Categorias

Críticas de Cinema

Crítica: Duna - Parte 2 (2024)
Divulgação
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Duna – Parte 2 (2024)

Em Duna: Parte 2, assistimos o nascimento de uma lenda. Denis Villeneuve adapta a história cheia de abstrações de Frank Herbert para um espetáculo de imagem e som.

+ Inspirações da moda por trás dos figurinos de Duna

Dando continuidade ao primeiro livro, Paul (Timotheé Chalamet) e Lady Jessica (Rebecca Ferguson) se veem em território Fremen (Nativos de Arrakis) ao fugirem da armadilha que a casa Harkonnen articulou para eliminar a casa Atreides do poder. No deserto, o objetivo é único: sobreviver e voltar ao poder para vingar sua casa. Mas ainda que treinado pelos melhores sacerdotes e guerreiros, Paul não conseguiria prever o que significa ser um símbolo.

“Quando a lei e o dever, unidos na religião, são a mesma coisa, a pessoa nunca chega à consciência plena de si mesma. Será sempre pouco menos que um indivíduo.”

-excerto de “Muad’Dib: as noventa e nove maravilhas do universo”, da princesa Irulan

O povo de Arrakis, em sua genética, é programado a fazer muito do mínimo. Eles usam “trajestiladores”, trajes especiais que reutilizam os fluídos corporais e transformam em água para sua sobrevivência. Eles extraem água dos corpos de quem morre e armazenam como item sagrado, esperando pelo momento em que terão o suficiente para fazer a areia virar mar e as dunas, colinas verdejantes.

Esse sonho, anteriormente cultivado por outras Bene Gesserit que passaram pelo planeta, estrategicamente para momentos em que a genética de uma das Casas Maiores estivesse ameaçada, é a chave para a sobrevivência da casa Atreides. É acionando os gatilhos certos, criando mitos e reafirmando profecias que mãe e filho ganham a confiança do povo fremen: Lady Jessica através do fundamentalismo religioso e Paul através da luta e da estratégia, para trazer os céticos e construir seu exército.

No começo do filme, essa escalada para se tornar um fremen não é tão verossímil ao livro quanto o primeiro filme foi, o que a princípio pensei ser uma falha na continuidade mas percebi que era para que não só o público leitor se deleitasse com a história, mas também para que ela se comunicasse com a época contemporânea.

Não que Duna não seja atemporal. Como espécie, ainda temos os mesmos problemas: subdesenvolvimento decorrente da exploração, racismo, guerras santas, guerras por controle de recursos, genocídio…Mas Villeneuve fez escolhas que fizeram muito mais sentido para uma história que é feita por imagens do que apenas traduzir tudo o que o livro de 600 páginas, escrito na década de 60, diz. Por exemplo, a nossa noção de papel de gênero mudou bastante. No livro, Chani, a guerreira Fedaykin fremen por quem Paul se apaixona acaba por aparecer em poucos momentos, ainda que muito importante para o crescimento do Atreides, tendo seu ápice quando se torna mãe dos filhos de duna. Já no filme de 2024, Zendaya e Villeneuve fazem dela alguém que escolhe a honra de seu povo à amor, uma personagem implacável e fremen até a última gota de seu sangue. A Chani do filme não termina como consorte de Paulo enquanto a princesa Irulan, por estratégia, a esposa legítima, como no livro. Ela retorna para o deserto em cima de um shai-hulud, incapaz de lutar por alguém que também sabe que a religião é uma arma. Mal posso esperar para ver como o Paul do filme fará para que esta Chani volte.

Como o diretor mesmo disse em recente entrevista, imagem e som é o que fazem um filme ser inesquecível. Nesta 2ª parte eu percebi uma preocupação maior em mostrar o que está acontecendo, por quê, e para onde vai, fugindo um pouco mais de todos os detalhes que o universo de duna tem dentro do livro. É o que, para alguns espectadores, tenha passado a impressão de que este 2º filme é mais “agitado”. Sinceramente, quando olhei o relógio e vi que já tinha se passado 1h de filme, não acreditei. Acreditei menos ainda quando, depois de mais 1h, faltavam 40 minutos e o final do livro não estava nem próximo. Me contorci quando aceitei que a grande guerra ficaria para um 3º filme e quase gritei quando ela aconteceu, com a avó das tempestades de areia e tudo, bem na minha frente. E mais: O confronto final entre Paul e o Imperador.

Foi o momento em que me lembrei do que o termo adaptação significa e larguei mão de ficar procurando o que se parece com o livro e o que não. E esta foi feita com uma perspicácia que ainda não concebi como. E nem sei se quero. Todos os elementos para que leitores e não-leitores entendam a história estão ali, e ainda o fio que puxa para o 2º livro, o Messias de Duna.

