“O estatuto ético dos animais segundo a filosofia utilitarista de Peter Singer”
Prof. Dr. Jean Siqueira
O utilitarismo é uma teoria ética que propõe que o aspecto normativo das ações humanas – ou seja, o critério que permite avaliá-las e julgá-las como moralmente corretas ou não – só pode ser adequadamente pensado quando se reconhece sua ligação essencial com a quantidade de prazer e sofrimento que tais ações podem desencadear. Trata-se, então, de uma concepção segundo a qual o valor da ação moral decorre de suas consequências, e não, como sugerem outras abordagens normativas da ética, da qualidade das intenções que motivam nosso agir ou de características que lhe são intrínsecas. Segundo o filósofo australiano Peter Singer, um dos mais importantes defensores contemporâneos dessa perspectiva teórica, na medida em que o critério da ação moral repousa sobre o desejo de evitar o sofrimento e, complementarmente, a busca pelo prazer (não entendidos apenas em sua dimensão física), esse princípio do pensamento utilitarista obriga nossa razão a incluir na esfera da reflexão sobre o valor moral das ações humanas qualquer forma de vida capaz de experenciar o mundo a partir dessas mesmas inclinações. Desse modo, não apenas os seres humanos, mas todos os animais não-humanos dotados daquilo que Singer chama de “senciência”, isto é, a capacidade de apreender de maneira consciente estímulos de dor e prazer, deveriam igualmente ser objeto de nossa consideração moral – ideia que o autor sintetiza sob o chamado “princípio da igual consideração dos interesses”. Em última instância, se correta, a argumentação de Singer nos obrigaria moralmente a rejeitar a imensa maioria dos usos a que submetemos a vida animal (como por exemplo na alimentação e no exercício das ciências), demandando, assim, uma mudança radical em diversos de nossos hábitos.
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