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Resenha: O garoto quase atropelado, Vinicius Grossos

O garoto quase atropelado foi um livro que me atropelou. Recebi a prévia dele de supetão, comecei a ler e logo comprei a versão completa porque era difícil de largar logo nas primeiras páginas.

Escrito na forma de diário, dia após dia de um mês de novembro, conhecemos a história do garoto quase atropelado. Não conhecemos seu nome em momento algum, mas isso é o que deixa a história mais única. Não descobrimos seu nome, mas embarcamos em uma longa viagem de autodescoberta e da recuperação dos poderes da nossa mente.

Quando me sinto tomado pela vergonha, o senso do ridículo me alcança com uma eficácia admirável.

Sabemos que o menino sofreu algum acontecimento muito traumático, logo de cara, e por isso, está lutando contra a depressão e este diário é um dos exercícios sugeridos pela sua psicóloga para lidar melhor com tudo aquilo que precisa descobrir e curar em si mesmo. Ele precisa escrever religiosamente os fatos de todos os dias. Nos primeiros relatos, percebemos sua relutância em narrar os acontecimentos, mesmo porque não acontece nada.

Até que ele é literalmente quase atropelado por uma garota com cabelo de raposa, que depois descobrimos ter o nome de Laís. Ela apresenta um novo mundo ao garoto quase atropelado e ele, claro, fica perdidamente apaixonado por ela. Mas, como Laís mesmo diz, ela tem a mente quebrada.

E são nesses altos e baixos que o garoto, juntamente com Laís, embarca numa montanha russa de sentimentos bons e ruins. Ele também conhece Acácio e Natália, que eram os melhores amigos de Laís e acabam por ser seus melhores amigos também. Em certa passagem do livro, a amizade deles é descrita como um triângulo com uma bolinha no meio. Laís, Acácio e Natália são o triângulo, uma amizade perfeita, mas com segredos que são escondidos uns dos outros e o garoto quase atropelado é a bolinha no meio, que transita entre cada um e conhece coisas que nem eles mesmos parecem conhecer logo de cara. Ele se torna o elo do grupo.

(…) apesar de legalmente ter se separado apenas da minha mãe, a separação também aconteceu comigo e com o Henrique. De um pai normal, aos poucos, ele foi se transformando num estranho.

Numa avalanche de sentimentos e pensamentos, vemos o desenrolar de toda a história no mês de novembro e de toda a recuperação do garoto com seu passado traumático, que descobrimos não estar tão no passado assim. A desgraça havia sido há poucos meses e ele ainda tentava fazer as pazes com os fantasmas que o assombravam. E ele consegue. A partir do momento que vemos que ele está preparado para nos contar tudo, o livro traz um turbilhão muito forte de emoções que mal sei descrever.

Me arrancou lágrimas, sorrisos, gritos de desespero e no seu clímax final, foi um dos poucos que me causou mal estar. A gente sente as dores do garoto quase atropelado, e esse mal estar, confesso que achei que não fosse ser curado até o final do livro: mas foi. Vinicius Grossos consegue conduzir a história de uma forma surreal, controlando não só os sentimentos do garoto quase atropelado, mas também do leitor. É uma avalanche, um incêncio e uma montanha russa, tudo ao mesmo tempo.

Devo confessar que eu, particularmente, me deliciei com a minha mãe, enfim, colocando meu pai em seu devido lugar. Não que eu sentisse ódio ou raiva dele, mas meu pai meio que não era mais meu pai. Ele nos abandonara e não tinha mais espaço em nossa família.

É perceptível também as ótimas referências musicais durante o livro (se eu surtei quando vi Arctic Monkeys e Marina and the diamonds? Nããaao, imagina!) e as referências de outras obras da literatura como As Vantagens de ser Invisível e História é tudo o que me deixou. É um livro cinco estrelas e a única coisa que me decepcionou, foi ter lido no Kindle e não ter conseguido prestar uma homenagem final para a Laís. Mas tenho certeza que Acácio, Natália e o garoto quase atropelado fizeram isso com magnitude e representando todos nós.

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Resenha: Negras raízes, Alex Haley

Negras raízes é um livro que, assim como sua história, me foi passado pelas gerações anteriores. O pai do meu avô leu e deu a ele de presente e meu avô me deu de presente depois. Minha edição é bem surrada, porque ainda arrisco dizer que meu avô o emprestou para a rua inteira.

Negras raízes é um dos livros mais angustiantes que eu já li na vida. Lançado em 1976, ele acompanha a história de Kunta Kinte e seu povo Mandinga, na Gâmbia, África ocidental. Mas antes de entendermos a história, é preciso entendermos o contexto dela. O autor, Alex Haley, começou a escrever ainda muito jovem em um jornal da marinha dos Estados Unidos. Um dia, foi descoberto e convidado para a escrever a biografia de Malcolm X e depois disso não parou mais.

Ansioso por descobrir seus antepassados, Haley pesquisou muito e dessa pesquisa se originou Negras raízes. Há quem diga, inclusive, que o autor foi um dos únicos a chegar tão longe na sua pesquisa de árvore genealógica. E essa relação forte com a sua ancestralidade é o cerne do livro. É nela que a leitura se pauta e é nela que Kunta também se segura para sobreviver.

A história de Kunta Kinte e sua família, em suas terras natais é linda, com tradições fortíssimas que são interrompidas quando ele é vendido como escravo para a América. Há muitas páginas que relatam o suplício e a impotência dentro de um navio negreiro e tudo o que ele tem, a partir desse momento, é seu nome e seu idioma. Há muita violência, muito sangue e o livro consegue mostrar, com maestria (e não podia ser diferente depois dos anos de pesquisa de Alex) como a escravidão foi um atentado a memória do povo africano.

Nesse livro, conhecemos como as tradições eram destruídas, as identidades deixadas para trás e os seres humanos eram transformados em nada além de produtos comercializáveis. E Kinte foi contra tudo isso. Ele resistiu em manter a sua memória e ela foi sua arma contra esse sistema. Sua história foi contada e recontada para todos os seus decendentes e atravessou mais de dois séculos até que foi publicada em Negras raízes.

