Artigos assinados por

Gustavo Machado

Atualizações, Autorais

BEM MARCADO – texto autoral

trilha sonora indicada para leitura deste texto: the night we met – lord huron

secretaria eletrônica: oi! aqui é a ana, estou estudando agora e não posso te atender… desculpa! mas deixe seu recado que entro em contato depois! beijos! – BEEP
– oi ana, sou eu [risos]. queria te perguntar se está tudo bem… como foi a sua avaliação? qualquer coisa estou aqui, está bem?! um beijo e bons estudos!

cheguei um pouco tarde e muito cansado, nem tirei a roupa, ainda com tênis deitado na minha cama. passo a mão no rosto. tenho uma cicatriz no meu dedo. meu celular vibra, uma notificação

@artur respondeu a sua história: mas quem não é estranho? – dou um sorriso de canto sincero.

ao ler, volto para o meu dedo e penso: cresci vendo aquela marca bem no alto do meu polegar, na primeira falange coladinho da unha. sempre a vi traçar a minha pele e eu nunca descobri como ela foi parar ali. não me lembro de nenhum machucado, nenhuma dor, nenhum sangramento. não tenho nenhuma história para contar de como fui presenteado com aquela marca no meu dedo, ela sempre esteve ali, comigo. por incrível que pareça, li sobre uma história que explica como essas marcas surgem e o porquê. segundo a lenda, um casal fora impedido de ficarem juntos. distanciados, afastados, com ritmos de vida totalmente diferentes, mas nunca longe um do outro, sempre arrumavam um jeito para encontros e eternizarem num só momento o amor. tiraram a visão dela, pois achavam que assim nunca mais poderiam se ver. ele tinha medo de se perderem na multidão. durante a última noite de invernia, ela decidiu marca-lo, uma cicatriz em sua mão. a dor do corte para lembrar a luta que tinham que conviver, o sangue do pacto e a cicatriz, a marca que a presença e ausência causa um no outro. estão ligados. com tal característica, não importa o tempo ao passar, ou o lugar ao caminhar, mesmo sem a visão ao cumprimenta-lo, ela sempre saberia que aquela marca em seu dedo seria a oportunidade de encontrá-lo na liberdade. a lenda diz que a cicatriz no dedo é a marca de um amor que está a sua procura. você está marcado e tem alguém te procurando.

meu celular vibra novamente

mas como assim? existe uma pessoa te procurando? existe toda essa onda de “pessoa certa” para você? artur diz que não, ana diz que sim. artur diz que existem pessoas certas para momentos certos, é assim que ele lida com os seus relacionamentos; ana me diz que existe uma pessoa certa para uma vida inteira, depois disso ela me convidou para ser padrinho de seu casamento, fiquei muito feliz com o convite [por sinal]. minha cicatriz me diz que tem alguém que me marcou e está a minha procura nesse exato momento, minhas experiências me dizem o contrário, não sou de ninguém, na há ninguém disposto a encarar minha realidade, pelo contrário, preciso me conquistar e tentar me aceitar, talvez nem eu queira ficar comigo mesmo, um eu fora de si.

não consigo pensar sobre isso, me enovelo em ideias e inúmeras variáveis. isso tudo está fora de mim. ”pessoa certa”, que ironia! com o tempo, passei a pensar nos relacionamentos e como eles são. alguns de nós estão predestinados a se amarem, outros, por sua vez, são na verdade, viajantes solitários da vida. estranhos e complexos demais para serem entendidos.

se existir a pessoa certa e ela morrer num acidente? fico sem ninguém? e se alguém estiver comigo e eu achar que sou a sua pessoa certa e ela está comigo por comodidade ou por falta de outras oportunidades? e se eu estiver com alguém no supermercado e encontrar a minha pessoa na fila de queijos, enquanto tem alguém me esperando com o carrinho segurando um pote de café? e se me apaixono pela pessoa certa de outro? onde estão as regras da vida? pelos céus!

fecho e abro minha mão algumas vezes, qual o motivo de ter uma cicatriz aqui? neste lugar? um sábio disse que você pode estar cercado por pessoas e se afogar em solidão, você pode ter alguém e estar só. não sei se existe uma pessoa certa, também não sei se há probabilidade de existir, muito menos de não existir. o “amor” é um jogo de poker, todos estão blefando e todos estão dizendo a verdade, depende do ponto de vista, depende daquilo que quer acreditar. não é possível saber o que se passa dentro do coração das pessoas, amar alguém é uma insegurança constante, nada no outro está ao seu domínio, muito menos reconhecimento. afinal, não sabemos de nada.

e voce? acredita que existe uma pessoa certa para você?

Atualizações

BECO NA BIENAL: ESPECIAL A.J. FINN #18

Tenho a sensação de que dentro de você, em algum lugar, há algo de que ninguém conhece.

A.J. Finn

 

Através das adversidades, para as estrelas.

A.J. Finn

 

Minha querida menina, você não pode continuar batendo sua cabeça contra a realidade e dizendo que ela não está lá.

