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Um olhar sobre a pulsão de morte: o famoso “dedo podre”

A famosa expressão “fulano tem o dedo podre” ganhou a boca do povo e não é de hoje. Tanto na vida real, quanto na ficção, pessoas vem dizendo que outras tem o “dedo podre” quando escolhem parceiros aparentemente incompatíveis com quem elas se mostram para o mundo. Um grande exemplo disso, é a personagem Marilda, no seriado “A Grande Família”, exibido pela Rede Globo nos anos de 2001 a 2014.

Na trama, a cabeleireira vivia em busca do namorado perfeito e acabava sempre por se relacionar com “cafajestes”, como ela mesmo chamava. Sua busca era incessante e em vários episódios, era comum de ver ela contando para Nenê, sua melhor amiga e protagonista do seriado, que iria cortar o seu dedo fora, porque ele era “podre” para escolher parceiros. O fim do seriado se deu com a personagem indo embora com um grande amor que ela conheceu em uma fazenda do interior e nunca mais retomando contato com a família Silva.

Esse exemplo, conhecido por quase todos os brasileiros expressa bem uma visão psicanalítica da pulsão de morte, isto é, o contrário daquela pulsão de vida, de prazer.

A expressão dedo podre

A origem da expressão “dedo podre” não é fácil de ser encontrada. Apesar de não constar em nenhum dicionário ou registro formal, ela está na boca do povo. De acordo com o Dicionário Informal, alguém que tem o dedo podre, é alguém que sempre faz as escolhas erradas, que não acerta uma, principalmente em relacionamentos. Aquela pessoa que faz más escolhas em relação ao amor e às amizades.

Psicanalisando a expressão, podemos dizer que alguém que tem dedo podre é alguém que te tem uma compulsão pela repetição. E esse estado, segundo o emprego de Freud em suas obras, denomina quando “[…] o sujeito [está] sendo obrigado, contra sua vontade, a agir de determinada forma” (Hanns, 1996, p. 100). Por isso, podemos observar que a compulsão pela repetição resulta de um conflito pulsional, que impõe ao sujeito algo que ele deve fazer, ao mesmo tempo em que isso o faz sofrer.

Observando pela perspectiva de Lacan, denominamos como o gozo. Aquele prazer, que mesmo sendo um desprazer, satisfaz, alimenta. E essa alimentação não é tudo o que a gente busca dentro de um relacionamento? Pode ter coisas erradas, mas se tem essa alimentação, “está tudo bem”, na grande maioria dos casos.

A pulsão de morte

Quando conceituamos o “dedo podre” como compulsão pela repetição, estamos vinculando o conceito à pulsão de morte.

Pulsão, para Freud, é um “impulso, inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas” (Freud, [1920] 1976, p. 54). No começo de sua conceituação, Freud acreditava em duas pulsões, a sexual e a de autoconservação, que se contrapunham. Com o tempo, ele entendeu que o princípio do prazer não era único e não representava o inconsciente como um todo. Tinha um algo a mais, além do prazer.

Foi então que Freud conceituou e introduziu a pulsão de morte. Aquela pulsão desligada, desvinculada de representações, com tendência destruidora, se mantendo estagnada: sem se descarregar e sem se vincular a alguma representação.

Como toda pulsão, ela quer satisfazer o seu desejo, mas não consegue. A tendência que “sobra”, então, é a tendência pela repetição. Enquanto não há uma vinculação, a pulsão de morte se repete, retomando sofrimentos que o sujeito viveu em fases anteriores da vida, ou também, o que chamam popularmente de “repetir padrões”.

A pulsão de morte quer ser satisfeita, como toda pulsão, e quer pela via mais curta, pela descarga imediata. E para isso, ela usa da transferência de alvos – quase uma sublimação, mas uma “sublimação ruim, malvada”.

A problemática da repetição e da pulsão de morte

Como vimos, o “dedo podre” está completamente ligado à pulsão de morte e esta, totalmente ligada a tendência pela repetição. Ao não trabalhar certos traumas, encaminhando essas pulsões que precisam ser realizadas e descarregadas de uma forma saudável (a sublimação, em sua forma verdadeira), a pessoa que “tem o dedo podre”, acaba por transferir inconscientemente suas pulsões para alvos errados e por isso, nunca há uma descarga e uma satisfação plena.

A grande problemática disso tudo são os relacionamentos abusivos. Pessoas que se denominam ou que são denominadas com “dedo podre” acabam se envolvendo em relacionamentos amorosos destrutivos, tal qual observamos, no começo do texto, a personagem Marilda, da ficção. E aqui, neste ponto, podemos questionar esses relacionamentos e vincular com o conceito de gozo de Lacan. Se o gozo é aquele prazer, que mesmo sendo um desprazer, satisfaz, não é muito perverso dizer que há essa “alimentação necessária” para o relacionamento ir adiante, mesmo sendo abusivo? Uma pessoa com pulsões de morte não descarregadas de forma adequada, a portadora do tal “dedo podre” não tem consciência do seu ciclo de autossabotagem e de violência em que pode estar inserida.

Por isso, dizer que ela obtém seu gozo dentro do relacionamento é tão cercado de perversidade. Seria o mesmo que dizer que comer um bolo mofado é bom, porque, pelo menos, o sujeito está inserindo alguma comida.

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Ansiedade: mal do século ou mal da nova geração?

Há alguns anos, a depressão chegou a ser considerada como o “mal do século XXI”, com dados da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), falando sobre uma suposta epidemia de depressão. Muitos debates foram levantados acerca da doença, inclusive aquele que questiona se os casos estão realmente aumentando ou se só estamos diagnosticando de forma melhor. No entanto, um outro mal parece assolar a maior parte da nova geração (chamada de geração Z), que desponta agora no mercado de trabalho e na vida: a ansiedade.

Se a depressão foi considerada o mal do século XXI até este momento, seria a ansiedade o mal da segunda metade do século, em que os jovens já estarão na terceira idade ou na meia idade?

A ansiedade

Antes de falar sobre a ansiedade e o suposto “novo mal do século”, precisamos entender o que ela é e de onde ela vem. Podemos dizer que ela é prima do medo, e se baseia em uma emoção vaga, bem desagradável e que nos traz tensão. Ela prepara o nosso “eu primitivo” para a batalha. Nós carregamos um DNA primitivo ainda, aquilo que chega pra gente por meio do instinto e, nas épocas primitivas, o medo e a ansiedade eram coisas boas, porque eram as coisas que nos mantinham vivos. Preparados para a fuga ou para a batalha. A ansiedade e o medo então, sinalizam para nós algumas ameaças antes mesmo delas acontecerem. Além disso, ela pode melhorar nossa performance, nos proteger de estranhos e reduzir o excesso de autoconfiança.

