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Livros, Resenhas

Resenha: A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões, Louise O’Neill

Sinopse: Esqueça as histórias sobre sereias que você conhece. Esta é uma história diferente — e necessária. E tudo começa no fundo do mar. Com uma garota chamada Gaia, que sonha em ser livre de seu pai controlador, fugir de um casamento arranjado e descobrir o que realmente aconteceu à sua mãe desaparecida.
Em seu aniversário de quinze anos, quando finalmente sobe à superfície para conhecer o mundo de cima, Gaia avista um rapaz em um naufrágio e se convence de que precisa conhecê-lo. Mas do que ela precisa abrir mão para transformar seu sonho em realidade? E será que vale a pena?

O livro A pequena sereia e o reino das ilusões é escrito por Louise O’Neill, na intenção de nos mostrar que a famosa história que tanto amamos de A pequena sereia retratada pela Disney não é bem uma história “bonita” e “feliz”.

A pequena sereia e o reino das ilusões nada mais é do que uma releitura bem planejada mantendo os traços sombrios do conto de fadas de Hans Christian Andersen para uma visão feminista.

Logo no início do livro já fica explícito o machismo, onde as mulheres são obrigadas a serem sempre lindas e comportadas, não podendo desejar (nem ao menos sonhar) em querer algo mais, tendo que se contentar com o pouco (quase nada) que lhe são oferecido, poder se casar (sendo casamento arranjado), é poder permanecer ao redores do Palácio do Rei dos Mares. Aquelas que ficam fora do padrão acaba sendo expulsas do lugar tendo que viver em Longemar, que é o lugar onde todos fora do padrão “os rejeitados” ficam.

Gaia é a mais nova entre as irmãs, e também a mais bonita, mas o que mais chama atenção de todos no reino é a voz doce e pura que ela tem, sendo assim dentro do padrão imposto pelo próprio pai. Mas o que ninguém esperava é que ela fosse se curiosa igual sua mãe, mas claro que nunca demonstrou isso pro seu pai com medo doque ele faria.

Tendo feito 15 anos pode subir pela primeira vez na superfície para conhecer, pensando sempre em sua mãe que foi raptada pelos humanos, e que foi considerada a única culpada por isso, por ter tanta curiosidade pelos humanos. Gaia escutava de seu pai que sua mãe abandonara a todos eles, mas Gaia não sabia em que acreditar.

Gaia subiu na superfície, e enquanto olhava acabou presenciando o navio dos temidos humanos (aqueles que raptaram sua mãe) que comemoravam algo, ela só observava de longe, até que uma tragédia aconteceu, pelo qual quase todos morreram, pois Gaia salvou um humano, aquele cujo nome era Oliver.

Depois de ter colocado ele na praia Gaia voltou, mas não esperava que fosse se apaixonar por ele, um humano, cujo havia tirado sua mãe de perto dela, mas acabou pensando nele a cada segundo, desejando estar ao lado dele.

Muitas coisas passam na cabeça de Gaia. Querendo se livrar da pressão machista ao seu redor, querendo se livrar de um casamento arranjado com um homem rude e velho, Gaia planeja fugir e ir em busca da oportunidade de viver um amor verdadeiro, e ter resposta sobre o paradeiro de sua mãe.

Será que Gaia conseguiu fugir ou foi impedida antes? Ela pode ir atrás de Oliver ou não conseguiu acha-lo? E será que descobriu o que aconteceu com sua mãe ou ficará sempre com dúvidas?

Muitas coisas á descobrir, que precisa de resposta. Descubra lendo o livro e depois deixe aqui o comentário sobre o que achou sobre ele!

Foi um livro que gostei muito, me levou a refletir e pensar que o que esta escrito no livro é real e por ai no mundo. Nós mulheres vitimas do machismo que sofremos tanto pela opressão dos homens e do “padrão de beleza”.

O livro nos leva a enxerga que o machismo esta em todo lugar (Reino subaquático e na superfície), nós mulheres que somos silenciadas todos os dias pelo fato de sermos mulheres, vista como frágeis e impotentes, uma versão fraca do que é um homem.