A.J. Finn

 

 

Hey Becudos! Preparados para mais um especial para a cobertura de um dos eventos mais esperados do ano? A 25ª Bienal Internacional do Livro!

No nosso espaço de hoje, temos A. J. Finn. Para quem não sabe, esse não é o seu nome verdadeiro, você acredita? Sim, A. J. Finn é na verdade um pseudônimo para Daniel Mallory. Formado na Oxford University, foi crítico literário do Los Angeles Times, The Washington Post e The Times Literary Suplemment.

“A mulher na Janela “ foi seu livro de reconhecimento internacional ao ser conhecido em trinta e seis países. Foi tanto sucesso que a Fox – empresa de comunicação em massa – pagou a batela de um milhão de dólares para tornar o livro em longametragem.

A história da inspiração para escrever este livro tão promissor, que próprio o autor o chama de “A janela indiscreta de Alfred Hitchcock para o século 21”, é que ainda deitado em seu apartamento em Nova Iorque assistindo várias vezes o filme “Janela Indiscreta”, ele repentinamente olha de sua janela e vê sua vizinha acendendo a luz de sua casa. Em um momento perfeito, a personagem James Stewart diz: “Não espione seu vizinho porque alguma coisa muito ruim pode acontecer”, a fala/frase estava perfeita para aquela situação.  Esse foi o nascimento de Anna Fox, esse foi o início de “A mulher na Janela”.

O autor reconhece que o fato de ter trabalho na edição de livros facilitou e muito o seu oficio de escritor. A obra se apresenta ao leitor com capítulos curtos, mas com uma narrativa surpreendente e ao leitor atento causa fruição. É o desejo do escritor criar um livro assim, segundo ele:

 

 “A leitura é a melhor forma de aprendizagem e o que me ajudou a escrever essa história foi ter vivido como um leitor” – A.J. Finn

 

Um jogo rápido para curiosidades sobre o autor:

a] Apesar de ter nascido e estar morando em Nova Iorque, Finn morou dez anos em Londres e em ambos trabalhou na edição de livros

b] Ao ser diagnosticado com depressão, Finn parou de trabalhar como crítico literário e passou seis semanas aproveitando a vida e fazendo tudo que ele quisesse.

c] A sua luta contra a doença durou 15 anos

d] Foi influenciado a escrever depois de ter lido “A Garota Exemplar” – Gillian Flyn

e] Agatha Christie e Sherlock Holmes eram leituras de cabeceira da juventude de Finn

Atualizações

BECO NA BIENAL: ESPECIAL TESSA DARE #17

my refuge, my entertainment, my source of information on all sorts of topics… in a way, they were my home. Whenever I felt lonely or uprooted, opening a familiar book gave me comfort. I would read through dinner, read through classes, read into the wee hours of the night, and, yes, I even read while walking!

Tessa Dare

 

HEY BECUDOS! Um dos maiores eventos literários está prestes a acontecer – Bienal do Livro em São Paulo e nós, equipe do Beco Lierário, não podemos te deixar participar deste acontecimento sem antes ler um especial bem bacana da escritora/romancista Tessa Dare que aparecerá junto com outros autores best sellers como David Levithan, Marissa Meyer na 25ª  Bienal Internacional que acontecerá a partir do dia 03 de agosto.

 

Com agilidade nos dedos que já adianto para vocês que Tessa Dare, autora de série Spindle Cove, sucesso em vendas alcançando a margem de meio milhão de exemplares vendidos e espalhados em vários países, é fã de Jane Austen. Incrível, não? Seu primeiro livro publicado foi uma fanfic da escritora britânica que foi divulgado com seu pseudônimo Vangie. Gostar de Jane Austen já é um belo começo, ouso escrever.

 

Em uma rápida busca na internet é possível encontrar alguns reconhecimentos bem enfatizados pelos sites literários, que são: a] autora norte-americana bestseller do New York Times e do USA Today e b] autora de quatro novelas e doze romances históricos publicados.

Em suma, seus livros possuem um tom erótico diversificados em romances tipicamente históricos, já se percebe a influencia de Austen mesclada com a linguagem e temática bastante acentuada do erotismo presente na literatura contemporânea. As personagens em primeiro plano são mulheres fortes e sensuais, empoderamento feminino a gente vê por aqui.

 

Dare não só escreve como também trabalha em uma biblioteca localizada em sua cidade no Sul da Califórnia.

 

Em uma entrevista, Dare foi questionada a respeito da linguagem de seus livros, a sua habilidade de misturar humor, ironia com emoções sérias em momentos catedráticos da narrativa, a escritora explica:

 

I ran into a flagpole, face-first. More than a decade later, we’re still laughing about it. So the juxtaposition of comic absurdity and deeply felt emotion just seems real to me, because it mirrors my own life.

 

Tradução:

Eu bati contra um mastro de bandeira, cara a cara. Mais de uma década depois, ainda estamos rindo. Então a justaposição do absurdo cômico e da emoção profundamente sentida parece real para mim, porque reflete minha própria vida.

