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Review: The End of the F***ing World (2018)

De novo mais uma série que alguém me indicou e pensei “será” e logo depois “hm, vamos tentar né” e, logo em seguida, “MEU DEUS, O QUE É ISSSO AAAAA”. Esses são os três passos quando você assiste uma série como The End of the F***ing World.

A produção que tem um nome comprido e toda vez que vou indicar fico na dúvida de qual seria a melhor abreviação, estreou sua 1ª temporada (8 episódios) no Reino Unido em outubro de 2017, chegando para nós em janeiro de 2018 ao ser lançada na plataforma da Netflix.

A história nos apresenta James (Alex Lawther) e Alyssa (Jessica Barden), dois jovens de 17 anos que veem um no outro uma oportunidade de escapar do que os oprimem (seja exterior ou interiormente).

The End of the F***ing World é simplesmente isana. Tem tudo aquilo que rejeitamos e ao mesmo tempo cultivamos um estranho prazer voyeurista ao ver nas telas: personagens quebradas psicologicamente, mortes, explosões, fugas, afrontamento à ordem estabelecida, mentiras… é o resumo do “jogar tudo pro alto e viver uma grande aventura”.

Irei comentar agora alguns pontos que mais chamaram minha atenção e que podem ser bons motivos para você começar uma nova maratona.

F***ing Narrativa

Alyssa e James

Estruturada como um road movie, o criador da série, Jonathan Entwistle, concebeu a obra como um filme, seus 8 episódios de 20 minutos completam um clico e mostram tanto a mudança de comportamento das personagens quanto a evolução dos seus relacionamentos. James e Alyssa do primeiro episódio com certeza não são os mesmo do oitavo.

Ainda que haja especulações com relação a uma segunda temporada, Jonathan demonstra cautela, já que a HQ de Charles S. Forsman, em que a série foi baseada, foi totalmente usada para essa primeira adaptação.

Talvez por ter sido inspirada em uma narrativa escrita, The End of the F***ing World incorporada com facilidade a narração dos pensamentos de Alyssa e James à imagem.

Esta voz que é sobreposta às ações poderia tornar-se cansativa se fosse utilizada apenas para comentar os acontecimentos, contudo, é utilizada de maneira criativa ao demonstrar a evolução das personagens, sendo assim uma excelente estratégia no roteiro.

Nos primeiros episódios, quando Alyssa ou James praticam alguma ação, a voz dos seus pensamentos mostra ao espectador que muitas vezes eles gostariam de estar fazendo exatamente o oposto ou que estão escondendo algo um do outro.

Tal fator é mais evidenciado em Alyssa, já que ela se mostra como uma personagem que procura passar uma imagem de si (durona, sem emoções) que muitas vezes não corresponde com seu verdadeiro estado. Alyssa esconde de James seus medos e frustrações sob uma carapaça de alguém que não se importa com nada.

Contudo, nos últimos episódios, a garota começa a dizer exatamente aquilo que pensa a James, demonstrando como os dois agora estão próximos e também como ela, finalmente, encontrou alguém em quem confia e pode se abrir sem medo.

Um último ponto interessante com relação à voz over é que em alguns momentos ela dá a entender que James e Alyssa estão comentando sua história de algum momento no futuro, já que eles falam sobre situações que, no momento da história, eles esperavam que terminassem de certa forma, mas, no momento da narração, confessam que tais situações terminaram de forma diferente.

F***ing Trilha Sonora

Confesso que a trilha sonora é um personagem à parte. Composta por Graham Coxon (co-fundador da banda Blur), ela está presente na maioria das cenas, contrastando-se ou comentando as ações.

Composta basicamente por músicas pop, country e rock dos anos 50 e 60, a seleção musical dá um ar nostálgico à história que se passa no presente.

