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Às vezes a gente fica ressentido, né?
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Autorais, Histórias

Às vezes a gente fica ressentido, né?

Resolvi perguntar pro Chat GPT, um robô com inteligência artificial o que significava se sentir ressentido. Ou, como eu gosto de falar, ressentindo. Ele me respondeu que significa ficar magoado, irritado ou guardar sentimentos em relação a uma situação passada, geralmente envolvendo alguma mágoa. Ele acrescentou que quando alguém fica ressentido, isso implica que a pessoa mantém esses sentimentos ao longo do tempo, não conseguindo superar ou perdoar completamente o evento que causou a emoção. Então sim, a pessoa fica re-sentindo. Sentindo de novo, e de novo, e de novo…

+ Autoria: Tesouro em mãos erradas vira frangalhos

Sabe, eu falei pra minha terapeuta que às vezes eu me sentia assim, ressentido. De vez em quando, eu quero tanto conquistar alguma coisa mas eu não vou atrás porque eu me saboto. Para mim, vale mais a certeza de não conseguir que a incerteza do sim ou do não. E isso me deixa puto – eu vejo pessoas conquistando exatamente o que eu queria conquistar e fico com inveja, com raiva. Mas elas tentaram o sim, né? Eu preferi a certeza do não. E eu fico sentindo isso como se fosse uma vaca mascando grama. Sentindo, sentindo, sentindo, ressentindo…

Que saco, sabe. Por que algumas pessoas simplesmente vivem sem sabotagem? Eu não vim com esse dispositivo de fábrica, nem com aquele que controla a ansiedade e teria que, teoricamente, não me deixar imaginar os piores cenários possíveis até que eu desistisse do que eu queria. Eu só queria ir lá e fazer. E não ficar ressentido quando alguém vai e faz quando eu não fiz.

Eu tô assistindo Big Brother e tem um participante lá que me deu um estalo exatamente sobre isso. Não posso citar o nome dele por motivos de processo, mas todas as vezes em que o vi, ressentido em um show de um artista que chegou lá, eu senti uma pontada no coração. Ele sempre fala que é maior, que é melhor, mas por que ele não tá lá? Simplesmente porque o outro foi lá e tentou o sim e desafiou o não até conseguir. E ele, talvez tenha ficado como eu, ressentido, sentado, bicudo no fundo da festa.

A minha terapeuta fala que a gente precisa ter paciência com a gente porque a gente só aprende a viver, vivendo. Concordo com ela. Mas seria tão mais fácil não ter tido que enfrentar algumas coisas para sobreviver no começo da vida e só começar a viver agora, no final dos 20, viu? É tão lindo ver pessoas que vivem desde cedo. Eu sobrevivi até uns 24, 25. Hoje, com 28 que eu comecei a viver de verdade mesmo, ou seja, 8 anos que eu sobrevivi para agora eu começar a viver. Soa como tempo perdido para mim. Soa injusto. Me deixa ressentido de novo.

Vivo me questionando o porquê. Vivo me comparando com os outros, às vezes até de forma hipócrita mesmo, dizendo que cada um tem seu tempo quando na verdade eu queria o tempo do outro e não o meu. Da mesma forma que algumas pessoas enxergam sem óculos e eu preciso pagar para enxergar, por que algumas pessoas simplesmente nascem vivendo e eu tive que nascer sobrevivendo?

Essa é a pergunta de milhão, né. Eu nunca vou saber. Minha terapeuta disse que também não. Até lá, eu tento só interromper esse fluxo e esse refluxo das coisas que eu sinto. Tipo um coelho que come, faz cocô e volta lá pra comer o cocô e digerir de novo. Eu me sinto um coelho de sentimentos. Só que preciso parar de ir lá e ficar eternamente comendo a minha bosta.

Amanhã você vai acordar
Autorais, Livros

Amanhã você vai acordar

Amanhã você vai acordar, então, não se apaixona, não. Tudo o que temos é essa noite. Hoje, enquanto o sol não aparece no horizonte, somos eu e você ao som de Arctic Monkeys e The Neighbourhood. Quando o DJ toca, a gente pode dançar fora do ritmo com nossos dois pés esquerdos, podemos nos abraçar no ritmo da música sentindo cada poro do nosso corpo desejar ir embora e dormir. Mas, não vamos dormir juntos.

