Como todos nós sabemos, o Brasil passa por momentos muito complicados, política e economicamente falando. Nos meus quase 20 anos de vida (ta bom, eu sei que não é muito), nunca vi algo parecido, uma polarização tão forte, discursos acalorados, ódio, raiva e tanta incerteza quanto ao nosso futuro.
Claro, que o Brasil já passou por momentos muito piores antes, mas para mim, não passavam de relatos históricos, e por mais que eu ame história, não é a mesma coisa que viver o agora, não saber o que vai acontecer amanhã, sentir e presenciar os acontecimentos. A cada dia uma notícia nova aparece nos jornais, e nem sempre são boas (na maioria das vezes são péssimas, na verdade), e é tão difícil encontrar imparcialidade na mídia, que é difícil saber o que é verdade e o que está sendo manipulado.
Porém, o que me deixa mais chocada é esse clima de rivalidade, desse “eu vs. eles”, “esquerda vs. direita”, “coxinhas vs. petralhas”, é completamente maluco, amigos começam a brigar por terem posições políticas diferentes, familiares deixam de se falar, e uma simples conversa se transforma em discussão.
Fazer debates políticos é absolutamente normal e saudável, no ambiente acadêmico a gente faz isso o tempo todo, mas esses dias algo muito bizarro aconteceu.
Eu estava na recepção de uma clínica médica, esperando ser atendida, e na televisão estava passando a chegada da tocha olímpica em Brasília. Na época, Dilma ainda exercia o cargo e estava participando da cerimônia, quando uma mulher disse (quase gritando): “Deviam pegar a tocha e botar fogo nessa mulher! Aí ela morria logo”, fiquei surpresa não só com o comentário dela, mas com as outras pessoas que estavam na recepção, que concordaram com ela e disseram coisas ainda piores, disfarçados de comentários políticos.
Então começou a briga, quem odeia a Dilma e era a favor do impeachment (quando não a morte dela) versus quem era contra, mesmo que não gostasse do governo, e um terceiro grupo, composto por eu e minha mãe, que “fizemos a egípcia” e não falamos nada.
Mas por que eu estou falando tudo isso? Com certeza você já presenciou uma discussão dessas, ou mesmo participou de uma, estando de um lado ou de outro, isso não vem ao caso. Motivada por esse tipo de situação, resolvi fazer um guia prático sobre como se comportar em debates políticos, ou em qualquer debate ou conversa na verdade, e não deixar que se transforme em briga.
1) A opinião de seu amigo nem sempre é igual a sua e nem por isso, ele deve virar seu inimigo;
2) Respeite a opinião alheia, por mais absurda que ela te pareça, e que te deixe com raiva, guarde ela dentro de você, chegue em casa e jogue o travesseiro na parede e tome um banho quentinho, ok?;
3) Deixe a pessoa falar, escute o que ela tem a dizer, não tente interrompê-la ou falar mais alto, para que ela desista de terminar o que tem para falar ou pior, comece a falar mais alto para ser ouvida;
4) Discurso de ódio não é opinião;
5) Comentários preconceituosos, machistas, homofóbicos, desrespeitosos, fascistas, intolerantes de qualquer espécie, não são opinião, são só babaquices mesmo, que mostram que quem os fala têm preguiça de pensar ou é mau caráter;
6) Jamais leve um debate para o lado pessoal, nunca, nunquinha, nunca mesmo;
7) Se você não conhece muito sobre um assunto, esteja aberto ao novo, escute seu amigo, queira aprender com ele, pesquise depois sobre o tema, não vá cuspindo o que você acha que é verdade, se você não tem muita informação sobre o assunto;
8) Contra argumento religioso não há discussão, pois são dogmas. Em debates políticos não há espaço para religião, já que o Estado é laico. Lugar de falar sobre religião é na igreja, no culto, no templo, em casa, com os amigos, na política não, imagine se cada pessoa tentasse impor sua religião, seria impossível fazer qualquer coisa, como se chegaria a um consenso?;
9) “Vai pra Cuba!”, “Cadê a louça pra lavar?”, “Seu petralha/coxinha!”, “Tá com dó? Leva pra casa!” não são argumentos, nenhum deles faz sentido, são só expressões clichês ditas e reproduzidas sem a menor reflexão. Se você quer mostrar que não tem capacidade intelectual, então pode falar, mas não creio que você queira mostrar isso;
10) Leia, leia e leia. Essa é a única maneira de se construir argumentos lógicos, racionais e livres de preconceito. É assim que se forma uma opinião. Aliás, esteja aberto a mudar de opinião, nós mudamos constantemente, o que fazia sentido antes, pode não fazer mais. Como dizia Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.