Conhecemos Anastasia no final da sua faculdade. Ela mora com sua melhor amiga, Kate, e é a típica mocinha clichê dos romances: forte, honesta e inocente. Embora receba flertes de todos os lados, ela não consegue identificá-los ou correspondê-los. Como ela mesma diz, talvez por crescer lendo sobre heróis literários, nunca achou nenhum homem que fosse seu cavalheiro herói, nunca teve um namorado e está muito bem com isso, obrigada.
E é como um favor a Kate que Anastasia é apresentada a Christian Grey. Kate, que é jornalista, consegue uma entrevista com o CEO mais famoso do país, bilionário e riquíssimo Christian Grey, mas um dia antes fica doente, e implora a Ana que vá em seu lugar. Sem saber dizer não, Anastasia vai a sede da Grey Enterprise Holdings, e desde o começo se sente deslocada. O lugar é lindo, enorme, decorado quase que completamente de branco e é repleto de empregadas (sim, todas mulheres e todas loiras) extremamente bem arrumadas em terninhos e cabelos louros em um coque. Anastasia, a mocinha literária mais desastrada que existe, com seu jeans velho e um casaco surrado se sente super desconfortável enquanto espera ser chamada para conhecer o dono de tudo aquilo. Ao entrar – triunfalmente, diga-se de passagem – na sala do CEO, Anastasia fica abismada. Christian (também eleito solteiro mais desejável de Seattle) a surpreende quando se mostra muito jovem e perspicaz.
Em seguida, configuro o gravador digital, deixando-o cair duas vezes na mesa de centro diante de mim. O Sr. Grey não diz nada, aguardando com paciência — espero — enquanto fico cada vez mais sem jeito e nervosa. Quando arranjo coragem para olhar para ele, ele está me observando, uma das mãos relaxadas no colo e a outra segurando o queixo, passando o esguio dedo médio nos lábios. Acho que ele está tentando conter um sorriso.
— Desculpe — gaguejo. — Não estou acostumada com isso.
— Não tenha pressa, Srta. Steele — diz ele.
— O senhor se incomoda de eu gravar a entrevista?
— Depois de ter feito tanto esforço para configurar o gravador, é agora que me pergunta?
Descrito como um deus misterioso e lindo, Christian se mostra muito interessado em Anastasia durante a entrevista, de uma maneira tão aberta que até suas secretárias loiras se espantam. Anastasia fica completamente abalada com esse encontro, não se reconhecendo, uma vez que nunca se sentiu atraída dessa maneira por ninguém, muito menos por um cara que ela acabou de conhecer. Ao voltar pra casa, ela deixa tudo de lado e tenta esquecer esse encontro, afinal, quando ela vai voltar a ver essa criatura linda e quase mítica de novo? Nunca.
Então é com muito espanto que Anastasia dá de cara com Christian naquela mesma semana. A partir daí, fica inevitável já pensar nos dois como um casal e ansiar por mais cenas dos dois juntos. É muito divertido ver a interação deles: Anastasia fala na cara de Christian muitas coisas que ninguém fala, e isso só o faz se encantar ainda mais. Quando Ana é apresentada aos interesses peculiares de Christian na cama, ela se vê diante de uma enorme decisão: continuar com sua vidinha pacata ou se abrir a novas possibilidades e descobertas com esse homem misterioso.
Confesso que fiquei surpresa na primeira vez que li o que Christian gostava de fazer entre quatro paredes (ou em carros, elevadores, mesas de escritório etc…). “50 tons” foi o primeiro livro adulto que li e demorou muito pra eu me acostumar com alguns palavreados durante a leitura. Mas os comentários sobre o livro eram tão fortes, que fiquei esperando aquele momento em que eu ia me chocar com as preferências sexuais de Christian, mas – pasmem – esse momento nunca chegou. A relação BDSM (sigla cujo significado reúne os termos “Bondage e Disciplina”, “Dominação e Submissão” e “Sadismo e Masoquismo”) envolvia chicotes, fantasias e cordas mas nenhuma cena tão tórrida quanto o que eu estava esperando. Eu tanto li sobre como este livro era revolucionário, que suas cenas iriam mudar a relação das pessoas com a prática BDSM, mas olha… não vi nada de revolucionário assim. O que aconteceu foi um livro com descrições minuciosas sobre a cena do ato sexual “normal” (ou baunilha, em termos Grey).