Leia ouvindo: Santo, Não

Não vamos ficar juntos. Amanhã você vai acordar e eu não estarei ao seu lado. Desculpa dizer mas, talvez eu esteja dançando The Neighbourhood com outra pessoa. Enquanto o azul escuro do céu não clareia, somos eu e você com beijos apaixonados e molhados que terminam com um selinho fofo, somos eu e você com beijos quentes, calorosos, que me fazem sentir uma pressão no quadril. Mas, não vamos sentir o corpo um do outro além das poucas roupas que usamos.

+ Quero abraçar o mundo todo, todo o tempo

Eu sinto sua mão por dentro da minha cueca, eu te encosto na parede e entro no caminho que você abre entre as suas pernas. Sinto sua pressão no mesmo lugar em que te pressiono. Hoje, enquanto o dia não se alaranja, somos eu e você contra o mundo. Os nossos corpos dizem tudo aquilo que queríamos falar um para o outro em voz alta mas a música não nos deixaria ouvir. Hoje, vamos conversar com nossos gestos calorosos mas, não vamos ouvir as juras de amor um do outro.

Amanhã, você vai acordar e eu não estarei ao seu lado para desfazer essa angústia que quer sair em forma de lágrimas, mas hoje, posso ouvir sobre todos os seus amores que deram errado. Você pode chorar falando do seu ex-namorado enquanto me beija sentado ao lado da lata de lixo. Eu posso fazer cafuné na sua cabeça, você pode adormecer sentado no meu colo quente enquanto te envolvo com meus braços e meu moletom que você disse que cheira a amaciante. Hoje, vou te esquentar, mas amanhã, você estará frio e sozinho.

Hoje, vou te pagar uma bebida no bar, te chamar de amor, de bebê, de neném, mas, amanhã, eu não estarei aqui. Podemos até marcar um encontro, trocar nossos perfis de Facebook, talvez até números de telefone. Podemos mandar um “oi, amor” para salvar o contato. Mas, amanhã, você vai acordar.

Amanhã você vai acordar e contar aos seus amigos sobre mim. E então, você vai acordar e entender que eu não sou quem você pensa. Eu não sou nada disso que você imaginava porque eu existi só na sua cabeça. Eu respondi de um papel fantasioso que você tinha. Eu fui o namorado perfeito por uma noite, a noite depois que seu ex-namorado maluco te largou porque você é sentimental demais.

Hoje, vou te mostrar meus textos, meu blog secreto e você vai ficar feliz porque escrevo também. Amanhã, você vai escrever sobre mim e postar para milhares de pessoas lerem. Pessoas que vão achar que sou seu príncipe encantado, mas infelizmente, eu não sou. Você é um anjo, mas eu sou um demônio. Eu não estou no seu altar e não mereço estar.

Amor, não sou seu sonho, sou seu pesadelo. Eu sei que seus cabelos escuros que caem sobre o olho são puros, sei que você escolheu a dedo essa camiseta preta com um colar militar perfeitamente combinados com uma bermuda vermelha e uma camisa xadrez azul e preta. Eu sei que você vai dormir e sonhar comigo, com tudo o que poderíamos ter. Você vai se abraçar a essa camisa xadrez que agora tem meu cheiro e você vai levar esse meu moletom da Gap embora.

Ele é dois números maior que você, apesar de termos um tamanho parecido. Amor, eu não vou estar aqui amanhã. Amanhã você vai acordar. Mas, o moletom vai estar lá. Meu corpo não estará dentro dele e nem dentro de você.

Quando você acordar, estarei dentro de outro sonho, em outro lugar. Quando você acordar, meu amor vai estar dentro de outras pernas entrelaçadas na minha cintura.

Até lá, eu ainda estou aqui.

