Estou de volta com a segunda parte da minha pretensiosa lista. O leitor há de decifrar o meu gosto particular e deduzir os limites do meu conhecimento de poesia principalmente nesta segunda parte. Sem mais delongas, vamos a ela.
5. Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
Uma confissão memorável da fraqueza do ser humano. A inteligência poética de Drummond é bastante notável nesse poema.
4. Timidez, de Cecília Meireles
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve. . .
Resistência do eu lírico em confessar o seu amor à pessoa amada. Não se sabe se algum dia a pessoa notará ser objeto de afeição da poetisa. Só se tem certeza de que o tempo – a única coisa certa – há de pôr fim à existência de quem ama.
3. Canção do Exílio, de Gonçalves Dias
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que ainda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Memorável retrato do sentimento de um exilado. Talvez um clichê, mas pela importância histórica, pela beleza dos seus versos e pelo patriotismo do autor deste texto, mereceu um lugar nesta lista.
2. Amor é fogo que arde sem se ver, de Luís de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
Soneto do grande poeta da língua portuguesa sobre as contradições do amor.
1. A Divina Comédia, de Dante
Acabara o ladrão, e, ao ar erguendo
as mãos em figa, deste modo brada:
“Olha, Deus, para ti o estou fazendo!”
E desde então me foi a serpe amada
pois uma vi que o colo lhe prendia,
como a dizer: “não falarás mais nada”.
Outra os braços na frente lhe cingia
com tantas voltas e de tal maneira
que ele fazer um gesto não podia.
Ah! Pistóia, porque numa fogueira
não ardes tu, se a mais e mais impuros,
teus filhos vão nessa moral carreira?
Poema épico que narra a imaginária passagem de Dante pelo Inferno e pelo Purgatório até chegar ao Paraíso. As geniais alegorias tornam o poema atemporal.
Encerro aqui a minha módica lista. O leitor pode encara-la como um incentivo e um guia para adentrar no maravilhoso universo da poesia. Uma ótima leitura a todos.