No entanto, tudo tem um limite e é além desse limite que está instaurada a “ansiedade-mal-do-século”. É quando todo esse medo se torna uma tensão constante que impossibilita o relaxamento, gerando insônia, tremedeira, palpitações, sudorese e outros sintomas.

Possíveis causas

Estar ansioso é diferente de ter uma ansiedade patológica, isto é, um transtorno de ansiedade. Todos nós experimentaremos os sentimentos que retratei no tópico anterior em algum momento da vida. Seja por medo, por alegria ou por expectativa, nós estaremos ansiosos e isso é um sentimento normal, que precisa ser acolhido. O ponto é quando isso passa do limite e se torna patológico. A ansiedade não se torna mais pontual e se torna quase que uma âncora na nossa vida.

É fato que o nosso mundo mudou e a ansiedade parece vir intrínseca a essa mudança. Se ela é prima do medo, ela é uma prima que pode se tornar uma visita indesejável, já que no medo, conhecemos as causas que geram aquele sentimento, na ansiedade, não. As causas são difusas, conflituosas e até mesmo, desconhecidas e vagas. É sentir medo por algo que nem sabe se vai acontecer. Mas, é compreensível nessa nova era do mundo, por isso, é preciso cuidado.

Estamos numa época em que a informação circula livremente, a todo o tempo. Nós temos acesso às informações literalmente na palma da nossa mão, pelo celular. E a primeira geração a ter que se adaptar com essa nova realidade, foram os jovens, que hoje citam a ansiedade como mal do século. Foi preciso se adequar ao novo mercado de trabalho para conseguir estar inserido nele – já que as dicas dos pais não valiam mais de nada. Foi preciso aprender as novas tecnologias na raça – já que não tinha ninguém antes para ensinar. Foi preciso quebrar paradigmas e preconceitos enraizados há muito tempo na sociedade – sem nada além das próprias convicções. A nova geração, chamada de geração Z (pessoas que nasceram entre a segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010), chegaram para participar dessa mudança. E toda mudança exige lidar com o desconhecido. Mudança gera medo. E o medo do desconhecido é o quê? A ansiedade.

A grande quantia de informações e o medo de perder alguma coisa, também chamado de “FOMO – Fear Of Missing Out” é quase um sintoma “obrigatório” quando a gente fala de ansiedade na nova geração. A ânsia de sempre aprender mais, sempre estar a frente e sempre ser o primeiro está tornando a resposta biológica do nosso corpo, presente no nosso DNA desde a as eras primitivas, em patologia.

O que fazer, então?

É preciso falar sobre ansiedade. Explicar que ela é uma resposta biológica do nosso corpo e que devemos saber interpretar e sinalizar quando ela passa do limite, quando ela se torna patológica. E claro, também é preciso conscientizar sobre prevenção e tratamento.

Numa era de tanta informação, a informação de saúde acaba ficando em segundo plano. A geração Z não se desliga. Trabalha vinte e quatro horas por dia e nos intervalos, pesquisa notícias, curiosidades, informações…. O tempo todo lidando com o desconhecido.

Dessa forma, com a informação, que as pessoas já consomem (só não são 100% confiáveis ainda), a ansiedade pode não se tornar um mal do século, como é sabido da depressão. Ainda dá tempo de mudar o cenário.

É preciso conscientizar que os momentos de descanso, de ócio e de desligamento são tão importantes quanto os momentos de atividade. E claro, a visita ao médico sempre que sentir que algo saiu do limite.

A ansiedade, uma vez compreendida e entendida, pode ser facilmente manejada. Psiquiatras, psicólogos e psicanalistas devem atuar em conjunto para conscientizar e remediar – seja por medicamentos, por processos terapêuticos e até mesmo, pela fala. A fala cura e deixar alguém com ansiedade falar, é uma grande forma de colocar para fora todo aquele sentimento pressionado e escondido.

pulsão
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Você sabe a diferença entre instinto e pulsão?

Quando iniciamos o estudo em Psicanálise e começamos a aprofundar nas temáticas, logo conhecemos o famoso termo “pulsão”, que chegou no que Sigmund Freud definiu como Teoria das Pulsões. O conceito de pulsão, seria a de um “representante psíquico das excitações provenientes do interior do corpo e que chegam ao psiquismo” (ZIMERMAN, 1999, P.82). Mas, e na prática? O que é uma pulsão e como ela se difere do instinto? Por que pulsões e instintos não são a mesma coisa?

Entendendo a pulsão

A pulsão, como o próprio nome sugere, é como se fosse um impulso. Uma espécie de força que precisa ser dirigida para um representante – seja ele um afeto ou uma ideia – para se manifestar. Resumindo, ela nos mobiliza para uma direção e busca um representante para a energia se manifestar. Ela advém de um desejo e quer satisfazer esse desejo por meio de um objeto.

Uma mulher viciada em comprar bolsas, por exemplo, mesmo tendo várias bolsas novas em folha no armário. Qual é o desejo que ela busca saciar dentro de si mesma e os realiza por meio da compra excessiva de bolsas novas? Afinal, bolsas são bolsas, servem para carregar coisas. Ter uma ou duas, no máximo, seria mais que suficiente. Essa energia que a faz comprar a bolsa para satisfazer seu desejo inconsciente é a pulsão.

Antes de entendermos o instinto, é importante saber que a pulsão nasce a partir dele, mas se constitui acima dele. Essa demanda que vem do corpo ao psiquismo para saciar os prazeres é a pulsão.

Entendendo o instinto

O instinto, por sua vez, é determinado pela hereditariedade. Vem com todos os seres vivos. Um leão se alimenta única e exclusivamente por instinto. Ele sente fome, caça e come, saciando sua fome. Possivelmente, ele nem sabe que aquele sentimento é fome. Talvez seja apenas um desconforto que sua hereditariedade faz com que ele coma a fim de acabar com aquela sensação. Ele tem um cunho biológico que dirige o organismo para um fim particular, com um objeto de representação bem específico. O leão come porque tem fome. Só por isso.

Os instintos são uma espécie de força que incita o ser vivo a tomar uma ação, ele inicia a necessidade da ação, sem determinar qual ação e com qual intensidade de força essa ação precisa ter para se realizar.

Instinto e pulsão: colocando os pingos nos “Is”

Agora que entendemos os conceitos separados de instinto e pulsão, vamos relaciona-los, lado a lado. Enquanto o instinto é uma pressão que vai dirigir o organismo de um ser vivo para um fim específico e particular, pela necessidade, a pulsão é uma força que vai tender o ser humano para um alvo específico, com uma direção e um representante.

O instinto, portanto, é a força que inicia a NECESSIDADE de uma ação. Sem predeterminar qual ação em particular e qual é a força dessa ação. Já a pulsão, terá aspectos mentais, como um impulso, um desejo. A força da pulsão precisa ser dirigida para um representante para a energia se manifestar. Voltando ao exemplo das bolsas, ninguém compra bolsas por instinto. Mas também, voltando ao exemplo do leão, as pessoas não comem somente por instinto, como os animais.