Transformei o cabresto em liberdade
Autorais, Livros

Transformei o cabresto em liberdade

Voltei ao ponto em que tudo terminou e senti o gosto amargo do abandono na boca de novo. Olhei para os meus sapatos, como fiz naquele dia, e senti tudo aquilo voltar. Senti o mundo girar e a náusea aparecer. Com a diferença de que agora ela vinha diferente. Ela vinha com a liberdade.

Aquele dia eu me senti sufocado. Sem ar. Como se não tivesse mais o que ser feito. Como se a minha vida tivesse acabado. Como se eu tivesse um cabresto. E hoje, o que senti foram os ventos frios e reconfortantes da liberdade enquanto minhas tripas se reviravam.

+ A volta do que jamais deveria ter partido

Sei que o gosto amargo é o preço que paguei por ela. Gosto de sangue e sal. Mas hoje não sinto mais o nojo porque você sabe exatamente que premeditei cada passo meu depois daquele dia azul e ensolarado de novembro. Hoje, já é dezembro.

Naquele dia, cheguei chorando em casa e enfrentei meu pai. Dormi o resto do dia. Eu amava aproveitar o clima de fim de ano. Hoje, estou indo para minha casa. Minha. Só minha. Que construi apesar de você, a partir da minha liberdade.

Sabe, naquela época eu pensei que queria ter a autoconfiança que tenho hoje. Eu queria levantar mais alto e me impor. Dizer que você era pouco demais pra mim. Ou que eu era demais pra sua existência de merda. Você sabe que é um fracassado e não precisa de mim pra dizer isso.

Mas, caso não saiba, eu repito. Você é.

Você não se importa com o sentimento de ninguém além dos seus. Você diminui os outros para se sentir maior. Você quer que todos sejam tão pequenos quanto você. Que vida, hein?

Hoje estou aqui, parado. Do mesmo jeito que estive naquele ano. E percebo o quanto mudei por conta de todos os silêncios que você me respondeu. Eu cresci, eu mudei, eu me machuquei. Mas me libertei.

Hoje olho pra cima e vejo o teto, vejo o céu. Antes, tudo o que eu via era minha angústia, o meu cabresto. Agora tenho a liberdade de mãos dadas comigo, não você.

Frases para quando você está triste com alguém
Frases, Livros

10 frases para quando você está triste com uma pessoa

Sabe aquele momento em que a gente está bem triste e quer uma frase que defina o nosso sentimento de tristeza para mandar para alguém, para postar como indireta nos status do WhatsApp ou nos stories do Instagram? Seus problemas acabaram! Nós, do Beco Literário, nos reunimos e separamos algumas frases de textinhos nossos que você pode copiar e usar para quando você estiver triste.

As frases abaixo são retiradas de outros textos já postados aqui no blog e, ao clicar no nome do autor ou da autora, você pode conferir o texto completo. Ah, e não se esquece de dar os créditos ao autor ou autora que escreveu e de recomendar o Beco Literário, viu?

Vamos para as frases para quando você está triste com uma pessoa:

Se não for pra ser emocionado, não quero nem ser. Eu sei querer em dobro, em triplo, em quádruplo… Eu sei querer mais que você, sei querer por você. Mas só vou querer se você quiser também.

– Gabu Camacho

Lembra quando eu disse que existia alguém responsável por te abraçar tão forte que juntaria todas as suas partes? Então, meu dia finalmente chegou.

– Gabu Camacho

Por muito tempo continuei não indo sozinho ao parque vazio. Porque quando te encontrei, flores cresceram nas partes mais obscuras da minha mente, quando te conheci, a tortuosa tempestade começou a cobrir a gente, mas… Foi quando te deixei, que o sol voltou a raiar novamente.

– Gabu Camacho

Porque eu soube que não importava quantas vezes perdêssemos o caminho para o país das maravilhas, sempre o encontraríamos, de uma forma ou de outra. Hoje, me pergunto: quero mesmo encontrar? Aquilo (não) foi real?

Gabu Camacho

E eu faria tudo de novo. E eu não sei se acho justo me desculpar por isso. Aprendi que temos que fazer a melhor escolha, mesmo quando ela não é a coisa mais certa. Mas, afinal, quem diz o que é certo e o que não é?

