Em plena harmonia comigo, carrego-me para outro mundo, dentro de mim mesma.
Depois de anos, percebi o que realmente sou: Um paradoxo. Assombro-me com o que posso fazer e o que não posso fazer, mas continuo a ser a La petit Ballerine.
Entre acordes, dentro e fora da minha cabeça, liberados por uma flauta doce imaginária, um violino e um Celo, componho minha própria obra, os timbres de um soneto, para o concerto da minha existência.
Na plateia, a dor se contorce no canto mais escuro, onde a iluminação não bate. Bem à frente, consigo ver a querida esperança, juntamente com a alegria, me aplaudirem antes da minha entrada. A cortina encobre a silhueta do medo e da sua prima insegurança, que se tornou minha sombra. Respiro fundo enquanto distingo o soar do piano, uma nota sim e outra não. Tons doces se miscigenam a minha cabeça, fazendo fechar os olhos e começar a dançar.
Sinto as cortinas se afastarem lentamente, apresentando minha vida.
Quando volto a abrir meus olhos, a jovem decadência me segue vidrada, as íris mostrando um arco-íris frio de insegurança e traumas. Tudo tão monocromático.
A multidão de sentimentos que se intercalam a minha frente – um querendo achar uma posição melhor do que a última para avaliar meu desempenho – me golpeiam, e eu vou ao chão.
De repente, os acordes mudam.
Eles recomeçam devagar, lentamente, calmamente.
“Você sempre terá várias chances, La petit Ballerine”
E eu recomeço, deixando dessa vez eles me guiarem. Sorrio enquanto refaço, invento, moldo-me diante da plateia.
E sem ser coisa da minha cabeça, aplausos rompem aos meus ouvidos.
“Magnifique” a felicidade grita pra mim, a mais saltitante entre todas as cabeças.
A minha felicidade.
Choro baixinho, deixando-me ser preenchida por esse sentimento.