 

Entre os seus livros mais conhecidos:

 

Spindle Cove Series

1. A Night to Surrender (2011)
1.5 “Once Upon a Winter’s Eve” (2011)
2. A Week to Be Wicked (2012)
3. A Lady by Midnight (2012)
3.5. “Beauty and the Blacksmith”
4. Any Duchess Will Do (2013)
4.5. Lord Dashwood Missed Out (2015)
5. Do You Want to Start a Scandal (2016)

 

Girl Meets Duke series

  1. The Duchess Deal (2017)
  2. The Governess Game (2018)

 

Leia Também:

  1. BECO NA BIENAL: SAIBA TODA PROGRAMAÇÃO DA BIENAL DO LIVRO #6
  2. BECO NA BIENAL: MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA PARA A BIENAL DO LIVRO #7
Autorais

Como se livrar das lembranças e medos de um relacionamento depois do término? #BAD

Como se livrar das lembranças e medos de um relacionamento depois do término? #BAD

Ao ler o livro da Colleen Hoover: Talvez um dia [Maybe Someday], vale lembrar que tem resenha dele aqui no site do Beco, comecei a refletir sobre términos de relacionamento.

Relacionamento é uma baita discussão, é possível unir várias vozes com inúmeras experiências e “ene” motivos para você pensar em namorar, casar ou criar/cultivar qualquer tipo de relacionamento com um alguém [ou “alguéns” caso seja adepto ao método de relacionamento aberto]. como acabei de escrever, seja um relacionamento aberto ou não, assumido ou não, com nome: namoro, noivado ou só ‘peguete’, é inerente ao ser humano a necessidade de ter um alguém e tocar esse alguém.

e o produto, ou seja, o que resulta de todo esse desejo, necessidade carnal correspondida a todos esses tipos de relacionamentos citados acima é a #BAD que sobra ao terminar. a pior parte.

nada na vida é eterno, tudo possui um início e um fim, tudo em sua vida tem um objetivo, não se engane. até um término catastrófico ou bem humorado, as lembranças e medos também, ouso escrever, sempre nos amedrontam.

e se o seu relacionamento acabar? como se livrar das lembranças e do incômodo da falta do mesmo?

primeiramente você precisa entender que você nunca vai conseguir ESQUECER qualquer relacionamento que você teve. todos estarão marcados no seu crescimento enquanto sujeito, enquanto pessoa. todo indivíduo depende DO OUTRO para crescer/ amadurecer e o principal: se conhecer – seja com a sua presença ou ausência e não estou generalizando e/ou radicalizando, estou sendo bem sincero.

é preciso entender que o que passou, passou. ponto final. a vida é construída de momentos bons e ruins e a sua essência é destilada através das respostas que você dá a esses acontecimentos. a vida sempre vai te exigir uma resposta, como você vai responder à adversidade?

IMPORTANTE: nunca, eu escrevi NUNCA, use outra pessoa para “esquecer” alguém com quem já se relacionou. sentimentos é a artéria aorta da alma, se você corta-la, automaticamente estará matando a alma de alguém e a destruindo emocionalmente. saiba lidar com as suas lutas, chore o que tem que chorar, grite o que tem que gritar e expresse tudo que está sentindo, jogue para fora tudo que está guardado dentro de si. o tempo da cicatrização deve ser respeitado e vivido.

outro passo importante, tire um tempo para você mesmo. relacionamento quer dizer adaptar ao outro, depois de um término bom ou ruim, você precisa se reencontrar novamente, não engate em outro tipo de vínculo. gaste um tempo com você mesmo/mesma. se reconheça, se faça, se refaça.

já tentou fazer algo diferente? a vida a dois deve ser incrível, mas a vida que você pode ter contigo mesmo é inigualável. se respeite e pegue o tempo que precisar para se reconstruir.

portanto, o que aprendemos neste pequeno texto:

PASSO-A-PASSO PARA A VIDA:
1- se acostume com as suas memórias, o outro fez parte da sua vida. Você precisa respeitar o bem que ele te fez e aprender com o mal. é papel do outro te ajudar em seu crescimento e amadurecimento. faz parte da sua maturidade entender que não acontece uma limpeza na sua memória ao terminar um relacionamento. as lembranças continuarão para sempre;
2- se respeite, leve o tempo que precisar para se reconstruir;
3- não use pessoas para satisfazer um ego ferido, isso é maldade nível sociopata;
4- faça o que te faz feliz: ficar em casa e assistir Netflix com pipoca ou ir para balada, está tudo bem, encontre a sua melhor forma de se reencontrar;
5- você pode postar uma ou no máximo duas indiretas depois de algumas horas, isso massageará o seu ego por alguns instantes. está tudo bem também, depois que o outro te der view, deleta. vamos suavizar o impacto.
6- faça algo que sempre planejou fazer, mas nunca fez;

garanto que, depois de viver cada etapa bem vivida, você estará pronto/pronta para começar uma nova aventura nos braços de um outro alguém.

