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Resenha: Escola Noturna, C. J. Daugherty

O mundo de Allie está desmoronando. Sua família está destroçada, ela foi expulsa de várias escolas por mau comportamento e acabou de ser presa. De novo. Quando os pais a mandam para um colégio interno longe de casa e de seus amigos, Allie espera encontrar um presídio.

Apesar das regras rígidas, que incluem proibição de celular e laptop, ela descobre que a Academia Cimmeria é um lugar bastante peculiar. Os alunos são ricos e talentosos — diferentemente dela — e um grupo de elite participa de uma organização secreta: a Escola Noturna. Logo ela faz algumas amizades e se vê envolvida entre o atencioso Sylvain e o misterioso Carter.

Mas Allie não demora muito a perceber que a Cimmeria é um lugar cheio de segredos e mentiras que envolvem não só seus colegas, mas também alguns professores. E, quando uma aluna é encontrada morta, ela precisa descobrir em quem confiar se quiser desvendar o que está acontecendo.

Allie Sheridan, a perfeita problemática retratada nos diversos livros deste estilo, de Divergente a Crepúsculo, incorpora diversos perfis. Em alguns momentos insegura, em outros dona de si, a garota deixa todo e qualquer leitor confuso, assim como o livro em si. “Escola Noturna” é um emaranhado de informações, uma após outra e nós ficamos sem saber o que fazer, sem saber como agir frente aquilo tudo. Daugherty sabe como escrever um bom livro, sabe como manipular a mente das milhares de pessoas que entraram na Cimmeria e pensaram que seria só mais uma obra. A autora consegue ser mestre em seu terreno. Digna de um King, a veracidade de cada frase, de cada trecho de “Escola Noturna” afetará o mais disperso leitor. É caótica a escrita da mulher, no melhor e mais impactante sentido.

Um dos pontos que mais facilitaram o transcorrer da história é como a autora não abusa das cenas supérfluas, a cada capítulo nota-se que existiu um corte no que deveria e o que não deveria aparecer. O início é claro, Allie envolve-se em problemas na sua atual escola, é transferida e a partir daí já somos introduzidos na Academia Cimmeria, simples assim, em menos de vinte páginas, sem toda uma introdução cansativa. Isso poderia até ser algo negativo, mas funcionou com “Escola Noturna”. Somos transportados para um mundo sem tecnologias, uma Hogwarts, menor e não praticante de bruxaria. Os mistérios na Cimmeria revelam-se do meio do livro em diante, após os capítulos treze e quatorze começamos a perceber que não trata-se de algo restrito, o colégio atravessa os muros e vai muito além, uma organização que deixa qualquer um boquiaberto. Faltava isso no enredo e foi acrescido da melhor forma possível.

A caracterização da personagem principal, Allie Sheridan ocorre progressivamente. Primeiro descobrimos os cabelos vermelhos, depois o rosto típico britânico e assim por diante, não é algo pronto. Isso se repete com a sua futura melhor amiga, Jo, com os seus dois pretendentes, Carter e Sylvain. O destaque para o triângulo amoroso me incomodou no início, mostrava a fragilidade excessiva de Allie, mas quando tudo ganhou forma pude perceber que aquele era só mais um caminho para ressaltar o quanto a garota herdara de seus familiares. É a teia perfeita criada por Daugherty, como falei no começo.

Outro personagem que conquista qualquer um é Isabelle, o semblante místico da diretora da Cimmeria incomoda, te faz criar diversas teorias, o bom de “Escola Noturna” é isto: ele não é totalmente exposto, fica correndo nas sombras, escondendo-se do leitor e quando menos se espera, revela-se. Se você espera algo “trevoso”, que te arrepie do começo ao fim, esse é o livro, não que exista uma série de horrores, mas sim as reviravoltas provocam isso. Nada é certo no gigantesco castelo da Academia, o que hoje são inimigos, amanhã tornam-se aliados. Aqueles que mais se preza amanhã te dão as costas. Drama, medo, insegurança, pavor do desconhecido, a sensibilidade posta em cada página impressiona. Assim acontece com o segundo volume, “O Legado”, que ganhará resenha ainda está semana aqui no Beco. A continuação mantém este ritmo lancinante, que te joga para diversas direções.

A mentira é alvo principal no primeiro livro de “Escola Noturna”, nunca conseguimos detectar quem apresenta um perfil confiável, todos estão suspensos, alguns sendo motivados por outros, e esses outros muitas vezes nem sabem que estão provocando tais coisas, é um suspense psicológico que mexe de modo milimetricamente planejado. A situação que nos é exposta torna tudo mais inquietante. Nas primeiras semanas Allie encontra-se sozinha, não conhece ninguém, não decorou os caminhos que aqueles corredores levam, foi jogada ali sem saber até mesmo onde a escola fica no mapa. Cercada por filhos de grandes empresários, senhores do capital, Sheridan, encurralada, espera e nós nos juntamos a ela nesta tensão íntima. Como foi destacado na contra-capa, a frase da Booklist: “Daugherty sabe aonde quer nos levar, e rapidamente o leitor é fisgado.”

A Suma de Letras trabalhou muito bem com está edição, começando com todo o produto visual. A capa, tanto do primeiro livro como do segundo, encanta, tudo conforme o clima do livro. A diagramação também ficou à altura da obra. É uma junção de acertos que agradara do começo ao fim impactante de “Escola Noturna”. Christi mostra-se perspicaz, uma neblina comum no cenário de Cimmeria, típica entre tantos mas com uma diferença gritante: Daugherty não sente medo de inovar, é a sua escrita e apenas sua, sem rastro algum. Não estamos seguros, não depois que folheamos pela primeira vez a história da garota Sheridan.

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