Contém spoilers e comparações com a obra homônima de J.K. Rowling. Leia, ciente disso, por sua conta e risco.
The Casual Vacancy é a adaptação do livro Morte Súbita da autora J.K. Rowling (Harry Potter), que foi formatado em minissérie com três episódios, roteirizados por Sarah Phelps. Desde que foi anunciada, os fãs nutrem grandes esperanças e expectativas sobre o que o livro se tornaria ao ser adaptado para a televisão, já que, como todos sabemos, seria uma maneira de manter sua fidelidade ao máximo possível, mesmo que em três episódios. Mas após assistir a esse primeiro episódio, eu me pergunto, será que conseguirão manter a essência do livro? Será que conseguirão manter a história cativante que Rowling criou ao menos em sua forma mais superficial? Depois dos rumores de que a produtora mudou o final por ser muito triste para a televisão, eu acredito que não. Mas veremos.
Este primeiro capítulo se inicia de uma maneira um tanto vaga e introdutória, até então, tudo certo. Conhecemos Barry Fairbrother, o personagem principal, e vemos o quão grande é sua relação com a população de Pagford. Barry é bastante engajado, conhece muita gente e, inclusive, exerce influência na vida dessas pessoas. O típico político do bem, que nos é apresentado de maneira tão demorada no decorrer do livro, mas que é entregue de maneira tão fácil na primeira metade do episódio. Gostaria de fazer uma pequena ressalva à cena em que Barry está escovando os dentes e, de repente, vemos um efeito em que seu espelho trinca, e ele cai de maneira teatral no chão. Não gostei disso, achei falso, excessivamente teatral. Entendo que era pra ser um efeito de confusão, algo perturbador, mas simplesmente não deu certo pra mim.
Após essa pequena introdução, voltei a me perguntar, será que era realmente necessária? Foram 25 minutos de cenas conjugadas, que são apresentadas no livro aos poucos. Com tanto tempo perdido, fica complicado manter a fidelidade à obra, certo? Todas essas informações a respeito do Barry, poderiam muito bem ser dosadas em flashbacks no decorrer dos três episódios. Muito mais atraente de se assistir.
A ambientação do seriado, neste princípio, ficou magnífica, ao menos Pagford. Conseguiram mostrar com fidelidade o que Rowling descreveu em sua obra, mas receio não poder dizer o mesmo sobre Fields, cuja ambientação me pareceu mais arrumada e, se a palavra me permite, limpa, que o normal. Tudo muito certinho, isso no núcleo externo, já que internamente – Casa da Terri – , está tudo como é apresentado pela autora no sentido mais primitivo e sujo possível. Não há ressalvas para se fazer, nem algo a comentar. Perfeito.
Inclusive, a frase adicionada à porta de Robbie, provavelmente por Krystal, Don’t even fuckin’ try!! (Nem pense em tentar!!), contribuiu ainda mais para o ambiente que queríamos ver bem adaptado, uma ótima sacada dos produtores, o que também reforça nossa percepção de que a garota se preocupa com o irmão de uma maneira incondicional, mais que a própria mãe.
Um outro ambiente que não me agradou muito, foi o esconderijo do Arf e do Bola. Substituíram a caverna do rio por um casebre de madeira no campo, o que, nem de longe, contribuiu para a percepção inicial do objetivo da “base” deles: ficarem escondidos de tudo e todos.
Falado sobre a ambientação, vamos analisar o novo enredo conjugado com a atuação do elenco, e suas capacidades de darem vida aos personagens a que nos apegamos tanto:
– Terri, interpretada pela Keeley Forsyth: Mal tenho palavras para descrever a atuação de Keeley. Esplêndida, conseguiu passar exatamente a essência da mãe de Krystal e Robbie. Simplesmente magnífica, o que inclui também sua caracterização.
– Sukhvinder e Parminder, interpretadas por Ria Choony e Lolita Chakrabarti: Ria me pareceu uma ótima escolha para Sukhvinder, dizendo fisicamente, já que ela não teve uma fala sequer neste episódio. Espero, realmente, que não cortem suas cenas, que são importantíssimas para a mensagem final do livro. Com relação a Lolita, só tenho a dizer o quanto gostei, de sua caracterização, atuação e do que ela acrescentou à Parminder que conhecemos. Concordaram em gênero, número e grau com o que eu havia imaginado.
– Paul e Andrew, interpretados por Sonny Ashbourne Serkis e Joe Hurst: Sonny interpretou Paul com uma maestria de ator veterano. Pena não poder dizer o mesmo de Joe, que deu vida a um Andrew sem sal, semimorto e distante daquele dos livros. O ator parecia não expressar emoções, falando de maneira monótona, atuando como se tivesse má vontade. Não me conquistou como Andrew, o que me decepcionou bastante, porque era o meu personagem preferido nos livros.
– Julia e Aubrey, interpretados por Emilia Fox e Julian Wadham: Uma grande interrogação no enredo. Mal tiveram espaço, em uma cena totalmente dispensável, não conquistaram a minha atenção, o que se deve à falta de atenção no quesito de quem são eles? Alguém que assista à minissérie sem ler o livro, provavelmente desistiria com uma grande sensação de falta de explicação. Espero que isso seja explicado melhor nos próximos capítulos.
– Simon e Ruth, interpretados por Richard Glover e Marie Critchley: Richard conseguiu captar a essência do personagem. Apesar de sua caracterização não ser das melhores, o ator conseguiu nos cativar interpretando um Simon extremamente fiel ao do livro. Perturbador, impaciente, agressor, rancoroso (principalmente na cena em que vai reconhecer o corpo de Barry no hospital). Super bem retratado. Já Marie, não teve muito espaço na série, e possuiu uma caracterização extremamente falha, também. No entanto, passa a impressão de que seremos surpreendidos ainda, espero não estar errado e ficar muito surpreso com a Ruth na minissérie, também.
De resto, as atuações e caracterizações estavam extremamente boas, a produção da série está de parabéns. Barry e Mary, retratados com grande fidelidade, assim como Miles e Samantha – que convenhamos, é uma personagem magnífica nos livros, que foi transportada para a televisão da mesma maneira, sem nenhuma perda.
A cena da morte de Barry, com a qual o livro se inicia, foi mostrada com os mesmos sentimentos, repetindo o tal efeito do espelho se quebrando, que já comentei no início da review, com a única diferença de que, nesta parte, podemos sentir a aflição que Fairbrother estava possivelmente sentindo. Uma das melhores cenas, que só perde para a introdução de Krystal, que chega na escola atraindo a atenção de tudo e todos, causando. Uma atriz bem caracterizada, com uma atuação impecável e que conseguiu transmitir com exatidão a personagem de Joanne. Fiquei um tanto impressionado, inclusive, porque é raro ver algo assim.
Apesar das ressalvas, o primeiro episódio ficou com uma boa qualidade de adaptação para quem leu o livro, acredito que dificilmente cativará alguém de fora, como era a intenção dos produtores. Espero que continue dessa maneira e que não siga a linha de mistério de Pretty Little Liars ou Gossip Girl à qual somos introduzidos na cena final, onde o suposto fantasma de Barry Fairbrother é alguém que está assistindo o povo de Pagford, e está a par de todos os segredos.