Um bebê, quando nasce, por exemplo, vai sentir um desconforto e chorar. Sua mãe, por meio de toda conexão que existe entre criança e mãe vai interpretar aquele desconforto como fome e vai oferecer seu seio para que a criança possa mamar. Enquanto ela amamenta, ela passa a mão na cabeça do filho, ela olha com ternura e afeto, ela canta, ela oferece seu colo, no sentido literal e figurado. O bebê chorou de fome, pela primeira vez, mesmo sem saber que aquilo era fome, por instinto. Da segunda vez em diante, ele vai chorar pelo desconforto, mas não vai ser somente o alimento que ele deseja: ele vai desejar também o colo da mãe. A pulsão, nesse caso, ficou sobre o instinto.

Além disso, nós, como seres humanos, imaginamos saber o que é fome. Mas será que esperamos estar morrendo de fome para irmos atrás de alimentos? Não. A gente interpreta nossos sinais e nos alimentamos, na hora que bem entendemos. Sabemos que é necessário, mas não comemos só quando é necessário: comemos quando nos sentimos felizes, tristes, para comemorar…. Por que você acha que as pessoas saem para beber quando estão felizes? Por uma mera necessidade? Ou por satisfazerem seus desejos inconscientes de socialização, extroversão e diversão? Se você ainda estiver em dúvida, a segunda opção é a correta!

Podemos pensar de forma resumida e compacta da seguinte forma:

– Um instinto inicia a necessidade da ação, sem predeterminar qual ação e qual é a sua força. Ele só sabe que precisa fazer alguma coisa;

– Uma pulsão tem a função de realizar um desejo, de causar prazer, por meio de um objeto representante (afeto ou ideia);

– Instintos são puramente necessidades, pulsões tem aspectos mentais, o que comumente podemos denominar como desejos.

O conceito de pulsão passou por várias variantes dentro do estudo de Freud com o nascimento da psicanálise, como pulsões de auto conservação, pulsões sexuais e posteriormente, pulsões de vida e pulsões de morte. No entanto, esse debate é propício para outro artigo, já que neste aqui vou me ater a somente diferenciar pulsão de instinto, conceitos muito parecidos que podem facilmente causar dúvidas.

contrato psicanalítico
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A importância do contrato psicanalítico

Tudo o que fazemos na vida envolve um contrato, seja ele o que chamaremos de “formal” ou “informal”. No caso das ações formais, escrevemos em um pedaço de papel todos os direitos e deveres, assinamos com todas as partes envolvidas e reconhecemos em cartório. No caso das ações mais corriqueiras, do dia a dia, estabelece-se um vínculo, um compromisso.

É importante notar que, apesar de diferenciar como ações formais e informais, moralmente falando, os vínculos e compromissos tendem a ser levados mais a sério que contratos escritos. Talvez isso se deva a cláusula de encerramento que todos os contratos ditos “formais” devem ter. Eles já começam com hipóteses muito claras de como terminarão. E esse não é o caso do contrato psicanalítico, que, apesar de se estabelecer no que chamo de “ação informal”, não se sabe quais caminhos enveredarão até seu final e sua conclusão.

Psicanálise: a técnica pela fala

A psicanálise é a ciência da interpretação e do inconsciente. Não é exata, ela reside nas particularidades de cada ser humano. Nas “impressões digitais psíquicas”. E para acessar essas particularidades, que estão no inconsciente, escondidas, recalcadas, usa-se da fala por meio da associação livre. O paciente começa falando, associando suas ideias livremente e o analista, uma vez estabelecida a transferência, entra nesse mundo de significantes e significados ajudando a desatar os nós.

Essa associação livre de induções e de julgamentos é o caminho para se conhecer o inconsciente, isto é, as “impressões digitais psíquicas” de cada ser humano. Uma vez encontrado esse caminho, é a hora de colocar as mãos na massa. É hora do paciente se conhecer, com a ajuda de seu analista.

A entrevista na psicanálise e a transferência

Ao começar qualquer tipo de terapia, é comum que o paciente queira conhecer seu terapeuta. Ver se “o santo bate”, se “rola o feeling”. No entanto, esse processo não deve e não pode ser unilateral. Precisa acontecer dos dois lados e é para isso que a entrevista psicanalítica é feita antes do processo de análise propriamente dito começar.

O processo do “santo bater”, é nada mais que a transferência entre analisando e analista. Aquele dá permissão para que este entre e fique imerso em sua rede de significados, símbolos e significações. Dessa forma, o psicanalista pode indagar de forma mais assertiva, propor interpretações e ajudar no debate do paciente consigo mesmo. E o direcionamento desse processo acontece durante a entrevista psicanalítica.

Chamada por Freud de “tratamento de ensaio”, a entrevista era um processo em que se conhecia o analisando e o “admitia” em análise. Era quase como se fosse uma prova, para ver se ele estava apto para prosseguir. Depois, Lacan chamou esse processo de “entrevista preliminar”, que selaria o contrato psicanalítico em si, procedimento que é usado até nos dias de hoje, com suas devidas adequações.

Posto isso, podemos dizer então que a entrevista psicanalítica é aquele primeiro encontro entre analista e analisando para ver se o “santo bateu”, para que a transferência aconteça de forma direcionada àquele analista em específico. Da mesma forma que o sujeito procura com suas preocupações iniciais, o analista, por sua vez, identifica a demanda de análise com aquele paciente em uma hipótese diagnostica. Ele precisa conhecer a motivação inconsciente (desejos, disponibilidades, expectativas), o funcionamento psíquico (vínculos afetivos, modo de se ler e de ler o mundo) e a organização da personalidade (quadros neuróticos, psicóticos, perversos) para então estabelecer um corte, com o fim da entrevista, para dar entrada no método analítico, com o discurso analítico em si. Isto claro, se o paciente for aceito em análise, como debateremos no próximo item.

A hipótese diagnóstica e a histericização do discurso

O sujeito a ser analisado é quem procura o analista, quase que na totalidade dos casos.  Com isso, ele se apresenta por meio dos seus sintomas, dos seus significantes. A entrevista começa a partir desse instante. Nela, o paciente associa livremente e o analista deve falar o menos possível, apenas para manter o futuro analisando falando. Nesse primeiro momento, não se interpreta o seu discurso, deixa-se que o sujeito apenas introduza os significantes e as suas estruturas, conforme explicamos no tópico anterior.

