Muitas vezes ouvimos falar de nossos pais e avós que os tempos mudaram e que hoje já não há mais respeito, que os jovens são irreverentes e que a consideração pela opinião do outro deixou de existir. Será isso tudo verdade? Será que estamos vivendo dias em que há julgamentos mediante ao que se acredita, sem abertura para questionamento, observação ou estudo? É possível.
O neurofilósofo e estudioso de padrões comportamentais da sociedade Fabiano de Abreu demonstra preocupação com a irreverência da geração atual e o descaso com o conhecimento ancestral: “Me preocupa a nova filosofia cultural que se irradia a ofender todo o ideal filosófico de grandes nomes como Sócrates, Platão e Aristóteles. Eles eram pensadores precursores no que hoje chamamos de educação. A filosofia é a primeira matéria que originou todas as outras que nos alimentam não só de conhecimento, mas nos ajudam na sobrevivência. Vivemos a realidade abstrata da deturpação onde estudiosos interpretam a mensagem da maneira que melhor convém a necessidade própria em relação a personalidade esquecendo que a filosofia nasceu do questionamento e do argumento sem uma razão que não seja a final, racional, estatística, livre de qualquer entorno plural interpretativo. “
Mídias sociais como ferramentas da desinformação
Segundo Abreu, apesar de ser positivo que a mídia social tenha dado autoridade, autonomia e liberdade de expressar aos que não tinham voz, por outro lado nem todos estão aptos a exercer essa liberdade: “Acredito que a liberdade advém da consciência do que é certo e errado. Pois a liberdade não é estar solto, não é estar livre, é ter a consciência limpa, é não ser perseguido nem julgado. A liberdade nada mais é do que a falta de pendência. Nós sabemos o que é certo e errado subjetivo ao indivíduo e sua personalidade perante a cultura regional em relação a sua ética e a sua moral. É livre quem tem autoconhecimento, que sabe seus limites e que glorifica suas conquistas de forma humilde já que a própria capacidade o revela como um organismo cabível de falhas que se transformam em experiência. “
Para o neurofilósofo, posts maldosos e as chamadas fake news, que são noticias falsas em busca de destruir reputações e instituições, são armas de pessoas mau intencionadas que visam beneficio próprio através de artimanhas de manipulação: “Para muitos, a escrita é uma arma daqueles que sabem manipular, assim como um dispositivo que destrói a imagem de alguém que não a sabe usar. Mas não é de todo mau. A internet não é a vilã em si, é apenas o mecanismo de transparência que revelou o que sempre soubemos. Que precisamos de educação, precisamos de conhecimento e que somos limitados. O ser humano pensa ter um poder diante de uma consciência racional mais desenvolvida que a dos demais animais quando que, se fazemos o mal para os outros e para nós mesmos, melhor a inteligência do cão que sabe agradar e se posicionar em seu lugar. “
Respeito é fundamental
O especialista também aponta o papel do respeito na manutenção da ordem social: “O respeito é uma personalidade do curioso, do observador, que com inteligência respeita para que possa receber respeito e porque procura entender a posição do outro. Respeitar a opinião é refletir sobre ela e tentar entender, e melhor, conseguir entender, desvendar, interpretar o sentido e o motivo para, mesmo que reprovar, não ter tempo nem a vontade de retrucar já que o resultado nunca é satisfatório.”
Abreu salienta que somente pessoas que dão lugar à ignorância se acham no direito de julgar o outro com base nas suas certezas: “O julgamento sem análise e o argumento sem base é a resposta do ignorante à sua certeza abstrata a uma própria realidade. É a não aceitação do eu que é descontado no outro. A rede social não é de todo mau. Ela apenas revelou um eu que antes guardado, toma coragem de se expressar pois através de uma tela ninguém pode atravessar. “
Conhecimento é a resposta
O neurofilósofo não tem dúvidas que a única solução para os nossos dias e para trazer uma melhora na nossa sociedade e na postura que assumimos diante do outro é o conhecimento: “Não podemos mais desprezar a ciência e o conhecimento ancestral, os estudos que foram feitos por notáveis que vieram antes de nós. Quando temos conhecimento, abrimos a mente e sabemos que ele é infinito, que nunca estamos fartos. Mas quando não temos conhecimento, não vemos além, encontramos um teto, um limite, pois pensamos que sabemos tudo já que sabemos pouco. Quanto mais se sabe, mais sabemos que temos que aprender, quanto menos se sabe, mais achamos que não há muito a recorrer. “
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1 comentário
Esse movimento das notícias falsas é complicado.
Estamos vivendo uma crise de valores e de coletividade.
É sempre bom e necessários constatar a veracidade das informações antes de sair compartilhando.