É um livro fortíssimo, mas obrigatório e necessário para todas as pessoas. É a história da consequência da escravidão na vida de todas as pessoas ainda nos dias de hoje, é a história do segregacionismo, do racismo e de tudo o que reflete na nossa sociedade.

A violência de ser retirado e vendido como mercadoria, de ter sua cultura e sua identidade renegadas de forma tão brutal é uma cicatriz que o povo carrega mesmo depois de séculos. E para a história não se repetir, é preciso conhece-la. Por isso, leia Negras raízes e repasse os conhecimentos nele contidos.

E se não quiser ler, o livro já foi adaptado para inúmeras séries na televisão que relatam os fatos com expressividade. Vale a pena também!

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Resenha: contando estrelas cadentes, Gabu Camacho

A resenha de contando estrelas cadentes é um pouco diferente porque ele foi o livro do mês escolhido para discussão e debate no Beco Club, grupo de leitores VIPs do Beco Literário, e foi produzida por todos que participaram. Dessa forma, ela será apresentada aqui em forma de diálogo, com a devida assinatura de cada um dos Becudos que participaram.

Minhas primeiras impressões:

De início, foi aquele impacto o fato de não encontrar a grafia das letras maiúsculas.
Causou estranhamento, inquietação. Uma total quebra de paradigmas.
A nota do autor… Nossa!
Uma marquinha pessoal e especial para qualquer leitor. Proporcionou uma proximidade que chega a dar aquela sensação de estarmos frente a frente com o autor.
Quanto ao fator da interpretação, ela é realmente uma simbiose com nossos sentimentos.
Nunca temos a mesma percepção ao lermos a mesma obra em momentos diferentes, seja ela ficção ou não.
A leitura é permeada para além do que está escrito. A leitura é reflexo se quem somos e de como estamos.
Em tão poucas páginas já consegui emanar tantas emoções.
Essa leitura promete. – Wilderlane Oliveira

simmm, eu tbm levei um choque pelas letras maiúsculas. a nota foi muito intimista, mas também abrangente. quando fala sobre escrever pra ser lido e sentido. parei no “diga não aos canudos. por mim. pelas tartarugas.” e foi tão bonito, um crescimento e uma auto descoberta talvez. – Jessica

Eu também senti essa questão das letras e isso mostrou para mim que preciso me abrir mais as coisas. Eu achava que estava aberta, mas preciso ir além. A cada parte eu senti em suas palavras os momentos impressos ali.
Eu comecei a leitura mais cedo, em uma situação não muito boa, logo comecei a chorar, mesmo essa situação sendo completamente diferente do livro, suas palavras se encaixaram como uma luva. Agora em casa, li novamente e parece que vi polaróides, vi o hotel, vivenciei tudo como em um curta metragem ( poderia rolar um né😍) e até veio em mente outra playlist além da playlist. É um livro que entendo que posso ler em várias situações e em cada uma ele me dirá algo diferente, talvez como um tarot, mas sem precisar abrir nenhum baralho. – Talita

Comecei a ler e já deu para encontrar alguns poetas famosos no seu estilo de escrita até Clarice Lispector. Até onde li você já encanta na escrita e mostra uma maturidade nós textos. No máximo até amanhã termino estou com muitas leituras, mas está lindo.👋🏻👋🏻 – Sylvia Rainho

Eu amei aquela parte de “a sensibilidade de um livro lgbt dificilmente é captada por um não-lgbt”. Senti na pele mesmo sério. – Deivid Esterferson

Eu amei todas as músicas que você colocou no livro. Cada uma se encaixa perfeitamente na leitura, nos momentos. Um dos que mais me tocaram foi o [seis] desvio. Já passei por coisas parecidas na vida, por ser diferente, me identifiquei com cada palavra dessa parte. A vida realmente não é fácil, e gente percebe que quem mais amamos nos machucam mais. Me identifiquei muito com esse livro e com você também, ele me tocou e me comoveu muito. Não sou lgbt ( eu acho ) mas uma boa parte da minha vida eu fiquei sem saber realmente quem eu era, e às vezes tenho essa duvida até hoje. Estou passando pela fase mais difícil do ser humano, que é as adolescência. E não é fácil vc passar por ela sozinho e sem saber verdadeiramente quem você é, eu sei bem q n é. Eu amei esse livro com cada gotinha de sangue do meu corpo! Não pare de escrever nunca, vc é incrível, quero ler mais livros seus! Vc é uma pessoa linda por dentro e por fora, incrível pelo oq já passou e se tornou hoje. – Julia Lopes

O que dizer desse livro??
Eu amei…vou ler e reler e ler novamente kkk
Amei a mistura de elementos, a música, o horóscopo(escorpiano tem mesmo inimigo mesmo sem intenção), a paixão da Bella e o Edward…
O poema 6 com certeza é o preferido, me identifiquei com a história do nariz(Não com o desvio de septo kkk) Mas acostumei a não respirar direito por causa do nariz entupido, e NÃO devemos nunca nos acostumar com as coisas ruins.
Diga não aos canudos.por mim.pelas tartarugas. Se só tivesse essa frase no livro ele já me conquistaria kkk aí aparece UM BOM CORAÇÃO SEMPRE SERIA SUFICIENTE PARA A PESSOA CERTA é minha frase preferida da vida agora .
E quem nunca teve atritos com os pais?? Até seu pai e sua mãe que são as pessoas que mais te amam no mundo, vão te fazer chorar… vão mesmo…as vezes um tapa dói menos do que certas palavras.
É um livro que mexe muito com as emoções, faz lembrar a infância, a adolescência, a fase adulta, nossos erros, acertos…
Eu amei – Denise

Teve poemas que foi como se você estivesse falando sabe, de tão vivida que a experiência foi, também estranhei o fato de não contar letra maiúscula, achei bem massa a proposta, confesso que no começo deu uma certa aflição😂😂, porém ao decorrer da leitura tudo fluiu de forma fantástica. A playlist casou completamente com os poemas e o poema do desvio do septo foi o que mais mexeu sabe. Pq nós temos essa tendência de nós acostumarmos com o que temos, mesmo sendo algo ruim para nós e eu ia passei por situações assim de me conformar com algo não muito bom. – Cledja Ferreira

Sigo degustando cada poema. Paulatinamente. Indo e vindo.

