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Letícia Prochnow

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Blackface nunca foi teatro

É fato que vivemos em uma sociedade excludente e seletiva. A ideia de superar a supremacia branca está longe de acontecer e estamos observando o que parece ser um fluxo interminável de notícias sobre conflitos e violência relacionadas a racismo e discriminações adversas. Discriminações essas que tiveram origem há muito tempo atrás e são notadas historicamente em praticamente todos os setores da sociedade.

Uma prática que ficou marcada pelo cunho racista é o chamado blackface, comumente realizada em performances teatrais do século 19. Originário da caracterização de homens brancos como escravos africanos e negros livres, atiçou o imaginário americano e proliferou estereótipos que ainda hoje são sentidos. Cada grupo de imigrantes foi estereotipado no palco, mas a história de preconceito, hostilidade e ignorância em relação às pessoas negras tem segurado a longevidade única para as preconcepções raciais. Não raramente, os negros eram tidos como motivo de piada, de modelo inferior e chacota nas imitações de atores brancos.

Uma das apresentações mais famosas de Ministrel Jubilee, um dos maiores comediantes norte-americanos, em 1883.

Ainda que seja tratado por muitos como uma “prática teatral”, o blackface é sim uma forma de racismo. Foi levada a Broadway, aos cartoons e ainda é vista em produções holywoodianas, como é o caso do filme Nina, no qual Zoe Saldana fora fortemente maquiada para interpretar Nina Simone. Não estamos no século 19, e sim em 2016. É um tanto assustador que ainda hoje a indústria cinematográfica não forneça papéis de destaque para pessoas de pele escura. Por que, ao invés de pegar uma atriz claramente com traços brancos e maquiá-la, não deram a oportunidade para uma negra em um filme que, sobretudo, fala sobre uma figura de emponderamento? E por que mesmo quando conseguem se representar nos palcos, na TV, no cinema, ainda interpretam personagens tão estigmatizados?

NINA

Comparação entre a pele da atriz Zoe Saldana (acima) com a maquiagem feita na atriz para o filme Nina (abaixo).

Você pode não ter notado, mas é tão comum que é possível encontrar traços de blackface desde programas como Táxi do Gugu e Os Trapalhões até em filmes que moldaram a história do cinema, como O Cantor de Jazz e Lawrence da Arábia.

Cena de O cantor de Jazz (1927), um musical norte-americano. Na imagem podemos ver Al Jonson (esquerda) utilizando blackface na caracterização de seu personagem.

É preciso falar disso. É necessário contestar.

Blackface nunca foi teatro.  É uma ferramenta que inferioriza e perpetua a exclusão.

É ofensivo a todos aqueles que estão sofrendo por conta do racismo sistemático e enraizado, brutalidades e injustiças.

É um desrespeito àqueles que experienciam violência por conta da sua cor de pele ou de sua origem.

 

Atualizações

Veja o que está acontecendo no Star Wars Celebration

O maior evento anual de fãs de Star Wars estará acontecendo nesse final de semana em Londres. O Star Wars Celebration Europe é produzido pela LucasFilm em cooperação com ReedPOP, grupo que também organiza diversos festivais de cultura pop e geek, como o New York Comic Con. O evento contará com convidados da saga filme Star Wars, a série de televisão Star Wars Rebels , o universo expandido e vários palestrantes, escritores e expositores oficiais.

O painel com Mark Hamill (Luke Skywalker) será a atração principal desse Sábado (16/07), onde o ator comparecerá para um bate-papo com os fãs, junto dos painéis dos criadores de Star Wars Rebels e da EA.

Fora revelado também que um  novo trailer de Rogue One será lançado hoje. O spin-off da saga será lançado em 16 Dezembro no Brasil e contará uma história sobre o roubo dos planos da primeira Estrela da Morte, contando, ainda, com uma aparição de Darth Vader. Um vídeo com os bastidores das filmagens e um novo pôster também foram revelados.

Novo pôster de Rogue One revelado na Star Wars Celebration.

Outro lançamento importante será o da nova DLC de Star Wars Battlefront no Sábado (16/07). A EA anunciou que a partir das 15h o streaming estará disponível no canal oficial do Star Wars no YouTube  para os fãs acompanharem mesmo de longe. O DLC será lançado em setembro com novos mapas, armas e personagens, junto de um modo de jogo chamado “Skirmish,” que chega em Battlefront em 20 de julho e permitirá jogar modos “Walker Assault” e “Fighter Squadron”.

Você pode acompanhar tudo o que está acontecendo por aqui:

Autorais

Onde estão os nossos poetas marginais?

Nos anos 70, um grupo de jovens poetas inspirados pelo teor subversivo da poesia tropicalista, em atitude contrária aos padrões mercadológicos das editoras, começou a publicar suas obras em folhetos e até pendurados em varais, afastando-se do formalismo dos artistas da época e trazendo a tona o combate ao sistema padronizado e o debate político propiciado pela literatura. Seguindo uma contracultura expressiva dos anos 60, os autores dessa geração, dialogando com os poetas modernistas de 1922, fomentavam uma poesia primeiramente de cunho social e uma literatura incisiva, tornando-se os rebeldes que a ditadura censurava e os escritores que o mundo precisava ouvir. Sem rimas, com uma estética desconstruída e quebrando com o conservadorismo da literatura até então, esses artistas clandestinos, chamados então de poetas marginais, não se importavam com o politicamente correto e prescreviam altas doses de realidade para dentro da sua produção literária.

Nesse cenário, Chacal (pseudônimo de Ricardo de Carvalho Duarte) surge como um dos principais expoentes dessa literatura furtiva.

PREZADO CIDADÃO

colabore com a lei
colabore com o light
mantenha a luz própria

(CHACAL, 2007, p. 355)

Suas poesias, frequentemente minimalistas, contestavam o padrão de vida vigente, criticando a falsa simetria e o conservadorismo da ditadura de 1964.

EXP 

mal vc abre os olhos
e uma voz qq vem lhe dizer
o q fazer o q comer
como vestir

todos querem se meter
numa coisa que só
a vc compete:
viver a sua vida

deletar, destruir, detonar
esses atravessadores

a vida é uma só
e a única verdade
é a sua experiência

não terceirize sua vida
viva viva viva
essa é a sua vida

(CHACAL, 2007, p.106)

Simbolizando o quanto somos apressados nesse novo mundo de tecnologias com as abreviações dos substantivos presentes no poema, Chacal reflete sobre como a vida na verdade nos é imposta em vez de naturalmente vivida. Somos constantemente bombardeados com regras e normas (que geralmente não satisfazem a todos igualmente), acreditando que apenas assim poderemos viver harmonicamente em sociedade.

O apelo da contemporaneidade é esse: a literatura como instrumento de reflexão. Onde foram parar os nossos poetas marginais, que se escondem por de trás de tanta literatura rasa e sem motivo? Onde estão os contestadores dessa gaiola invisível que chamamos de sociedade?  Por onde andam os poetas desnudos dos padronizados formalismos para questionar os preconceitos velados e as ditaduras diárias sob as quais vivemos?

Um poeta para empoderar mulheres, destilar o racismo, o machismo e a homofobia para os quais fechamos os olhos e preferimos não ver. Onde estão os poetas que vão escancarar o que há de feio e grosseiro nesse mundo de amarras sociais, políticas e religiosas? Só nos resta esperar a clandestinidade virar roda de debate.