Nós mulheres não devemos nos deixar cair nas garras do machismo, não se permita ser silenciada, sejamos fortes e lutemos por nossa liberdade e felicidade.

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TAG: 5 melhores personagens femininas da literatura

A TAG de hoje é sobre as 5 melhores personagens femininas da literatura. Claro que é muito difícil listar somente 5, já que, cada vez mais, as mulheres vêm lutando pelo seu protagonismo, o que não é diferente nos livros. Porém, podemos dizer que essas 5 personagens iniciam uma lista infinita de mulheres fortes, independentes e aquém aos padrões ditados pela sociedade.

1 – Aurélia Camargo (Senhora, de José de Alencar)

Aurélia é a protagonista de Senhora, um livro de José de Alencar, publicado em 1874. Na trama, Aurélia era filha de uma costureira pobre e se apaixona por Fernando Seixas, um homem ambicioso que a despreza por querer se casar com uma mulher rica. Com a morte da mãe e uma herança inesperada do avô, Aurélia ascende de classe social e atrai novamente a atenção de Fernando. Com isso, ela propõe um acordo em forma de vingança: um casamento arranjado em troca do dinheiro que ele tanto queria. Assim, ela deixa bem claro o tempo todo que o está comprando, porém, o sentimento não some e Aurélia sofre bastante com sua própria vingança antes do final feliz.

O que coloca Aurélia em primeiro lugar é a sua personalidade forte e o papel que ela desempenha na história. Ao observarmos o contexto, a sociedade carioca do século XIX, não acha-se muito comum uma moça jovem e sozinha agir assim com tanta incisão e firmeza, administrando seus próprios negócios e até comprando seu próprio marido. Aurélia pode ser claramente vista como uma mulher feminista que, apesar de sofrer as consequências de seu próprio plano de vingança, age como tal para se posicionar como dona de si e contra a hipocrisia da sociedade da época.

2 – Capitu (Dom Casmurro, de Machado de Assis)

Capitu é a coadjuvante do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Narrada por Bentinho, a história tem como enredo principal seu romance com Capitu que acaba em um casamento cheio de desconfiança com uma possível traição entre Capitu e seu melhor amigo. Afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Ninguém nunca saberá e, talvez, nem o próprio Machado de Assis sabia. Porém, o relevante para esse post é o espírito livre e independente de Capitu que não se deixou abalar pela insegurança de Bentinho, mantendo sua personalidade forte e não cedendo às pressões de uma sociedade machista que a rotulava como “dada” demais para uma moça de família.

3 – Elizabeth Bennett (Orgulho e Preconceito, de Jane Austen)

Chamada de Lizzie pelas irmãs e pela melhor amiga, Elizabeth Bennett não se intimida diante da possibilidade de não receber herança do pai por ser mulher e não encara o casamento como a única coisa que ela deva almejar na vida. Orgulho e Preconceito é um romance de Jane Austen e se passa na antiga Inglaterra, quando as filhas não tinham direito à herança, ou seja, a maior preocupação dos pais era casá-las antes de sua morte, senão, ficavam na rua ou à mercê dos cuidados de outros parentes. A família Bennett tem 5 moças solteiras, então, o desespero exala a cada página.

Ao longo da história, vemos os esforços da mãe em arranjar bons casamentos para as filhas, porém, uma delas, Lizzie, não aceita muito bem essa história. Voluntariosa, inteligente, curiosa e leitora voraz, Lizzie não se importa com a postura, etiqueta, bailes e sua posição na sociedade. Ela também não se importa se terá direito a herança ou não, não tendo medo do trabalho e em ter que se cuidar sozinha. A única coisa com que Elizabeth Bennett se importa é se manter dona de si mesma, não aceitando de forma alguma se vender para qualquer um em troca de dinheiro e posição social. Quem leu o livro sabe que ela conhece o Mr. Darcy e que, depois de muitas brigas e desentendimentos, ele se mostra digno de se casar com ela e é aceito, porém, sempre é deixado bem claro que ele nunca seria seu dono e nunca a diria o que fazer.