Como estou me encontrando nessas palavras…

A queda.

E quem não passou por ela?
A questão não é o cair.
É o que fazer com ela.
Se não experimentamos, não vivemos.
E vivendo podemos tropeçar e cai em alguns momentos.

Aguenta coração! – Wilderlane Oliveira

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Não se humilha, não
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Resenha: Não se humilha, não, Isabela Freitas

Sinopse: Humilhar-se: se menosprezar, se rebaixar. Você já se rebaixou por amor? Já comprou uma passagem só de ida para o fundo do poço? “Ah, mas o amor dói…” Dor para mim é joelho ralado, bolado no nariz, pedra nos rins. Ah, o amor, não. Sem essa, vai. É inadmissível que passemos a vida toda procurando por algo que, no final, vai doer. O que dói não é o amor, são as pessoas que não sabem amar. Elas te obrigam a ser pequeninha, a se desfazer das suas peças para se encaixar. E você tem tanta certeza de que um dia o amor dos seus sonhos vai florescer que nem se importa de se quebrar um pouquinho. Se é tudo em nome do amor, por que você não se sente amada?

Eu precisava desse tapa na cara. Você precisa desse tapa na cara. Toda amiga (e inimiga) que conheço também precisa desse tapa na cara. Dessa vez é oficial: “Não se humilha, não”, o mais recente lançamento da best-seller Isabela Freitas, é leitura obrigatória para todas as mulheres que conheço.

Quando comecei a ler a série, com o inicial “Não se apega, não” (cuja resenha você encontra aqui) ouvi muitas críticas aos livros da autora. Hoje tenho certeza que todas elas foram feitas por quem nunca leu uma palavra da Isabela Freitas. “Auto-ajuda” ou “leitura infanto-juvenil” foram algumas das coisas que ouvi na época, e como fiquei feliz em ver, ler – e escrever – que estavam enganados.

“Não se humilha, não”, apesar de ser o quarto livro da série, se passa antes do primeiro. Conta a história da Isabela com seu primeiro namorado, Gustavo. Aquele que todos achavam que era perfeito. Aquele que postava fotos em redes sociais constantemente com declarações imensas. Mas também era aquele que a julgava quando ela ria alto demais. Ou quando ela saia com os amigos de infância. Aquele que levantava a voz quando estava irritado demais. Aquele que queria que a namorada coubesse num molde perfeito, que não cabia a ela (e a ninguém). Afinal, não fomos feitos pra encaixar em ninguém. Não somos a metade de ninguém. Somos inteiros.

“Se tudo é em nome do amor, porque não me sinto amada?”

Embora o tema esteja sendo cada vez mais falado e exposto nas redes sociais, é cada vez maior também o número de mulheres brilhantes perdendo todo dia um pouco mais do seu brilho pra caber no mundo de alguém. Lemos textos sobre isso. Vemos posts sobre isso. Mas dessa vez, Isabela se superou.

“Eu não sinto muito por sentir tanto. Quantas pessoas entraram na sua vida só para fazerem você se sentir insuficiente? Pequenininha?”

Em seu livro mais adulto da série, a experiencia que temos é de vivenciar tudo que a personagem passa. Como se apaixonar por uma pessoa e acordar ao lado de outra. Como encontrar uma desculpa pra cada comportamento agressivo. Como procurar cada tentativa de entender o que não é pra ser entendido. E finalmente, como entender que aquilo ali não é saudável. Não é ser feliz. A verdade é que cair em si não é tropeço, é voo.

Apesar do livro ser pré-Não se apega não, temos sim a presença dos personagens que amamos… Pedro e Amanda estão melhores que nunca em suas participações na vida da protagonista. Parando por aqui para evitar spoilers, só me resta terminar essa resenha com um conselho de amiga e um pedido de mulher: leia este livro. Dê este livro de presente pra aquela pessoa que precisa de um empurrãozinho pra entender que o mundo é muito maior que ele. Indique este livro pra suas colegas. Espalhe a idéia de que não somos criadas para satisfazer ninguém além de nós mesmas. E como a própria Isabela me ensinou lá em 2014… “desapego não é desamor.”

Leia também as resenhas dos livros anteriores: Não se apega, não | Não se iluda, não | Não se enrola, não.

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Resenha: Por Lugares Incríveis, Jennifer Niven

Violet Markey tinha uma vida perfeita, mas todos os seus planos deixam de fazer sentido quando ela e a irmã sofrem um acidente de carro e apenas Violet sobrevive. Sentindo-se culpada pelo que aconteceu, Violet se afasta de todos e tenta descobrir como seguir em frente. Theodore Finch é o esquisito da escola, perseguido pelos valentões e obrigado a lidar com longos períodos de depressão, o pai violento e a apatia do resto da família.

Enquanto Violet conta os dias para o fim das aulas, quando poderá ir embora da cidadezinha onde mora, Finch pesquisa diferentes métodos de suicídio e imagina se conseguiria levar algum deles adiante. Em uma dessas tentativas, ele vai parar no alto da torre da escola e, para sua surpresa, encontra Violet, também prestes a pular. Um ajuda o outro a sair dali, e essa dupla improvável se une para fazer um trabalho de geografia: visitar os lugares incríveis do estado onde moram. Nessas andanças, Finch encontra em Violet alguém com quem finalmente pode ser ele mesmo, e a garota para de contar os dias e passa a vivê-los.

