os Dois Lados da História”. Mas até hoje tenho livrinhos que escrevi, recortei e colei quando mal havia começado a aprender a ler e escrever. Sendo uma leitora compulsiva desde esta época, acabei naturalmente entrando para o mundo da escrita.
Quando estava com quatorze anos, coloquei na cabeça que iria escrever um livro. Depois de algumas ideias que acabaram não indo para frente, finalmente tive a minha inspiração, em um dos momentos mais inusitados. Foi em 2009. Eu estava com a minha família no parque “Islands of Adventure”, em Orlando, já no final do dia. Era hora daquela última volta nos brinquedos favoritos antes de ir embora. Eu já tinha ido na “The Incredible Hulk Roller Coaster” inúmeras vezes, mais do que em qualquer outro brinquedo. Na minha última volta, até mesmo meu pai não aguentava mais, e acabei indo sozinha. Já estava tão acostumada que nem mesmo fiquei nervosa. Simplesmente comecei a observar as pessoas na fila. Quando faltava apenas uma leva de pessoas para que eu entrasse no carrinho, imaginei um menino no mesmíssimo lugar que eu estava, mas, ao contrário de mim, morrendo de pavor daquela monstrenga. Logo imaginei uma menina tão irritada por algum motivo que nem mesmo ligava para o fato de estar numa montanha-russa imensa. Só sei que, assim que desci daquele carrinho verde, ela começou a nascer naturalmente.
BL: Você com certeza já leu resenhas literárias do seu livro e de livros que você gosta. De uma maneira geral, você gosta delas? Concorda na maioria das vezes ou discorda?
LS: Eu mesma não costumo escrever resenhas, pois não tenho a facilidade de escrever em poucos parágrafos os diversos sentimentos que me invadem durante a leitura de um livro. Mas eu admito imensamente quem, com este restritivo espaço, consegue capturar a essência do livro! Sem dar spoilers, admiro a capacidade destes resenhistas de listar os pontos fortes e fracos do livro, enaltecendo-o pelos acertos e sem desmerecê-lo pelos erros. Quando a opinião é bem positiva, então, adoro quem consegue, sempre de maneira espirituosa, deixar aquela maravilhosa sensação de “preciso ler este livro AGORA”.
Eu gosto muito de ler várias resenhas sobre um mesmo livro, ainda mais se elas destacam pontos de vista completamente diferentes. Normalmente, vejo que a maioria das resenhas de meus livros preferidos são positivas e, de livros que não gostei nem um pouco, quase sempre são negativas. Mas gosto de ver resenhas negativas sobre meus favoritos e positivas sobre os que não gostei, pois acho muito divertido ver as tão variadas emoções que um mesmo livro pode oferecer.
BL: Você possui algum costume enquanto escreve e/ou lê? Escutar músicas por exemplo?
LS: Acho que, considerando dez momentos em que eu esteja escrevendo, em nove deles estou escutando música. No décimo não é possível porque provavelmente estou escrevendo durante alguma aula. Acho que a música tem um impacto muito grande na história no momento em que ela está sendo escrita. É sempre bom aproveitar o sentimento que te apodera no momento para escrever cenas de mesma emoção, e eu considero a música indispensável para a intensificação desse sentimento.
Entre outras manias, sempre escrevo ou em um caderninho que SEMPRE levo comigo quando saio de casa (cheguei a deixar de levar livros que usaria na escola, quando minha mochila estava pesada, só para não deixá-lo para trás) ou no meu laptop, propositalmente sem internet e sem nada de interessante instalado. Quando escrevo no laptop, simplesmente deixo aberto um jogo de Paciência ou de FreeCell, para quando minha inspiração está em falta; depois de dezenas de partidas repetitivas, é inevitável começar a preencher a folha em branco do Word.
BL: Monteiro Lobato dizia que “Um país se faz com homens e livros”. Você concorda com isso? Acha que o Brasil está incluído nessa concepção, de um país que lê, apoia e valoriza sua literatura?
LS: Sim, concordo plenamente. Não diria que, atualmente, o Brasil é um dos países onde a leitura é uma das prioridades, mas posso dizer com segurança que vejo a situação melhorando e que estamos nos encaminhando cada vez mais para uma maior valorização da literatura. Acredito que, atualmente, existe um número sem igual de gêneros e tipos de livros, que podem atrair qualquer público, de qualquer gosto e de qualquer idade. Também acredito que não só os clássicos devam ser respeitados e valorizados, mas, da mesma forma, devem ser os mais recentes lançamentos.
BL: As histórias que você escreve, vêm do nada ou é algo que você pensa bastante por um tempo?
LS: Em relação à escrita, a maior facilidade que tenho é a de arrumar ideias para boas histórias. Tenho ideias nos momentos mais inesperados e, sempre anotando todas para usá-las no futuro, posso dizer que poderia escrever histórias de quase todos os gêneros literários. Apesar desta facilidade, quando escrevo, tenho em foco apenas algumas poucas delas e me dedico completamente a desenvolvê-las, sempre buscando montar uma estrutura e uma base concreta.
