O garoto quase atropelado foi um livro que me atropelou. Recebi a prévia dele de supetão, comecei a ler e logo comprei a versão completa porque era difícil de largar logo nas primeiras páginas.
Escrito na forma de diário, dia após dia de um mês de novembro, conhecemos a história do garoto quase atropelado. Não conhecemos seu nome em momento algum, mas isso é o que deixa a história mais única. Não descobrimos seu nome, mas embarcamos em uma longa viagem de autodescoberta e da recuperação dos poderes da nossa mente.
Quando me sinto tomado pela vergonha, o senso do ridículo me alcança com uma eficácia admirável.
Sabemos que o menino sofreu algum acontecimento muito traumático, logo de cara, e por isso, está lutando contra a depressão e este diário é um dos exercícios sugeridos pela sua psicóloga para lidar melhor com tudo aquilo que precisa descobrir e curar em si mesmo. Ele precisa escrever religiosamente os fatos de todos os dias. Nos primeiros relatos, percebemos sua relutância em narrar os acontecimentos, mesmo porque não acontece nada.
Até que ele é literalmente quase atropelado por uma garota com cabelo de raposa, que depois descobrimos ter o nome de Laís. Ela apresenta um novo mundo ao garoto quase atropelado e ele, claro, fica perdidamente apaixonado por ela. Mas, como Laís mesmo diz, ela tem a mente quebrada.
E são nesses altos e baixos que o garoto, juntamente com Laís, embarca numa montanha russa de sentimentos bons e ruins. Ele também conhece Acácio e Natália, que eram os melhores amigos de Laís e acabam por ser seus melhores amigos também. Em certa passagem do livro, a amizade deles é descrita como um triângulo com uma bolinha no meio. Laís, Acácio e Natália são o triângulo, uma amizade perfeita, mas com segredos que são escondidos uns dos outros e o garoto quase atropelado é a bolinha no meio, que transita entre cada um e conhece coisas que nem eles mesmos parecem conhecer logo de cara. Ele se torna o elo do grupo.
(…) apesar de legalmente ter se separado apenas da minha mãe, a separação também aconteceu comigo e com o Henrique. De um pai normal, aos poucos, ele foi se transformando num estranho.
Numa avalanche de sentimentos e pensamentos, vemos o desenrolar de toda a história no mês de novembro e de toda a recuperação do garoto com seu passado traumático, que descobrimos não estar tão no passado assim. A desgraça havia sido há poucos meses e ele ainda tentava fazer as pazes com os fantasmas que o assombravam. E ele consegue. A partir do momento que vemos que ele está preparado para nos contar tudo, o livro traz um turbilhão muito forte de emoções que mal sei descrever.
Me arrancou lágrimas, sorrisos, gritos de desespero e no seu clímax final, foi um dos poucos que me causou mal estar. A gente sente as dores do garoto quase atropelado, e esse mal estar, confesso que achei que não fosse ser curado até o final do livro: mas foi. Vinicius Grossos consegue conduzir a história de uma forma surreal, controlando não só os sentimentos do garoto quase atropelado, mas também do leitor. É uma avalanche, um incêncio e uma montanha russa, tudo ao mesmo tempo.
Devo confessar que eu, particularmente, me deliciei com a minha mãe, enfim, colocando meu pai em seu devido lugar. Não que eu sentisse ódio ou raiva dele, mas meu pai meio que não era mais meu pai. Ele nos abandonara e não tinha mais espaço em nossa família.
É perceptível também as ótimas referências musicais durante o livro (se eu surtei quando vi Arctic Monkeys e Marina and the diamonds? Nããaao, imagina!) e as referências de outras obras da literatura como As Vantagens de ser Invisível e História é tudo o que me deixou. É um livro cinco estrelas e a única coisa que me decepcionou, foi ter lido no Kindle e não ter conseguido prestar uma homenagem final para a Laís. Mas tenho certeza que Acácio, Natália e o garoto quase atropelado fizeram isso com magnitude e representando todos nós.
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