Por Lugares Incríveis com o Rodrigo

Sabe aquele livro que te conquista pela capa? Mas sabe aquele livro que além de conquistar pelo seu trabalho visual, conquista na primeira página? Que não te deixa ir dormir até você ter terminado o capítulo? Que traz alegria e tristeza ao mesmo tempo, que te faz sorrir e que te deixa aos prantos? Esse livro é Por Lugares Incríveis.

Confesso que eu tinha lá meus medos pelo fato de ser um drama. Hoje em dia, o mercado literário está cheio de dramas pré-fabricados e prontos para emocionar o leitor e fim. Previsíveis e sempre com a mesma fórmula. Porém, Niven nos presenteia com uma obra imprevisível, assim como o seu protagonista.

Por Lugares Incríveis conta a história de Theodore Finch e Violet Market, dois jovens com tendências suicidas que acabam encontrando um no outro a vontade de viver. De início, pode parecer clichê, porém, não o é.

O livro começa, por incrível que pareça, em uma situação triste e feliz ao mesmo tempo. E assim segue até o seu desfecho. Alegria e tristeza juntas lado a lado, o que é lindo e aflitivo. Até agora, não sei o que falar sobre essa história. Sério. É muito complicado lembrar e não para pensar. As reflexões que Niven trouxe são um tapa na minha cara. Me faz refletir sobre muitos conceitos: amizade, família, escola e vida. É difícil não se emocionar…

Para mim, Jennifer Niven fez uma obra incrível e essencial para qualquer adolescente. Com sua narrativa poética e melancólica, trata de assuntos como bipolaridade, sobre aproveitar e valorizar a vida.

Sinceramente, não consigo falar sobre os personagens. Eles são lindos, apaixonantes, impressionantes. Com uma maestria sensacional, Niven criou Violet e Finch e eu sempre vou carregá-los comigo nos momentos difíceis. Eles são uma lição para mim.

Enfim, não tenho papas na língua para falar sobre Por Lugares Incríveis. Só tenho mais uma coisa a dizer: se vocês tiverem a chance de ler, leiam.

Eu só tenho a agradecer à editora Seguinte por traduzir e disponibilizar um livro tão lindo e tão marcante como este. O extremo cuidado com a edição é tão impressionante quanto a história de Finch e Violet. Mais uma vez, vocês estão de parabéns.

 

Por Lugares Incríveis com a Rafa

É oficial que poucos livros hoje em dia conseguem me surpreender. Talvez porque leio demais, ou porque todas as histórias estão realmente indo sempre pro mesmo lugar, eu estou bastante desgastada com os romances atuais. E ler Por Lugares Incríveis foi como um sopro de vida em meio a tantos livros mortos. Após a leitura, eu fiquei – e aqui peço licença pra utilizar as palavras usadas por Violet, nossa protagonista – mudada para sempre.

Nós conhecemos Violet e Finch no momento que eles se conhecem também. Na torre do sino do colégio, ambos pensando se valia a pena ou não tirar a própria vida. E por incrível que pareça, ler um livro onde ambos os personagens tem tendências suicidas não é mórbido. Por Lugares Incríveis consegue ser um livro alegre, e isso se deve muito a Finch.

Com uma péssima reputação de rebelde do colégio, abandonado pelo pai (que o espancava quando menor) e morando numa casa onde sua mãe nem sabe onde os filhos estão, Finch é uma bagunça porque vive uma bagunça. E ainda em meio ao turbilhão de energias ruins que acontecem em sua vida, ele consegue ser alegre, engraçado e feliz. Isto é: quando ele não apaga, dorme durante dias e fica isolado de todos, e nem seus melhores amigos sabem onde ele está. É como se ele fosse inúmeros personagens em um só: Finch apagado, Finch feliz, Finch malvado, Finch revoltado… mas existe um Finch que permanece durante todo o livro, que é o meu Finch preferido, o apaixonado.

Violet mora na casa perfeita. Sua família é exemplar e tudo é feito como manda o figurino. Ela era extremamente feliz e popular até perder sua irmã repentinamente num acidente de carro há quase um ano. Sofre as consequências da perda de sua irmã e melhor amiga todos os dias da sua vida. Ela se sente culpada, solitária, incompreendida e culpada de novo. E eu a compreendo: sabe quando acontece uma tragédia e você estava lá, mas você sobreviveu e enquanto você deveria se sentir feliz por estar viva se sente culpada por estar viva? Quando você perde alguém que você ama muito e depois de um tempo, qualquer momento feliz, qualquer risada é uma traição à pessoa que você perdeu. Porque você está rindo num mundo onde ela nem existe mais?

Todos esses sentimentos são muito complexos para suportar quando se tem dezessete anos, e é isso que nossos protagonistas enfrentam todos os dias. É incrível como às vezes não é um pai, uma mãe, um terapeuta que pode te ajudar. Às vezes quem está com o coração machucado precisa falar com alguém tão machucado quanto, que pode entender cada pedacinho da sua dor (e acho que essa é a premissa de grupos de apoio, certo?).

“- Sabe o que gosto em você, Finch? Você é interessante. Você é diferente. E consigo conversar com você. Não deixe isso subir à cabeça.
O ar parece carregado e elétrico, como se tudo – o ar, o carro, Violet e eu – fosse explodir caso alguém acendesse um fósforo. Mantenho os olhos na estrada.
– Sabe o que gosto em você, Ultravioleta Markante? Tudo.”

No livro temos a  narração alternada entre Violet e Finch. Confesso que não sou muito fã de alternância de narrativa, mas neste livro não havia como ser diferente. Tínhamos que conhecer cada pedacinho sombrio de cada personagem para que pudéssemos entender cada atitude tomada.

Ambos se juntam para realizar um trabalho de geografia: ir em dois lugares que nunca foram do seu estado e descrever porque eles são marcantes. E ao invés de dois, no final temos mais de vinte localidades que Finch e Violet foram e deixaram um pouquinho de cada um por onde andaram.