4 – Gabriela da Silva (Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado)

Gabriela da Silva é uma sertaneja que migra do agreste baiano para Ilhéus em 1925 em busca de trabalho e uma vida melhor. É levada pelo árabe Nacib até seu bar e assume a cozinha como cozinheira, já que sabe usar bem os temperos baianos. Logo, chama a atenção de todos os homens da região por ter a cor da canela, o cheiro do cravo e uma beleza e sensualidade sem igual. O próprio Nacib não resiste e, após um tempo mantendo relações com Gabriela, resolve casar com ela, porém, a moça não cede às obrigações e costumes da época para uma mulher casada, já que sempre foi fiel aos seus desejos e vontades.

Após Gabriela ser flagrada na cama com outro, Nacib anula o casamento, mas a mantém como cozinheira e amante como antes, se conformando com a situação e aceitando o espírito livre de Gabriela, que é quem personifica as transformações de uma sociedade patriarcal, arcaica e autoritária em pleno nordeste brasileiro.

5 – Luna Lovegood (Harry Potter e o cálice de fogo, de J.K. Rowling)

Luna Lovegood é uma personagem da saga britânica Harry Potter que inicia sua jornada no quarto volume da série. Filha de Xenofílio Lovegood, autor da revista O Pasquim, e órfã de mãe, Luna está nesta lista por uma característica muito peculiar: ela não se importa com o que pensam sobre ela. Apesar de ser uma característica simples e parecer até “bonitinho” em uma história escrita originalmente para crianças, Luna nos traz uma lição que vai muito além disso.

Em algumas partes da história, vemos Luna sofrer bullying por agir diferente dos outros alunos. Ouvimos as risadas, vemos o revirar de olhos, o desconforto de alguns ao redor… Luna acredita em seres místicos que, apesar da trama fantasiosa, não existem no mundo mágico de Harry Potter, como uma criança que acredita no Papai Noel ou na Fada do Dente. Luna se veste como acha melhor e mais confortável, apesar de usar certos acessórios que não vemos as outras meninas de sua idade usarem. Luna dança conforme sente a música, mesmo que isso signifique dançar diferente de todo mundo ao redor. Enfim, Luna Lovegood é feliz e satisfeita em ser quem é, não se importando nunca e nem um pouco com o que pensam sobre ela.

A mensagem que isso passa para as meninas que assistem a saga é maravilhoso, afinal, o que mais temos na nossa sociedade é a pressão em seguir o padrão e a eterna frustração de nunca alcançar esse padrão. Seja pelo corpo perfeito, a personalidade perfeita, a inteligência perfeita… Se, assim como a Luna, nos importássemos mais com quem somos e o que gostamos, e menos com o que pensam que devemos ser, seríamos muito mais felizes.

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Chimamanda Adichie e seu discurso feminista

“A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos.”

Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana. Ela é reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas que estão atraindo uma nova geração de leitores de literatura africana. Seu primeiro livro, Hibisco Roxo, foi publicado em 2003 e, desde então, sua popularidade não para de crescer. Mas, o que destaca a Chimamanda e fez eu querer escrever este artigo hoje é o seu discurso feminista.

Em 2012, Chimamanda Adichie deu uma palestra no TEDxEuston, uma conferência anual com foco na África, falando sobre o feminismo, mais especificamente sobre sua experiência em ser uma feminista africana. Várias partes desta palestra foram usadas na música Flawless, da Beyoncé, e, posteriormente, virou um livro. Sejamos todos feministas foi lançado no Brasil em 2015 pela Companhia das Letras.

″Eu estou com raiva. A construção de gênero do modo como funciona atualmente é uma grave injustiça. Todos nós deveríamos estar com raiva. Esse sentimento, a raiva, é importante historicamente para as transformações sociais positivas, mas, além de estar com raiva, eu também estou esperançosa porque eu acredito profundamente na habilidade dos humanos de se reinventarem e se tornarem melhores”.

O livro é cheio de citações e frases de empoderamento feminino, além de explicar o que é o feminismo, por que precisamos do feminismo e por que ser chamada de feminista, ás vezes, soa tão ruim. Caracterizada como uma mulher raivosa e de gênio difícil, Chimamanda nos mostra o machismo nesses adjetivos que são atribuídos a ela só por ser uma mulher falando. Um homem que defendesse firmemente seus ideais e falasse de forma assertiva seria taxado como alguém raivoso e de gênio difícil? Quando o problema não está na característica, mas no fato de ser uma mulher portando ela, isso é machismo. E é por isso que o feminismo é tão necessário.