Impossível não falar sobre esse elenco. Timotheé com a dor de um personagem que sabe de todos os caminhos que sua vida poderia tomar mas não pode escolher aquele que não seja o pior. Rebecca que precisa conciliar o ser uma santa com ser a mãe de um líder – dois na verdade. Uma história que a gente conhece muito bem.

Austin Butler é lindo à mesma medida que é aterrorizante como Feyd Rautha, o sobrinho do Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgard, uma lenda), e Javier Bardem dá vida a um Stilgar muito divertido.

Entrei na sessão pensando em como as pessoas nunca vão conseguir dimensionar o tamanho do que foi o efeito Muad’Dib. Como se mostra anos e anos de tradição sendo construída? Como mostrar a presciência? Como fazer entender as reverendas madres que se apoderam da mente de um feto? A tecnologia? A geografia de duna e os outros planetas? São tantas perguntas mas acredito que Villeneuve apenas não subestimou o público e fez um dos melhores filmes da década de 2020.

Crítica: Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (2023)
Divulgação
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (2023)

Passando pelos cartazes de próximas estreias, e sentindo o cheiro de pipoca ao ver o display da mais nova adaptação da franquia Jogos Vorazes eu quase senti que tinha voltado para 2015 – quase.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes conta a história de um jovem presidente Snow antes de tornar-se o governador de Panem e posteriormente o vilão da 1ª franquia, título que a autora Suzane Collins faz o leitor questionar muitas vezes durante o livro prequel, que se pauta em teorias como a de Hobbes e Rousseau para discutir tudo o que levou o protagonista a ser quem ele é.

+ Resenha: A cantiga dos pássaros e das serpentes, Suzanne Collins

Para humanizar um personagem como Snow (Tom Blyth), Suzane Collins precisou de 576 páginas, concluindo a saga com o maior livro entre os 3 e deixando muito pano pra manga para uma adaptação muito fiel. Não foi isso que aconteceu de totalidade nos 157 minutos de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes.

Fazer um estudo de personagem seria insustentável numa franquia como Jogos Vorazes, visto que muitas questões circunstanciais atravessam demais personagens da mesma forma que o protagonista, mas o diretor  Francis Lawrence (Em chamas, A Esperança I e A Esperança II) flertou por este caminho quando deu a Snow o maior tempo de ponto de vista, o que cumpre seu papel no objetivo de dar elementos para o público enxergá-lo de outra forma mas tropeça quando deixa Lucy Gray (Rachel Zegler) de lado.

O filme foi separado em partes como nos capítulos do livro e todas foram utilizadas para expor os motivos pelos quais Snow mente e manipula para levar sua família de volta à elite de Panem, rico em detalhes que mostram a realidade com a qual a família Snow lidava e a dificuldade que Corialanus tinha para manter o padrão frente à seus colegas mais abastados. Dentro do universo deste personagem existem alguns que servem como forças motrizes para levar o protagonista ao limite do bom e do ruim. O mesmo não pode ser dito sobre Lucy Gray, artista, nômade, tributo e vitoriosa do distrito 12.

Lucy Gray – assim como Snow – Forjou-se de maneira que pudesse sobreviver ao ambiente em que estivesse, com as armas que tinha à disposição. No caso dela, o entretenimento. O filme apresenta Lucy como se ela fosse uma peculiaridade que caiu no colo de Snow por azar e que ambos caíram de amores por terem se conectado de forma imediata mas a verdade é que ambos estavam tentando ganhar seus próprios jogos. Antes de Snow, Lucy já era um espetáculo nato e usar isso à seu favor foi reflexo, assim como flertar com Snow. Mas a relação ambígua dos dois fica confusa por causa da velocidade com a qual o longa mostra os acontecimentos, sem dar o tempo que levou para o desenvolvimento da parceria entre ambos no livro e deixando tudo muito romântico para quem não leu o prequel.

Diferente dos primeiros filmes, este falta com a frieza e a solidez das imagens do distrito 12, bem como investe pouco nos diálogos, que são muito mais fortes no livro de Collins do que na adaptação. Ocorrência que não se vê nos outros 4 longas.

Mas desacelerar a adaptação significaria fazer um filme com mais de 2 horas e chuto que, depois de separar A Esperança em 2 filmes, Lawrence tenha decidido por acomodar tudo num só. Talvez porque não estamos mais em 2015 – quando era viável estender a presença da franquia no imaginário do público por mais 1 ano numa época em que distopias estavam faturando barbaramente mas fato é que: 8 anos depois, Jogos Vorazes ainda é espetacular.

