Fazia muito tempo que eu queria ler João de Deus – O abuso da fé, da jornalista Cristina Fibe. Dessa vez, a Globo Livros não quis me encaminhar o livro ou o e-book para ler, então demorou um pouquinho até que eu conseguisse comprar e escrever a resenha (então me valorizem comprando o livro pelos links do Beco no final do post, viu?).
+ Crítica: João Sem Deus – A Queda de Abadiânia (2023)
Ao contrário de outros livros do caso João de Deus, esse da Cristina Fibe traz um jornalismo mais denso. Eu já li “A Casa”, do Chico Felitti, já vi todos os documentários disponíveis e li bastante sobre o caso na internet e nenhum deles me trouxe o material que esse me forneceu. Mas, antes que você me ache maluco, deixe-me explicar: eu amo livros sobre crimes reais brasileiros e o interesse só cresce quando o assunto é seita ou religião.
João de Deus – O abuso da fé é um livro-reportagem, isso significa que ele não traz a autora contando a história em primeira pessoa sobre suas investigações. É como se fosse uma grande reportagem de um jornal ou de uma revista, escrita de forma seca e crua, com depoimentos, falas e registros documentais que baseiam a apuração. E disso eu gosto muito, como bom jornalista, valorizo uma apuração que me mostra de onde veio aquilo ali, mais do que só o jornalista se colocando como personagem de um caso que ele não é.
Dividido em 15 capítulos, o livro fala sobre como o castelo de João de Deus começou a ruir em Abadiânia, como sua imagem mítica foi construída há mais de 40 anos, como era a relação abusiva com a filha Dalva e até mesmo como João de Deus virou John Of God.
Muitos dos casos apurados por Cristina Fibe neste livro, não foram apurados ou tratados pela mídia em outros materiais. A gente sabe que os casos contra o autoproclamado médium João de Deus só crescem e é humanamente impossível para a mídia apurar todos, mas gostei da forma como ela deu atenção para pessoas que gostariam de falar e passaram despercebidas pela mídia tradicional.
Um ponto forte de Cristina Fibe no livro é que você precisa ler com cuidado e com estômago. Como livro-reportagem, ela não poupa a gente dos detalhes sórdidos de alguns casos e conta na íntegra com o depoimento das vítimas. É um livro que deveria ter um alerta de gatilho enorme logo na capa, porque é de dar ânsia.
Para mim, o ponto negativo também faz parte do ponto positivo. Por ser um livro mais seco, muitas vezes nos perdemos na história que está sendo retratada, já que são muitos nomes envolvidos, muitos acontecimentos entrelaçados que a autora nem sempre consegue esclarecer (e nem conseguiria, como um livro narrativo faria). Então, alguns pontos você precisa ler, reler, voltar algumas páginas e então, seguir adiante.
Quando terminei, fiquei sabendo que era o livro de estreia de Cristina Fibe, o que me deixou boquiaberto pela qualidade do material. Normalmente, autores estreantes deixam muitas pontas soltas, mas Cristina costura a maioria delas e por isso, merece cinco estrelas.
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