Amor, corre. Corre rápido, chama ajuda. Corre, mesmo. As crianças não estão bem. Já pensam sozinhas, já discordam das minhas ideias. Achava que você era meu melhor amigo. Corre, por favor. As crianças não estão bem, não.
Vem pra casa, por favor. Acho que tem algo fora do lugar aqui. Acho que eu também não estou muito bem, não. Tá tudo bem confuso por aqui.
Em julho éramos fogos de artifício que se apagaram de maneira precoce. Ainda éramos, até você sair pela porta da frente… E nunca mais voltar, nem mesmo ao meu chamado de que as crianças não estão bem. Desculpa, tive um pesadelo. Arrumei a cama, então. Poli a maçaneta da porta que você saiu. Arrumei a cama de novo. As crianças não estão bem.
Você achava fofo o meu transtorno, quando disse que precisava escovar os dentes antes de te beijar pela manhã. Ou passar álcool gel na minha mão antes de segurar na tua. Ou ainda, quando levantei quatorze vezes da cama para checar se a porta estava trancada. Era fofa a minha preocupação com a sua proteção, não era?
Não sei quando a fofura passou a te amedrontar. Você disse que eu te sufocava, não. Não, não, não. Não era sufoco as minhas sete mensagens de bom dia. Juro que não. Só queria continuar minha proteção, então sempre checava se a porta estava mesmo trancada e se os dois certinhos indicavam mensagem recebida.
Mas então, os certos não surgiram mais. Tudo ficou mal, amor. As crianças não estão bem. Os certos não estão mais ficando azuis quando te mando bom dia. Mas a porta? Nunca mais conferi para ver se estava trancada na esperança de que um dia você voltasse.
Texto baseado no poema OCD, de Neil Hilborn.