Autorais

uma carta para uma ex

✔️trilha sonora indicada para leitura deste texto

 

 

do meu universo particular,

já ouviu um ditado que diz: você aprenderá chorando e no final rirás ganhando? pois então, eu aprendi e foi com muito choro, sem hipérbole ou eufemismo. demorei um longo ano para me reconstruir e tive que fazer isso sozinho, eu comigo mesmo pegando cada pedaço meu no final da nossa última briga. longos dias, duros meses. perdi algumas partes da minha integridade, mais da metade do meu amor próprio tinha caído em algum lugar que cheio de amargura, infelizmente, não consegui achar. no momento que decidiu voltar, fiquei assustado, juro que fiquei. empaquei em várias madrugadas pensando no que eu fiz de errado naquele tempo, foram horas pensando o que eu poderia ter feito de diferente, busquei reviver cada momento de nossa história na minha mente tentado encontrar algum significado ou até mesmo ressignificar qualquer de nossas ações. mas não deu. eu não agiria diferente, não mesmo. mais uma vez eu não te deixei ir. sim, você escolheu ir mais uma vez [cansativo, não?]. você decidiu por si mesma a explodir como uma granada e atingir principalmente a mim, com a sua inquietude e arrogância. gosta tanto de borboletas e se esqueceu de aprender com elas, cada fase possui o seu tempo, não dá para nascer com belas asas sem primeiro passar pelo casulo. o pior de tudo, é que quando decidiu ir, tentou levar mais uma vez as minhas expectativas contigo, inocente, já aprendi que quando “alguém” ousar me derrubar, eu caio em pé, se for para cair que seja para cima. para provar que não mudou, voce continua com a mesma tática de sempre, tentar levar minha integridade e me deixar em pedaços ao chão. só que não foi dessa vez, desculpa aí meu anjão. pela primeira vez na vida, com muito orgulho, posso afirmar que me amei tanto que você não teve a chance de tirar a minha paz. nada me impediu de te dar o adeus merecido, o adeus verdadeiro. na total e singela sinceridade, não me arrependo de ter te presenteado com uma segunda chance, você é imatura demais para entender agora no que perdeu, você é instável demais para saber que palavras são tão marcantes quanto ações. da última vez eu demorei um ano para me entender, hoje eu percebo que você nunca se entendeu em uma vida inteira. indeciso, inseguro, imaturo, medroso talvez um pouquinho. posso listar aqui inúmeros dos meus defeitos, eu sei e reconheço todos, mas o problema é que sempre foi você, você não sabe entender que o outro possui vontades e pensamentos. depois de tudo que aprendi sobre você e sobre mim, eu te perdoo por sufocar. você me deu o espelho daquilo que eu nunca quero parecer. quem tem que te agradecer, sou eu! muito obrigado por tudo!

e como eu sempre termino minhas cartas [nao podemos sair do costume, não é mesmo?] – FELICIDADES sempre!

capa do livro
Livros, Resenhas

Resenha: Talvez um dia, Colleen Hoover

“Dou um beijo suave no seu nariz, na sua boca e no seu queixo. Depois acomodo meu ouvido em seu peito de novo. Pela primeira vez na vida, escuto absolutamente tudo.”

Ridge Lawson, último capítulo

 

Oi, Becudos?! Retomei minhas leituras romanescas na última quinzena e afirmo, no nosso espaço de hoje separei uma resenha incrível. Essa é a minha segunda leitura de Hoover e garanto, a cada livro você se apaixona mais pela escrita e narrativa optado pela escritora. Já quero deixar meu carinho para lá de especial a minha grande amiga Sandra Peder por dividir comigo seus livros, já estou com terceiro e depois da semana dedicada a Bienal 2018 estarei postando mais uma resenha de Colleen Hoover. O que disse? Sério? Sim, já joguei [risos], aguardem!

“Talvez um dia” [Maybe Someday, na versão original], possui um deficiente auditivo contracenando como par romântico da personagem principal da obra, Sydney Blake, seu nome é Ridge Lawson e ainda é músico – colider de uma banda bastante conhecida, toca violão e compõe as músicas que fazem sucesso. Sim, Colleen Hoover nos dá esse “tapa na cara”, ou melhor dizendo/escrevendo, um tapa na cara da sociedade ao propor em um de seus livros mais comentados de 2015 nos Estados Unidos, uma personagem diversa, atípica, e faz com que qualquer leitor fique fascinado por ele.

O livro possui trezentos e sessenta e seis páginas divididos em vinte e cinco capítulos. O Foco narrativo esta distribuído entre a personagem traída Sydney e Ridge, o encantador musicista da varanda. As personagens são Sydney, Ridge; Hunter – namorado de Sydney que a trai já nos primeiros dois capítulos do livro; Tori – melhor amiga de Sydney, dividem apartamento e tem um relacionamento escondido com Hunter; Warren – amigo de Ridge; Maggie – namorada de Ridge e outras personagens que circundam os espaços narrativos e contribuem com o seu desenvolvimento.