O filme usa os protagonistas para passear do “homem nasce naturalmente mau e precisa de um Estado absoluto para ditar regras” para o “homem nasce naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe” enquanto tira o fôlego do espectador ao transcrever a violência com a qual Suzane Collins termina seus capítulos para as imagens. É brutal e é intimamente humano no que tange às guerras mundiais que estamos presenciando, como assistimos à morte de crianças e escolhemos “times” ao invés de lembrar quem é o verdadeiro inimigo.

É preciso elogiar o elenco, destacando Tom Blyth, Viola Davis, Peter Dinklage e Rachel Zegler, que confesso ter me emocionado na cena com as serpentes e quando recitou “The Hanging Tree”, música que viria a ser o hino e o estopim da revolução que causa a 2ª guerra de Panem. Cancelamentos a parte, quem diria que escalar uma atriz que também é cantora faria diferença, né?

Parecendo ter poucas saídas criativas dentro de uma franquia muito consolidada, Lawrence entrega o que os fãs querem e parece trabalhar melhor na metade do filme para o fim, ainda incitando fome de mais um jogo voraz.

Crítica: Filho da Mãe (2022)
Divulgação
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Filho da Mãe (2022)

Demorou quase um ano pra eu conseguir assistir ao documentário póstumo de Paulo Gustavo, Filho da Mãe, desde a morte dele. Paulo Gustavo era o artista brasileiro que eu mais admirava e sua morte precoce me deixou realmente muito triste. Foi assunto de semanas de terapia por aqui. Eu não o conhecia. Só fui em um show dele da turnê Hiperativo lá em meados de 2015, mas desde então, nunca perdi uma estreia no cinema e todas as vezes que algum filme dele passa na TV eu me sinto obrigado a assistir e dou risada como se fosse a primeira vez.

+ Minha Mãe é uma Peça 2 bate recorde de bilheteria no primeiro final de semana!

Filho da Mãe é uma homenagem pra gente que, assim como eu, sente muita falta das risadas genuínas que ele parecia arrancar. É um filme que mostra o backstage da última peça que ele fez com sua mãe Déa Lúcia, musa inspiradora de Minha Mãe É Uma Peça e que tem o mesmo nome do filme e acompanha a narrativa até seu último dia de vida, quando uma infecção por Covid-19 fez seu coração parar.

Paulo Gustavo, como o filme retrata muito bem na fala dos seus amigos mais próximos, era a pessoa que ele mostrava ser pra gente. Tudo poderia virar humor. E, apesar dele não se considerar militante da causa LGBTQIAP+, o que ele fez pelo movimento foi grandioso: um homem gay, que criou uma drag queen inspirada na mãe e entrou na casa de milhares de brasileiros pela porta da frente mostrando que o preconceito não deve existir dentro de casa. Dona Hermínia e Juliano mostraram um casamento gay em sessões de cinema completamente lotadas no país que mais mata LGTQIAP+ no mundo todo.

Depois, ele ainda nos mostrou que gays podem construir família. Teve dois filhos com seu marido de longa data, Thales Bretas, que dá seu depoimento no filme também de como foram as últimas horas de vida de Paulo Gustavo. Ele, médico dermatologista, conta que Paulo teve um mal estar em casa e que, tudo o que ele conseguia fazer não foi suficiente. Ele acabou internato, intubado e foi a óbito em alguns dias. Nesse tempo, o Brasil parou em meio a quarentena: jornalistas, fãs e pessoas de todas as crenças e religiões não podiam acreditar que Paulo Gustavo tinha partido, deixando uma família, dois filhos bebês que não veria crescer e um marido.

Embora Filho da Mãe seja um filme que mostra muito da sua carreira, de como ele era no dia a dia trabalhando, a parte que mais emociona em quase duas horas é o momento em que seus amigos pessoais começam a dar depoimentos. É impossível não se comover quando seus familiares falam e quando outros grandes nomes da comédia brasileira como Ingrid Guimarães e Monica Martelli tentam falar sobre Paulo Gustavo e não conseguem, interrompidas pelas lágrimas.

Eu, como fã, demorei muito tempo para conseguir ter coragem de ver o documentário. Foram várias vezes que apertei ali o botão do Prime Video e tirei logo em seguida. Dessa vez, consegui ir até o fim, mas me rendeu uma bela dor de cabeça depois de tanto que chorei porque, para nós, enquanto país e sociedade, é uma buraco que jamais conseguirá ser tampado. Paulo Gustavo foi uma supernova, uma referência e teve sua existência abreviada por um vírus mortal que aliado a um governo genocida, fez com que várias famílias, assim como a dele, sobrevivessem agora com uma parte de si faltando.

Filho da Mãe está disponível no Amazon Prime Video.

