Querido diário, às vezes sinto que sou incerto e que minha vida é cíclica. Que a minha ansiedade vem junto com o surto, tudo ao mesmo tempo e que não sei o que fazer. Minha analista vive me dizendo que preciso sair de cena quando isso acontece, que posso só esperar passar. Como esperar passar nessa onda de produtividade que tenho dentro de mim? Preciso produzir, mesmo sendo tão incerto.
Quando decido alguma coisa, no dia seguinte faço tudo cair por terra. Eu derrubo os castelos de areia que eu mesmo construí, diário. Como que pode isso? Por que a gente é tão incerto assim, hein? Porque eu não consigo simplesmente decidir. Dizem que sou multidisciplinar e meu talento está na conexão. Mas nunca dizem o fardo enorme e incerto que é ser bom em várias coisas ao mesmo tempo.
Você pode achar que estou me vangloriando, diário. Mas não. Realmente não é legal sentir muito quando muitos sentem pouco. Realmente não é legal saber de todas as coisas ao mesmo tempo. Eu queria ser bom em uma coisa só e fim. Eu não precisava ter esse poder de escolha tão incerto. E olha que eu nem sou geminiano, hein?
Não sei com que intuito te escrevo isso hoje. Não sei onde quero chegar, não sei onde vou chegar, nem sei se quero chegar em algum lugar ou só quero ficar aqui, vegetando, fingindo que nada acontece. Minha analista defende essa versão, mas ela me incomoda tanto. O ócio me incomoda demais.
Hoje resolvi mudar meus ares. Vim trabalhar na mesa da sala, estou assistindo ao meu filme preferido, desmarquei minhas reuniões e desmarquei até a minha analista. Hoje cansei de mim. Não quero. Estou incerto demais. Quero ficar em paz dos meus próprios pensamentos. Hoje não, Gabriel.
Talvez amanhã.
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