Em 2017, a Companhia das Letras nos traz Para educar crianças feministas: um manifesto. O pequeno livrinho de capa verde nada mais é do que uma carta que Chimamanda escreveu para sua amiga em resposta a uma pergunta: Como criar minha filha como uma feminista?

Como mãe de uma menina, esse livro abriu meus olhos para muitas coisas que, até então, eu não achava serem tão importantes. O estigma das princesas é uma delas. Ensinar minha filha que ela não é uma donzela indefesa, que o príncipe perfeito não existe e que ela não precisa de um casamento para ter um final feliz se mostrou mais difícil do que eu esperava. Por sorte, as animações da Disney têm evoluído junto com os movimentos feministas, e princesas modernas que salvam o dia e buscam o seu próprio felizes para sempre têm surgido para nos socorrer.

A importância do exemplo nas minhas atitudes e o perigo do tal feminismo leve também me fez pensar. O feminismo leve traz a ideia de uma igualdade feminina condicional. “O homem é o cabeça, mas a mulher é o pescoço” e “meu marido me ajuda em casa” são frases muito comuns usadas por feministas leves. Basicamente, usa-se o conceito do “deixar”. Deixar que a mulher estude, deixar que a mulher trabalhe. A mulher pode fazer o que quiser, desde que o marido deixe. Eca.

Porém, acredito que, para mim, a parte mais importante desses dois livros foi entender que ser feminista não é deixar de ser feminina e, muito menos, é declarar guerra contra os homens. Ser feminista é querer direitos e deveres iguais para todos, sem distinção de gênero. Um mundo igualitário, sem discursos de ódio, opressão e preconceito. Eu consegui entender que ser chamada de feminista não é algo ruim e que eu não preciso deixar de usar maquiagem ou depilar minhas pernas, nem marchar seminua em praça pública para defender meus direitos.

Mas, mais do que isso, ser feminista é ser a favor da humanidade. Homens e mulheres vivendo em igualdade, respeitando suas diferenças e contribuindo de forma igual para a sociedade. Respeito, essa é a palavra chave. Seja para homens, mulheres, gays, pessoas trans, negros, índios, refugiados, para todos.

Paulo Freire já dizia que o sonho do oprimido é virar o opressor, porém o feminismo não defende que os homens devam ser exterminados ou virar escravos das mulheres em uma revolução apocalíptica distópica. O feminismo defende um mundo igualitário e, em um mundo igualitário, nenhum dos lados pode ser oprimido.

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Dica: 5 Livros para pensar no empoderamento feminino

É sempre bom repensar o papel da mulher na sociedade e aqui está uma pequena lista de 5 livros com histórias de mulheres fortes e que pensam o empoderamento feminino.

Pesépolis – Marjane Satrapi R$ 30,00

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O livro é uma autobiografia em formato de quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi. Conta a história de uma garota que em 1979, aos 10 anos, vivenciou a revolução islâmica no Irã. Sob o forte regime Xiita, ela se viu obrigada a usar o véu islâmico pela primeira vez. A autora, vinda de uma família politizada e com forte consciência política, cativou a todos e escreveu Persépolis sobre a sua infância e a sua luta contra as opressões religiosas, sobretudo, contra a mulher.

Um Teto Todo Seu – Virginia Woolf R$ 17,91

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O livro é construído ao redor das palestras dadas por Virginia, em 1928, nas faculdades de e Newham e Girton. Nelas, a inglesa discute o papel da mulher na literatura e , para isso, questiona o posicionamento feminino perante a sociedade, mostrando a dificuldade que a mulher tem de exprimir um pensamento livre e, por fim, colocá-lo em um livro.

A guerra não tem rosto de Mulher – Svetlana Aleksiévitch R$ 26,91

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Em um livro envolvente, a autora conta a história de algumas das mais de um milhão de mulheres que lutaram ao lado do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial. Svetlana dá voz as guerreiras que lutaram em batalhas e sofreram com fome, violência e frio.

