As apostas ao Prêmio Putlizer esse ano estavam todas no segundo romance de Hanya Yanagihara, o badaladíssimo Uma Vida Pequena, porém, o mesmo não ganhou. Apesar das diversas nomeações à renomados prêmios da literatura, o livro dividiu opiniões de uma maneira tão extrema que a curiosidade por minha parte foi maior que acabei embarcando no navio que é a vida de Jude, Willem, JB e Malcom.
A história tem o ponta-pé inicial com a vida dos quatro amigos logo após a faculdade. A partir desse ponto, vamos acompanhando os dramas tanto da vida adulta deles, quanto os traumas de seus passados.
Falar sobre Uma Vida Pequena é o mesmo que falar sobre dor. Todo tipo de dor. Física e psicológica. Apesar de o livro falar sobre os quatro amigos, o foco das quase 800 páginas é em Jude, um homem que já passou por todo tipo de abuso existente. Sexual, físico e psicológico. É uma pessoa cheia de medos e angústia, acompanha-lo durante duas semanas foi um trabalho que me exigiu muita compaixão e muito estômago, pois não houve quase um momento sequer que ele não estivesse sofrendo. De início, a história é instigante, deixa o leitor curioso para saber o que se esconde por trás de tantas camadas que rodeiam aqueles personagens, mas depois, é torturante passar as páginas e ter medo do que nelas irá encontrar. Não que seja mal escrito ou que a história seja ruim, mas o conteúdo desse livro é tão forte, tão pesado que a cada revelação sobre a vida desses personagens é como um soco. Com o desabrochar do passado de Jude, eu ficava angustiado e enojado com cada palavra que eu lia. Foi duro ler o que uma uma criança teve de fazer para sobreviver, o que aguentou durante muitos anos e o que a assombrou quando adulta.
Além disso, todo o clima pesado do livro, Yanagihara faz uma descrição que beira ao sadismo. O que transpareceu durante toda leitura era que, mesmo demonstrando um assunto tão delicado, ela se deliciava ao mostrar ao leitor o tanto de sofrimento e dor que Jude havia sentido. E isso me deixou muito desconfortável.
Particularmente, acho que nunca vi ou ouvi falar de um livro que tratasse de tantos problemas que Uma Vida Pequena trata. Parece que Hanya Yanagihara quis fazer de Jude o Atlas que segura todo um mundo em suas costas.
Uma coisa que me desagradou em Uma Vida Pequena é que a sua premissa é baseada na amizade, mas no decorrer das páginas, acaba se perdendo e falando apenas sobre dor, dor e dor.
Seria hipocrisia minha se falasse que não gostei do livro, porque sim, eu gostei, e muito. Mas também o detestei. É muito sádico, muito cruel. Ao mesmo tempo que me comovi, me senti enojado.
Se você pretende ler Uma Vida Pequena, prepare-se para ler sobre pedofilia, auto-mutilação, depressão, abuso sexual, relacionamentos abusivos e auto-depreciação. Tudo isso vai sendo despido para o leitor no decorrer das suas pesadas e densas 784 páginas. Yanagihara não poupa ninguém. (Separem lencinhos para as duas últimas partes do livro, principalmente para a que se chama “Caro camarada”.)