Apenas Um Garoto, de Bill Konigsberg, poderia se chamar facilmente “Procurando por Problemas”.
Trata-se da história de Rafe, um estudante do 2º ano do ensino médio, que desde os 13 anos se assumiu gay e nunca teve problemas com isso. Seus pais não só o aceitaram como sua mãe passou a frequentar palestras e associações de pais gays, e junto de seu filho, começaram a ajudar outras famílias e pessoas que não tinham a mesma facilidade de lidar com o assunto. Perfeito, se Rafe não se sentisse rotulado, como se ser gay viesse antes de qualquer outra coisa a seu respeito. Com o passar do tempo, ele se cansou e resolveu mudar os paradigmas: pediu aos pais que o trocassem de escola, mais especificamente para um internato apenas para garotos em outra cidade, para que assim, ele pudesse passar a viver uma nova vida (ou uma mentira, como preferir), sem rótulos e sem que as pessoas soubessem de sua sexualidade.
E assim, na nova escola, ele se torna o atleta popular, que tem algumas garotas afins e tal. Rafe justifica para sua melhor amiga (que ficou abandonada) que “ocultar não é mentir”, então, ele não estava fazendo nada de errado na nova escola. Exceto que sim, ele estava mentindo, e mentindo para si mesmo. E mentiras só atraem mais mentiras, então, ele diz para os colegas de time que sua melhor amiga é na realidade sua namorada e coisas do tipo, para manter a imagem de hetéro. E com o tempo, aja criatividade para inventar o que ele inventou de si mesmo. As linhas das duas vidas de Rafe começam a se cruzar quando ele se apaixona por Bem, rapaz heteronormativo, companheiro do time e que faz a linha comportado. Eles começam a viver um bromance. Ok, fui incessível neste ponto, não é bem assim.
A grande questão em torno disso é que Rafe queria apenas se livrar dos estereótipos e acabou caindo neles novamente. Após começar a ter um relacionamento secreto com Ben, o atleta descobre toda a verdade a respeito de Rafe e obviamente, eles se separam.
Na busca por um sentido, Rafe se perde completamente e demonstra ser totalmente previsível e mesquinho, com atitudes infundadas e estúpidas, sendo que até ele se perde em suas justificativas para tal. Enquanto escrevia esta resenha, conversei com alguns amigos que também o leram para tentar ser mais imparcial, mas infelizmente não dá.
“Ah, mas é uma história LGBT legal, temos que demonstrar apoio, é representatividade”. Então, é aí que está. Um garoto de classe média, que se assume e é aceito por toda sua família e amigos (ele ganha até uma festa por ter saído do armário) e que se cansa disso e quer voltar atrás e viver de forma incubada REPRESENTA QUEM? Qual o objetivo disso? Cheguei ao final do livro sem ter uma boa razão para indica-lo para outras pessoas. Não é um rapaz tentando se descobrir ou realmente se cansando de ser visto como um rótulo, mas sim, um rapaz que é amado e com suporte de toda uma comunidade que apenas vira as costas para tudo isso.
As opiniões a respeito de Apenas Um Garoto são bastante divergentes. Por isso, o único motivo que eu indicaria a você ler é: “Leia e veja se consegue extrair algo de positivo, e a gente pode conversar sobre”. Inclusive te convido a postar aqui nos comentários a sua opinião, talvez eu tenha ficado tão irado com o personagem principal que tenha me cegado para coisas boas a seu respeito. Ou não.