Uma das melhores cenas de toda primeira temporada é quando Alyssa e James interagem com a trilha ao dançarem juntos uma canção. No vídeo abaixo, você pode conferir tanto o estilo das músicas quanto à questão das narrações, comentada no tópico acima.

Em resumo, apesar de todas as situações dramáticas, The End of the F***ing World é concebida como uma comédia de humor ácido e denso. É uma obra de contrastes. A leveza da trilha sonora x a intensidade de suas personagens. A beleza dos cenários x as situações horríveis pelas quais Alyssa e James passam.

Como os contrastes acima, The End of the F***ing World é uma série para amar ou odiar. As personalidades do casal principal podem incomodar alguns, bem como assuntos pesados como abuso e assassinato podem afastar outros. De qualquer forma, a atmosfera criada pela junção de todos os elementos (técnicas narrativas, fotografia, trilha sonoro, etc) e as atuações de Alex Lawther e Jessica Barden valem a tentativa.

 

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Ps: Todos os filmes estão disponíveis na Netflix.

 

Livros, Resenhas

Resenha: Destinos e Fúrias, Lauren Groff

Destinos e Fúrias, um dos concorrentes ao Putlizer de Ficção, é um lançamento da editora Intrínseca.

E o que significa ser humano se nossa vida não pode terminar de um jeito melhor do que começou?

Prometendo uma odisseia bilateral sobre um casamento, Lauren Groff mostrou que o seu livro era muito mais do que apenas um drama sobre um casal contemporâneo. Dividido em duas partes, sendo a primeira intitulada de Destinos e a segunda de Fúrias. Em Destinos, temos a visão do talentoso e carismático ator e escritor, Lotto. Já em Fúrias, podemos acompanhar o olhar de Mathilde, esposa de Lotto, sobre o casamento de vinte e dois anos.

Se você tem altas expectativas com esse livro, felizmente posso lhe assegurar que sim, Destinos e Fúrias faz jus a todo o hype que vem recebendo. Eu estava assustadíssimo sobre o que eu poderia encontrar nessa história, porém, nas primeiras páginas fui fisgado pela tortuosa e bela trama desse casal. Mas antes de prosseguir essa resenha, preciso avisar que esse livro é 8 ou 80. Não há meio termo. Ou você odeia, ou você ama.

A forma como Groff vai tecendo a história é de uma leveza arrasadora, consegue penetrar na alma. Interessante ressaltar que, apesar de densa, sua narrativa é viciante e fluída. PORÉM, em diversos momentos você vai parar, fechar o livro e pensar. E isso é uma das melhores coisas que podem acontecer durante a leitura.

Acompanhar a triste odisseia do desgaste de um casamento pode trazer infinitos desconfortos. Nunca me casei, mas vivo em um relacionamento e Groff foi certeira ao tratar sobre diversos temas recorrentes em uma relação. O modo como as situações são retratadas toca lá no fundo de tão reais que são. Além disso, o fato de termos acesso à “visão” dos dois lados, enlaçou todo o drama vivido por Lotto e Mathilde.

Enquanto as prateleiras são preenchidas por livros fantasiosos sobre relacionamentos, Destinos e Fúrias vem para colocar pés nos chão, para mostrar que as coisas não são flores como pregam os Best-Sellers. Groff tem uma escrita poderosa que penetra na alma e dá um soco tão forte no estômago que é preciso ser forte e continuar com a leitura.

Certeza é uma coisa que não existe. Nada é absoluto. Os deuses adoram foder com a gente.

Destinos e Fúrias é intenso, forte, real e doloroso. Espero que livros romance água-com-açúcar em breve deem espaço à obras como a de Groff, pois, num mundo onde fantasias sobres relacionamentos perfeitos e inexistentes são aclamadas pelo grande público, um que retrata fielmente a realidade do que é uma relação, é rei.

Uma odisseia sobre um relacionamento a dois. Um café forte durante uma ressaca. Uma fúria numa maré de livros fracos.

Quem é pior: os deuses ou os homens?