Eis o nosso especial de Cinema. O Beco Literário começa, com Cisne Negro, uma sequência de críticas sobre filmes que já estrearam há alguns tempo. Traremos, durante Julho e Agosto, uma crítica por semana, filmes independentes ou não, aclamados pela crítica ou não, o que basta é ser enquadrado neste perfil, onde centenas de pessoas já assistiram e admiraram, ou não. Iniciaremos com uma produção atual comparada às que virão. O indicado ao Oscar em diversas categorias, Cisne Negro é avassalador. Você verá porque.
A história mira Nina Sayers (Natalie Portman) como alvo. Bailarina desde da infância, a garota enfrenta a crise dos vinte anos, ignorada por muitos, parabenizada por alguns, Nina vive nesta turbulência mental onde é preciso ser e apenas ser, independente do que ocorra. A companhia de dança em que Nina atua está para se despedir de sua maior estrela Beth MacIntyre (Brilhantemente interpretada por ninguém menos que Winona Ryder) e paira no ar a apreensão de quem será sua substituta. Junto à este anúncio, de que uma nova estrela surgiria, vem a declaração do presidente da Instituição, Thomas Leroy (Vincent Cassel), de que em alguns meses um dos espetáculos mais conhecidos do mundo ganharia remontagem na Academia. Assim, com a pressão colocada sobre si, e por si só, Nina visa ser a Rainha centenária em “O Lago dos Cisnes”.
O filme tem uma roupagem peculiar para a época, vemos diversos outros similares a esse agora, demonstrando assim que “O Lago dos Cisnes” abriu portas. Se formos comparar, não enredos, mas gêneros, teremos Birdman, ganhador do Oscar de melhor filme neste ano, como primo mais que próximo de Black Swan. Lá está o protagonista, hora homem, hora bicho indomesticável, hora razão, hora loucura. Você pode conferir nossa crítica sobre o filme clicando aqui. As semelhanças aparecem aos montes entre as duas produções, e tudo nos deixa entender que em 2010 Black Swan não levou seu Oscar de melhor filme pois não deixou sua face simpatizar com a Academia, pois os dois, em uma corrida, ficam emparelhados.
O filme engata a partir dos quarenta minutos, toda uma introdução é necessária para que o telespectador entre no clima do show, da coxia, do terror e da beleza que o Teatro pode oferecer. Nina sabe muito bem onde está, quando está e o que deve fazer, mas é provado que quem mais certeza tem, mais erros comete. A garota enfrenta em casa uma Mãe frustada e possessiva. A mulher não pudera ter o que sempre desejou, não pudera subir nos palcos e lá ficar, Nina era sua esperança de sucesso, de ser o que não fora. E ela caminhava para isso, caminhava para ser a estrela que ofuscaria Beth, a super nova incapaz de cessar.
Nina consegue o papel principal, atuará ao som de uma Orquestra faminta, aos olhares de centenas, ali, prestes a lhe apunhalar. A obsessão em ser tudo ao mesmo tempo toma conta da garota. Ela não era mais Nina, não, ela era um ideal. Ao seu redor, só se enxerga intrigas, é assim que ela convive, desconfiando de tudo e de todos. A atuação de Natalie é algo imprescindível, o rosto do Cisne está ali, nas expressões de Natalie, nas não expressões da mesma, é algo angustiante e ao mesmo tempo prazeroso, ver o talento, poder tocar naquela habilidade clara. Portman é o absurdo da beleza teatral, não fora atoa que levara uma estatueta para casa em 2011.
Tudo no filme funciona. A trilha sonora é ensurdecedor, a música medonha do Lago dos Cisnes invade nossas mentes, produz um efeito que poucas trilhas conseguem, assemelhando sua profundidade à uma Interestellar ou igualmente fantástica como a de Lord of the Rings. O pulsar de Nina é capturado em cada canção. A fotografia começa falha, mas se recupera com o passar das cenas, seu ápice é alcançado na dança final,quando o as mudanças de cenário, entre palco e bastidores, nos tira o fôlego. A direção de Darren Aronofsky assemelhasse ao que já foi falado sobre trilha e fotografia, seu talento para com o roteiro de Mark Heyman, Andres Heinz e John McLaughlin é eletrizante, cada cena, cada momento capturado, cada ânsia, tem as mãos de Darren.
Há mais de cinquenta anos um senhor chamado Alfred Hitchcock abalou o mundo com um filme chamado “Psycho”. A história não era dele, não, era inspirada em um livro que o mesmo retirou das livrarias assim que entro em contato, mas Hitchcock fez o que ninguém teve coragem alguma de fazer. Alfred nos presenteou com Norman e sua Mother. Anos depois um mistério bem mais inquietante surgiu, anos depois algo tão bom quanto Psicose brota do seio do cinema, desnorteante, é assim que podemos definir Black Swan. A verdade é muito curta para se contar, por isso, em quase duas horas de filme nos contentemos com as diversas manobras que uma mente, uma simples mente, pode provocar. Nos conduza, Nina, falamos ao começarmos à assistir. Ela nos leva para o mais profundo Hades, ela nos faz bailar sem nem levantar da cadeira, do inferno ao céu. Do breu à luz. Do início ao fim. Até a perfeição.