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Crítica: Bingo – O Rei das Manhãs (2017)

Bingo – O Rei das Manhãs conta a história do ator Arlindo Barreto, que durante os anos 80, animou as manhãs da garotada na tela do SBT na pele do incrível palhaço Bozo. O nome no filme, Bingo, foi escolhido para que o filme não fosse de alguma forma censurado ou processado pelos detentores da marca do famoso palhaço. Inclusive, algumas referências no filme foram trocadas, mas com uma semelhança que deixa claro sobre o que é tratado: a TV Globo por exemplo, sendo citada com Rede Mundial ou o SBT, que na época se chamava TVS e no filme é retratado como TVP.

Tudo no filme beira o insano e inacreditável. Do tipo que te faz sair da sala de cinema querendo pesquisar sobre os fatos mostrados na tela, saber se aconteceu realmente, como foi a repercussão na época. Se atualmente algumas coisas soam pesadas, imagine como eram há quase 40 anos. Mas aí nos lembramos de quando uma girlband cantou no programa da XuxaDon’t want no short dick man (Não quero um homem de pau pequeno)” com várias crianças dançando ao seu redor e aquele clique vem na cabeça: “isso deve ter ido ao ar e ninguém criticou”. É como se no passado as coisas eram levadas com mais leveza. Uma das partes mais divertidas da produção é quando a cantora Gretchen (interpretada por Emanuelle Araújo) se apresenta no programa do simpático palhaço com o hit “Conga La Conga” usando um vestido curtíssimo e os câmeras ousando nos takes da moça.

O filme mostra o começo do vício de drogas do ator e como isso interfere com sua vida profissional e pessoal de uma forma irreverente, mas também muito tocante em certos pontos. A vida de Arlindo que durante muito tempo era regada a muito álcool e sexo foram inseridas de uma forma que não demonstrou em nenhum momento alguma vulgaridade ou exageros. Foi tudo feito de uma forma muito bem arquitetada.

A direção de fotografia também foi muito bem desenvolvida e os planos são muito bem feitos. Desde os começo, quando se mostra a antiga carreira do nosso ‘Bozo’ na pornochachada ao fim de sua carreira na TV, o filme apresenta transições excelentes.

Destaque para as atuações de Vladimir Brichta na pele do protagonista: parece que foi tudo pensado para ele. Caiu como uma luva. Ana Lúcia Torres e Leandra Leal também estavam no ponto e a química das duas com o personagem deixavam seus núcleos ainda mais críveis. 

Bingo – O Rei das Manhãs é um dos primeiros filmes que exploram elementos tangíveis da história brasileira. Sem medo de ousar, sem se esconder ou sem querer agradar aos envolvidos. Vale lembrar, é uma produção da Warner Bros e é um dos poucos produtos nacionais que chegam aos cinemas sem passar pela Globo Filmes, e talvez isso surpreenda: um filme de excelente qualidade que não precisou da gigante para ter um bom resultado final. Que isso seja apenas o primeiro passo para mais produtos deste porte por aí.