– Gabu Camacho

No amor se sonha e se acorda acompanhado. Há quem diga que o amor é muito mais sobre como a gente se enxerga ou tem guardado em um potinho no coração, descrito como o sentimento mais precioso que se pode ter. Essa preciosidade precisa ser moldada e bem cuidada. Tesouro em mãos erradas vira frangalhos.

– Milênia Aquino

O mal de toda situação que nos deixa assim é fazer perder o medo e confiar. Eu confiei demais. Não devia. Errei.

– Milênia Aquino

recomeçar, verbo que significa começar de novo. junção de ré e começar, por vezes temos que voltar um passo ou dois para retomar caminho. acalmar o coração e tentar outra vez, duas ou três. é andar três léguas e decidir depois por outro lugar. é se destemer. encerrar ciclos. escrever em folha branca.

– Milênia Aquino

Sei que esse parece um texto triste, mas não é. Estou orgulhoso de você. Mas hoje, não estou orgulhoso da pessoa que você se tornou como eu achei que estaria anos atrás.

– Gabu Camacho

Porque você sabia. E isso te dava mais vantagem nesse jogo que eu não queria ser o ganhador.

– Gabu Camacho

Quero querer em dobro, mas só se você quiser também
Autorais, Livros

Quero querer em dobro, mas só se você quiser também

Se eu te disser sorrindo de orelha a orelha que acordei um pouco triste, você vai acreditar? Sabe, eu mascaro muito bem os meus sentimentos. Menos aqueles que são seus. Esses eu acho que demonstro demais. Eu quero demonstrar muito. Quero demonstrar em dobro, quero querer em dobro, mas só se você quiser também, afinal, não há como eu querer por você.

Talvez você fuja de mim. Bem feito. Queria que não, mas se fosse eu, talvez eu fugisse também. Mas eu sempre fico. Talvez no vácuo ou sem, com apenas esses ecos dos meus pensamentos gritando seu nome repetidas vezes. É que nada disso faz sentido, sabe, mas me faz sentir.

+ Eternamente responsável por aquilo que cativo?
+ São quatro da manhã no meio da noite

Entre tantos devaneios e lágrimas, me descobri tão desastrado. Entre o país das maravilhas e a terra do nunca, acabei por tropeçar e deixar cair sobre você todo o amor que eu tinha a oferecer. Eu quero que seja assim. No planeta do Pequeno Príncipe, com lágrimas nos olhos eu disse que te amo. E foi significativo, foi em voz alta.

Dizia em um livro que amo, Coração de Tinta, que tudo ganha vivacidade ao ser falado em voz alta. Eu te disse as três palavras repetidas vezes, em voz alta. Eu sou caos. Nada de bom poderia vir de mim, não é isso que você diz?

Leia ouvindo: Sad beautiful tragic, Taylor Swift

Caos total. Eu sei, nem eu mesmo me encontro, sabe. Mas no meio dessa bagunça toda eu ainda conseguia encontrar o meu amor por você. Que saco. Era como ver o céu escuro e estrelado e encontrar a Lua. É certo, é imediato. É brilhante como nada mais, ilumina a escuridão, leva luz para todas as extremidades e me ilumina em sorrisos.

Mas não, para você, eu sou um caos. Sou indigno de te dar amor e você é bom demais para receber o meu amor. A gente dá aquilo que tem e eu sei, dei amor demais e você se sentiu sufocado, sem ar. Foram longos anos de martírio e de terapia para mim. Você dizia que eu era emocionado.

Se não for pra ser emocionado, não quero nem ser. Eu sei querer em dobro, em triplo, em quádruplo… Eu sei querer mais que você, sei querer por você. Mas só vou querer se você quiser também.

E infelizmente você não quer, então, faça o favor e vá para o inferno.

O Pequeno Príncipe: Eternamente responsável por aquilo que cativo?
Autorais, Livros

Eternamente responsável por aquilo que cativo?

