Resenha: A morte é um dia que vale a pena viver, Ana Claudia Quintana Arantes
Divulgação
Livros, Resenhas

Resenha: A morte é um dia que vale a pena viver, Ana Claudia Quintana Arantes

Senti vontade de ler A morte é um dia que vale a pena viver ouvindo um podcast da Mônica Martelli, em que ela falava sobre sua vida, sobre fazer escolhas e entender que se está no caminho certo (spoiler: a gente nunca entende). Ela indicava esse livro como um daqueles que mudara a sua vida. Como sou muito fã de toda a narrativa que Mônica criou em sua vida e em sua arte, comprei o livro na mesma hora e me surpreendi: devorei em uma única sentada.

+ Resenha: Violetas na Janela, Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho – pelo espírito Patrícia
Resenha: Carta de Amor aos Mortos, Eva Dellaira

A morte é um dia que vale a pena viver é um livro narrado em primeira pessoa pela autora, Ana Claudia Quintana Arantes, que após estudar medicina, descobriu e decidiu trabalhar com Cuidados Paliativos e desmistificar o que significam esses cuidados, dentro de hospitais. Primeiro, ela começa explicando que algumas doenças não têm cura. Não há o que fazer além de testes que podem mitigar todo o resto de bem-estar que um paciente tem no hospital. Quando isso acontece, muitos médicos dizem que chegaram ao seu limite e acabam sedando o paciente para uma morte “tranquila”, “dormindo”.

O que você vai fazer com esse tempo que vai passando? O que você está fazendo com esse tempo que está passando? O que eu faço com meu tempo?

Ana Claudia resolveu estudar e ir além nessa atuação. Já que não há nada para ser feito do ponto de vista da cura, o que pode ser feito para que os últimos dias daquelas pessoas sejam os mais agradáveis possíveis? Com menos dor, mais alegria e mais presença daquilo que eles realmente querem? É nesse Cuidado Paliativo, que ela faz questão de escrever com letras maiúsculas no livro que ela acredita e nos explica durante as 192 páginas que permeiam suas reflexões sobre a nossa vida – e principalmente, o dia da nossa morte.

A preocupação do morrer traz a consciência de que nada do que temos ficará conosco.

Nós não temos certeza de nada enquanto vivemos. Não dá para saber se vamos seguir a carreira certa, se vamos fazer as melhores escolhas, como será o dia de amanhã… Mas uma coisa temos certeza: iremos morrer. E quando a morte chega, ela aparece como uma muralha da China na nossa caminhada. Não tem o que fazer, é a linha de chegada. Não dá para pular, dar a volta, transpor. E essa muralha tem um espelho que vai te fazer olhar para si próprio e se questionar: o que você fez do seu tempo vivo? Você viveu ou apenas sobreviveu?

Não é possível segurar o tempo. Em relação a ele, a única coisa de que podemos nos apropriar é a experiência que ele nos permite construir o tempo todo.

Em todos esses anos de Cuidado Paliativo, ela conta que ouviu inúmeras histórias de pessoas que se arrependiam de ter passado a vida toda correndo atrás de dinheiro, de pessoas que gostariam de ter perdoado ou de serem perdoadas, de pessoas que gostariam de ter seguido um sonho antes que foi adiado, adiado, adiado, até que não desse mais para cumprir. O tempo é o nosso bem mais precioso por aqui e é o único bem que não se renova. Ele não tem volta. O que gastamos, gastamos. Será que não estamos gastando-o em coisas que não queremos de verdade? Será que estamos gastando nosso tempo em um emprego medíocre que paga bem, nos faz comprar um Porsche mas que também nos faz chegar em casa sem energia nenhuma e com olheiras que vão no pé?

Todas as pessoas morrem, mas nem todas um dia poderão saber porque viveram.

A morte é um dia que vale a pena viver é uma narrativa crua, singular e sincera sobre alguém que está ali quando todos estão partindo para o outro lado. Ana Claudia é uma espécie de anjo da morte que escuta as mais sinceras confissões, que auxilia no conforto do último suspiro e garante aos que ficam: a morte é um dia que vale a pena viver. Enquanto o seu dia não chega e você o teme chegar, o que você tem feito na lacuna?

Não há espaço para falar de morte com pessoas que não estão vivas em suas próprias vidas.

Anterior Seguinte

Você também pode gostar de...

Comentários do Facebook







Sem comentários

Deixar um comentário