Com a fala do paciente, entra a questão diagnóstica em jogo e cabe ao analista formular as primeiras hipóteses em sua cabeça. Com isso, ele decide se irá ou não receber aquela demanda de análise. “O fato de receber alguém em seu consultório não significa que o analista o tenha aceito em análise” (Quinet, 1991, p.15). Caso o analista perceba a presença de riscos pelos quais não poderá se responsabilizar ou caso o paciente se encontre num estágio em que se torna difícil levar a análise adiante, o psicanalista pode não se autorizar a estar naquele processo.

No entanto, caso o analista se autorize para aquele analisando, sela-se o contrato analítico. Nesse primeiro momento, no início do processo, o sujeito analisando pode colocar o analista em uma posição de autoridade, como se tivesse todas as respostas do mundo. É preciso então, começar uma construção, por meio da fala, de ligar significantes e significados com o analisando para que ele possa, sozinho, reconhecer de onde vem os sintomas de sua demanda analítica, por exemplo. Com isso, aos poucos, o analista vai entrando nessa “teia” do paciente e estabelece-se de uma vez por todas, a transferência, que é primordial para que a análise aconteça. A partir de então, os sintomas analíticos passam a ser um enigma para o paciente, que será apontado para uma divisão, isto é, para um processo de decifração.

Feito isso, o analista vai induzindo e questionando o analisando a entender seu discurso e a compreender esse enigma da sua mente. Claro que, o analista, em um primeiro momento, pode compreender algo mais depressa que o analisando, mas não deve “contar” a ele. Pode ser que ainda não seja o momento e que ele não esteja preparado para receber a informação.

O analista deve guiar, mas o nó precisa ser desatado pelo analisando no final das contas.

Enem: livros e períodos literários que caem na prova
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Especialista dá dicas de Inglês que podem fazer a diferença no ENEM 2021

O calendário de provas do ENEM 2021, o primeiro no cenário de pandemia, começa no próximo dia 17 (provas tradicionais) e 31 (provas digitais). Vale lembrar que, desde 2010, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou a cobrar conhecimentos de línguas estrangeiras, Inglês ou Espanhol. Das 45 questões totais da área de linguagens, códigos e suas tecnologias, cinco são da língua estrangeira escolhida pelo aluno no ato da inscrição. Ou seja, representação de 11%, suficientes para fazer a diferença no resultado e, consequentemente, na classificação dos processos seletivos das universidades.

Apesar de o inglês estar presente no currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio, grande parte dos candidatos acaba escolhendo o espanhol por achar essa língua mais fácil para os falantes de português. Contudo, aqueles que escolhem prestar a prova de inglês acabam apresentando um desempenho melhor. De acordo com os microdados do Enem, a média de acertos de questões de Inglês é de 45%, enquanto a de Espanhol é de 34%.

“A prova de inglês do Enem não é difícil, sendo verificado realmente o que é básico e necessário para quem vai precisar de ter acesso e compreender textos em inglês na vida acadêmica ou profissional,” afirma o Professor Amadeu Marques, autor de “Inglês para o ENEM”, livro publicado pela Disal Editora.  “Para um bom desempenho nessa prova é importante que o candidato tenha tido, ao longo do curso do ensino médio, de forma extensiva, uma boa prática de leitura, com domínio das estruturas básicas, de um vocabulário diversificado e esteja habituado a trabalhar com textos de vários gêneros, utilizando as estratégias de leitura mais importantes”, completa.

Estratégia objetiva de leitura dos textos da prova do Enem

  • Para ser bem objetivo e ganhar tempo, aconselha-se ler o enunciado de cada questão e as respectivas alternativas, antes mesmo da leitura do texto em inglês propriamente dito. Como o enunciado e as alternativas estão em português, o candidato ganha tempo, porque antes mesmo da leitura do texto, já sabe do que ele trata.
  • Na primeira leitura do texto em inglês, é bom usar a estratégia de skimming, na qual se busca saber apenas a essência do texto, a ideia geral, do que ele trata, e não de detalhes específicos.
  • Voltar ao texto e fazer uma leitura mais atenta, procurando a “topic sentence”, a frase que contém a ideia essencial do parágrafo ou do texto. É geralmente “em cima” dessa frase que a alternativa correta é proposta, na maioria das questões da prova.
  • Os textos do Enem, em geral, são curtos, de um parágrafo ou dois.  A “topic sentence” , em que o autor resume a ideia essencial do texto, é geralmente a que abre o parágrafo.  O candidato deve focar no sentido da frase inicial de cada parágrafo para encontrar a topic sentence. Nos textos onde há título ou manchete, a “topic sentence” pode ser o próprio título ou manchete.
  • Uma vez encontrada a “topic sentence”, é preciso encontrar a alternativa onde a mesma ideia está expressa, de forma explícita ou, às vezes, implícita. É preciso fazer inferências, ler nas entrelinhas, “read between the lines”.  A alternativa que expressa o mesmo sentido da “topic sentence”, tem sido, na maioria das questões das provas de inglês, a resposta correta.
  • É claro que, para se compreender o sentido da topic sentence e de todo o texto é preciso conhecer os aspectos linguísticos, a estrutura da frase e o vocabulário que ela contém. Para isso, como sabemos, é bom que o candidato tenha tido uma prática extensiva de leitura de textos, valendo inclusive os textos contidos nas provas anteriores, desde 2010. A boa notícia é que a prova do Enem está livre de “pegadinhas” ou de armadilhas para os incautos. Com um bom conhecimento do inglês básico, é possível ter um excelente desempenho na prova de inglês do Enem.

Quanto aos gêneros textuais, é possível prever textos curtos, extraídos de notícias, artigos de revistas, publicações on-line, trechos de livros, poemas, letras de música, cartuns ou tirinhas.

Os temas recorrentes são questões da atualidade e da sociedade em que vivemos, com destaque para temas sociais, como o da pobreza, desigualdades sociais, da necessidade de um mundo mais pacífico, além da defesa das questões ambientais, principalmente o aquecimento global.

morar sozinho
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O que comprar para morar sozinho?

Morar sozinho é um grande passo. A gente sai da casa dos pais achando que as coisas vão acontecer da forma que acontecem lá: quase que em um passe de mágica. Se ninguém te disse isso, desculpa ter que ser eu. A roupa não se lava sozinha, não se cozinha sem panela e nem se come sem talher.

Por isso, separei essa lista com cinco (mais) itens que você precisa pensar em adquirir quando for morar sozinho, olha só!

Eletrodomésticos – fogão, geladeira e máquina de lavar, pelo menos!

Você vai precisar comer, guardar a sua comida e lavar a sua roupa. Talvez, a máquina de lavar não seja tão necessária logo de início, caso você ainda possa voltar para a casa dos seus pais. No entanto, fogão e geladeira são imprescindíveis e acredite, eu falo isso por conta própria. Achei que ia conseguir sobreviver uma semana sem geladeira e não passei da primeira noite sem água fresca. Caso você não consiga investir grandes quantias nele, procure em sites de usados como OLX e Enjoei, ou até mesmo, em brechós especializados em móveis de segunda mão.

