E com um desabafo, um pedido de desculpas, um remorso que ali não cabia, se encerra o primeiro episódio de Magnífica 70. Muito se aguardava da nova produção da HBO, sexo, drogas, todo e qualquer tipo de música. Surgia nas redes sociais um conceito que muitos adotam como padrão “Brasil” de qualidade, onde só vemos A Boca do Lixo, o que de pior tem-se para oferecer quando falamos de trama. Ah, como é gratificante poder notar o silêncio dos que falam demais, como é bom ver o arrependimento dos sem criticidade. A nova série da HBO, que gira em torno de dois polos, o regime e aqueles que viveram sobre tal, premei-a o telespectador. Reproduz da forma mais fiel possível os anos de chumbo.
O piloto foca no drama psíquico de Vicente (Marcos Winter), que após vetar um entre outros filmes em seu emprego (Que obviamente é na censura federal) se vê transtornado. O homem liga a ficção a sua vida, trás o enredo para eventos passados, eventos que existiram por sua culpa e a partir dai vemos um emaranhado de lembranças, receios, medos e uma atuação esplêndida de Winter. Após termos visto o cotidiano de Vicente, corremos para o passado muito mais sombrio de Manolo (Adriano Garib), este por sua vez apresenta um problema comum: A impotência. Mas ela nascera de atos não tão comuns assim.
Eis que encontramos ela. A não tão confiável, Dora Dumar (Simone Spoladore). Encantadora, rodeada de misticismo, dita enviada pelo destino mas nos é revelado também que tudo ali fora bem planejado. O episódio começa com certezas aos montes, mas chega aos seus cinquenta e poucos minutos deixando na mente do telespectador as mais enraizadas dúvidas, os medos dos personagens transpassam a tela e tomam forma bem na nossa frente. Não se trata apenas de uma série que fala do período militar, mesmo começando com um retrato de nosso querido Garrastazu Médici, não assistimos à uma série que tem como objetivo expor apenas e exclusivamente a pornochanchada. Magnífica 70 não fica restrita ao clima artístico, mesmo quando Sangue Latino ecoa na voz de Ney na abertura. É um conjunto, uma mistura de política, tragédia, tensão, isso tudo acoplado a um elenco gigantesco, à uma fotografia de dar inveja a qualquer produção internacional, a um enredo eletrizante, que mistura Julietas e Romeus, que trás para nosso presente um passado não tão distante, que ressalta a auto censura, o temor pelo conhecido. Magnífica, sem mais, Magnífica.
Recomendamos o não veto de toda a obra.