Abordar temas como depressão, transtornos bipolares e tendências suicidas nunca é fácil, aliás, tanto escrevê-los quanto lê-los. Acredito fielmente que a autora realmente baseou esse livro na história da sua vida, pois não acredito que um terceiro colocaria tanta emoção e verdade em suas falas. Jennifer Niver consegue nos colocar na atmosfera dos personagens e ainda aborda temas polêmicos e dolorosos: porque a depressão não é vista como doença para tantas pessoas? Porque quando minha irmã morreu de câncer ela recebeu flores e homenagens, mas quando meu irmão se suicidou ninguém mandou uma pétala sequer? Vocês realmente acham que ele tinha como escolher não se matar? Vocês acham que se houvesse uma outra alternativa na cabeça dele, ele não a faria?

Confesso que chorei litros durante a leitura, mas não pouparia nenhuma dessas lágrimas se tivesse que ler novamente. Por Lugares Incríveis saiu disparado como melhor leitura de 2015 e subiu ao topo da minha lista mais importante de todas: a dos meus livros favoritos. Recomendo a todos (todos mesmo, se existe um livro que todo mundo tem que ler, é esse!)

Não preciso me preocupar com o fato de Finch e eu não termos filmado nossas andanças. Tudo bem não termos recolhido lembranças nem tido tempo de organizar tudo de um jeito que fizesse sentido pra outra pessoa.
O que percebo agora é que o que importa não é o que a gente leva, mas o que a gente deixa.”

Resenha: O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry
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Resenha: O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry

Publicado pela primeira vez em 1942 nos Estados Unidos e, três anos mais tarde, na França, O pequeno príncipe tornou-se obra de apelo universal, um clássico moderno traduzido para mais de oitenta idiomas. Suas páginas abrigam valiosas lições sobre a solidão, a amizade, o tempo, a vida e a morte, compartilhadas conosco por meio do pequeno habitante do asteroide B 612. Apesar de escrito e narrado por um adulto, O pequeno príncipe se dirige, desde suas primeiras linhas, às crianças. É, na verdade, uma ode à infância, uma delicada viagem a esse planeta que aos poucos abandonamos, vivendo em prol das nossas vaidades, vícios, obrigações, números e demais coisas “sérias e importantes”. Deixe-se conquistar pela fábula atemporal de Antoine de Saint-Exupéry e acompanhe o pequeno príncipe em sua jornada rumo ao nosso planeta. Lembre-se apenas de fechar um pouco os olhos e abrir bem o coração. Pois o essencial, como nos têm ensinado o pequeno príncipe e sua amiga raposa, por mais de setenta anos, é invisível aos olhos.

A resenha de O Pequeno Príncipe é um pouco diferente porque foi o livro do mês escolhido para discussão e debate no Beco Club, grupo de leitores VIPs do Beco Literário, e foi produzida por todos que participaram. Dessa forma, ela será apresentada aqui em forma de diálogo, com a devida assinatura de cada um dos Becudos que participaram.

O Pequeno Príncipe é um sonho, um livro que te mostra o quanto é importante você aproveitar e levar para sua vida os sonhos, a magia e tudo o que gosta de fazer, isto é sua habilidade ou dom e não deixar morrer por causa da vida toda. Além do amor às pequenas coisas, afinal tu és responsável por tudo aquilo que cativas. Esse livro já é um velho amigo, li na infância, passei para duas turmas que dei aula e até estimulei as minhas filhas a ler. Sonhos assim nunca devem acabar. — Sylvia Rainho

O livro retrata pra mim a valorização das pequenas coisas. Eu já tinha lido esse livro na infância e assisti também ao filme (que me encantou igual o livro). É um livro que vou dar para os meus filhos lêem. E me deu vontade de assistir o filme novamente. — Michelly da Costa

O livro é encantador, li pela primeira vez quando criança, depois disto li ele várias vezes, no entanto, ele nos dá uma lição de vida encantadora, nos ensina a se contentar com o pouco e valorizar as amizades. — Kallinny Almeida

Eu li na época de escola, eu amei tanto… lembro sempre da lição de dedicarmos tempo às coisas que realmente importam na vida. — Gabu Camacho

E também a respeito de lembrarmos sempre de ser em alguns momentos como um criança. A gente passa muito tempo querendo ser o forte ou maduro e esquece que se formos levar tudo a sério a vida perde a graça. Já queria ler há algum tempo, mas nunca tive coragem de comprar e ler. Seguindo o livro do mês, me vi “obrigado” a ler para compartilhar o que achei. Bom, de início o livro parece uma loucura: um príncipe que viaja planetas diferentes, que ama uma rosa e fala com animais. Um personagem infantil que a todo momento incentiva um terráqueo a jamais se esquecer de ser criança (que levou o autor a dedicar o livro ao seu amigo enquanto criança). Além disso, traz outros ensinamentos ao longo do livro, como quando ele se apresenta ao rei e lhe pede para ver o pôr do sol, sob o pretexto de que o rei manda em tudo e a resposta do rei é interessante. Ele diz: “É preciso exigir de cada um o que cada um pode pode dar”. Outro, quando a raposa lhe ensina que podemos ter diversas pessoas ao nosso redor, mas nenhuma será igual àquela que temos laços, pois são eles que diferenciam umas de outras. E, nesse livro também consta uma frase bem conhecida: o essencial é invisível aos olhos. — Pedro Henrique Domingos