Crítica: A Menina Que Matou os Pais - A Confissão (2023)
Reprodução
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: A Menina Que Matou os Pais – A Confissão (2023)

Eu confesso que eu estava ansioso pela parte final da trilogia de A Menina Que Matou os Pais, que retrata o caso Richthofen de forma dramatizada. Os dois primeiros filmes da trilogia, A Menina Que Matou os Pais O Menino Que Matou Meus Pais foram lançados no ano passado e contam o ponto de vista da relação entre Suzane von Richthofen, Daniel Cravinhos e Cristian Cravinhos, respectivamente pela visão dele e pela visão dela, de acordo com os depoimentos dados por cada um.

+ Prime Video Divulga Trailer de A Menina que Matou os Pais – A Confissão

Vamos recapitular: no primeiro, A Menina Que Matou os Pais, que eu considero chegar o mais próximo possível da realidade, Daniel Cravinhos, até então namorado de Suzane, conta sua visão dos fatos – como eles se conheceram e como a garota era fria e manipuladora até que conseguisse o que queria dele – que matasse seus pais – para que pudessem viver livres. No segundo, O Menino Que Matou Meus Pais, a história é a mesma, mas a narrativa se inverte. Aqui, Suzane pinta Daniel como perverso e que eles viviam um relacionamento abusivo que culminou em uma manipulação da parte dele para ela, em convencimento de se livrar do casal para que pudessem fugir com a herança.

O terceiro filme, A Menina Que Matou os Pais – A Confissão, acho que chegamos perto de um ponto único. Aqui, nem Suzane, nem Daniel, nem Cristian são santos. Aliás, Cristian é o que chega mais perto de um arrependimento genuíno. Nesse ponto, o crime já aconteceu e agora a polícia começa a juntar as peças para chegar nos criminosos. Particularmente, gosto de entender a mente criminosa para conhecer como foram as circunstâncias que se chegaram ao crime, mas, no caso dessa trilogia, a parte mais satisfatória foi essa: a investigação.

Aqui, vemos a manipulação de Suzane se fragmentar em muitos momentos, um Cristian, que apesar de criminoso, se arrepende primeiro e um Daniel também frio, que só consegue se abrir quando o buraco se fecha para a sua família, seu ponto fraco. Gostei que o filme também retrata os que ficaram: como a família Cravinhos lidou com a notícia de que seus dois filhos eram criminosos e que Suzane, que tinham acolhido como filha, era a mandante de tudo. Isso só nos mostra que nenhum dos dois filmes iniciais da trilogia estava certo: o que mais se aproxima da verdade são fragmentos de um lado e fragmentos de outro. Tudo o que eles fizeram foi criar narrativas para favorecerem suas próprias defesas.

Claro que conseguimos ver traços de humanidade na Suzane, apesar de raros. Ela ainda manda cartas para a mãe dos Cravinhos, por exemplo. Mas tudo isso vai por água abaixo nos depoimentos que ela dá para a delegada, logo após a morte. Um dia depois, ela pergunta se já pode vender os carros da família. Quando a casa começa a cair, ela passa a repetir frases feitas. E é nesse ponto que a pressão psicológica exercida pelos investigadores faz seu papel e arranca as confissões.

Os atores dão um show a parte de atuação em A Menina Que Matou os Pais – A Confissão, com destaque para Carla Diaz vivendo Suzane. Se nos primeiros filmes, ela já havia conseguido com maestria desempenhar o papel da garota manipuladora, nesse filme ela praticamente encarna von Richthofen. Seu olhar muda, seu tom de voz é outro, seus trejeitos… Sério, apenas assistam. Parece que trocaram de corpo ali. Não tem nenhum pedacinho que falha em toda a sua atuação.

Um destaque muito forte também são as fotografias de cena que conseguiram reproduzir com exatidão o dia do enterro, as fotos tiradas por paparazzis o que trouxe ainda mais veracidade para a dramatização e trouxe um tom de documentário para o filme, que já começa ao som de Sail, ditando o tom que a trama vai seguir.

De todos os filmes da trilogia, A Menina Que Matou os Pais – A Confissão é o melhor, tanto em história quanto em argumento, atuação e informações. Está disponível no Amazon Prime Vídeo e dou, definitivamente, cinco estrelas.

Tô Ryca! 2
Críticas de Cinema, Filmes, Séries

Crítica de Cinema: Tô Ryca! 2 (2022)

Seis anos depois, a tão esperada continuação de “Tô Ryca!” chegou aos cinemas (pelo menos por mim, que assisto ao filme um milhão de vezes e morro de rir em todas elas, como se estivesse assistindo pela primeira vez). Para quem não conhece, o primeiro filme conta a história de Selminha Oléria Silva, mais conhecida como S.O.S., uma frentista que tem a chance de deixar para trás seus dias de pobreza depois de descobrir que um tio desconhecido, que estava no final da vida, deixou uma fortuna de R$ 300 milhões para ela. No entanto, para chegar ao dinheiro, ela precisa cumprir o desafio de gastar R$ 30 milhões em 30 dias, sem poder comprar nada, acumular nada e nem contar para ninguém.