Os espaços encontrados no livro são o apartamento de Ridge em sua maioria, lugar dos pequenos conflitos e composições de Sydney e Ridge, biblioteca do campus da universidade, lugar onde Sydney trabalha, mas o primeiro conflito se desenvolve no apartamento de Sydney.

A história central de “Talvez um dia” se concentra no triangulo amoroso entre Sydney, Ridge e Maggie. Sydney descobre que está sendo traída pelo namorado Hunter com sua melhor amiga Tori, ao agredir sua companheira de apartamento, encontra refúgio no apartamento de Ridge – seu vizinho do prédio da frente, sempre assistia-o a tocar violão algumas melodias que já tinha escrito letras.

No desenvolvimento da leitura é possível encontrar muitos pequenos conflitos que aproxima o casal “impossível”. É hilário quando Sydney descobre que Ridge é surdo [capítulo2, página 57]:

Eu [Sydney]: Por que não me contou que é surdo?

Ridge: Por que não me contou que escuta?

Ridge se comunica com todos na narrativa por mensagens de celular, chats de redes sociais ou língua de sinais, mas somente Warren, Maggie e Brennan conseguem se comunicar por língua de sinais.

Os dois se aproximam ao compor juntos, Sydney é uma ótima compositora, inclusive salva Ridge de um bloqueio de inspiração. Os dois se tornam bem próximos até acontecer um beijo. Sydney fica arrasada pois não quer se tornar uma Tori e machucar Maggie, até porque as duas se deram muito bem. Em todo o livro, os pensamentos de Sydney em relação a Ridge sempre terminam com um “talvez um dia” – como se questionasse a probabilidade de acontecer algo entre os dois, até mesmo as músicas que compõem retratam o sentimento do casal, a necessidade de se encontrarem e terem a oportunidade de amar e viver esse amor que ao mesmo tempo é avassalador e calmo, fugaz e eterno que cativa a atenção até mesmo de Ridge, um namorado fiel que se encontra divido entre duas mulheres, a personagem Ridge consegue desafiar a Lei Universal do Amor, estar perdidamente apaixonado por duas pessoas que são opostas e ao mesmo tempo iguais, também estão apaixonadas por ele.

Sinceramente, percebi [uma singela opinião de leitor] a ligação entre Ridge e Sydney mais forte e recíproca, não que Maggie não gostasse de Ridge, pelo contrário! Ela é uma ótima namorada e fiel, já que FIDELIDADE é um tema bem discutido no romance, mas é possível perceber que ela está em outra direção, ela sempre está fora da ligação de Ridge.

Mas o fato de Maggie ser doente complica todas as coisas. Complica tudo na verdade. Depois de mais uma série de pequenos conflitos, Maggie lê todas as mensagens de Ridge para Sydney e percebe que não quer mais esse relacionamento, pois Ridge a sufoca com uma proteção exagerada devido a doença e ela quer viver muito mais, ela não quer um namoro restritivo e ofegante.

Não vou relatar a história de como Ridge conheceu Maggie [que é incrível, por sinal!] para te encorajar a ler o livro na íntegra, vale a pena!

Ridge solteiro e Sydney também, não há mais empecilho para viverem esse amor tão avassalador. Em um show onde Ridge está tocando a música que escreveram juntos, o casal decide sentir, viver e amar.

O livro é leve, doce e as personagens te conquistam de uma forma bem singular. Com toda sinceridade do meu coração, tive problemas em ler os últimos capítulos, não queria acabar.

Espero que tenha uma ótima leitura!

dado perdido, continuo aqui
Autorais, Livros

diário de um atípico #3

trilha sonora recomendada para leitura deste texto: amar, amei – mc Don Juan [cover – Pedro Mendes]

 

não sei onde estou, tudo parece novo para mim

 

querido diário,

 

cheguei atrasado, certo? me perdoe. como bem sabes, penso demais, penso tanto que as vezes estrago algumas coisas que nem chegaram a acontecer. ansiedade que escreve, certo?