“Vamos ver ‘O pequeno príncipe’ hoje de noite?”, propus a ele. Eu estava responsável por alguns convites por conta do meu blog. Fomos. Pegamos as habituais poltronas no fundo da sala. Sempre que íamos ao cinema, não víamos o filme por conta dos beijos que não se acabavam – não reclamando, óbvio. É maravilhoso. Sempre é com ele. Incrível se torna pouco para descrever tanto.

Nós sentamos e o filme começou. Eu sempre amei o pequeno príncipe. Foi um livro que meu avô comprou, deu ao meu pai e ele me deu. Na sexta série, escrevi uma resenha sobre ele com uma reflexão que emocionou a professora. Mas isso era coisa de conexão. Nós nos conectamos com certas palavras. E eu me conectava com esse livro, então, fiquei bem animado para o filme, apesar de ser uma espécie de releitura.

+ Resenha: O Pequeno Príncipe
+ Vlog: O Pequeno Príncipe

Sentei-me abraçado a ele. Seu colo era tão confortável, seu abraço era capaz de me fazer esquecer qualquer outra coisa. Seu cheiro era único, do tipo que te deixa alerta. Eu estava calmo, mas meu coração dava cambalhotas e era o grande responsável pelas borboletas no meu estômago. Ele era analgésico. Diziam que nossos signos jamais combinariam, mas quando queremos, fazemos. Quando queremos, noite vira dia, vazio vira cheio e o quebra-cabeças se encaixa.

“Eu gosto muito de você, sabe?”, ele disse e meu coração tremeu em felicidade crescente. “Muito.”

“Eu também”, respondi, tímido. As palavras travavam um pouco ao saírem assim, em voz alta. Era medo da decepção.

“Queria te dizer uma coisa…”, ele começou e eu só assenti. Porra, eu também quero te dizer uma coisa. Eu quero. Eu sabia o que ele ia dizer a seguir. Tinham algumas lágrimas no seu olho e essa era a cena mais linda que tinha a honra de estar acontecendo comigo. Nunca nada tinha passado perto do que eu estava sentindo ali, naquela sala escura que parecia iluminada pelos seus olhos. Cada centímetro meu sorria, cada célula do meu corpo dançava Macarena em velocidade máxima. Na tela grande, a raposa dizia Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas… Se me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo…”

Tudo sorria em mim, tudo explodia como jamais antes. Minha mão estava em seu rosto e meus olhos estavam nos seus quando finalmente ouvi. “Eu te amo.”

E eu não soube explicar como milagrosamente sorri mais. Como minha felicidade transbordou e me paralisou, tirando minha voz e minha capacidade de pensamento. Eu só conseguia olhar para ele, me perder em suas entrelinhas. “Eu também te amo… Muito”, falei por fim, um pouco paralisado por ser a primeira vez responsável em voz alta com alguém ouvindo.

Era tão sincero que eu sentia meu coração bater em cada centímetro da minha pele. Mas era como deveria ser. Eu o amava, estava convicto de tudo. Convicto de que estava perdida e irremediavelmente apaixonado. E sabe, além de tudo. Contra a razão. Contra a promessa de jamais permitir. Contra a paz. Contra a esperança. Contra a tristeza. Mas, acima de tudo, eu o amava contra todo o desencorajamento que poderia existir. E foi ali, com meu filme preferido de plano de fundo numa quarta-feira fria de agosto, quase dez da noite que eu ouvi e admiti uma das melhores coisas da minha vida.

Sempre escrevi romances sem jamais ter chegado perto de viver um. Sem jamais ter entendido o infinito dentro de mim. Porque sim, posso dizer com propriedade agora: amor não machuca, conserta a alma. Não tira os pés, dá pezinho. Te eleva nas nuvens, como uma âncora de garantia. Não dói, sorri, dança…

Dizem que cicatrizes vem de machucados e naquela noite fui marcado de um jeito eterno e inexplicável em palavras. Só feche os olhos e imagine a sensação de se explodir em um infinito de galáxias brilhantes… Talvez chegue perto. Pouco, mas chega.

Isso te faz sorrir todos os dias e te dá novos motivos para acordar todos os dias. Te deixa mais que completo e, ao chegar em casa com o cheiro dele cravado em mim, sinto o melhor tipo de saudade. Aquela que só passa quando engulo a sua presença. E eu, fico sem palavras.

