morar sozinho em outra cidade
Colunas, Estreias

Como é morar sozinho em outra cidade?

Morar sozinho, por si só, já um tremendo desafio. Adicione o fato de morar sozinho em outra cidade, longe de (quase) todos que você conhece e poderiam te ajudar em uma dor de barriga.

Com 21 anos, no último ano da faculdade, me mudei de São José dos Campos para Taubaté, onde eu fazia faculdade e trabalhava, para facilitar as coisas e morar com o meu namorado. Você pode falar, ah Gabu, mas são só 40 minutos de distância entre uma cidade e outra. Nem é tanto assim! Mas posso te garantir: faz toda a diferença.

Em Taubaté, além do Patrik, meu namorado, eu só tinha alguns poucos amigos da faculdade. Poucos, porque a maioria deles era de outra cidade e ia até Taubaté só de noite para estudar. Para resumo, umas duas ou três pessoas.

A mudança foi tranquila. A gente comprou os móveis principais (fogão, geladeira e afins – mas isso é assunto para outro post), outros nós já tínhamos e alguns nós improvisamos, tipo um sofá de pallets, colchão e almofada. O primeiro apartamento tinha poucos metros quadrados. Não dava para mais de duas pessoas morarem nele, mas ainda sim adotamos um coelho, o Gabrik.

Em um primeiro momento, você pode pensar que nada acontece assim, de tão extraordinário que precise de um help imediato de alguém da sua família ou conhecido. E mesmo hoje, dois anos depois, em outro apartamento e outra realidade, as coisas não mudaram muito.

A primeira vez aconteceu quando um cano estourou na cozinha. O azulejo ficou alagado por dentro. O que fazer? Encontrar o registro e desligar. Entrar em contato com um encanador. Mas onde fica o registro? Qual é o registro? Onde encontrar um encanador de confiança? O quanto é o valor do serviço e o quanto são pessoas querendo passar a perna por perceberem que são pessoas que não conhecem nada?

E lá se vai a gente ligar desesperado para os nossos pais. Você nunca sabe quando um cano vai estourar. Nem o que fazer com isso.

Outro dia, cozinhando, o Patrik, sem querer, derrubou uma panela de água quente no pé. Ok, chamo uma ambulância? Como chegamos ao hospital sem ter um carro? Ele não conseguia andar e estava morrendo de dor. Será que o Uber chega a tempo às 3h da manhã?

As coisas que você menos imagina acontecem quando você vai morar sozinho e, quando você está longe da sua rede de apoio, tudo fica ainda mais complicado. A gente sabe muito da teoria ensinada nas escolas, mas nada da prática.

Eu aprendi até a montar um armário de cozinha. Pela intuição. Peguei as tábuas, martelei aqui e ali e o armário estava montado. Ficou meio bambo? Ficou, mas isso não importa agora.

Hoje em dia, algumas coisas parecem que entraram em mim por osmose ou pura intuição. Eu sei como separar as roupas do cesto sem pegar pelo em nenhuma delas. Sei tirar manchas de vela, como clarear os azulejos e desentupir pias. Como lidar com síndicos e vizinhos sem noção e como me impor. Mas alguém precisa te falar: não é fácil, de verdade! Estando longe de todo mundo, é normal que bata aquela insegurança. Sendo jovem, as pessoas vão te olhar como se você fosse besta, impotente ou como se não levasse as coisas a sério. Ô se vão!

Recentemente, nosso coelho, o Gabrik, morreu. Eu estava cozinhando e senti que ele não estava normal. No mesmo instante, já liguei pro veterinário de plantão especializado, chamei um Uber e chegamos em menos de 30 minutos. Infelizmente, ele veio a falecer. Ok, eu sabia o que fazer até aquele momento. Mas e o corpinho? Não é justo deixar lá para descarte. Onde vamos enterrar? Moramos em um apartamento, que é grande, mas não tem um canteiro e é alugado!

E lá se foi o Patrik ligando para os pais dele, que chegaram em casa algumas horas depois para levar o corpinho para ser enterrado na chácara. E se eles não pudessem vir? A resposta era pegar um Uber até a cidade vizinha, que provavelmente seria mais de cem reais.

O fato é: morar sozinho é caro. Morar sozinho é complicado. Morar sozinho, em outra cidade, longe daquela rede de apoio que você se acostuma é complicado e, muitas vezes, para solucionar seus problemas, você vai precisar de mais dinheiro ainda.

E quem disse que jovens tem dinheiro assim? O jeito é dar o famoso jeitinho aqui e ali porque, apesar da dificuldade, eu faria tudo de novo. Sair da casa da minha mãe me proporcionou um autoconhecimento e um conhecimento de mundo incrível. Eu tive essa oportunidade, parte por necessidade, mas consegui. E, se você tem essa oportunidade também, vai fundo. Não se acomoda.

Eu sei, é mais quentinho ali no conforto da casa da sua família, com tudo na sua mão. Mas, a partir do momento que é você por você, ou no máximo, você e seu namorado contra o mundo, a figura muda um pouco. Saiba que os momentos difíceis vão aparecer de onde você menos imagina. Mas a solução também vai sair de uma perspectiva que você jamais imaginou antes.

Anterior Seguinte

Você também pode gostar de...

Comentários do Facebook







Sem comentários

Deixar um comentário