Tags

desabafos

Peguei a ansiedade e transformei
Autorais, Livros

Peguei a ansiedade e transformei

Querido diário, hoje eu peguei minha ansiedade e transformei em cake pop. Sim, aqueles bolinhos no palito. Dizem que nosso ego é nosso inimigo, mas, na maioria das vezes, ele só quer nos proteger e tem mecanismos fortes para isso. Um deles é a sublimação, quando a gente transforma um sentimento “ruim” em algo melhor. Minha ansiedade é generalizada. Não tem como eu dar voz a ela porque sei que ela é infundada e não vai me levar a lugar nenhum. Não é uma fuga.

+ Transformei o cabresto em liberdade

Hoje, peguei ela e transformei em arte culinária, realizei um dos meus maiores desejos. Hoje estou vendo um filme repetido que está passando na TV, mas é um dos meus preferidos. Estou ansioso por amanhã também, tenho reunião no trabalho. Que eles venham dispostos a serem legais, ou nem venham.

Hoje, o Pirata esteve o dia todo comigo. Hoje, chegaram as cadeiras da minha mesa e ficaram lindas. De manhã, comprei uma samambaia para decorar a sala. É bom demais ter a nossa casa, sabe? Estou feliz e só quero que essa ansiedade pela reunião de amanhã passe logo.

Hoje, fiquei emocionado porque ganhei um presente da minha dentista. Ela soube exatamente a escova que era melhor pro meu dente e comprou pra mim. Ela lembrou, sabe? Isso fez meu dia e deu uma acalmada na ansiedade que eu estava sentindo. Fui na academia, fiquei mais tranquilo. Conforme as palavras saem aqui, esse sentimento vai embora junto e dá espaço para um sentimento melhor, de paz, calma e alegria. Quase pós-terapia.

Não consegui fazer tudo o que precisava hoje, mas paciência. Amanhã tento de novo. Vou voltar a assistir meu filme e acho que vou ler um pouquinho antes de dormir. Talvez eu grave alguns vídeos, talvez não. Preciso escrever no Beco.

Até amanhã, diário.

Por que a gente é tão incerto?
Autorais, Livros

Por que a gente é tão incerto?

Querido diário, às vezes sinto que sou incerto e que minha vida é cíclica. Que a minha ansiedade vem junto com o surto, tudo ao mesmo tempo e que não sei o que fazer. Minha analista vive me dizendo que preciso sair de cena quando isso acontece, que posso só esperar passar. Como esperar passar nessa onda de produtividade que tenho dentro de mim? Preciso produzir, mesmo sendo tão incerto.

+ Resistência e transferência

Quando decido alguma coisa, no dia seguinte faço tudo cair por terra. Eu derrubo os castelos de areia que eu mesmo construí, diário. Como que pode isso? Por que a gente é tão incerto assim, hein? Porque eu não consigo simplesmente decidir. Dizem que sou multidisciplinar e meu talento está na conexão. Mas nunca dizem o fardo enorme e incerto que é ser bom em várias coisas ao mesmo tempo.

Você pode achar que estou me vangloriando, diário. Mas não. Realmente não é legal sentir muito quando muitos sentem pouco. Realmente não é legal saber de todas as coisas ao mesmo tempo. Eu queria ser bom em uma coisa só e fim. Eu não precisava ter esse poder de escolha tão incerto. E olha que eu nem sou geminiano, hein?

Não sei com que intuito te escrevo isso hoje. Não sei onde quero chegar, não sei onde vou chegar, nem sei se quero chegar em algum lugar ou só quero ficar aqui, vegetando, fingindo que nada acontece. Minha analista defende essa versão, mas ela me incomoda tanto. O ócio me incomoda demais.

Hoje resolvi mudar meus ares. Vim trabalhar na mesa da sala, estou assistindo ao meu filme preferido, desmarquei minhas reuniões e desmarquei até a minha analista. Hoje cansei de mim. Não quero. Estou incerto demais. Quero ficar em paz dos meus próprios pensamentos. Hoje não, Gabriel.

Talvez amanhã.

Ingratidão que corrói
Autorais, Livros

Ingratidão que corrói

Eu sempre te ajudei. Me lembro como se fosse hoje quando você me chamou no chat e perguntou se podíamos marcar um encontro. Topei, fizemos coisas lindas juntos. Fomos ao infinito e além em direção daquilo que a gente sempre sonhava. Até que chegou o dia que chamo de dia da ingratidão. Até hoje não entendi o que aconteceu, nem o porquê, se quer saber a verdade.

+ Quero abraçar o mundo todo, todo o tempo

Eu confiava minha vida em você e você veio, em tom seco e ríspido, cortando meu barato dizendo que eu tinha te decepcionado. Parecia uma projeção. Era de mim mesmo que você estava falando? Hoje, sei que não. Você não se referia a mim. Você estava com seus próprios problemas, mas, chegou com a faca afiada e enfiou dentro do meu peito. Sangrei por dias e noites, sem entender a sua ingratidão. Você não me deu a chance de entender.

Leia ouvindo: You need to calm down, Taylor Swift

Eu recebi a facada com a faca que eu te ajudei a construir e depois, de tão bom grado, te ajudei a afiar. Como se eu fosse uma pessoa qualquer que sequer sabia como afiar ou fazer uma faca, sendo que, eu que tinha aberto as portas para você passar. Como você pôde? “Eu não confio mais em você”, falou de forma ríspida, como se fizesse terapia à fio por anos, como se fosse analisado e estivesse colocando limite em alguém que fora abusivo.

Depois disso, sem falar comigo, você usou as facas que aprendera a construir na minha oficina e jogou fora aquelas primeiras que fizemos juntos, mal feitas, quanto estávamos nos aperfeiçoando. Ingrato. Sim, você fingiu que era um ferreiro profissional e que tinha aprendido tudo sozinho, há anos, quando na verdade tinha me esfaqueado com a minha própria faca. Que fiz com minhas próprias mãos.

Hoje, você sequer tem uma faca para afiar. Você veio e me pediu uma emprestada. Eu até emprestaria, mas sei que não preciso e não quero fazer isso porque, meu anjo, eu nunca precisei esfaquear ninguém para ser um ferreiro de primeira. Posso ter tido recaídas, mas ainda estou aqui e, nessa oficina, você não pisa nunca mais.

É, anjinho. Nunca precisei esfaquear ninguém, mas também não sou um santo, não. Além de facas, sei afiar um bom tridente para te empurrar nos mármores mais quentes do inferno. Você e sua ingratidão.