É algo novo pra mim que sou exagerado e vivo falando bosta por aí. Aconteceu sem enredo, sem ensaio ou histórias pré-escritas por romancistas fãs de finais felizes. E sabe, talvez isso já estivesse destinado a acontecer, porque voltando, vejo que O Pequeno Príncipe me define no momento mais que qualquer outra coisa.

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.” Impossível me definir mais. Ou “Se tu vais, por exemplo, às onze da noite, desde as nove eu começarei a sentir a sua falta e te querer ver de novo.”

Lembra quando eu disse que existia alguém responsável por te abraçar tão forte que juntaria todas as suas partes?

Então, meu dia finalmente chegou.

Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?
Autorais, Livros

Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?

Ilustração acima que me inspirou a escrever o texto é da Grazi França

Minha mãe certa vez me disse que eu não sabia fazer nada sozinho. Fiz anos de terapia por isso. Eu realmente não gostava de fazer nada sozinho e por isso, fui presa fácil pra você. Eu estava solitário quando você veio e, aos poucos, cerceou meus pensamentos, reprimiu minhas ideias e dilacerou minha cognição. Esse é o preço que pago por não ter aprendido a fazer nada em vão.

Você veio como tempestade. Mas, na época, parecia um tranquilo por do sol laranja no parque. Andar de mãos dadas com você na trilha lotada era lindo. Mas andar sozinho na trilha vazia é bom também. Pelo menos eu sei que não vai ter nenhum ataque sorrindo.

+ Aquilo (não) foi real

Agora, vivo o nascer do sol na minha cabeça porque percebo que com você, vieram as nuvens pesadas que nublaram cada uma das imagens do meu coração. E quando eu nublei, você puxou ainda mais as rédeas do seu poder de adoração.

Você calculou milimetricamente cada atitude sua para ser penhasco quando eu era ponte. E você me fazia pensar que essas nuvens e trovões eram parte da mudança. Afinal, o que muda sem temer? Qual amor se ama sem doer? Em que mundo o mundo é mais lindo sem te ver?

Você me fazia pensar que você era o sol e eu precisava orbitar ao seu redor como um corpo celeste qualquer que pode entrar em combustão se sair da linha do seu jogo. E eu saí. E eu entrei. Você queimou cada célula minha e fez acreditarem que eu era um monstro cuspidor de fogo.

Eu estava tomando chuva. Levando descargas elétricas de sentimentos difusos. Mas, você dizia que eu era o próprio coração confuso.

Meu bem, eu sei que santo eu não sou, mas também sei que paguei por você muito mais do que você valia, porque o paguei com uma moeda de troca cara demais: eu, à revelia. Eu fui sua moeda na boca, seu troféu, seu réu… Seu álibi e seu baú de insegurança. Uma criatura oca.

Por muito tempo continuei não indo sozinho ao parque vazio. Porque quando te encontrei, flores cresceram nas partes mais obscuras da minha mente, quando te conheci, a tortuosa tempestade começou a cobrir a gente, mas…

Foi quando te deixei, que o sol voltou a raiar novamente.

Tive que fazer antes de saber se fariam por mim
Autorais, Livros

Tive que fazer antes de saber se fariam por mim

Esses dias minha terapeuta disse que me criei sozinho. Tive que fazer as coisas antes de saber se fariam por mim. Tive que resolver muita coisa sozinho. E talvez seja essa a raiz da minha ansiedade hoje em dia. Eu vou lá e faço o que eu quero, seja a hora que for. Eu não gosto e não consigo esperar.

+ A volta do que jamais deveria ter partido, por Gabu Camacho
+ Resenha: Os sete maridos de Evelyn Hugo, Taylor Jenkins Reid

Eu não tive como esperar ou cogitar contar com ninguém. Se eu quisesse algo, precisava fazer. Muitos podem achar que isso é uma qualidade, mas eu te garanto: não é. O ser humano precisa do outro. O que nos torna humanos é o relacionamento. A gente precisa precisar.

