1967. O ano seguinte seria marcado como o ano da revolução, aquele ano que nunca terminou. Susanna Kaysen tinha 18 anos e todas as incertezas que um adolescente em transição para a vida adulta traz consigo: Vou para a faculdade? E depois, o que acontece? É isso que eu realmente quero para mim? Suas indagações e percepções do mundo a sua volta não eram suportáveis para seus pais, amigos e professores. Estaria louca?
O livro autobiográfico da autora americana já traz no título o que podemos esperar de sua história: uma vírgula. Aliás, muitas vírgulas. Composto por capítulos curtos, “Garota, Interrompida” é escrito de forma não linear, o que pode atrapalhar um pouco a compreensão da história. Mas será que Susanna não faz isso propositalmente? Afinal, estamos lendo a história de mulheres que estão internadas em um hospício. Ali nada é fácil de ser compreendido. Ideias e pensamentos sobre passado, presente e futuro se misturam entre sessões de terapia e rondas de enfermeiras (que podiam acontecer de meia em meia hora ou, pasmem, de cinco em cinco minutos).
“[As cicatrizes] são uma espécie de fronha, que protege e esconde o que houver por baixo. Por isso as criamos. Porque temos algo a esconder.”
Susanna passou um ano e meio internada no Hospital Psiquiátrico McLean, fundado em 1811 no Massachusetts, EUA. O diagnóstico acusava transtorno de personalidade limítrofe, uma doença mental com características que podem ser confundidas com transtorno bipolar ou depressão. “Padrão invasivo de instabilidade da autoimagem, das relações interpessoais e do estado de espírito” que se manifesta no início da idade adulta, sendo diagnosticada na maioria das vezes em mulheres. Ela tinha em si mesma o limite entre a realidade e um universo paralelo. Vivia nesse limite.
“Contudo, a maioria das pessoas chega aqui aos poucos, abrindo de furo em furo a membrana que separa o aqui do lá fora, até aparecer uma brecha. E quem resiste a uma brecha?”
Susanna expõe o cotidiano do hospital – o que inclui gritos, fugas e episódios engraçados -, as amizades que fez ali dentro, seus medos e períodos de instabilidade. Os capítulos são como contos que, ao final, comporão uma mesma história.
“Garota, Interrompida” não é um livro sobre gente maluca. Não é um livro que retrata a vida de Susanna Kaysen. É um livro que faz refletir sobre todas as interrupções que acontecem em nossa vida. Sobre todos os momentos em que tivemos que tomar decisões, tanto pequenas quanto grandes. Mesmo com uma ficha de internação dizendo “Recuperada”, Susanna levou consigo esses dias que passou no McLean. Foi “um momento congelado no tempo mais importante que todos os outros momentos, quaisquer que fossem ou que viessem a ser. Quem pode se recuperar disso?”.
“As pessoas me perguntam: como você foi parar lá? O que querem saber, na verdade, é se existe alguma possibilidade de também acabarem lá. Não sei responder à verdadeira pergunta. Só posso dizer: é fácil.”
Ao terminar a leitura jurei que estava louca.