Dramas familiares e temas delicados não são novidade quando unidos na literatura. Mas fazer essa mistura adicionada a uma dose perfeita de bom-humor, é tarefa para poucos autores. Foi assim, com ousadia e muito talento que Felipe Fagundes escreveu “Gay de Família”, história que mescla debates importantes embrulhados em um bom humor que nos faz rir com os olhos ainda marejados. A obra chega às livrarias através da editora Paralela, selo pertencente ao Grupo Companhia das Letras. A história, inclusive, já teve seus direitos negociados para virar filme.
“Gay de Família” nos apresenta Diego, protagonista da trama. Diego espera tudo de ruim dos próprios parentes, mas tudo mesmo. Que o pai tenha uma segunda família. Que a mãe comande um esquema de tráfico humano. Que o irmão lave dinheiro. Por serem versados em todos os crimes do manual da família tóxica, Diego decidiu ser gay bem longe deles. E tudo vai muitíssimo bem, obrigado.
“De zero a dez na Escala Gay, esse livro é um mil. Absolutamente hilário” ― Pedro Rhuas, autor de ‘Enquanto eu não te encontro’, sobre o livro
Porém, às vésperas de uma viagem aguardadíssima com amigos, seu irmão aparece implorando por um favor: que Diego seja babá dos três sobrinhos por um final de semana, crianças com as quais ele nunca conviveu. De olho na grana que o irmão promete pagar e acreditando piamente no seu potencial como tio, ele aceita a proposta sem imaginar que os pequenos são, no mínimo, peculiares.
O que a princípio parece moleza, mesmo envolvendo uma gata demoníaca, um amigo imaginário e um porteiro potencialmente sádico, acaba se revelando um desafio quando Diego percebe que terá que revirar seus sentimentos e provar que pode dar conta do recado, sem perder o rebolado que apenas um tio gay é capaz de manter.
O livro também critica a noção de que a convivência entre gays e crianças se restringe a casos de abuso ou pedofilia, como infelizmente muito se mostra na mídia. Pessoas LGBT+ e os pequenos podem, sim, a exemplo do livro, desenvolver relações de afeto, respeito e confiança entre si, haja vista tantos casais homoafetivos que atualmente adotam crianças e são verdadeiros exemplos de pais e mães amorosos.
“Gay de Família” nos ensina noções valiosas sobre família, pertencimento e respeito. É o tipo de leitura que mostra o valor da escrita para o público adulto, em especial aquele que embandeira uma maior representatividade gay além das ficções adolescentes. Felipe mostra ser um autor preocupado com valores e com a formação de cidadãos sóbrios, questionadores e equilibrados em suas opiniões e valores.