#Meuamigosecreto – Feminismo Além Das Redes R$ 17,01

O livro criado por integrantes do coletivo feminista Não me Kahlo tem como proposta estender o diálogo das pautas feministas e explicar, também, as raízes do machismo. A obra aborta temas como: aborto, feminismo negro, mães e entre outros assuntos.

O Conto da Aia (Handmaid’s Tale) – Margaret Atwood R$ 21,51

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O livro escrito em 1985 voltou à mídia recentemente pela adaptação audiovisual feita pela série do streaming Hulu: Handmaid’s Tale. A história se passa em um futuro distópico, no qual a população é regida por um Estado teocrático e totalitário e neste, as mulheres são vítimas principais de opressão, sendo propriedades do governo são divididas em funções específicas e não possuem direitos. O enredo é ideal para se questionar a questão dos direitos das mulheres, apresentando um cenário no qual ele se faz ausente. Mesmo se tratando de uma ficção, as questões tratadas no livro são muito atuais e essenciais para se discutir o lugar da mulher na sociedade.

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Mulheres apagadas da História: Você conhece?

Inspirada pelo filme “Estrelas além do tempo”, comecei a pensar por que eu nunca havia ouvido falar dessa história. Para quem não sabe sobre o filme, ele fala sobre três mulheres negras matemáticas que ajudam a NASA a vencer uma corrida espacial, fornecendo cálculos para o lançamento do astronauta John Glenn e seus colegas ao espaço. Com isso, eu parei para pensar: Quantas histórias mais de mulheres fortes tentaram apagar de nós?

Janelle Monáe, Taraji P. Henson e Octavia Spencer

É o caso de Maria Quitéria, a primeira mulher a lutar no exército brasileiro, em 1822, e que precisou se vestir de homem para isso. Conhecida como “Joana D’Arc brasileira”, ela desafiou o pai e o então noivo para lutar pela independência do país e foi condecorada como cavaleiro imperial por D. Pedro II.

“Querendo conceder a D. Maria Quitéria de Jesus o distintivo que assinala os Serviços Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo, prestara à Causa da Independência deste Império, na porfiosa restauração da Capital da Bahia, hei de permitir-lhe o uso da insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro.” D. Pedro II no pronunciamento oficial da condecoração de Maria Quitéria.

D. Maria Quitéria de Jesus

Na história mundial, temos Stephanie Kwolek, cientista americana que seguiu o ramo da ciência incentivada pela mãe e inventou o Kevlar, uma fibra de alta resistência usada em coletes à prova de balas. A Hendy Lamarr, atriz austríaca que dividiu os papéis em Hollywood com a invenção da tecnologia sem-fio que, durante a Segunda Guerra Mundial, permitiu o envio de mísseis à distância, mas também, foi a precursora da tecnologia celular, do Wi-Fi e do Bluetooth.

Você sabia que quem assinou o Decreto da Independência do Brasil foi uma mulher? Em 2 de setembro de 1822, Leopoldina, nomeada princesa regente interina do Brasil por D. Pedro I, assinou o Decreto da Independência, ao receber notícias de que Portugal estava preparando uma ação contra o Brasil.

Maria Leopoldina

Maria Felipa de Oliveira foi uma mulher negra e pobre que, em 1823, liderou 40 mulheres para seduzirem a maioria dos soldados e comandantes das 42 embarcações que se preparavam para invadir Salvador durante a luta pela independência brasileira. Enquanto os homens estavam nus, elas lhes deram uma surra de cansanção (planta que dá uma terrível sensação de ardor e queimadura na pele), para depois incendiar todas as embarcações. Essa ação foi decisiva para a vitória sobre os portugueses em Salvador, permitindo que as tropas vindas do Recôncavo entrassem sob os aplausos do povo, no dia 2 de julho de 1823.

