Negras raízes é um livro que, assim como sua história, me foi passado pelas gerações anteriores. O pai do meu avô leu e deu a ele de presente e meu avô me deu de presente depois. Minha edição é bem surrada, porque ainda arrisco dizer que meu avô o emprestou para a rua inteira.
Negras raízes é um dos livros mais angustiantes que eu já li na vida. Lançado em 1976, ele acompanha a história de Kunta Kinte e seu povo Mandinga, na Gâmbia, África ocidental. Mas antes de entendermos a história, é preciso entendermos o contexto dela. O autor, Alex Haley, começou a escrever ainda muito jovem em um jornal da marinha dos Estados Unidos. Um dia, foi descoberto e convidado para a escrever a biografia de Malcolm X e depois disso não parou mais.
Ansioso por descobrir seus antepassados, Haley pesquisou muito e dessa pesquisa se originou Negras raízes. Há quem diga, inclusive, que o autor foi um dos únicos a chegar tão longe na sua pesquisa de árvore genealógica. E essa relação forte com a sua ancestralidade é o cerne do livro. É nela que a leitura se pauta e é nela que Kunta também se segura para sobreviver.
A história de Kunta Kinte e sua família, em suas terras natais é linda, com tradições fortíssimas que são interrompidas quando ele é vendido como escravo para a América. Há muitas páginas que relatam o suplício e a impotência dentro de um navio negreiro e tudo o que ele tem, a partir desse momento, é seu nome e seu idioma. Há muita violência, muito sangue e o livro consegue mostrar, com maestria (e não podia ser diferente depois dos anos de pesquisa de Alex) como a escravidão foi um atentado a memória do povo africano.
Nesse livro, conhecemos como as tradições eram destruídas, as identidades deixadas para trás e os seres humanos eram transformados em nada além de produtos comercializáveis. E Kinte foi contra tudo isso. Ele resistiu em manter a sua memória e ela foi sua arma contra esse sistema. Sua história foi contada e recontada para todos os seus decendentes e atravessou mais de dois séculos até que foi publicada em Negras raízes.
É um livro fortíssimo, mas obrigatório e necessário para todas as pessoas. É a história da consequência da escravidão na vida de todas as pessoas ainda nos dias de hoje, é a história do segregacionismo, do racismo e de tudo o que reflete na nossa sociedade.
A violência de ser retirado e vendido como mercadoria, de ter sua cultura e sua identidade renegadas de forma tão brutal é uma cicatriz que o povo carrega mesmo depois de séculos. E para a história não se repetir, é preciso conhece-la. Por isso, leia Negras raízes e repasse os conhecimentos nele contidos.
E se não quiser ler, o livro já foi adaptado para inúmeras séries na televisão que relatam os fatos com expressividade. Vale a pena também!
Comentários do Facebook
2 comentários
Dos muitos livros que li, este foi o melhor de todos.
A escravidão é marcada por muita barbárie. E pensar que nos dias atuais ainda presenciamos tantos atos racistas…