O Pequeno Príncipe, é um livro infantil, mas ao meu ver é um livro feito para as crianças que estão dentro de nós, que infelizmente na maioria das vezes a deixamos escondidas e esquecidas dentro do peito, sem esperança. Este livro atemporal, que mesmo tendo sido escrito por volta de 1943, é sempre muito atual em suas questões, que desde cedo falava sobre responsabilidade afetiva, esperança, vaidade, ganância, entre outras coisas que passam desapercebidas aos olhos adultos, seja por falta de tempo ou egoísmo.  O livro nós mostra que por muitas vezes, nós adultos nós fechamos em uma bolha egoísta, exigindo demais dos outros e não se doando com reciprocidade. Este é meu livro favorito desde criança e a cada vez que eu o leio, tenho a leve impressão de que acabou de ser escrito, pois é sempre muito atual. Saint-Exupéry, foi sábio e habilidoso em cada palavra, todas foram colocadas de forma com que tocasse a maioria das pessoas que lêem o livro, nem que fosse por um instante e com isso eu aprendi que sim, o essencial é sempre invisível aos olhos humanos, perdemos tanto tempo preocupados com o material e esquecemos do que está dentro. — May Esteves

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Resenha: Vermelho, branco e sangue azul, Casey McQuiston
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Resenha: Vermelho, branco e sangue azul, Casey McQuiston

Vermelho, branco e sangue azul é um livro complicado para eu falar sobre porque talvez seja o livro que eu mais gostei na vida desde que li História é tudo o que me deixou, do Adam Silvera. Estou só o caco depois que acabei essa leitura e vou tentar ser sério durante a resenha. Mas para isso, fiz uma coisa que nunca fiz antes e coloquei uma música para você ouvir enquanto lê. Fará a diferença, te garanto.

Bom, Vermelho, branco e sangue azul conta a história de Alex Claremont-Diaz, filho da presidenta dos Estados Unidos, que se tornou o queridinho da mídia norte-americana. Ele é bonito, carismático, leva jeito para a política e quer seguir os passos dos pais (o pai também faz parte da política). Sua família é então convidada para o casamento real de Philip, príncipe britânico, e na festa, Alex precisa lidar com Henry, irmão mais novo de Philip e o queridinho do mundo todo. Sim, sua versão britânica que ele não suporta, ainda mais com as constantes comparações da mídia.

É fato que eles não se dão bem desde o primeiro encontro e não seria diferente no casamento. Após uma série de provocações, os dois acabam caindo em cima do bolo caríssimo da festa e indo parar na capa de todos os tabloides do mundo, quase acabando com a relação diplomática entre Estados Unidos e Inglaterra. A assessoria de imprensa de ambos os lados arquiteta um plano que eles precisam se passar por melhores amigos durante um final de semana. Visitando hospitais de caridade, dando entrevistas, sendo vistos juntos por aí… E vão, trocando farpas em qualquer oportunidade, mas fingindo aquele sorriso perante as câmeras, até que um falso ataque terrorista no hospital em que estão faz os dois ficarem confinados juntos em um armário de vassouras. E aí começa a conversa de verdade entre os dois e depois, a troca de números com a volta de Alex aos Estados Unidos.

Eles começam a conversar pelo celular, cada vez com mais frequência. Eles se aproximam e, durante uma festa na Casa Branca apenas para pessoas influentes e famosas, Henry beija Alex e foge. Alex fica confuso, porque nunca tinha pensado na possibilidade de ser bissexual antes. E começa sua jornada de autodescoberta, enquanto descobre maneiras de voltar a falar com Henry.

Sim, seu idiota arrogante da porra, eu quero você há tanto tempo que não vou permitir que me provoque por mais nenhum segundo.

É nesse ponto, gente, que a vaca do leitor vai para o brejo e você não consegue mais largar o livro. O romance dos dois é, primeiramente, baseado no despertar sexual e na vontade louca de transar um com o outro sem qualquer sentimento, pelo menos no ponto de vista de Alex. Mas com o tempo, vemos esse sentimento nascer e se solidificar cada vez mais, de forma que Alex e Henry estão terrivelmente apaixonados um pelo o outro. Mas quais as chances disso dar certo? Alex está no meio da campanha presidencial de reeleição da mãe e Henry é o príncipe da Inglaterra, com todos os protocolos e coisas do gênero. Mas o bicho pega quando uma foto dos dois se beijando no banco de trás do carro vaza. E a assessoria de imprensa quer encobrir.

pqp, diz um dos comentários, se peguem de uma vez, vai.

Mas eles não. Eles querem fazer história e estão dispostos a enfrentar o mundo para ficarem juntos, porque sabem, com mil por cento de certeza, que é para sempre. Vermelho, branco e sangue azul é sofrido, me tirou lágrimas, me tirou sorrisos e tirou a minha alma várias vezes. É uma leitura leve, que flui de maneira muito rápida, apesar dos capítulos serem extensos (algo que pessoalmente não gosto, mas não me incomodou em nada nesse livro). Ganhou em disparada como o meu livro preferido, e agora eu me sinto triste por ter terminado e mais triste ainda por não ter uma continuação. E por saber que os personagens não existem de verdade.

Você é um pé na curva sensível e delicada do saco que é minha vida.

É uma leitura interessante para vermos como o poder midiático influencia a vida das pessoas e como somos facilmente manipuláveis pelo Jornalismo e pelas coisas que querem que saibamos. Também, nos mostra que existem coisas na vida que valem a pena lutar. Eu amei cada segundo que passei imerso nessa leitura e quero ler outras e outras vezes. As cenas de sexo são sutis e bem escritas, dando aquele ar sexy para a história que não beira a vulgaridade (apesar de muitas horas eu quase implorar para tê-la). O final é feliz, e apesar de também odiar finais felizes, Vermelho, branco e sangue azul me fez amar cada letra, cada página e cada segundo que minha cabeça ficava louca por Alex Claremont-Diaz e Príncipe Henry de Gales. Quero mais e quero que eles sejam reais, agora.

Obrigado pelo livro, Editora Seguinte, e obrigado pela oportunidade de estar no mundo limitado de 300 páginas de Alex e Henry. Agora me levem para o mundo deles de verdade.

Capa do livro O Conto da Aia
Filmes, Livros, Resenhas

RESENHA: O CONTO DA AIA, DE MARGARET ATWOOD

Sinopse: O romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. Uma das obras mais importantes da premiada escritora canadense, conhecida por seu ativismo político, ambiental e em prol das causas femininas, O conto da aia foi escrito em 1985 e inspirou a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original), produzida pelo canal de streaming Hulu em 2017.

