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As melhores frases de Psicologia do Bolsonarismo: Por que tantas pessoas se curvam ao mito?
Marcelo Camargo
Frases, Livros

As melhores frases de “Psicologia do Bolsonarismo: Por que tantas pessoas se curvam ao mito?”

O que leva tantas pessoas a se curvarem diante de um “líder” político numa cega devoção e em total idolatria? Essa é uma pergunta que foi feita muitas vezes na história humana. No Brasil contemporâneo, com a chegada ao poder da religião do bolsonarismo essa se torna mais uma vez uma questão política urgente. Mas também, principalmente, uma questão psicológica do maior interesse. Como explicar a subserviente e satisfeita adoração do “gado do cercadinho” a seu “mito”?

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A questão ganha um interesse propriamente psicológico, dado que o “líder” do bolsonarismo em questão, o “mito”, não apresenta nenhuma das qualidades tradicionalmente reconhecíveis como dignas de alguma idolatria: não é particularmente inteligente, não tem o “dom da palavra”, não é um vitorioso chefe militar, não expõe uma vida exemplar no caminho sacerdotal-religioso, não apresenta grandes projetos – ilusórios que fossem – nem de dominação internacional, nem de desenvolvimento nacional. Como explicar, então, seu tão intenso poder de atração?

Em nome da seita do bolsonarismo os fiéis atacam amigos e familiares; defendem com a mesma veemência discursos contraditórios; aderem a projetos sociais e econômicos que contrariam seus próprios interesses; dispensam resultados concretos em termos de melhorias econômicas ou estruturais para manter acesa a chama da sua fé; e em tempos de pandemia, entregam-se voluntariamente à morte, sacrificando-se pela palavra do “mito” – entre tratamentos precoces mortíferos e o desprezo completo por qualquer precaução (da máscara à vacina).

Como explicar que seus parentes, amigos e vizinhos que talvez em outros momentos tenham te tratado com a devida cordialidade se voltem agressivamente contra você ao perceber que você não compactua com as ideias do “mito”? Como explicar que pessoas muito bem formadas em nossas universidades – professores, engenheiros, advogados – recusem vacinas, acreditem em versões alternativas delirantes da História do Brasil e do mundo e tomem as fake news mais toscas como as mais puras realidades? Como explicar que médicos rejeitem vacinas e invistam em medicamentos que os próprios laboratórios fabricantes (haveria alguém mais interessado em promovê-los?) já desacreditaram para o tratamento da covid?

São essas as intrigantes questões que o Doutor em Filosofia Diogo Bogéa investiga em seu novo livro. Com base em teorias psicanalíticas de Freud e MD Magno e um vigor nietzschiano, Bogéa, que é professor de Filosofia e Psicanálise da UERJ, faz uma original abordagem do bolsonarismo sob o ponto de vista psicológico.

Melhores frases de “Psicologia do Bolsonarismo: Por que tantas pessoas se curvam ao mito?”

“O fundamento psíquico de todo autoritarismo político é a projeção da fantasia de onipotência em um ser-humano supostamente especial.”

“(…) como os cristãos costumam lidar com a “providência divina”. Se alguém sofre um terrível acidente automobilístico, sofre graves ferimentos, passa meses de complicadíssima recuperação em um hospital, mas sai vivo da experiência, diz-se: ‘foi Deus que te salvou! Graças a Deus!’. Mas jamais se atribui a Deus – o governante supremo de todas as coisas – o próprio acidente e seus incômodos efeitos.”

“A identificação com o líder é sempre narcísica. No primeiro caso, uma espécie de narcisismo projetivo: aquilo que me falta, o ‘ideal de eu’ ao qual estou bem longe de corresponder na realidade está lá, neste outro que o encarna com perfeição. No segundo caso, um narcisismo mais propriamente especular: aquelas características que julgo possuir e das quais muito me orgulho e vanglorio em eterna autocomplacência estão também justamente lá, neste outro que se candidata a ser meu líder, só que nele essas características estão elevadas à enésima potência.”

“Bolsonaro é do segundo tipo. Ele é o que os brasileiros são. Numa lente de aumento.”

“O ‘brasileiro médio’ gosta de hierarquia, ama a autoridade e a família patriarcal, condena a homossexualidade, vê mulheres, negros e índios como inferiores e menos capazes, tem nojo de pobre, embora seja incapaz de perceber que é tão pobre quanto os que condena. Vê a pobreza e o desemprego dos outros como falta de fibra moral, mas percebe a própria miséria e falta de dinheiro como culpa dos outros e falta de oportunidade. Exige do governo benefícios de toda ordem que a lei lhe assegura, mas acha absurdo quando outros, principalmente mais pobres, têm o mesmo benefício.”

“Por isso não basta perguntar como é possível que um Presidente da República consiga ser tão indigno do cargo e ainda assim manter o apoio incondicional de um terço da população. A questão a ser respondida é como milhões de brasileiros mantêm vivos padrões tão altos de mediocridade, intolerância, preconceito e falta de senso crítico ao ponto de sentirem-se representados por tal governo.”

“Bolsonaro não está lá “apesar” de todas as atrocidades que diz e representa. Ele está lá por causa de todas as atrocidades que diz e representa.”

​”Questionar a proibição produz liberdade. Mas liberdade, como bem dizem os existencialistas, traz consigo também uma boa dose de angústia.”

“A verdade é que mesmo as classes médias mais bem estabelecidas, com seus salários mensais de 5 a 10 mil reais, ainda se encontram matematicamente muito mais próximas dos 900 reais mensais do salário mínimo do que dos mais de 170 mil mensais dos verdadeiramente ricos.”

“Em nossas fantasias, imaginamos voltar ‘lá’ naquele ‘ponto-chave’ da nossa história com a cabeça de hoje a fim de corrigi-lo! Mas ora, só temos a ‘cabeça de hoje’ porque aquilo aconteceu como aconteceu.”

“​Negar, portanto, uma pequena circunstância que seja do nosso passado, fazer o exercício imaginário de ‘consertar’ um evento do nosso passado, é negar inteiramente quem somos hoje, é negar nosso eu real em nome de um eu ideal.”

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