Pratos, copos e talheres

Você pode até usar descartáveis, mas vai contribuir para a criação de mais lixo no mundo e isso é a última coisa que precisamos nesse momento. Tenha em casa pelo menos um prato, um copo e um jogo de talheres (e não receba visitas!). Você vai me agradecer por ter te dado esse toque lá na frente. Se você não puder comprar, veja com os seus familiares. Sempre tem alguém que ganhou um jogo de pratos ou talheres no casamento há 20 anos atrás e nunca usou ou tirou da caixa. Incentive-os a praticar o desapego! Foi assim aqui em casa.

Panelas, principalmente uma leiteira

Você não consegue cozinhar sem panelas, por isso, tenha pelo menos duas panelas e uma leiteira. Em último caso, priorize sempre a leiteira, porque você pode fazer tudo com ela, desde fritar ovos, até sopas e miojos. Só depende da sua habilidade e criatividade em coloca-la para trabalhar e eu tenho certeza que isso não vai faltar quando você for morar sozinho.

Lençol e jogo de cama

Tenha pelo menos dois jogos de lençóis, os famosos jogos de cama. Você não pode dormir no colchão sem nada, nem tampouco contar com a sorte de não ter uma troca para quando for lavar. Investir em bons lençóis é investir na qualidade do seu sono, por isso, não se mude sem ter aquele jogo aconchegante pra você dormir na nova casa. Afinal, todos sabemos que um bom cobertor protege de qualquer fantasma, né?

E aí, o que você acrescentaria na minha lista de itens essenciais para morar sozinho? Tentei listar as coisas pelas quais não conseguimos viver sem, logo de cara. O resto, a gente dá um jeitinho aqui e ali, empurra como dá. Me conta aí nos comentários o que você achou!

Uma menina do lado esquerdo jogando embusticida com a ajuda de um menino do lado direito. Boy lixo no meio perguntando o que foi que ele fez para merecer isso.
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Manual: Você sabe identificar um “boy lixo”?

O manual definitivo do boy lixo chegou, senhoras e senhores. Vocês pediram muito no Instagram e eu levei a sério. Mas antes de começar, precisamos conversar algumas coisinhas importantes.

Existem vários tipos de boy lixo. Aqui, nesse manual, eu com a ajuda de algumas pessoas incríveis reunimos uma série de pontos que você precisa se atentar dentro do seu relacionamento. Existem mais uma série de milhares de pontos. Muitos, que poderiam dar um livro. Por isso, peça ajuda quando achar necessário. Não se cale.

Além disso, os pontos aqui elencados precisam ser analisados no contexto do seu relacionamento. Não pegue algum item a esmo e vá tirando conclusões. Entenda, analise e perceba. Ficou com dúvida? Siga a sua intuição, porque ela nunca vai te enganar. Além disso, o boy lixo criado aqui não serve só para mulheres que se relacionam com homens não, viu? Se você é homem que se relaciona com homem, não-binárie que se relaciona com homem, qualquer pessoa que se relacione com homens está sujeita ao crivo do boy lixo.

Além disso, relacionamento não é só namoro não. Relacionamento é convivência, é qualquer tipo de sentimento. Fica de olho aí, por favor! E vamos de ver os pontos? Faz a soma aí na sua casa.

Ele pede pra você pagar tudo sozinho(a)

Estamos no século 21. Me recuso a escrever em números romanos para deixar bem claro que os tempos mudaram. Não é dever de nenhum dos dois bancar todos os encontros e todas as coisas para ambos. A gente entende que existem momentos de vulnerabilidade, desemprego ou dificuldades financeiras. No entanto, quando a pessoa tem condições e ainda sim faz com que você pague todos os encontros, sem nem dividir a conta, fique de olho. Você pode querer muito sair, todos os dias, mas ainda sim não pode querer por dois. Divida a conta sempre que possível ou pague por encontros intercalados.

Ele critica sua vida e seus amigos

Se ele critica a vida que você está construindo e diz o quanto suas amizades são horríveis por serem diferentes da dele, é hora de ficar atento. Suas amizades são parte da pessoa que você é, e se são amigos, são porque te fazem bem, porque são importantes para você. Te afastar de pessoas que fazem sua vida melhor, além de insegurança da parte dele, é uma forma de fazer com que você não tenha mais ninguém além dele.

Ele não faz questão de te expor para amigos, família e afins

Ele esperar as coisas ficarem sérias para te apresentar é uma coisa, agora te esconder para sempre são outros quinhentos. Você não vai viver se escondendo para sempre ao lado dele, vai? Até quando você vai ter que fingir que é só uma amizade quando alguém da família dele aparecer de supetão no shopping em que vocês estão passeando? Um relacionamento precisa ser assumido. Entendemos que existem casos em que a homofobia nas famílias impossibilita um relacionamento aos olhos de todo mundo. Mas ele demonstra formas pelas quais vocês podem passar por isso juntos? Vocês se ajudam? Não dá para viver se escondendo para sempre.

Ele comenta com amigos sobre outras pessoas na sua frente

Quando vocês saem com os amigos dele, ele comenta sobre outras pessoas com eles na sua frente? Fala sobre o quão fulana é pegável ou o quanto ele se arrepende de não ter beijado o ciclano naquela festa antes de vocês assumirem o namoro? Foge bem rápido porque é boy lixo. Se ele está com você, em um relacionamento monogâmico e fechado, o mínimo que ele te deve é respeito. Deslizes nesse aspecto é um princípio de traição, só que de forma velada, por isso demoramos tanto tempo para perceber.

Ele fala que hoje em dia não existe relacionamento sem traição

Alô? Planeta Terra chamando? Estando em qualquer tipo de relacionamento, a traição pode acontecer. Não se engane com esses papos de ah, aquilo não é traição. Se foge do que vocês combinaram para o relacionamento funcionar, é um tipo de traição, seja em um relacionamento fechado ou aberto. Relacionamentos sem traição não só existem, como são os relacionamentos saudáveis. Um relacionamento com traição é insistência, não amor.

Ele trata mal pessoas que prestam serviços para ele: garçons, faxineiros, empregados, etc.

Ele trata mal pessoas quando está em uma determinada situação de poder? Ele xinga o garçom e fala sobre o quanto a empregada é incompetente por não passar a roupa dele direito? É assim que ele vai te tratar a partir do momento em que vocês tiverem algum tipo de contratempo ou briga. Além disso, é assim que ele vai falar de vocês caso vocês terminem e ele tenha o poder de contar a história para quem quiser. Essa será a versão do boy lixo dos fatos.