certo! mas não é sobre isso que quero escrever hoje, quero falar sobre perdão e algumas outras coisas a mais. a vida nos concede algumas dádivas, o que é estranho, pois ela ama pregar peças e nos cercar de ironias, trágico. esses “presentes” ficam guardados, escondidos debaixo dos escombros, em meio as cinzas, as vezes jogados no lixo ou até mesmo podem ser encontrados no guiar de uma correnteza. depois de uma briga, depois de uma discussão e tomada de decisão sem ser pensada, depois de uma chuva forte, uma tempestade, depois de sermos destruídos por dentro e aparentar não sobrar nada a não ser paredes caídas e pó, as lágrimas já se secaram. é neste espaço desértico, quase irrecuperável que encontramos alguns tesouros, o amor próprio e a verdadeira essência que uma vez fora perdida. então você percebe que, o relacionamento que você construiu dentro de você, somente você era morador, a confiança era somente cultivada na sua horta e que o respeito não era recíproco. você estava vivendo num universo particular. pode até pensar que a sua felicidade está no encontro do outro, somos criados e programados para pensar assim. “amar” alguém e dedicar cada segundo, cada sorriso. importa-se demais com o “outro”, o que o “outro” vai pensar, o que o “outro” gostaria que acontecesse, eu preciso/tenho que agradar o “outro” e você se perde dentro de si, se esconde tanto, deixando seus próprios interesses, deixando de conquistar seus sonhos, deixando de escutar as musicas que [particularmente] gosta e acaba perdendo tudo dentro de si mesma e nem mesmo você, conseguiria encontrar novamente, a não ser que todo o castelo que você chamava de “relacionamento” viesse ao chão. tenho algo pior a pensar, ninguém percebeu que o Amor morreu na segunda metade do século XIX e que hoje, as pessoas só experimentam o apego e a carência, drogas baratas, entorpecentes viciantes que degeneram a integridade e tornam cativo um espírito livre. com a morte do Amor, o Bom Senso se encontrou em desespero, como viver num mundo onde o Amor não se faz presente? desertou, coitado. a vergonha  de fugir não chegou nem perto do medo de viver a mediocridade e a superficialidade que o apego proporciona a carência, prostituição litigiosa, satisfação passageira. Enquanto isso, le-se “textoes” de facebook e fotos com legendas cercadas de corações vermelhos, ninguém mais sabe o valor que o coração vermelho tem? ora essa, que ilusão a minha, ninguém mais sabe o valor de um “eu te amo” quanto mais o significado da cor de um emoji de coração. acho que é pedir demais para essa geração, infelizmente.

acho que escrevi demais,

chega por hoje, meu caro, tivemos reflexões demais por um dia, estava com saudades, um até breve para você e se lembre, não conte para ninguém

Leitura do Poeta das coisas simples
Leitura e Pensamentos
Colunas, Histórias, Livros

LEITURA DE POESIA: considerações sobre o gênero lírico em Mário Quintana

O poema é feito de palavras, seres equívocos que, se são cor e som, também são significado; o quadro e a sonata são compostos de elementos mais simples – formas e cores que em si nada significam.

[leitura de] Octávio PAZ, 1982

O questionamento central deste artigo é “como se faz a leitura de poesia?”, mas antes de responder essa pergunta, é preciso primeiramente entender o que está sendo lido, para depois saber como se dá a leitura. O gênero literário Poesia é caracterizado por suas especialidades, inclusive no aspecto leitura, em linhas gerais, como ser a arte de escrever em versos e por meio de sua linguagem estar agrupada vários fenômenos estilísticos que são utilizados, não só para customizar, mas para tentar abarcar o sentimento por intermédio de palavras, e esses fenômenos linguísticos são denominados de figuras de linguagem.

Para entender todo esse sistema poético que é constituído tal gênero literário, conforme Modesto Carone Netto (1974), em sua obra crítica Metáfora e Montagem, poesia é:

[…] junção de imagens descontínuas. Apresenta-se, dessa forma, como um conjunto de metáforas visuais agrupadas sem necessidade “lógica”, ou seja, reunidas num sistema semiológico em que uma não decorre necessariamente da outra, como acontece no discurso linear comum ou na obra literária que lhe acompanha de perto os passos. (CARONE NETO, p. 15, 1974)

O autor continua discutindo em seu texto que

[…] as imagens isoladas do poema se comportam como as “tomadas” ou as fotogramas montadas num filme, articulando planos e cenas cujo significado seria aferível pela forma em que essas unidades colaboram ou colidem umas com as outras na consciência de quem lê o poema (como ocorre na mente de quem vê o filme).  (CARONE NETO, p. 15, 1974)

Para enriquecer a conceituação de poesia neste trabalho, é válido trazer um teórico que aborda uma teoria mais poética, portanto, mais adocicada durante o ato da leitura.

Octavio Paz (1982), no capítulo intitulado de Poesia e Poema, de sua obra O Arco e a Lira, nos esclarece o significado de poesia. O autor escreve que a poesia é

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza: exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. (PAZ, p. 15, 1982)

Paz (1982) continua a dissertar logo abaixo, na mesma página de discussão que

Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva. Obediência ás regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Ideia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. (PAZ, p. 15, 1982)

Portanto, como ler este texto tão especial?