+ “Tô Ryca!” tem trailer divulgado

O que parece fácil em uma primeira vista, acaba sendo mais difícil do que Selminha imaginou. Podendo doar apenas uma parte dos R$ 30 milhões e com pessoas querendo puxar o seu tapete a todo momento, ela encabeça uma campanha política para a prefeitura do Rio de Janeiro, ajuda muitas pessoas, tira um candidato ruim da disputa e de quebra, ganha o desafio e fatura os R$ 300 milhões. Tudo isso com um humor genuíno e uma pitada de crítica social dignas da Samantha Schmütz para tornar a história ainda mais verossímil.

Em Tô Ryca! 2, alguns anos se passaram e Selminha está morando em uma mansão enorme, com vista para o Cristo Redentor e milhares de funcionários que fazem a casa funcionar bem. Namorando com Rubens, ela não esqueceu suas raízes e ainda vai fazer as unhas no salão da Nilze e até fundou um programa na sua comunidade, o “S.O.S. Dignidade”, que ajuda os comerciantes locais, os autônomos e até os artistas. Selminha ostenta como se não houvesse amanhã, não fazendo questão de trocos ou de trocados, já que, segundo ela, “R$ 900 é dinheiro desde quando?”

Luane, por sua vez, está trabalhando em mais de um emprego para juntar economias para seu casamento com Nico, mesmo após Selminha insistir para que ela largue tudo e viva com ela. Até que, ao mesmo tempo, Luana decide largar tudo e Selminha recebe uma intimação judicial: houve um engano e era outra Selminha Oléria Silva que devia ter ganhado a herança e não ela. Sem conseguir fazer teste de DNA para provar que de fato, ela é sobrinha do tio distante, a multimilionária tem seus bens bloqueados pela justiça e agora precisa viver com um salário mínimo e sob o mesmo teto que a nova Selminha.

Claro que isso não dá certo por muito tempo e Selminha precisa se retirar da casa, voltar para sua comunidade e dormir em um sofá na casa do Nico e de Luane. Esperando o resultado do processo, ela diz “Tô Pobre!” e precisa arrumar um emprego em casa de família para sobreviver.

A trama de “Tô Ryca! 2” conseguiu dar uma boa continuidade ao que “Tô Ryca!” tinha iniciado, mantendo as doses de humor necessárias para manter as pessoas gargalhando em muitos momentos, de forma a não ficar desconectado do roteiro inicial, como acontece com muitas continuações. A trilha sonora é impecável e as cenas sem falas, em câmera lenta, com música de fundo deram um ar de “vídeo de humor do Youtube”, e fez parecer que o tempo nem passou. Quando o filme acabou, ouvi muitas pessoas dizendo “ué, mas já? se passou quanto tempo?”

Não vou dar spoilers da forma com a qual a trama de “Tô Ryca! 2” se encaminha depois disso, mas digo que vale muito a pena assistir, tanto pelo humor, quanto pelo roteiro muito bem construído com críticas sociais seríssimas e acessíveis, ou seja, até mesmo uma pessoa que não é ligada em pautas sociais, vai parar, entender e refletir. Queria muito uma terceira continuação porque gosto muito do universo de Selminha e Luane, mas acho que a franquia teve um final digno e que fechou muito bem a trama.

Alice Júnior
Críticas de Cinema, Filmes, Séries

Crítica de Cinema: Alice Júnior (2019)

Alice Júnior é o filme que todos nós precisávamos mas ainda não tínhamos nos dado conta, pelo menos, conscientemente. É cativante, bem escrito, bem produzido e, acima de tudo, com muita representatividade.

+ Resenha: Vermelho, branco e sangue azul, Casey McQuinston

Ele conta a história de Alice Júnior, uma adolescente trans, que mora com o pai, Jean, e grava vídeos para o Youtube. Uma garota como qualquer outra de sua idade. No entanto, ela vê sua rotina mudar quando o pai é transferido de Recife para Araucárias do Sul, uma cidade no interior do Paraná.

Com a transferência, os dois passam a morar afastados da cidade, em um sítio. Realidade bem diferente da que ela estava acostumada. Mas, isso não é o pior: Alice também é transferida de escola e vai parar em um colégio religioso, com um pensamento mais retrógrado com o qual ela estava acostumada.

A luta de Alice Júnior, que antes era pelo seu primeiro beijo, agora passa a ser por reconhecimento. Na escola, ela precisa enfrentar preconceitos de pessoas da sua idade que não validam a existência de uma menina trans e por isso, não reconhecem a sua identidade. Ela não pode usar as roupas que quer, não pode usar o banheiro feminino e nem seu nome social é respeitado na chamada.