E eu não consigo precisar. Eu vou lá e continuo fazendo.

Nesse caminho de aprender a resolver as coisas por mim paguei muitos preços. Perdi amizades boas. Perdi momentos incríveis. Perdi fases da vida. Eu sempre estive uma fase além da minha. Quando eu tinha 18 anos e devia estar na balada, eu estava preocupado com o faturamento da empresa que eu criei. Quando eu tinha 23 e devia estar focado em terminar a faculdade, estava me desdobrando em cinco pra conseguir me sustentar sozinho.

Deixei muitos pratos caírem. Hoje vejo quantas vezes fui omisso. Quantos churrascos de família perdi, quantas festas infantis, quantos papos com meus primos que estiveram comigo e me fizeram ser quem eu sou…

Tive que deixar cair.

Me desculpa, mas…

Tive que fazer antes de saber se fariam por mim.

E eu faria tudo de novo. E eu não sei se acho justo me desculpar por isso. Aprendi que temos que fazer a melhor escolha, mesmo quando ela não é a coisa mais certa.

Mas, afinal, quem diz o que é certo e o que não é?

Tédio faz parte das relações saudáveis
Autorais, Livros

O tédio faz parte da relações saudáveis

O tédio faz parte das relações saudáveis. É ingenuidade dizer e acreditar que aquela paixão obsessiva de início de relacionamento vai sobreviver às rotinas de um relacionamento com altos e baixos. Preocupante seria se só existissem os altos.

+ Sou ruim no amor
+ Futuro ex-namorado

A rotina é tediosa, mas o amor, além de ser uma escolha, é uma construção. E ele se constrói no tédio das rotinas. Uma relação saudável tem euforia, alegria, tristeza, momentos bons, momentos ruins e ele, o tédio. Assim como a vida é uma montanha russa, com altos e baixos.

São nos relacionamentos que temos que entramos em contato com o nosso melhor e o nosso pior. Dizem que todos nós precisamos fazer terapia e sim, é verdade, mas um relacionamento é uma espécie de laboratório que vai colocar todos os seus aprendizados e suas capacidades em prova. É nele que você vai se deparar com suas luzes e suas sombras, enquanto precisa lidar com as luzes e sombras da pessoa que está ao seu lado.

Além de tudo, ainda é preciso aprender a linguagem de amor da pessoa que com quem se escolhe (ou se precisa) relacionar. É necessário saber como consolar sua criança interior e lidar com a criança interior do outro. Sim, é um tédio. Nem sempre os dias serão ensolarados, cheios de euforia e de vontade de incendiar o mundo. A maioria deles serão mornos, amenos e muitos deles serão cinzas, azuis, tristes.

É imprescindível entender que fantasias e expectativas acontecem dentro do nosso coração. E aqui dentro, tudo parece mais bonito, mais animado. E a vida… bom, a vida é ordinária e acontece na normalidade. Nem no oito, nem no oitenta. A vida acontece ali, no cinquenta. Na mediocridade. No tédio.

É papo furado de coach dizer que devemos fugir da média, que devemos buscar sempre além da mediocridade. O que precisamos mesmo, é aprender a conviver com ela e saber que essa é a normalidade de uma vida humana. Extremos nunca são bons.

A vida acontece no tédio e por isso, o tédio faz parte das relações saudáveis.

Ressignificar: uma imagem com um arco-íris de fundo e uma placa mostrando uma mãe e filho de mãos dadas para atravessar a rua
Autorais, Livros

Um ano de ressignificar tentativas

Eu já fiz tanta coisa. Tentei abrir vinte e cinco empresas diferentes, quarenta e nove projetos e já quis ser arquiteto, médico, dentista, engenheiro…. Acabei me formando como jornalista. Já entrei em tanta coisa que eu não queria entrar. E eu tive que ressignificar muito.

Eu já tentei de tudo e há quem veja de fora e diga: você não tem foco, não? A verdade é que eu, por muito tempo, achava que meu foco estava perdido. Mas quando o foco está perdido, a gente precisa encarar os fatos: estamos sem foco. E foi nessa que eu me meti em várias ciladas. Principalmente no âmbito profissional, onde pareço sublimar tudo o que acontece na minha vida.