 

É interessante trazer para a discussão a argumentação defendida por Bosi (1994, p. 477) ou esclarecer que, à medida que o material significante assume o primeiro plano: verbal e visual, o poeta reelabora esse material em vários campos. São eles:

  1. no campo semântico: ideogramas (“apelo à comunidade não-verbal”, segundo o Plano Piloto cit.); polissemia, trocadilho, nosense…;

  2. no campo sintático: ilhamento ou atomização das partes do discurso; justaposição; redistribuição de elementos; ruptura com a sintaxe da proposição;

  3.  no campo léxico: substantivos concretos, neologismos, tecnicismos, estrangeirismos, siglas, termos plurilíngues;

  4.  no campo morfológico: desintegração do sintagma nos seus morfemas; separação dos prefixos, dos radicais, dos sufixos; uso intensivo de ceros morfemas;

  5.  no campo fonético: figuras de repetição sonora (aliterações, assonâncias, rimas internas, homoteleutons); preferência dada às consoantes e aos grupos consonantais; jogos sonoros;

  6. no campo topográfico: abolição do verso, não linearidade; uso construtivo dos espaços brancos ausência de sinais de pontuação;

Exemplo, atente para a leitura do poema logo abaixo:

Das utopias

Se as coisas são inatingíveis… ora!

Não é motivo para não quere-las

Que triste os caminhos, se não fora

A mágica presença das estrelas!

Mário Quintana

 

Neste exemplo de poema, escrito por Mário Quintana, é possível identificar através da leitura, alguns traços da teoria explicada por Philadelpho Menezes (1991). Primeiramente uma leitura morfológica, o poema possui uma única estrofe contendo quatro versos. Não possui emjambement, a linguagem clara e muito subjetiva.  As rimas são intercaladas – A B A B – veja logo abaixo:

 

Se as coisas são inatingíveis… ora!           A

Não é motivo para não quere-las               B

Que triste os caminhos, se não fora           A

A mágica presença das estrelas!                B

 

Como dito no início do parágrafo de análise, segundo a leitura da obra de Philadelpho Menezes (1991) explica que o uso de pontos é um traço contemporâneo, o uso de reticências transmite ao leitor o pensamento profundo e reflexivo do verso, o termo “inatingíveis” carrega em si um peso semântico muito profundo que, ao final, o eu lírico compara as estrelas do ceu. Quem trilha o caminho da vida não consegue alcançar as estrelas do ceu, pois são inatingíveis, mas olhar para elas e deseja-las, vê-las ao cominhar, muda e transforma o sentido da caminhada.

O Professor, mediador, pode desenvolver a leitura em sala de aula que as estrelas é uma metáfora para qualquer sonho inalcançável de seus alunos, e ao desejar/sonhar/querer esses sonhos e anseios impossíveis não os faz ser iludidos ou perdidos na vida, pois é o brilho das estrelas e a mágica de sua presença que faz a caminhada da vida se tornar mais divertida, a existência se torna mais fácil, visto que lidar com as adversidades, lutos, dificuldades e imprevistos da caminhada podem paralisar ou abater.

  1. no campo semântico: estrelas é a metáfora de sonhos inalcançáveis, sonhos distantes, difíceis de se concretizar;
  2. no campo sintático: construções sintáticas usuais como expressas segundo a gramática, não há rupturas;
  3. no campo léxico: linguagem fácil e simples de fácil acesso;
  4. no campo morfológico: não há desintegração do sintagma nos seus morfemas; ou separação dos prefixos, dos radicais, dos sufixos; ou uso intensivo de ceros morfemas;
  5. no campo fonético: figuras de repetição sonora (aliterações, assonâncias, rimas internas, homoteleutons); preferência dada às consoantes e aos grupos consonantais; jogos sonoros;
  6. no campo topográfico: construção tradicional do verso, linearidade; não há o uso construtivo dos espaços brancos, mas o uso do recurso das reticências que transmite um peso semântico ao entendimento do texto;

 

 

 

 

Referências 

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Editora Pensamento Cultrix LTDA – São Paulo, SP, 1994.

PAZ, Octavio, A tradição da ruptura; A revolta do futuro. In: Os filhos do barro: do romantismo à vanguarda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p.11- 58.

______. O Arco e a Lira/ Octávio Paz; tradução de Olga Savary. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

UNGARETTI, Giuzeppe. Razões de uma Poesia./ Organizacäo de Lucia Wataghin – Edusp/Irnaginfirio, São Paulo, 1994.

Informações sobre o livro: https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/literatura-internacional/teoria-e-critica-literaria/o-arco-e-a-lira-30738284

Autorais, Livros

diário de um atípico #2

trilha sonora indicada para a leitura deste texto: “one man town” – Elmore

no lugar que eu te falei que estaria, no momento certo

 