O grande ponto alto do filme é a luta de Alice, que parece inquebrável, pelos seus direitos, mesmo que ainda nova. Seu pai, Jean, é um grande aliado da causa e faz de tudo pela filha, o que é muito bonito de se ver representado no filme. E é nesse ponto que também vemos uma virada de chave entre as pessoas: existem sim, aqueles que querem derrubar Alice e sua existência, mas também existem aqueles que a ajudam a ser resistência.

O desenvolvimento de Alice Júnior se dá nessa virada de chave. Outras adolescentes da sua idade, passam a apoia-la e até o banheiro feminino, se passa a chamar “banheiro feminista”. O filme é uma representação incrível da adolescência LGBTQIAP+ e nos traz um quentinho no coração pela representatividade. Estamos acostumados a ver filmes adolescentes estrelados por Maísa, Larissa Manoela e outras atrizes cisgênero, enquanto Alice Júnior traz toda essa trama, inerente aos mais jovens, representada por uma garota trans.

Lembra que eu disse que era tudo o que a gente precisava? Além da luta por identificação, a gente também vê “problemas” de jovens como o primeiro beijo, o primeiro namoro, o vestibular, entender o seu lugar no mundo…. Se ainda usássemos o sistema de estrelas aqui no Beco, eu não daria cinco estrelas. Daria todo o céu.

Crítica: As Panteras (Charlie's Angels, 2019)
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: As Panteras (Charlie’s Angels, 2019)

Estamos vivendo um boom de continuações e remakes dos filmes e séries que amamos. Devo confessar que não sou grande entusiasta do formato mas nunca dispenso a oportunidade de ver filmes com mulheres que dão socos e pontapés. E foi assim que eu fui parar na cabine do novo “As Panteras”, escrito e dirigido por Elizabeth Banks.

Se você tem por volta dos 20 e poucos anos e quase ou nenhum interesse pelo universo dos anos 70/80 que que seus pais provavelmente viveram (e amaram), saiba que As Panteras (Charlie’s Angels) nasceu no formato de série de televisão nos anos 70 com todo o girl power e hair goals que se poderia ter. Lá pelos anos 2000, a franquia foi adaptada para a conhecida versão com Drew Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu.

O Girl Power vende. Nós sabemos e Hollywood também – ainda mais após movimentos como o Me Too. Então, não é a toa todo o barulho que o filme vem trazendo ao se apresentar como feminista. De fato temos mudanças positivas da versão dos anos 2000 – e é impossível não comparar o atual com esta versão – tal qual saímos da hipersexualização das personagens e acrescentamos mulheres que podem hackear e manjam muito de tecnologia – papéis geralmente desempenhados por homens até pouco tempo (mas estamos virando esse jogo através de filmes e séries, alô Sense 8 e Oito Mulheres e Um Segredo).

Ainda no universo feminino, presenciamos nossas “anjas” passarem por situações como macho palestrinha levando crédito pelo que a mulher fez, assédio no trabalho e o homem chato que caga regra do que a mulher deveria fazer ou como eu chamo tudo isso: mais um dia na vida da mulher.

Porém, por mais que o filme tente, acaba encaixando suas protagonistas em caixinhas dos clichês. Sabina (Kristen Stewart) é a clássica menina que era problema durante a adolescência, ama curtir a vida adoidado e não tem filtro na hora de falar. Elena (Naomi Scott) é a que cai de paraquedas, inocente e querendo mostrar serviço e Jane (Ella Balinska) é a típica fortona que não chora e “não precisa de ninguém”. Mas a química entre o trio é visível e faz toda a diferença durante o longa.

Aqui vale elogiar a face comediante que conhecemos de Kristen Stewart. Torcer o nariz para os filmes da atriz com base em Crepúsculo é golpe baixo em 2019. A atriz se entregou em vários papéis diferentes – de filmes mais independentes como Para Sempre Alice até trabalhos com o diretor francês Oliver Assayas, no qual foi premiada com o César por Personal Shopper. A personagem de Stewart é carismática e traz leveza para o filme.

Outro ponto positivo é a boa fotografia do filme mas o que realmente chama a atenção é a trilha sonora com um compilado de vozes femininas. A trilha ficou na responsabilidade de ninguém menos que Ariana Grande, que arrasou nas escolhas. Entre a seleção, está a música “tema” do filme “Don’t Call me Angel” com participação da própria ao lado de Miley Cyrus e Lana Del Rey, passando por um remix de “Bad Girl” de Donna Summer e o original “Pantera” de Anitta, que abre o filme numa cena de um Rio de Janeiro fake.

Vale lembrar que o filme tem cena pós-créditos e vale pela espera.