Ele some sem explicação

Chegou sexta-feira e ele sumiu sem te explicar nada? Voltou com a cara lavada na segunda-feira dizendo que usou o final de semana para pensar e refletir sobre o relacionamento de vocês e aquele desentendimento antes do final de semana? Ele não quer debater nada com você. Ele só quer procurar formas de terminar o relacionamento e ficar bem com ele mesmo, sem ser o culpado da história. Além disso, por que ele sumiu? Não te falou nada? Por que ele não avisou que precisava do espaço dele? Ao te negar um aviso, ele te nega a possibilidade de reparo ou participação. O relacionamento é feito de dois, não de um só. As decisões não devem ser egoístas.

Ele não quer rotular o relacionamento que vocês tem

Ah, somos amigos que se pegam! Mas somos exclusivos, tá? Isso é namoro. Essa de não dar nome as bois, não rotular o que vocês tem é fugir da responsabilidade. Sabe por quê? Porque se acontecer algum deslize, o papo vai ser “ah, mas a gente não tinha nada sério”. Se vocês querem ter uma amizade colorida, deixem isso bem claro. Se os dois não querem algo sério e funciona assim, beleza. Mas é preciso ter responsabilidade afetiva e um diálogo aberto. O sentimento está mais intenso? Vamos terminar ou vamos assumir um namoro? Chega uma hora que não dá mais só para empurrar com a barriga.

Ele não posta nenhuma foto com você

Qual é o medo que ele tem de te assumir nas redes sociais? Ele já era uma pessoa que não postava nada antes? Se ele é alguém que não usa redes sociais, a gente entende até certo ponto. Mas ele sai com você, posta foto do drink que vocês pediram, posta foto da galera e nenhuma foto sozinho com você? Por quê? A gente aceita o amor que acha que merece. Você merece viver essa vida dupla, escondida e camuflada de amizade? Diagnóstico? Boy lixo, lixão, chorume.

Ele não demonstra afeto publicamente com você

Não gostar de demonstrar afeto em público ou ter zelo por alguns lugares, principalmente com as violências que vemos diariamente com a comunidade LGBTQIAP+ é uma coisa e a gente entende. Mas ficar fugindo de momentos em que vocês podem demonstrar afeto? Em que é seguro? Não querer nunca pegar na sua mão porque tem pessoas perto, é normal? Andar distante como se vocês sequer se conhecessem é o que duas pessoas que se amam fazem?

Ele quer controlar o seu comportamento

Se ele quer mexer muito nos comportamentos que você tem, é hora de ficar alerta. Ele te conheceu e gostou de você de um jeito. A gente muda com o tempo. Nós evoluímos, trocamos comportamentos tóxicos por ações melhores. Mas se ele parece só piorar com o tempo, querendo controlar o que você veste, como você se porta ou até mesmo, a maneira com a qual você fala com as pessoas, é hora de dar tchau. Quem precisa saber o que te deixa confortável é você, não outra pessoa, por mais que essa pessoa diga te amar do infinito ao além.

Ele fala do ex-namorado ou ex-namorada de forma pejorativa

Ah, meu ex era louco! Minha ex era surtada, eu não sei como aguentei. Ele fala assim ou, fala excessivamente dos relacionamentos passados? Cuidado! Você pode ser o próximo ex surtado. Você pode ser a próxima ex louca, desequilibrada. E se ele não fala de outra coisa, senão sobre ex, ele provavelmente ainda não superou o relacionamento antigo e vai projetar todas as frustrações dele em você. Conversar sobre relacionamentos antigos é uma coisa. Entender o passado, compartilhar coisas que aconteceram dentro de um ambiente seguro em que ambos participam e querem saber é uma coisa. Falar compulsivamente e de forma não solicitada é outra.

Ele tem um ciúme excessivo de você

Ninguém é propriedade de ninguém. Se ele nutre um ciúme excessivo por você sem que haja motivos para isso, é hora de pedir pra ele tratar a insegurança dele. Ciúme é um sentimento ruim, que vem da posse. Não é prova de amor, não é tempero no relacionamento. As pessoas são livres. E se vocês se escolheram, a confiança é o mínimo que precisa existir pra esse relacionamento ir pra frente. Se ciúme fosse coisa boa, a gente ia desejar feliz aniversário, muita paz, amor, dinheiro, ciúme….

Ele acha que o relacionamento com ele é uma moeda de troca

Ele te paga um jantar e acha que você precisa beija-lo? Ele cozinha para você e acha que você precisa fazer algo em troca por ele? Corre que é cilada, Bino. Relacionamentos não são moedas de troca. É preciso que as coisas aconteçam e sejam feitas porque se quer fazer. Ele te pagou a refeição porque ele quis pagar. Você o beija porque quer beija-lo, não para retribuir alguma coisa. Dentro de um relacionamento, as pessoas são livres para escolherem. Nada é barganha, ele que é um boy lixo mesmo.

Ele beija outras pessoas na sua frente

Preciso comentar alguma coisa? Se vocês vivem um relacionamento fechado, é traição na certa. Se vocês vivem um relacionamento aberto, observe como você se sente com isso. Era um combinado não beijar outras pessoas na frente um do outro? O que aconteceu?

Ele te pune quando você faz algo que ele não gosta

Seres humanos erram. E ninguém é obrigado a agradar ou corresponder com as expectativas de ninguém. Se ele te pune quando você faz alguma coisa que ele não gosta, ele mostra que exerce poder sobre você e o relacionamento de vocês. Como já conversamos, o relacionamento é feito a dois. Ninguém tem poder sobre ninguém porque não há posses ou propriedades. Por isso, também não há moedas de troca, recompensas ou punições.

Hora ou outra ele diz “manda foto de agora”

Pode parecer inofensivo, mas é uma forma de controlar o seu comportamento. O simples “manda uma foto de agora” pode parecer que ele só sente saudade de você, quando na verdade ele quer saber como você está (e se está do agrado dele), se você está onde disse que estaria, com quem estaria e afins.

Ele fica nervosinho e quebra suas coisas

Ele dá soco na parede quando está nervosinho? Joga suas coisas longe? Quebra coisas que são importantes para você? Isso se chama violência patrimonial e também está relacionado ao joguinho de poder que ele acha que exerce sobre você. Hoje é a parede, o travesseiro e seus objetos. Amanhã, pode ser seu rosto, sua boca, seus dentes. Se ele é uma pessoa que sente raiva, precisa de tratamento psicológico para aprender a sublimar esse sentimento em coisas que não sejam destrutivas. Você não tem culpa se ele é estouradinho.

Ele só sabe falar sobre ele mesmo

Ele passa horas falando do quanto o trabalho dele é importante? Ou de como a faculdade que ele faz é a melhor de todo o país? Legal. Mas, ele pergunta de você? Ele se importa e presta atenção de verdade quando está no papel de ouvinte? Perceba se ele realmente se importa com você ou só quer mais uma pessoa para inflar seu ego frágil (o famoso boy lixo).

