Paul Sheldon é um famoso escritor que finalmente encontrou sua maior fã. Ela se chama Annie Wilkers, e é mais do que um leitora voraz: é a enfermeira de Paul, pois cuida dos ferimentos que ele sofreu num grave acidente de carro. Mas Annie também é a carcereira de Paul, mantendo-o prisioneiro em sua casa isolada.
Agora Annie quer que Paul escreva sua obra-prima, mas só para ela. Annie tem vários métodos para incentivá-lo. Como uma agulha. Ou um machado. E, se nada funcionar, ela poderá ficar ainda mais perigosa.
Stephen King prova em Misery que só precisa de uma casa e da interação entre dois personagens para escrever um livro excelente. Apenas nas mãos de um mestre esse enredo, aparentemente simples, se torna perturbador.
Tudo começa quando o escritor Paul Sheldon sofre um acidente na estrada e é resgatado pela enfermeira Annie Wilkers, aparentemente sua fã número um. Ela o leva até sua casa e trata de seus ferimentos com o maior cuidado possível. Paul se sente extremamente grato pelo salvamento até então. Mas o que ele não sabia era que sua heroína tinha inúmeras surpresas reservadas a respeito de sua personalidade.
Chamar Annie de louca é praticamente um elogio. King consegue fazer dela um enigma, instável, capaz de explodir a qualquer momento pelo motivo mais banal possível. Ela é, sem sombra de dúvida, uma das personagens mais bem desenvolvidas do autor. Permite uma exploração ímpar da loucura e do fanatismo. Mas o melhor é que acompanhamos tudo pelo ponto de vista de Paul, sempre existindo o mistério do que se passa na mente de Annie. E não saber o limites da enfermeira é horrível.
“Paul Sheldon descobriu três coisas quase simultaneamente, uns dez dias após emergir da nuvem escura. A primeira era que Annie Wilkers tinha bastante analgésico. A segunda, que ela era viciada em analgésicos. A terceira foi que Annie Wilkers era perigosamente louca.”
Não chegarei ao ponto de dizer que o livro dá medo no sentido literal. Mas a trama psicológica entre os personagens é tão real que chega a ser angustiante acompanhá-la. Sempre que Annie entra no quarto ficamos apreensivos com o que ela pode ou não fazer. Sua instabilidade torna o próprio livro instável e surpreendente. Por isso, Misery é uma leitura rápida. Uma vez iniciado, é praticamente impossível parar. Além disso, a dependência que se estabelece entre o escritor e a enfermeira chega a ser cruel. Paul precisa dela para sobreviver. Não existe escapatória.
“Se Annie tivesse morrido, ele morreria ali, um rato preso na ratoeira.”
Também é interessante notar que Stephen aborda características de um escritor, o processo criativo e outras nuances através de Paul. Não é novidade em seus livros a presença de personagens que são autores, sempre muito bem explorados. É como se, em cada um, King imprimisse um pouco dele mesmo e de sua experiência escrevendo livros. É genial.
Misery é capaz de agradar tanto aos fãs de Stephen King como os que ainda não o conhece. Essa obra pode ser recomendada facilmente como ponto de partida, caso você queira conhecer o autor. Isso porque é mais simples que outros títulos dele e não possui elementos sobrenaturais. Assim, é possível conhecer um pouco do seu estilo de escrita antes de se aventurar em suas outras inúmeras obras extraordinárias. Sem falar que a edição, quando se trata dos livros de King, nunca deixa nada a desejar.
É leitura obrigatória.