 O Conto da Aia mostra a vida na República de Gilead, anteriormente o território dos EUA, após o país sofrer uma revolução teocrática e ser governado por radicais cristãos. Regidos por interpretações exageradas do Velho Testamento, os novos governantes excluem as mulheres da vida em sociedade e as dividem em castas funcionais: as Marthas, são pelos serviços domésticos; as Esposas, administradoras do lar; as Aias, como reprodutoras; e as Tias, senhoras que educam as mulheres para a servidão e submissão.

Em Gilead, sem direito a opinar, de se expressarem ou mesmo de serem alfabetizadas, as mulheres estão no nível mais baixo da sociedade. Além disso, através das informações que são passadas pela protagonista, sabemos que Gilead está passando por conflitos contra outras nações – e que alguma radiação trouxe infertilidade ao país. Sendo essa a razão de algumas mulheres, saudáveis e ainda férteis, serem tomadas como aias.

Contra-capa-conto-da-aia

Imersa nesse contexto, Offred é uma aia que vai nos contando sua rotina na casa do Comandante, tendo ali a estrita função de lhe dar um filho. Entre lembranças do seu passado com seu marido e filha e sua realidade no presente, cheia de horrores, Offred vai tecendo sua narrativa que, conforme a autora brinca com hipérboles, guarda semelhanças com a realidade do século XXI.

Publicado em 1985, o livro tem inspirações visíveis na Revolução Islâmica que ocorreu no Oriente Médio, em meados do século passado – tornando o Irã uma república islâmica teocrática, pautada pelo radicalismo, e retirando quase totalmente a liberdade feminina no Afeganistão. Ao parafrasear esse contexto para uma versão cristã de dominação, Atwood subverte alguns dos princípios ocidentais e nos releva até que ponto o radicalismo religioso pode levar a sociedade.

Nesse sentido, o maior trunfo do O Conto da Aia é seu flerte com a realidade. Seguindo a tradição do gênero distópico, que se apropria de hipérboles sociais para criar um cenário impactante ao leitor, por um lado o livro nos apresenta uma situação que beira ao absurdo – já que nossa própria narrativa ocidental tem caminhado em uma direção contrária a esse estado radicalista. Afinal, na maior parte dos países da Europa e América, as politicas costumam ser pautadas pela liberdade de credo, de sexualidade e maior autonomia feminina.

Contudo, a obra ainda permanece relevante, pois o objetivo da ficção cientifica é nos alertar dos perigos de nossas próprias intolerâncias e preconceitos. O propósito da obra não é simplesmente retratar a realidade do mundo, mais apresentar uma perspectiva de futuro assombrosa – propondo uma reflexão profunda do que nos levaria até tal ponto como sociedade, e possibilitando que tomemos um outro rumo.
Ao apresentar uma realidade onde o patriarcado e o radicalismo triunfão em pleno ocidente, Atwood nos direciona para o extremo oposto – nos deixando receosos e desejosos pela liberdade.

Contudo, também não se pode negar que toda a violência contra a mulher revelada, sem censuras, dentro da história são uma maximização do que ocorre nas vielas e becos de muitas cidades brasileiras e ao redor do mundo. A violência e opressão sofridas por Offred e todas as aias, ainda que não aconteça em escala governamental, é uma analogia ao que ocorre em muitos lares e relacionamentos abusivos – onde os homens ainda persistem em subjugar ao mulheres, simplesmente por serem aquilo que são. Impondo-lhes uma realidade de terror e escravidão social.

interior do livro o conto da aia

O Conto da Aia não deve ser lido de forma leviana, nem é um mero entretenimento. Sua mensagem poderosa deve ser absorvida e refletida, para que possamos cada vez mais nos distanciar da sociedade de Gillead, e avançar para uma mais libertária, igual e digna.

Vale ressaltar também o poder da escrita de Atwood, que possuí uma enorme superioridade em relação a alguns dos romances dessa mesma temática. No Canadá, o livro de Atwood é considerado um clássico na literatura nacional, sendo estudado em escolas e universidades, não apenas por seu conteúdo impactante, mas também pela sua força literária.

Baseada na obra, a série The Handmaid’s Tale estreiou em 2016, pelo serviço de streaming Hulu, e já venceu 8 Emmys e 2 Globos de Ouro. Atualmente, a série está em sua 3º temporada e pode ser acompanhada pelo Globoplay

O livro pode ser encontrado nas maiores livrarias do país, e também pode ser adquirido em lojas online como a Amazon, Americanas, Livrarias Cultura, Submarino ou por qualquer outra de sua preferência.

Sobre a Autora: Escritora canadense que atua como romancista, poetisa, contista, ensaísta e crítica literária. Reconhecida por inúmeros prêmios literários internacionais de grande importância. Recebeu a Ordem do Canadá, a mais alta distinção em seu país. Em 2001, foi incluída na calçada da fama canadense e muitos dos seus poemas foram inspirações para contos de fada europeus. Desde 1976, é membro fundadora de uma organização não governamental que atua em apoio da comunidade de escritores canadenses ou que residem no país. Desde 1976, é membro fundador do Writers’ Trust of Canada, uma organização não governamental que atua em apoio à comunidade de escritores canadenses ou que residem no país. Suas obras são conhecidas por mesclarem uma veia irônica e lúdica com sua aguçada perspicácia para questões contemporâneas – como as relações de gênero e o meio ambiente.

