Crítica: Filho da Mãe (2022)
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Crítica: Filho da Mãe (2022)

Demorou quase um ano pra eu conseguir assistir ao documentário póstumo de Paulo Gustavo, Filho da Mãe, desde a morte dele. Paulo Gustavo era o artista brasileiro que eu mais admirava e sua morte precoce me deixou realmente muito triste. Foi assunto de semanas de terapia por aqui. Eu não o conhecia. Só fui em um show dele da turnê Hiperativo lá em meados de 2015, mas desde então, nunca perdi uma estreia no cinema e todas as vezes que algum filme dele passa na TV eu me sinto obrigado a assistir e dou risada como se fosse a primeira vez.

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Filho da Mãe é uma homenagem pra gente que, assim como eu, sente muita falta das risadas genuínas que ele parecia arrancar. É um filme que mostra o backstage da última peça que ele fez com sua mãe Déa Lúcia, musa inspiradora de Minha Mãe É Uma Peça e que tem o mesmo nome do filme e acompanha a narrativa até seu último dia de vida, quando uma infecção por Covid-19 fez seu coração parar.

Paulo Gustavo, como o filme retrata muito bem na fala dos seus amigos mais próximos, era a pessoa que ele mostrava ser pra gente. Tudo poderia virar humor. E, apesar dele não se considerar militante da causa LGBTQIAP+, o que ele fez pelo movimento foi grandioso: um homem gay, que criou uma drag queen inspirada na mãe e entrou na casa de milhares de brasileiros pela porta da frente mostrando que o preconceito não deve existir dentro de casa. Dona Hermínia e Juliano mostraram um casamento gay em sessões de cinema completamente lotadas no país que mais mata LGTQIAP+ no mundo todo.

Depois, ele ainda nos mostrou que gays podem construir família. Teve dois filhos com seu marido de longa data, Thales Bretas, que dá seu depoimento no filme também de como foram as últimas horas de vida de Paulo Gustavo. Ele, médico dermatologista, conta que Paulo teve um mal estar em casa e que, tudo o que ele conseguia fazer não foi suficiente. Ele acabou internato, intubado e foi a óbito em alguns dias. Nesse tempo, o Brasil parou em meio a quarentena: jornalistas, fãs e pessoas de todas as crenças e religiões não podiam acreditar que Paulo Gustavo tinha partido, deixando uma família, dois filhos bebês que não veria crescer e um marido.

Embora Filho da Mãe seja um filme que mostra muito da sua carreira, de como ele era no dia a dia trabalhando, a parte que mais emociona em quase duas horas é o momento em que seus amigos pessoais começam a dar depoimentos. É impossível não se comover quando seus familiares falam e quando outros grandes nomes da comédia brasileira como Ingrid Guimarães e Monica Martelli tentam falar sobre Paulo Gustavo e não conseguem, interrompidas pelas lágrimas.

Eu, como fã, demorei muito tempo para conseguir ter coragem de ver o documentário. Foram várias vezes que apertei ali o botão do Prime Video e tirei logo em seguida. Dessa vez, consegui ir até o fim, mas me rendeu uma bela dor de cabeça depois de tanto que chorei porque, para nós, enquanto país e sociedade, é uma buraco que jamais conseguirá ser tampado. Paulo Gustavo foi uma supernova, uma referência e teve sua existência abreviada por um vírus mortal que aliado a um governo genocida, fez com que várias famílias, assim como a dele, sobrevivessem agora com uma parte de si faltando.

Filho da Mãe está disponível no Amazon Prime Video.

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