No entanto, não gosto de ter tudo completamente planejado: no caso de “Os Dois Lados da História”, comecei a escrever sem ter a mínima ideia do que eu ia fazer com aquela história. Quando já tinha uma boa parte escrita, tinha uma ideia do que ia acontecer no final, mas nem mesmo sonhava em saber o que ia acontecer nos próximos capítulos. Foi muito divertido, pois a maioria dos acontecimentos do livro surgiam de repente e, quando eu escrevia trechos aleatórios que, na hora, não sabia onde poderia colocar, eles acabavam se encaixavam perfeitamente à medida que eu ia escrevendo. Chegando perto do final é que eu já tinha bem claro em mente o que ia acontecer.
Então, posso dizer que, para mim, é importante ter uma noção de para onde a história deve ir, mas também posso dizer que, sem planejar o caminho para este fim, é maravilhoso ver ela nascendo aos poucos.
BL: Seus personagens são inspirados em pessoas que você conhece ou em características suas?
LS: Gosto de dizer que meus personagens são todos umas “saladas mistas”. Às vezes eles surgem da personalidade de certa pessoa e acabam adquirindo características de outras; alguns já nascem inspirados em duas ou mais pessoas… até mesmo os gatos que aparecem em “Os Dois Lados da História” são misturas de aparências e personalidades de gatos que tenho e já tive. Os protagonistas, Alex e Camila, não são exceção: cada um carrega grande parte de características minhas misturadas com características de amigos, meu irmão, pessoas que encontrei uma única vez na vida, etc. Mesmo quando eu digo a alguém: “este personagem é completamente baseado em você”, ele sempre acaba levando alguma coisa de outras pessoas.
BL: Você sempre gostou de ler, desde criança? Acha que ler bastante, te ajuda na escrita?
LS: Sim, eu leio bastante! São poucas as coisas nessa vida que me fazem largar um livro interessante. Essa paixão vem desde que eu era bem pequena; não foram poucas as vezes que eu preferia ganhar livros a roupas e brinquedos. Sempre tive um grande incentivo dos meus pais em relação à leitura, mas acabei naturalmente me apaixonando por esse mundo literário.
Eu acho que um está intrinsecamente ligado a outro; não acredito que seja possível escrever histórias, poemas ou o que quer que seja sem gostar de ler. Não apenas pela questão da gramática, cujas regras são apreendidas de maneira infinitamente mais fácil se o hábito de leitura é predominante, mas, também, na questão da inspiração. Sem que se entre em contato com tantas ideias e pensamentos maravilhosos encontrados em diferentes livros, acredito que seja impossível ter inspiração suficiente para escrever de maneira apaixonada e apaixonante.
BL: O que você diria para aqueles que querem tentar a carreira de escritor?
LS: Acredito que novos autores de grande talento vêm surgido a cada dia no Brasil. Ainda temos muito a melhorar em relação ao incentivo à leitura, mas vejo que o mundo literário está cada vez mais abrangente e mais oportunidades são dadas a autores que ainda não têm reconhecimento. Se há alguém que realmente ame escrever, que sente que sua vida vai ser incompleta sem colocar as suas ideias para fora, então é preciso perseverar; fazer grande sucesso como autor ainda não é uma tarefa simples e pode contar com um pouco de sorte, mas é preciso batalhar bastante para conseguir, pois desistir de seu sonho é inaceitável. Atualmente, há espaço para TODOS no mercado literário e, se esse alguém acha que o seu livro merece um lugar nele, então não há nada nem ninguém que possa impedi-lo.
BL: Você possui um livro preferido? Aquele que indicaria para qualquer pessoa ler?
LS: Para mim esta pergunta é quase uma maldade, pois existem dezenas, talvez centenas de ótimos livros que sempre me vêm à mente! Considero impossível escolher um só. Mas tenho uma “listinha” de alguns dos melhores livros e séries que já li, e indico a todos a leitura de qualquer um destes: as séries “Harry Potter”, “Percy Jackson e os Olimpianos” (e todas as outras séries do Rick Riordan), “O Diário da Princesa”, “A Mediadora”, “Como Treinar Seu Dragão”, “Jogos Vorazes”, “Eragon”, “Coração de Tinta”, “Fazendo meu filme”, “Minha vida fora de série”, “Dragões de Éter”, “Amanhã”; os livros da Agatha Christie, em geral, com destaque para “O Caso dos dez negrinhos”, “A Casa Torta”, “Assassinato no Expresso do Oriente” e “Os Quatro Grandes”; “A menina que roubava livros”, “O Palácio de Inverno”, “@mor” e “O Selo Médici”.
BL: Fale um pouco do seu livro, “Os Dois Lados da História”?
LS: É um romance adolescente que comecei a escrever com 14 anos e terminei aos 15 . Chama-se “Os Dois Lados da História”, pois cada evento da história é contado pelos protagonistas Alex e Camila. A história retrata bem o cotidiano dos protagonistas e seus amigos no último ano do Ensino Fundamental, através de situações emocionantes e engraçadas. Apesar de chamá-lo de romance, considero-o mais um livro de humor; é uma história bem leve e divertida, e acredito que muitas pessoas se identificarão com ela.
Muito obrigado pelas respostas, Laura! Gostou da entrevista tanto quanto nós? Visite os links oficiais da autora abaixo e depois nos enviem suas opiniões!