CONTÉM SPOILERS
“It’s a beautiful day to save lives.”
É com essa frase emblemática que inicio a review de um dos episódios mais marcantes de Grey’s Anatomy. Os acontecimentos de How to Save a Life foram simplesmente cruéis. Sarcásticos. Um tapa na cara de quem acompanha uma história que já dura 10 anos. Nunca esteve tão claro como agora que ninguém está imune à mente sádica de Shonda Rhymes. Absolutamente ninguém.
A morte de Derek não foi somente inesperada, foi também crua. A revolta da maioria dos fãs não está somente no fato de um dos personagens mais queridos da trama ter sido eliminado, mas na maneira como isso aconteceu. Foi uma coisa fútil e mal feita.
O salvamento das vítimas do acidente só mostra o que já sabíamos sobre o caráter, o talento e o tato de Derek em uma situação de emergência. Nada de novo. Não sei quanto a você, mas em nenhum momento consegui sentir algo realmente “heroico” e único na atitude dele. Nada daquilo fez jus à pessoa e ao profissional que ele é. Enquanto O’Malley perdeu a vida se atirando na frente de um ônibus para salvar uma garota, Derek resgata as vítimas e fornece atendimentos primários até a chegada do socorro. Atitude que qualquer médico com um pouco de juízo teria feito. Depois disso, por uma falta de atenção, Derek se acidenta. Simples assim. Em um piscar de olhos, toda a história que vimos crescer desde o início começa a chegar ao fim.
Mas o pior ainda não havia acontecido. O cara que escolheu dedicar seus dias salvando a vida de desconhecidos sucumbe nas mãos de profissionais despreparados e irresponsáveis. Foi angustiante ouvir os pensamentos de Derek e perceber que os outros médicos estavam indo por um caminho sem volta. Seria trágico se não fosse cômico saber que se um caso daqueles chegasse à mesa de cirurgia de Derek, o paciente teria uma chance real de sobrevivência. Shonda brinca com o espectador sem pena. E tira aos poucos qualquer resquício de esperança que ainda poderia existir.
A pausa que Meredith pede antes que o tubo seja retirado do marido representa o último momento onde milhões de fãs apreensivos puderam achar que um milagre era possível. Ou que talvez tudo não passasse de um sonho. Afinal, qual o propósito disso? O cara conhece uma garota no bar, se apaixona por ela e, em meio a idas e vindas, toma-a como esposa, constitui uma família e, bem próximo do fim, se dá conta do quão especial sua vida é. E tem tudo isso arrancado e destruído repentinamente por uma sucessão de atos inconsequentes. A impressão que fica é de que aquilo que acompanhamos ao longo de 11 temporadas foi anulado. Tornou-se dispensável. É como se Grey’s Anatomy tivesse perdido sua essência.
Quem irá agora se inspirar tanto com um tumor a ponto de desenhá-lo na parede de casa? Ou fazer valer as regras tão especiais do post-it? Quem sairá em um passeio de barca ao entardecer? Quem arrumará o cabelo de Zola de maneira engraçada na ausência da mãe? Quem trará esperança para aqueles que encontram na palavra “inoperável” uma sentença de morte? Derek Shepherd não deixa apenas a família maravilhosa que construiu. Ele deixa amigos especiais e leva com ele um talento único para um dos trabalhos mais bonitos que existe: o de salvar vidas.
Temo que esse trágico acontecimento não tenha apenas tirado a vida de Derek, mas também de Grey’s Anatomy. Para muitos fãs, a série acabou aqui. A saída do neurocirurgião foi uma jogada arriscada para uma série que está no ar por tanto tempo e que, por isso, perde público de maneira natural. Shonda pode ter acabado de cavar a cova de seu projeto mais bem-sucedido. É uma pena que estejamos à mercê de uma pessoa tão impulsiva e inconsequente.
Semana que vem, o Grey Sloan Memorial Hospital estará de luto.
O querido McDreamy se foi.
“A vida dos homens é feita de escolhas. Viver ou morrer. Essa é a escolha importante. E não está sempre nas nossas mãos.”