A rede Globo há algumas semanas vem divulgando sua mais nova série. “Os Experientes” surgiu com uma premissa de “sobre a terceira idade”, mas como afirmara a protagonista do primeiro episódio, Beatriz Segall: ” Trata de pessoas mais vividas, que tem uma história a contar que você não imaginava que aconteceu com elas”. Assisti com receio, não esperava muito da produção. Inocência minha.
Tudo ganha forma de uma maneira engraçada. Yolanda, a senhora que não admite ser chamada de velha mais posteriormente, adentra no banco. Uma piada aqui, outra ali, todos estão localizados em um só local. Diversos pontos de vistas são jogados ao telespectador. A da mulher, da atendente, e o essencial, o do jovem interpretado por João Côrtes, famoso por comerciais e seu cabelo ruivo. O estado de bem-estar dura por poucos minutos, homens anunciam o assalto da empresa e o personagem de João é incluso no meio de todo esse rebuliço mesmo sem desejar. Uma arma nas mãos de quem não sabe manejá-la, a tensão invade a tela e só se despedirá nos últimos minutos.
Assalto a banco é um tema quase que clichê, temos os bandidos, os afetados e só. Mas isso não basta para “Os Experientes”. Os homens que fizeram com que o adolescente entrasse no serviço conseguiram sacar suas partes e se foram, o jovem fora baleado. Ao tentar escapar, é cercado por diversos carros policiais. A única saída, na verdade, seria a entrada para o banco. Ele volta e transforma os clientes em reféns. Um drama psicológico começa a ser destrinchado. O garoto – com uma bala alojada – e, por sua sorte, uma velha médica. Os destinos de ambos não foram cruzados, já estavam ali, muito bem programados. O enredo da série é esplêndido, como cada episódio apresenta sua história, “O Assalto” mostra por que “Os Experientes” vieram. O transcorrer do capítulo não é cansativo, como muitos julgaram, é eletrizante. Uma cena me chamou bastante atenção. Em um momento, quando Yolanda começa a fazer uma “minicirurgia” no jovem, todo e qualquer ser humano ficará incomodado. Neste mesmo instante um refém se debate por ter fobia a lugares fechados, é uma junção de horrores e o telespectador fica preso a tudo aquilo, não consegue piscar, desviar o olhar. A emissora consegue captar algo que não vem apresentando há anos. Humanidade, é isso o que exala “Os Experientes.”
A interpretação de João Côrtes é mais inquietante que a cena que tal presidiu. Ninguém daria nada para o ator e ele foi lá e pintou em sua testa a frase “Eu tenho talento”. E quanto talento. Choro, sangue, arrependimento, ele foi completo em todos os sentidos. Beatriz Segall nem se fala, seu histórico é gritante, mas ela consegui superar as expectativas. Não desejo dar spoilers, mas adianto que a cena final de Beatriz é desabante, prepare-se para deixar escapar algumas lágrimas.
A produção é de altíssima qualidade. A fotografia apresenta padrão norte-americano, não deixa a desejar em nenhum quesito. A trilha, principalmente, foi uma acerto em cheio, com Tim Maia e Gal Costa, quem não se emociona ao ouvir “Vapor Barato”. A voz de Gal traduz toda a sensibilidade da direção de Fernando Meirelles, Quico Meirelles e Gisele Barroco. Se você deseja cair em prantos, assista o melhor piloto da Globo em 2015. Se o aniversário fosse hoje, a emissora estaria comemorando em grande estilo seus 50 anos, mais que cativante, a série é provocativa. Próxima sexta-feira o tema não focará na tensão, mas sim no poder do samba, do tempo, da solidão. Que venha, pois a ansiedade já bateu.