Sabe, eu já tive zilhões de blogs. Vários perfis no Instagram de coisas diferentes. Eu já fui influencer wannabe de todos os nichos possíveis: finanças pessoais, comportamento, marketing digital, literatura e, acredite se quiser, moda masculina. E eu tentei, sabe? Mas essas tentativas me deixaram por muito tempo com medo de mudar.

Com medo de tentar mais, eu me estagnei em muitas coisas que não fizeram tanto sentido pra mim. E eu ficava ali, insatisfeito, com medo do que as pessoas iriam pensar. Quem? Não sei. Talvez eu mesmo.

Parece prepotência dizer que tudo o que eu fiz, e quis fazer, deu certo. Mas na verdade, é que as coisas sempre dão certo. Nada dá errado pra gente, porque no final, sempre tem um aprendizado. E foi assim que eu aprendi a ressignificar minhas coisas e não deixei me estatizar. Tenho cada vez mais, deixado o Beco Literário ir, seguir seu caminho e cada vez mais ele tem se tornado quem ele sempre foi: eu, o Gabu. Com a cara e a coragem.

Talvez eu não tenha dado meu nome porque eu sempre quis me esconder. Talvez eu tenha me fragmentado em vários projetos, porque sim, eu sou plural! Eu quero fazer e experimentar várias coisas no mundo. Gosto do quentinho da minha cama, mas também gosto do frio da barriga do novo e do desconhecido. Eu gosto de tentar.

E foi então que eu tenho entrado nessa jornada de ressignificar. Eu acho que estou conseguindo, mas não sei dizer com certeza. Alguns dias são melhores e eu consigo focar. Outros dias, não são tão bons assim e eu só quero entrar em um ciclo de autossabotagem. Mas hoje, quando olho pra trás, vejo que sim, meu caminho foi meio tortinho. Vejo que minha arma atirou pra vários lados.

Mas isso me possibilitou chegar aqui, são e salvo. Não é meu aniversário, mas é aniversário do Beco Vips, a comunidade do Beco Literário, a primeira coisa que ressignifiquei e quero continuar a ressignificar. Quando o site estava falido, a beira de fechar de uma maneira que eu não queria, a comunidade surgiu e hoje ela faz um ano. Nela, fiz amigos. Quem está lá, pode conhecer um pouquinho mais do Gabu e eu tenho a sorte imensa de todos eles terem compreendido as minhas mudanças, as minhas fases e as coisas que eu queria ou não fazer.

O Beco Literário, o #BecoVIPs, antes era meu armário. Meu refúgio do mundo. Hoje ainda é um Beco, mas ele é mais iluminado, mais bem povoado e com mais pessoas no mesmo barco. Pode estar tudo bem, pode estar tudo ruim, mas é como ter sempre aquele abraço quentinho e fraterno, não importa se estejamos a uma rua ou a um oceano de distância. Agora, vejo que todas as vezes que pensei em fechar o site, eu não consegui levar pra frente porque precisávamos chegar nesse ponto em comum.

Mesmo que hoje em dia, eu não escreva tanto por lá, porque não me cabe ou porque não sinto vontade, é de onde eu vim. É de onde milhares de outras pessoas, outros escritores, virão. É o nosso pontapé inicial, e também é nosso ponto de referência. Depois de todos esses anos, dúvidas e tentativas de ressiginificar, o Beco não é só um site. O Beco é um pedacinho de mim e de cada pessoa que está lá.

Pode ser que não tenhamos o site no ano que vem, quem sabe? Pode ser que tenhamos por mais cinquenta anos, não sei. Mas tenho certeza que tem um pedacinho dele em cada um que teve sua vida mudada pelos ventos de lá. O Beco Literário é o Gabu Camacho. O Beco Literário é você, Becudo.

E ele sempre estará lá te dando as boas vindas e aquele abraço quentinho. Lá. No fundo do nosso coração. Obrigado pelo primeiro ano juntos. <3