Ele diz que você é uma pessoa boa demais para ele

Vocês se desentendem, brigam e minutos depois ele volta arrependido, chorando e diz que você não merece um cara como ele? Que você é boa demais para ele? Que você é muita areia pro caminhãozinho dele? Que você merece mais porque você é uma pessoa foda? Esse é ele tentando te amolecer para que você tenha dó e perdoe as burradas que ele faz. Agressão não se perdoa, agressor se mantém longe. E agressão não é só soco no olho não, sabia?

De acordo com a Lei Maria da Penha, que além de proteger mulheres, também protege homens homossexuais conceitua violência como qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, agressão ou coerção e que lhe cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em espaços públicos como privados.

No artigo 7º, a lei tipifica os cinco tipos de violência. Resumidamente, são eles:

I – violência física
Conduta que ofende a integridade ou saúde corporal;

II – violência psicológica
Conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III – violência sexual
Conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV – violência patrimonial
Conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V – violência moral
Conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Além de mim e das minhas experiências pessoais, contribuíram para a criação desse manual a maravilhosa Stephanie Ramos, a incrível Mirella Andrade e meu amorzinho Patrik Melero. Além, é claro, de todos que enviaram sugestões e histórias pela direct do meu Instagram.

Atualizações

O dia da minha catarse

Catarse:catarse na psicologia se refere à estratégia terapêutica através da qual se liberam frustrações, emoções negativas que perturbam a vida e os conflitos que nos impedem de avançar. A catarse na psicologia se refere ao processo pelo qual “purificamos” as emoções negativas. (A mente é maravilhosa, site).

Esses dias conversamos sobre o passado por aqui. Sobre ele ser parte do nosso desenvolvimento e sobre ele sempre estar presente em nossas vidas. O passado somos nós. O que fazemos hoje, é graças a quem fomos no passado. Isso me fez refletir bastante e me fez começar um processo de cura. De entender que as coisas estão assentando, estão ficando mais sólidas dentro de mim.

Sabe quando a gente limpa a piscina e toda a sujeira vai indo pro fundo, deixando a água mais transparente e límpida? É basicamente isso, só que começa na altura dos ombros, passa pelos pulmões, pelo coração e vai te deixando mais leve aos poucos. Certo dia, comentei aqui também sobre eu achar que não tinha potencial. Eu me achava desistente. Incapaz de levar algo de cabo a rabo.

Eu sempre acabava indo e voltando dos meus projetos. Desistindo. Mas será que eu efetivamente desisti? Ou só usei minhas forças para deixa-los presos a uma caixinha? Será que eu não quis só envolver meu jogo de controle e manter as coisas sob meu controle quando elas lutavam para crescer, com ou sem mim?

Certa vez escrevi que o que era nosso sempre gravitaria ao nosso redor. Acho que estive errado. Amar alguma coisa não é mante-la sob seu domínio, sob seu comando, gravitando ao seu redor. Amar alguma coisa, e até mesmo, alguém, é deixar a liberdade fluir da maneira mais pura possível. E apesar da liberdade, aquela coisa ou pessoa continuar com você. A liberdade de querer, sem exercer nenhum tipo de poder.

E é engraçado quando falo isso, porque parece que estou me referindo à pessoas específicas, mas não. Estou me referindo a tudo na minha vida que se tornou parte de mim. Claro que tem pessoas com afetos que ganharam um espacinho especial no meu coração, mas ao lado delas, tem projetos, textos, iniciativas, empresas que abri, coisas que tentei e larguei pra trás ao menor sinal de fracasso. Nunca achei que tivesse desistido, apesar de ter parecido. Ou talvez no fundo, eu tenha achado sim.

Agora eu reconheço que nada daquilo era o que eu realmente queria. Eu demorei pra entender algumas coisas que eu realmente queria na minha vida. Demorei para parar de entrar no jogo dos outros e a me interpretar com mais leveza. Comigo sempre foi 8 0u 80: ou eu estava no jogo dos outros, ou estava no meu jogo, querendo controlar e exercer meu pequeno joguinho de poder. Eu me agarrei ao amor que eu tinha por controlar aquilo que eu podia controlar. Quase uma relação fetichista.

A gente precisa entender que precisamos deixar a liberdade ser pura. Não é abrir a mão para o passarinho voar e ver se ele volta. É abrir a mão, para que ele voe, se quiser voar. Para que ele fique, se quiser ficar. Ou volte, se e quando quiser voltar. É torcer pelo crescimento e aplaudir quando ele vier.

Não é prender esperando ansiosamente pela volta. Abafar fingindo que nunca aconteceu quando as coisas dão errado. É sobre entender que as coisas passam por alguns degraus, e cada um desses degraus nos ensinam alguma coisa. E foi aí que veio minha catarse. Eu tenho potencial. Eu, com todos esses erros do passado, essas sensações de desistência e de não ser suficiente, me tornei quem eu sou hoje, com as coisas que sei hoje.

Meu potencial não é inato. Nem tampouco, quem eu sou. Eu sou quem eu me tornei. E quem eu me tornei, é graças a quem eu fui. Meu potencial é graças aos meus acertos, mas muito mais, por causa de todos os meus erros que transformei numa dolorosa jornada de autoconhecimento. Dolorosa, necessária, mas catártica. E quando a catarse vem… ah, a dor não importa mais. Mas isso não significa que ela não precisava ser sentida.

Já dizia Augustus Waters, em A culpa é das estrelas: a dor precisa ser sentida.

saúde mental
Atualizações

Saúde mental deve estar entre as prioridades de 2021, alertam especialistas

Em tempos de pandemia, falar sobre saúde mental ganhou um sentido de urgência. Isolamento, perda de entes queridos, medo do futuro, tudo isso passou a fazer parte da vida das pessoas nos últimos meses, ampliando a necessidade de debater ações em prol do tema.

Segundo um estudo publicado na revista científica Psychiatry Research sobre os impactos da Covid-19 na saúde mental da população mundial, a incidência de ansiedade e de depressão foi, respectivamente, quatro e três vezes mais frequente quando comparada aos dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nos últimos anos.

A psicóloga Natália Reis Morandi, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, alerta para os efeitos deste aumento em médio e longo prazo.

“Alterações na qualidade do sono e da alimentação, bem como a perda de interesse nas atividades cotidianas, além da dificuldade para lidar com problemas do dia a dia e tomar decisões, estão entre os sinais mais relatados entre os pacientes”, destaca.

A especialista ressalta que sintomas como estes podem evoluir para problemas mais graves e tendem a aumentar quando a pessoa deixa de procurar ajuda profissional.

Natália explica que a mudança nos hábitos sociais pode afetar a forma como as pessoas se organizam no dia a dia e os efeitos disso são devastadores quando não há um acompanhamento.

