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The Epic Battle: Preconceito Literário. E agora, José?

Ninguém gosta de falar sobre isso, nem sei porque estou falando sobre isso. Se quiser, pare por agora, o que vem depois disso vai te causar uma confusão tremenda, afinal é a “The Epic Battle” da semana, seria até sem graça se não existisse uma contradição de um parágrafo para outro, mas esse tema é bem arriscado, e hipócrita até. Quem nunca xingou um livro que atire seu desktop (Ou celular, não sei onde você está lendo, enfim…) pela janela. Não tem janela? Joga no chão que está resolvido, só não minta, nós temos fiscalizadores em todos os lugares, aí, do seu lado, prontos para indicar se você nunca castigou um tal de “Crepúsculo” ou até mesmo um autor consagrado por pura inveja. Eu já, você não?

O preconceito literário pode surgir de duas formas, ou você segue a linha de raciocínio de seu grupo de convivência e escolhe não “gostar” daquela obra ou por meio de sua tremenda criticidade e carga literária, despeja todo seu desprezo por tais livros. Vamos ao que importa: toda forma de literatura é aceitável. Falei isso em alguma coluna aqui e repetirei, seja qual for a categoria, o estilo ou o seu escritor. Ninguém é obrigado a gostar de romances românticos absurdamente previsíveis, eu mesmo os odeio, nunca consegui ler duas páginas de um Sparks ou qualquer amigo seu deste ramo, são tediosos, isso é certo, mas existem pessoas que adoram este estilo, escrevem resenhas apaixonadas, acontece aqui no Beco, acontece em qualquer outro site, sabe o porquê? Porque a literatura é universal, ela abraça homens e mulheres nas histórias de terror, nas aventuras inesperadas, nos dramas familiares, e no fim de tudo não deveria existir uma rixa que transforma fãs em gladiadores, que só divide ainda mais quando o objeto fundamental da escrita é, na verdade, unir pessoas.

Já briguei diversas e diversas vezes com amigos, não amigos, inimigos mortais, Hitlers e Mussolinis por conta de opções e gostos literários, um erro que cometemos diariamente mas que, se tentarmos, podemos evitar. É tão minimalista, tão errático ficar com raiva de uma pessoa  porque ela ama Beatrice Prior ou um menino bruxo, isso acontece do mesmo modo que faz calor no Brasil. Quem não lembra, ou ainda provoca, aquelas lendárias brigas nas redes sociais, tem dia que sobra até para a mãe da pessoa, surgem segredos que nunca deveriam ser revelados, tudo isso por conta do que se lê. Não padronizem, mas pluralizem as ideias, como já escrevi no parágrafo anterior, detesto certos ramos da literatura, mas só por ser literatura deve-se ter o merecido respeito.

Junto a todo esse preconceito surge outro problema. A padronização do ser “leitor”. Você só pode ser obcecado por literatura se andar por aí com tais roupas, falar de um modo digno para um leitor e acima de tudo ter todos os livros do mundo. Faça-me o favor, parece que as pessoas que andam falando isso não aprenderam nada com as centenas de livros que coleciona, muitas vezes nem os leram. Para ser leitor é necessário ter apenas uma qualidade: ser aberto para todas as coisas. Compreender que a ficção muitas vezes é mais verídica do que o que julgamos ser real. Ter em mente que a cada livro lido criamos uma carga que será levada e usada em diversas situações. Engana-se aquele que tem a biblioteca cheia e a mente vazia. Erra completamente quando julga ser o conhecedor da verdade sem nem ter lido um livro no ano. Fã de literatura é aquele que a vive, não aquele que demonstra por meio de conjunturas sociais, podemos, sim, usar acessórios referentes, carregar sempre um livro sob o braço, isso é saudável, te revigora, o que deve ser erradicado é a prática do julgamento, do impor por impor sem nenhuma justificativa.

Voltemos para o começo, ou para parte dele. Junto aos diversos julgamentos equivocados está o bendito “poser”. Este é o maior erro, não só meu, mas de todos os fãs mundo afora. Digamos que uma pessoa está superinteressada em conhecer Tolkien, não teve contato ainda com a trilogia do Anel e seus derivados, nem com qualquer obra do mestre, mas por se encontrar motivada assistiu todos os filmes da saga principal do autor, procurou na internet algo que falasse sobre e achou-se capaz de falar um pouco sobre as histórias do escritor, mas ela comete alguns erros, não sabe pronunciar alguns nomes por falta de prática ou até mesmo desliza em diversos tópicos da narrativa, aí “nós”, “leitores assíduos de Tolkien” arrumamos alguém para constranger. Gritar “poser” com toda força e deixar aquele princípio de fã com raiva da Literatura, não querer saber mais nem de uma página de “O Hobbit”. Não seria mais proveitoso se introduzíssemos essa pessoa à Terra-Média da melhor forma possível? Se com paciência corrigíssemos seus erros, como fomos corrigidos em nossas primeiras experiências com os livros, com os filmes, com as histórias que tanto nos encantaram? Parece que não entendemos nada, não compreendemos até hoje o porquê da existência de folhas e mais folhas escritas.

Obviamente, preconceitos não são abolidos de uma hora para outra, existe um longo período de aperfeiçoamento. Tentemos de todas as formas sempre garantir o direito de opções, não tornar nosso meio em uma ditadura constante, onde só se pode ler certo tipo de material. O autor chegou até ali, já tem todos os créditos possíveis, que interessa se eu leio “Cinquenta tons de cinza”? Que mal te faz se aquela pessoa lê “Harry Potter”? Isso ocorre na música, no cinema, mas tem que existir um basta e o primeiro lugar para acontecer tem que ser na literatura, primordialmente nela. Você é o que você lê, punir o livro que tal pessoa está lendo é punir o próprio leitor.

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