As Panteras é uma feliz surpresa – ainda mais naqueles dias que a gente só quer ver um filme com ritmo e ir para casa sem pensar muito. No mais, elas que lutem.

Doutor Sono
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Doutor Sono (Doctor Sleep, 2019)

Doutor Sono é uma adaptação do livro de mesmo nome de Stephen King que dá sequência a série “O Iluminado”. No geral, é um bom filme, mas não se parece com O Iluminado. São dois filmes diferentes com gêneros diferentes que em alguma hora se cruzam. Doutor Sono poderia ser facilmente uma história de origem de tudo o que acontece se quisessem seguir uma linha do tempo contínua a partir de agora. Não espere um Iluminado 2, estou avisando,

Ainda extremamente marcado pelo trauma que sofreu quando criança no Hotel Overlook, Dan Torrance lutou para encontrar o mínimo de paz. Essa paz é destruída quando ele encontra Abra, uma adolescente corajosa com um dom extrassensorial, conhecido como Brilho. Ao reconhecer instintivamente que Dan compartilha seu poder, Abra o procura, desesperada para que ele a ajude contra a impiedosa Rose Cartola e seus seguidores do grupo Verdadeiro Nó, que se alimentam do Brilho de inocentes visando a imortalidade. Ao formarem uma improvável aliança, Dan e Abra se envolvem em uma brutal batalha de vida ou morte com Rose. A inocência de Abra e a maneira destemida que ela abraça seu Brilho fazem com que Dan use seus próprios poderes como nunca, enquanto enfrenta seus medos e desperta os fantasmas do passado.

O começo do filme é parecido com o livro, apesar de não mostrar tudo, mostra o quão poderosa é Abra e o quanto a performance de Rose estará presente durante toda a trama. O enredo se baseia no quanto a paz de espírito de Dan é destruída quando ele conhece Abra e posteriormente, com o aparecimento Rose. Nesse filme, Dan se mostra um pouco mais poderoso que antes, em algumas cenas capazes de nos tirar arrepios (falando sério!).

Há algumas cenas melhoradas com relação ao livro, como por exemplo na cena do True Knot/Verdadeiro Nó, quando no livro o Dan só tem uma arma e a usa por necessidade, no filme ele está praticamente como o Rambo pra cima de todo mundo. É uma cena maravilhosa, que fez toda a sala de cinema vibrar junto com a trama. Claro que, Dan mais poderoso também contribuiu para essas cenas fortes, assim como posteriormente, quando ele vê Dick novamente sem saber que é ele mesmo. Satisfaz nossos corações ver essa evolução de personagens, mesmo o filme não tendo aquele fio que conecta com o que veio antes de forma tão poderosa.

Por fim, me resta dizer que o filme não tenta ser um Iluminado 2, definitivamente (vou repetir isso quantas vezes forem precisas). É um filme próprio, dentro do mesmo universo. Enquanto no primeiro filme vemos um Dan meio enfraquecido, sem poder falar muito sobre seus próprios poderes, agora vemos que ele não é tão poderoso quanto Abra, mas mesmo assim nunca esteve tão focado em melhorar suas habilidades como adulto, já que ele se tornou alcoólatra para escapar de tudo o que o torturou no primeiro filme.

É um filme perfeito para essa época de Halloween, apesar de ser extremamente difícil escrever uma crítica sem falar spoilers ou revelar muita opinião pessoal. Assista e vem aqui depois contar pra gente o que achou!

Bate Coração
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Bate Coração (2019)

Bate Coração é o novo filme brasileiro da Downton Filmes com a Estação Luz Filmes, que estreia nos cinemas de todo o país amanhã, dia 7 de novembro. Com nomes como André Bankoff e Aramis Trindade no elenco, nós do Beco Literário fomos convidados para ver o filme em primeira mão e contar nossa opinião pra vocês!

O filme aborda algumas questões que devem ser revistas pela sociedade, e que deveriam ser tratadas com maior naturalidade. A protagonista, médica, é negra e a maior parte das personagens é travesti.

O enredo do filme começa a se basear anos atrás, quando Isadora e Cassandra faziam sucesso em boates LGBTQ+, porém, em uma das noites, Isadora tem uma oportunidade de crescimento profissional e deixa Cassandra sozinha nos palcos, muito magoada. Baseado nisso, a trama começa a se desenvolver quando Isadora e sua esposa encontram Cassandra e uma amiga durante a festa de ano novo, enquanto são vítimas de preconceito por motoqueiros.

Indignada e querendo ajudar a amiga, Isadora os espanta, mas acaba sendo atropelada. Por outro lado, Sandro, típico garanhão, está curtindo sua noite de revéillon com seu amigo em uma balada, escondido da namorada. Claro que ela descobre e vai até ele, que começa a passar mal e é levado com urgência ao hospital. Resultado? Precisa de um transplante de coração.