“A saúde mental pode gerar danos sérios à saúde de maneira geral, como doenças cardíacas, alterações na pressão arterial e problemas digestivos, por exemplo, impactando a qualidade de vida das pessoas”, alerta.

Janeiro Branco

Ampliar a discussão e conscientizar a população sobre a importância de cuidar da saúde mental é de extrema relevância no cenário atual em que vivemos.

Pensando nisso, a Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo participa da campanha Janeiro Branco iluminando suas fachadas durante todo o mês, além de reforçar sua comunicação interna e externa para alertar a todos sobre os devidos cuidados.

A campanha é uma forma de trazer informação à população, além de divulgar dicas de prevenção com o objetivo de mostrar que a saúde mental deve ser levada a sério.

A Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo oferece atendimento com especialistas em saúde mental nas suas três Unidades (Santana, Pompeia e Ipiranga), permitindo que o paciente realize as consultas e os exames necessários em um único local.

Durante a campanha, a Instituição fará divulgações voltadas para seus colaboradores, através dos seus canais internos. Já o público geral poderá conferir informações sobre prevenção, diagnóstico e formas de tratamento nas redes sociais do Hospital.

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Atualizações, Sociedade

Perlaboração na psicanálise: resistência e transferência

O tratamento psicanalítico acontece com dois elementos chave: a resistência e a transferência. Cada qual com suas particularidades, elas servem a um único objetivo: fazer com que o analisando consiga ressignificar seus traumas passados e conviver com as suas neuroses.

A análise possibilita que o paciente reviva seu passado enquanto observa o presente, enquanto seu analista, faz o trabalho contrário, vivendo o presente e observando o seu passado. Essa troca, crucial para o bom andamento do processo analítico é o que permite a mudança da versão do passado que o psicanalisando tem de si mesmo. A transferência, como veremos além neste texto, precisa ser vivida para que o passado possa ser compreendido de uma outra forma, para que sua visão de passado possa ser mudada. É preciso viver, não relatar para que isso aconteça. Para que aconteça a perlaboração.

O prefixo per- e a perlaboração

A psicanálise é a ciência do não dito, mas é por meio das palavras que conseguimos atingir o inconsciente. Já dizia Freud, que a linguagem é a estrada real para acessar o inconsciente e os seus conteúdos reprimidos, por isso, nada mais justo que pensar em etimologia quando vamos falar de conceitos psicanalíticos.

De acordo com a Língua Portuguesa, o prefixo “per-“, significa “através de, acima de, muito além de”. Em linhas gerais, ele é o limite máximo de alguma coisa. Pensando na Química, temos o Permanganato, Perclorato, Peróxido, por exemplo. Na vida real, temos coisas feitas e coisas perfeitas. Podemos seguir alguma coisa ou perseguir aquilo. Fazer um curso para saber mais ou então, um percurso. Com a perlaboração não poderia ser diferente.

Ao passar por um processo psicanalítico, o paciente elabora, por meio da fala, todas as suas angústias, os seus pensamentos inconfessáveis, tudo aquilo que está reprimido no inconsciente, em sua maioria sem vontade própria, mas também aquilo que é escondido por não querer deixar aflorar. Por meio da transferência, o paciente passa então, a superar suas resistências. A entender, a chegar ao nível máximo daquilo que ele elabora, a interpretar a sua história. E para isso, damos o nome de perlaboração. O nível máximo de elaboração, de compreensão, que faz com que a visão de passado daquele ser humano mude. Que faz com que ele consiga ser um pouco mais gentil consigo mesmo e com sua história e abandone os comportamentos repetitivos, compulsivos e hostis. E isso só é possível com a resistência transferencial, isto é, o relacionamento complexo e estreito entre as transferências e as resistências.

A transferência

A transferência é aquilo que permite que o trabalho psicanalítico aconteça. Já descrita por Freud nos primórdios da psicanálise, em linhas gerais, ela é o conjunto de sentimentos, de afetos e de comportamentos que o paciente experimenta com relação ao seu analista. Na análise, ao rememorar, ao reviver o passado, o paciente acaba por “culpar” o seu analista por aquilo estar acontecendo. E, nesse processo, o analista acaba por exercer um papel, naquele momento, na vida do analisando. Esses sentimentos inconscientes, também podem ser ambivalentes. O analista pode aparecer como uma figura paterna, como uma figura materna, como uma figura amiga que há muito se foi…. A transferência faz o paciente lutar por conseguir realizar seus desejos mais infantis, por meio da figura do analista. Ele está ali, em sua posição de sujeito suposto saber, no pedestal em que o analisando o coloca, e para isso, é preciso ter muito cuidado.

Por outro lado, o trabalho psicanalítico só acontece de forma proveitosa, quando se estabelece uma transferência e acima disso, majoritariamente positiva. Já é complicado normalmente para um paciente se abrir para alguém que o “santo  bateu”, imagina para alguém que o “santo não bateu”? Ou pior, para alguém que desperta sentimentos negativos como ira, raiva, fúria? A transferência é um sentimento ambivalente, mas ela deve ser majoritariamente positiva para o bom andamento da análise.

Em resumo, ela é, no linguajar popular, “o santo bater ou não” com aquele analista, com aquela figura, no decorrer da investigação dos processos inconscientes do paciente.

As resistências

As resistências sempre estarão presentes no percurso psicanalítico. Deve-se dizer ao paciente que a resistência é uma atividade do paciente. É uma ação que está praticando inconscientemente, pré-conscientemente ou conscientemente (Fenichel). Ela não é um erro, um defeito ou uma fraqueza, mas ela deve ser igualmente analisada e comunicada, porque pode interferir no processo de uma análise bem-sucedida.

Vamos às analogias: o inconsciente é uma parte escondida da mente, em que há muitos traumas reprimidos, muitos afetos mal resolvidos. Esses conteúdos são escondidos por lá para que o paciente possa viver sua realidade com plenitude. Imagina só, ter que viver normalmente com todos os traumas, acontecimentos ruins e afetos desagradáveis na consciência ou na pré-consciência? De fato, plenitude é uma coisa que nenhum ser humano conseguiria ter. Por isso, nossa mente tem mecanismos muito fortes para repreender todos esses conteúdos. Na psicanálise, quando esses conteúdos são incentivados e até mesmo, forçados para fora, para que haja a perlaboração, é comum que o paciente resista, mesmo que de forma inconsciente. É algo que supostamente, atrapalharia sua “vida normal” em um plano consciente. Por isso, não é trabalho do analista xingar ou julgar as resistências, e sim, elabora-las, fazer com que elas sejam ressignificadas ao seu nível máximo.

Integrando as interpretações e entendendo as resistências, é possível então, que a elaboração máxima aconteça, isto é, a perlaboração.