querido diário,

oi, tudo bem? que bom te encontrar por aqui. sei que chegou agora, mas vai ficar por muito tempo? estou aqui pensando em algumas coisas, acho que pode me ajudar, ou só ler se quiser. andei pensando que, reconhecer o Amor Verdadeiro, é a meta de conquista na vida de muitas pessoas. já ia me comprometer a escrever de “todas as pessoas”, mas achei muito agressivo. afinal, eu não estou a procura [entre as aspas]. uma pena ser tão raro e difícil de completar essa tarefa, talvez a parte mais dificil. eu não completei essa missão ainda, estou como um escoteiro sem a última medalha [risos]. já se imaginou assim? imagine agora, feche seus olhos e pense que somos escoteiros, sim: escoteiros! a última tarefa para pegar a última estrela dourada para completar o cinturão de honra cheio de missões dadas, missões concluídas, como: arrumar um bom emprego, cursar em uma universidade, se conhecer melhor; e agora só falta uma: encontrar o amor verdadeiro, aquele obstinado “sim, aceito passar minha vida inteira ao seu lado”. só assim, seremos escoteiros completos, com essa última estrela dourada.  pouquíssimos de nós teriam o rastro luminoso e dourado no cinturão, não é mesmo? ouso pensar que por esse motivo o próprio Deus vem recebendo inúmeras orações para que Sua Mão Divina molde e encaminhe um coração sincero para dividir um apartamento, ser um amigo leal, um companheiro bom de cama e abrigo no temporal. tenho conhecido alguns ultimamente que, não sei se já estão descrentes em conseguir a pessoa ideal, só querem encontrar um amor, um amor que afaga, um amor que acompanha, um amor para dizer que se tem alguém. não sei se pode chamar esse tipo de amor de “Amor”.  sem muitas exigências e muito menos expectativas, só um alguém. um alguém ali, como o abajur no meu criado mudo… me proporciona a solução para o meu problema com a escuridão por algumas horas. esse exemplo caiu como uma luva, normalmente esse tipo de amor só resolve nossos problemas na carência da noite.  nota-se, os amores até aqui descritos são diferentes. bem diferentes. conheci uma garota que já encontrou o “amor verdadeiro” duas vezes esse ano, certamente ela postou nas redes sociais, então não se discute: é “verdadeiro”. ouvi falar de um rapaz que numa vida inteira nunca compartilhou um “eu te quero” dito sincero, bem colocado e ‘adocicado’ com um martine seco num encontro casual, quem dirá um “eu te amo”, esse último parece mais um mantra proibido de uma religião pagã. não se fala muito “eu te amo” hoje em dia, já percebeu? certamente porque não se encontra amores verdadeiros para serem ditos, como devem ser ditos. talvez já esteja se perguntando sobre mim. e eu? como eu fico? posso te responder… fico observando. observando aquela que me diz amar verdadeiramente e me abandona, observando a que me ignora e sonha estar em meus braços, observando aquele que se revelou para o verdadeiro amor e levou o fora e todo resto que continua sem entender qual é o verdadeiro sentido do Amor. enquanto se debulham em tentar encontrar alguém para amar, eu tento me encontro, todos os dias a todo momento por sinal, pois sei que vou amar verdadeiramente alguém a partir do momento que eu verdadeiramente me amar. aí sim, saberei amar a outra como a mim mesmo.

Autorais, Livros

diário de um atípico #1

 

trilha sonora indicada para leitura deste texto:

//the colection – sing of moon

querido diário,

// no lugar que eu te falei que estaria, no momento certo

sensivelmente lhe escrevo hoje, já me conheces e sabes que não é o meu melhor momento. ainda perdido, acontece que pensara eu estar clareando os meus passos e entendendo o caminho que estou seguindo, mas não. estar na contra mão do mundo não é uma realidade fácil, exige força, exige movimento e já estou tão cansado que procuro um lugar para repousar. por que tenho ideias tão diferentes? e qual o motivo de me custar tanto sustentar essas ideias? os olhares aumentam e, normalmente, o julgamento vem em primeiro lugar. ainda estamos numa sociedade baseada na cultura da imagem, forma é melhor que conteúdo, medidas é melhor que um bom diálogo e os traços da perfeição se comprometem em te rotular no quadro do aceitável ou no rol dos dispensáveis. pego meu moletom azul todas as manhãs e luto, luto para terminar tudo bem. na selva de pedra da cidade grande, são os pássaros que nos observam em nosso habitat natural em um safari metropolitano. estamos submersos em expectativas, estamos naufragados pelas doces e sedutoras expectativas. o que vem depois de descobrir que tudo não passa de uma ilusão? o que vem depois? o que se pode fazer quando a verdade cai em despenhadeiro e no final dos barrancos marginalizados de nossas emoções só restar um sentimento abissal, autodestrutivo, consumidor, mas que não consome por completo. um sentimento que te traga por dentro, uma corrosão extasiante que te anestesia e te tranquiliza enquanto se debate em sua própria cobiça de existir. existir por que todos existem, sobreviver por que todos sobrevivem e viver, pois poucos sabem viver. meu velho e lendário já dizia, alguns sentem a chuva, outros apenas se molham. alguns respiram, outros inalam a coceira da consciência e alojam em seus pulmões num esconderijo imaculado. o que fazer depois de cair a ficha que não há nada a se fazer? cheguei num beco sem saída, não tenho respostas, somente este questionamento: o que fazer agora? sensivelmente me exponho.

o veneno da alma

vês no espelho

a força da palma

medes num conselho

ande a abstrai

corra e esvai

tudo que carregas

não suportas tudo somente, se não deixar ir.

sensivelmente escrevo, não há mais nada a se fazer. se guarde, as rosas murcharam e só restaram os espinhos, não viva a ilusão do belo jardim.