Isadora não resiste ao acidente e acaba morrendo, porém, seu coração é deixado para Sandro, que sobrevive por um milagre, tendo em vista que não é fácil conseguir um coração de forma tão rápida. É nesse crossover que começa o verdadeiro enrosco de toda a história do filme.

O espírito de Isadora passa a perseguir Sandro, buscando ver se ele é realmente merecedor daquele coração, que é a verdadeira razão dele estar vivo.

O antigo Sandro era pegador, levava uma vida bem agitada e após as assombrações de Isadora, ele resolve ir atrás do seu doador e, quando descobre a verdade, briga com a médica. Nisso, ele se exalta e mais uma vez passa mal, ocasião em que conhece Luiza, de apenas 11 anos, a espera de um transplante de coração. Nisso, ele percebe e cai em si com a grande sorte que teve.

Publicitário a frente de uma grande agência, realiza uma ação de doação de órgãos em prol de Luiza, que consegue e, após seu transplante, se recupera e faz o moço se apaixonar pela médica. Enquanto isso, Vera, ex-esposa de Isadora, organiza uma homenagem a ela com seu filho na mesma boate.

Com tudo em ordem, Sandro com um novo comportamento, Cassandra perdoando Isadora pelo acontecimento de anos atrás, Isadora decide que é sua hora de ir para o plano espiritual.

O filme é leve, com pitadas ácidas de humor e capaz de tirar risos e lágrimas da plateia, tudo ao mesmo tempo. Recomendo muito!

Controle de Trânsito (Traffic Stop)
Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Controle de Trânsito (Traffic Stop, 2019)

Controle de Trânsito (Traffic Stop) é a prova de que é praticamente crime ser negro nos Estados Unidos. O documentário começa a partir de cenas reais, captadas por uma viatura policial na rodovia de Austin, Texas. Vemos então o policial Bryan Richter seguir um carro até o momento em que ele é estacionado em um shopping. Ele também estaciona e conhecemos nossa protagonista, Breaion King, que recebe a ordem de voltar para o carro.

A partir daí, os dois começam a bater boca. Richter justifica sua abordagem por um suposto excesso de velocidade e começa a ficar impaciente. O clima de tensão aumenta e já sabemos que nada de bom vai suceder aquela cena. Entramos então para a cena mais brutal do documentário: o policial puxa King para fora do carro, jogando-a no chão e ameaçando usar sua arma de choque. Em extremo pânico, ela tenta reagir contra as agressões do policial que com muita brutalidade a imobiliza no chão para algemá-la. Nesta cena, não tem como ficar neutro ao ver uma situação de agressão gratuita. A convite da HBO, fizemos parte da cabine de Controle de Trânsito (Traffic Stop) e todo mundo da sala teve um baque durante essas cenas angustiantes.

O documentário em curta-metragem então desliga-se momentaneamente daquelas capturas policiais para que possamos conhecer nossa protagonista após o ocorrido. Breaion é uma professora afro-americana de apenas 26 anos e com ares carismáticos de Mary Poppins, queridíssima por seus alunos. Passamos a conhecer seu dia a dia e as sequelas que ainda a marcam, mesmo anos depois do ocorrido. São 30 minutos de documentário – ágeis e com ritmo, mas que poderiam ter se desdobrado facilmente em um documentário longa-metragem -, com impacto o suficiente para ter sido sido indicado ao Oscar de melhor documentário de curta-metragem na edição de 2018.

Voltamos para as capturas da viatura. Outro policial é chamado para conduzir nossa protagonista até a delegacia. Num primeiro momento, ele chega com calma para entender a situação e conversar com Breaion. No caminho, ela engata uma conversa sobre racismo, injustiças e polícia. Para a surpresa de ninguém descobrimos que este policial é outro racista, com falas em que afirma que ninguém da polícia americana é racista e que há de se entender o comportamento dos mesmos, uma vez que os presos mais violentos seriam os negros. Ou seja, passando aquele pano. O famoso: feito por homens brancos, para homens brancos em mais uma narrativa de abuso de poder. Acho importante ressaltar que mesmo com tantas provas tão claras em vídeo, o processo dela continua em aberto.

Documentário excelente. Do tipo que deveria ser passado em escolas durante aulas de filosofia e sociologia. E também que não pesa a mão na edição, ficando longe dos documentários massantes de temas parecidos. Fica a reflexão de quanta Breaions não passam pela mesma situação – senão pior – todos os dias. Nos créditos do curta-metragem, ficamos sabendo que o policial foi afastado após uma outra situação similar de racismo. Já diria Childish Gambino, This is America.

O documentário estreia na HBO e na HBO GO hoje, dia 22 de outubro.