Ficha Técnica:
Capa comum: 368 páginas
Editora: Rocco; Edição: 1 (7 de junho de 2017)
Idioma: Português
Autora: Margaret Atwood
Tradução: Ana Deiró
ISBN-10: 8532520669
ISBN-13: 978-8532520661
Dimensões do produto: 20,8 x 14,2 x 2,4 cm
Peso de envio: 363 g

Margaret Atwood com seu livro

O Amante do Tritão
Livros, Resenhas

Resenha: O Amante do Tritão, R. B. Mutty (+18)

O Amante do Tritão caiu nas minhas mãos por acaso. Passei por uma época na faculdade em que eu estava fascinado por tritões e eu descobri o livro, comprei na mesma hora e comecei a ler na van do caminho de volta. Achei que teria uma leitura garantida pelo resto da semana, mas li em duas viagens e uma aula de jornalismo contemporâneo.

Que eu amo romances eróticos, que permeiam aqueles da banca vocês já estão cansados de saber. E eu encontrei essa pitada que eu amo em O Amante do Tritão, com aquela mistura de ser LGBTQ+, que ganha meu coração logo de cara. Já faz algum tempo que eu li e depois parei de acompanhar a saga, mas sei que existem alguns prequels e sequels, os quais ainda não tive coragem porque jamais superei esse livro.

O Amante do Tritão conta a história de Gabe (meu xará), que se muda para uma nova cidade para morar com o irmão, depois de ter sido expulso de casa por assumir sua sexualidade. Ele nunca tinha visto o mar, e nessa cidade nova, todos eram surfistas, donos de lojas de surf e coisas do gênero. Ele precisa fazer amigos, mas ninguém o interessa, apenas Dylan, um misterioso rapaz de 18 anos, como ele. Forte, musculoso e com olhos marcantes que deixam os nervos de Gabe a flor da pele.

No entanto, Dylan não é normal, e Gabe não sabia o que se passava com ele até começarem a se envolver. E todo esse envolvimento termina em sexo. Gabe perde sua virgindade com Dylan, mas ele não imagina (e nem nós) o que acontece a seguir… Ele começa a se sentir estranho enjoado, com dores aqui e ali e o diagnóstico vem: Gabe está grávido de Dylan, que é um tritão. Sim, o masculino de sereia.

Toda a narrativa do livro segue então, na vida amorosa de Gabe e Dylan, que agora estão formando a sua família metade humana e metade sereia/tritão. Acompanhamos o romance dos dois crescer, o cuidado que Dylan tem com Gabe grávido, o desenvolvimento do bebê no ventre do garoto e MUITOS momentos sexuais que são escritos em detalhe e com perfeição. Uma pequena observação, é que em algumas cenas de sexo, eu não senti tanta verossimilhança, mas esse aspecto não quebrou o clima e a continuidade da história.

Não quero dar muitos spoilers além dessas bombas que a história nos traz, mas O Amante do Tritão é incrível. Não foi meu primeiro livro de MPREG (Masculine Pregnancy, ou gravidez masculina, em português), mas com certeza foi o que mais me fez sofrer, chorar e sentir como se eu fosse o próprio protagonista. A autora R. B. Mutty tem uma escrita fluída que te carrega para dentro da história e do seu universo de forma leve, e você se sente como o protagonista. Algo muito parecido com o que senti lendo Crepúsculo, que nenhum outro livro havia me causado até então.

Tire seus preconceitos e dê uma chance para O Amante do Tritão, eu tenho certeza que você não vai se arrepender. E ah, antes que eu me esqueça: a autora criou todo um contexto no parto, se você está procurando semelhanças com gravidez no mundo real e devo dizer que SIM, eu terminei o livro pensando que poderia facilmente acontecer perto de mim, ou até mesmo, comigo.

Quarto de Despejo
Livros, Resenhas

Análise: Quarto de Despejo, Carolina Maria de Jesus

Quarto de Despejo é o primeiro livro de Carolina Maria de Jesus, até então desconhecida. Publicado na década de 1960, o livro é um diário que aborda o cotidiano de uma mulher negra, mãe, pobre, solteira e favelada. O livro é uma arma, tanto para expor ao mundo suas vivências na favela do Canindé, quanto quando era insultada e esbravejava que colocaria isso em seu livro. Quarto de Despejo é uma obra de resistência.

Os relatos, divididos em capítulos datados de 1955 a 1960, com aspectos da rotina de Carolina escritos de forma bem fiel. No meio dos fatos, ela escreve devaneios de como é difícil a vida de uma mãe que cria seus filhos na linha da miséria. Três filhos sob sua inteira responsabilidade, fazem com que a mulher se desdobre entre catadora de papelão, metal e como lavadeira. Ela não dá conta e muitas vezes sua frustração transparece nas páginas, mas há algo maior que a move: sua fé.

Ela tem total repúdio pela situação em que vive, e ao mesmo tempo é apedrejada pelos seus vizinhos ao menor sinal de sucesso de sua publicação. Isso causa estranheza, porque mesmo inconformada e em uma situação precária, consegue tirar olhares de inveja de pessoas próximas. Nisso, ela também encontra explicação na fé, quando cita em certas passagens do livro que precisa se benzer porque está com mau olhado.

Quarto de Despejo é um desabafo vomitado em páginas que nos deixam imersos em uma realidade que muitas vezes não conhecemos. Algo que é importante destacar, mais uma vez, é sua luta que desdobra todos os dias para prover o sustento de sua família. É ela pelos seus filhos, e muitas vezes, ela não tem para dar a eles. Ela cita que sabe a cor da fome: amarela. E essa cor ela tentava fugir ao máximo.

É uma obra sofrida que poderia ser facilmente ficcional, mas infelizmente não é. É dura, difícil e honesta. Seu linguajar também demonstra essa dureza e frieza. Há alguns erros gramaticais que contribuem para comprovarmos a veracidade da história. Carolina é autodidata.

Quarto de Despejo foi descoberto pelo jornalista Audálio Dantas, para quem Carolina mostrou seus cadernos durante uma reportagem que ele fazia no Canindé. Os trechos foram publicados em uma reportagem da Folha e depois publicado e organizado pelo próprio Audálio, que fez poucas alterações mantendo seu diário na íntegra.

A escritora faleceu em 1977, após sucesso de vendas dos livros, deixando três filhos.