Eu adorei o casal. Embora todo o preconceito em torno das cenas eróticas e do fato de Anastasia abrir mão de sua inocência sexual por um cara rico, não acredito que seja bem assim. Anastasia amava Christian, e isso sempre esteve bem claro. Suas concessões às preferências sexuais do mocinho, ao meu ver, não foram em troca de carros ou joias, mas de uma maior participação emocional dele na relação. Em contrapartida, desde o começo é visível que os sentimentos de Christian em relação a Ana são diferentes do que todos os seus relacionamentos anteriores. Suas trocas de e-mails provocantes, todo o cuidado dele em tudo que envolve Anastasia e algumas declarações em momentos inesperados, tornam as cenas do casal muito doces, mesmo em volta de tamanho teor sexual.
— Gosto das minhas mãos em você — murmura ele, e tenho que concordar: eu também.
Anastasia, eu poderia ver você dormir pra sempre.
Sinto que a história tem um tremendo potencial (não é à toa que os três livros foram um sucesso sem precedentes), e que a autora tem uma enorme capacidade de escrita. E.L. James consegue ganhar nossa atenção e descrever os sentimentos dos personagens muito bem, mas ela só faz isso quando quer. Não entendeu? Eu explico. Logo no começo do livro, me vi completamente envolvida na vida de Anastasia, na falta que ela sentia do seu pai de criação e em seu distanciamento com a mãe. Me senti presa a história que estava acontecendo ao meu redor, de tão bem que ela descreveu a situação. Mas com o avançar da história, ela só descrevia alguns momentos – em especial, os momentos sexuais – mas outros ela deixava de lado. Por exemplo: quando Ana entrava em uma festa, ao invés de lermos sobre a decoração da festa, a ambientação, as pessoas presentes no local, Anastasia simplesmente falava algo como “Chegamos na festa. Estava tudo impecável – puta merda!”. Já as cenas de sexo… posso apenas me limitar dizendo que ela as descreve em pequenos detalhes – detalhes até que não precisávamos saber.
A autoestima praticamente nula de Anastácia era exatamente igual a de Bella, mocinha de Crepúsculo. E as semelhanças entre as duas séries não param por aí, e esse foi um fator que me incomodou bastante.
Outro fator que me irritou foi que, embora tenhamos vários personagens secundários, em determinado momento do livro, a trama fica completamente em volta de Ana e Christian. Não digo que falava bastante deles dois, digo que SÓ falava deles dois, e a ambientação não mudava para os outros personagens, que poderiam ser muito bem aproveitados – gostaria muito de saber um pouquinho mais sobre a relação entre Kate e Elliot, Mia e Ethan etc.
A editora Intrínseca fez um trabalho impecável com o livro: a edição é maravilhosa, a fonte é ideal, e a capa (que em livros eróticos são sempre bizarras e muito explícitas) é de extremo bom gosto. Em resumo, 50 Tons de Cinza não é um livro que eu recomendaria a qualquer pessoa – tanto pelo seu conteúdo adulto quanto pelas falhas de narração – mas é um livro divertido, e uma vez que se conhece Christian mais a fundo e todos os seus motivos para ser desse jeito, a leitura parece se tornar mais profunda e tudo que lemos sobre ele passa a ter uma interpretação completamente diferente. “50 tons” é um livro ideal para quem quer passar o tempo, e não me arrependo nenhum segundo de o ter na minha estante!
O livro foi adaptado para o cinema e o lançamento será dia 14 de Fevereiro em todo o mundo! Pra quem ainda não conferiu o trailer, não fique de fora:
https://www.youtube.com/watch?v=tXQKZHFXbp4
E você, já leu? O que achou? Laters, baby!