Cético, eu?
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Cético, eu?

Cético – adjetivo substantivo masculino
1. partidário do ceticismo;
2. aquele que não confia, que duvida;
3. descrente, questiona crenças estabelecidas.

Quando eu era criança, talvez por influência de Harry Potter, eu queria ser bruxo. Misturava vinagre, óleo, tinta e tudo o que encontrava pela frente, fingindo que eram poções. Sempre gostei do místico e nem sei o porquê. Minha família, por um lado, é bem católica. De outro, nem tanto, mas ainda sim com suas crenças.

Eu amava química. Uma vez, pedi de presente vidrarias de laboratório: tubos de ensaio, erlenmeyers, béquers, pipetas…. Sim, eu sei os nomes até hoje. Cético era uma coisa que eu não era. Cresci vestindo capas pretas e me interessando por tudo aquilo que não podia tocar.

Na adolescência, vivi a modinha dos signos desde o começo. Os zodíaco dos jornais e dos folhetins se tornou um mapa astral e um guia para conhecer as pessoas com as quais a gente se relacionava. Era ascendente, lua, vênus…. Qualquer pessoa que cruzava o meu caminho não era párea para as minhas análises. Será que eu já estava gostando de entender o ser humano nessa época?

Jovem-adulto, conheci o tarô como se fosse um chamado. Um dia, tendo exatos cinquenta reais no bolso, fui até a livraria e vi um deck de tarô a venda, junto com um curso. Comprei. Aprendi sozinho, treinando com pessoas próximas de mim até começar os meus primeiros atendimentos para fora. Ainda comecei a gostar de incensos, de ervas, pedras, guias…. Eu não conhecia nenhuma religião a fundo, mas me atraía e acreditava igualmente em todas elas.

Brincava que era politeísta. Acreditava em tudo o que cruzava o meu caminho. Mais uma vez, longe do ceticismo. As energias da natureza, o karma, as pedras, meus guias, meu baralho e meus astros eram as armaduras que eu tinha para criar minha narrativa de mundo.

Esse ano, comecei a estudar psicanálise. Entendi um pouco o funcionamento do nosso inconsciente e peguei uma linha reta, direta ao ser cético. Os signos de repente não me atraíam mais. As cartas de tarô também não. Por quê?

Eu me questionei dias e noites. Ainda não sei, mas sei que sou 8 ou 80. Não sei se consigo acreditar em algo que é científico ao mesmo tempo que consigo ter minhas crenças, baseadas puramente no que elas são: crenças. Para mim sempre tem que ter algo a mais.

Eu tenho a síndrome de ter algo a mais. A realidade para mim não é suficiente. Eu preciso me apegar a algo além. As crenças precisam de provas. A ciência precisa se desdobrar na minha frente. E eu me pergunto: para quê?

Tenho buscado largar essas amarras e assim que finalizar esse texto, vou calcular um mapa astral. Eu sou do tipo que acredita desacreditando, sabe? É como diz a Betty, daquele trote famoso: comé que pode isso?

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