Pensando em seu desenvolvimento e amadurecimento como ledor, caro leitor, me senti encorajado para escrever alguns ensaios cujo objetivo seja auxiliá-lo a inferir, interpretar e/ou facilitar qualquer tipo de leitura que esteja fazendo. Fundamento nossa discussão norteando a sua criticidade para os cinco elementos de análise literária de textos, que são:
- Foco Narrativo
- Tempo
- Espaço
- Personagens
- Enredo
Já foi publicado um escrito a respeito do Foco Narrativo (post intitulado de: Elementos Estruturais da Narrativa – #1 Foco Narrativo), neste espaço, separei um assunto bem interessante sobre o espaço, o espaço dentro dos romances, contos e crônicas.
Vamos utilizar Gaston Bachelard para ser o fundamento do nosso estudo, especificamente seu livro: “A Poética do Espaço”. A ideia do filósofo e ensaísta francês é discutir o espaço em dois grandes polos, através do polo material, real, geográfico e também ideal, não material e psicológico.
Portanto, para Bachelard, o espaço dentro de uma narrativa por exemplo, não será necessariamente uma cidade, ou uma casa, talvez um quarto (limitando este espaço somente ao seu aspecto físico e material), mas sim uma manifestação psicológica advinda de um aspecto físico. Parece complicado, não é? Mas fique tranquilo, é mais fácil que pensamos.
Ao ler o livro “A Poética do Espaço”, inferimos em cada capítulo uma alusão a essa união entre o material e não material e físico com psicológico. Os títulos são:
Capítulo 1 — A casa. Do porão ao sótão. O sentido da cabana;
Capítulo 2 — Casa e universo
Capítulo 3 — A gaveta. Os cofres e os armários
Capítulo 4 — O ninho
Capítulo 5 — A concha
Capítulo 6 — Os cantos
Capítulo 7 — A miniatura
Capítulo 8 — A imensidão íntima
Capítulo 9 — A dialética do exterior e do interior
Capítulo 10 — A fenomenologia do redondo
Podemos imaginar o livro sendo uma casa, não é mesmo? E cada cômodo um capítulo. O autor constrói em seu livro essa imagem, e é assim que se deve analisar o espaço de um livro. Cada lugar reserva tanto ao personagem quanto ao narrador, um comportamento específico, e em alguns casos, o enredo da história se torna cativo do espaço.
Por exemplo, no livro “Estórias da casa velha da ponte”, da escritora goiana Cora Coralina, a casa que se encontra aos arredores da ponte da Cidade de Goiás, antiga capital goiana, se torna uma personagem de grande importância no desenvolvimento da narrativa. É possível observar o amadurecimento da personagem principal do livro através do retrato do envelhecimento da casa.
É possível também discutir a vivacidade e psiqué do espaço lendo Machado de Assis e observando o contraste e retrato da sua linda e marcante cidade do Rio de Janeiro em seus romances e contos.
Quer mais um exemplo? “Os Sertões” de Euclides da Cunha. O aspecto seco e árido do sertão nos traz uma leitura desgastante (não, no sentido de leitura ruim). O espaço produz um homem que precisa ultrapassar a sequidão do sertão e de seus relacionamentos. O homem deve ser duro, combatente a fome e a sede. Não pode transmitir fraqueza, nem mesmo em suas relações.
O que achou? Deixe nos comentários se está gostando da série de ensaios e discussões.