Aracy de Carvalho Guimarães Rosa nasceu no Paraná, em 1908. Em meados de 1930, se mudou para a Alemanha, onde Hitler já estava no poder. Fluente em alemão, francês e inglês, conseguiu trabalhar no setor de vistos no consulado brasileiro e ajudou, clandestinamente, na fulga de dezenas de judeus para o Brasil. Chegou a usar o carro do serviço consular para transportar judeus que escondia em sua casa, usando de sua imunidade diplomática para transportar na própria bolsa o dinheiro e as jóias para que não fossem confiscados pelos nazistas. Chamada de “Anjo de Hamburgo”, Aracy é a única mulher citada no Museu do Holocausto, em Israel, entre os 18 diplomatas que salvaram judeus da morte. Em 1982, ela foi reconhecida como “Justa entre as Nações”, um título dado pelo governo israelense a pessoas que correram riscos para ajudar judeus perseguidos.

Aracy de Carvalho Guimarães Rosa

A baiana Leolinda Daltro é precursora do feminismo no Brasil no século 19. Engajada na causa indigenista, separou-se do marido e viajou pelo interior do Brasil pregando a integração das populações indígenas por meio da educação laica. Foi escorraçada de Uberada, em Minas Gerais, aos gritos de “mulher do diabo”. Quando teve seu alistamento eleitoral negado, fundou o Partido Republicano Feminino. O objetivo era mobilizar as mulheres pelo direito ao voto. Morreu em um acidente automobilístico em 1935. Seu obituário publicado na revista ‘Mulher’, editada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, assinala que Leolinda “teve que lutar contra a pior das armas de que se serviam os adversários da mulher: o ridículo”.

“Rainha Teresa”, como ficou conhecida em seu tempo, Teresa de Benguela viveu no início do século XVIII no Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Ela liderou o Quilombo de Quariterê e sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros. Segundo documentos da época, o lugar abrigava mais de 100 pessoas, com aproximadamente 79 negros e 30 índios.

Teresa de Benguela

Todos conhecem o grande Zumbi dos Palmares, mas e a Dandara? Mulher de Zumbi, Dandara lutou com armas pela libertação de negros e negras e contra a invasão holandesa em Pernambuco, por volta de 1630. Ao ser capturada, Dandara recusou-se a ser presa e se tornar escrava novamente e atirou-se de um penhasco. Passou muitos anos apagada pela sombra do marido, mas recentemente passou a ser celebrada, principalmente pelo movimento feminista negro.

“Se a Terra gira em círculos em torno do Sol, por que o Sol se aproxima e se afasta da Terra, gerando as quatro estações do ano?” Pergunta simples para a gente hoje, mas uma das questões mais polêmicas discutidas em meados de 400 d.C. Foi nessa época que viveu Hypatia, a primeira filosofa, matemática e astrônoma que se tem notícias. Num universo totalmente masculino, Hypatia ensinou no Museu de Alexandria e tornou-se chefe da Escola Neoplatônica. Foi a primeira mulher a fazer uma contribuição substancial para a matemática, especialmente ao criar soluções sobre as propriedades das formas geométricas e suas relações.

Hypatia desenvolveu instrumentos usados até hoje da Física e na Química, como o hidrômetro, instrumento usado para a determinação do peso específico dos líquidos, e o astrolábio plano, dispositivo usado não apenas na astronomia, mas também para fazer cálculos de navegação. O que se sabe atualmente sobre as ideias de Hypatia estão em relatórios e obras de seus contemporâneos e em cartas que ela trocava com seus alunos. Conhecida entre os gregos como “A Filosofa”, escreveram sobre ela:

“Havia em Alexandria uma mulher chamada Hypatia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo evoluído na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos.”

Hypatia

Hypatia viveu num período muito conturbado para Alexandria, pois, neste período, o cristianismo crescia e diversos grupos de fanáticos cristãos desejam o domínio sobre as outras religiões. Pagãos eram forçados a se converter ao cristianismo, judeus eram expulsos da cidade, e Hypatia, recusando-se a converter-se, foi envolvida em boatos políticos e acusada de herege, uma “bruxa pagã”. Seu interesse em comprovar que a Terra girava em torno do Sol, sua vida livre e a sua convivência com grupos intelectuais (apenas permitido aos homens), serviram de argumentos para a sua acusação. Hypatia foi assassinada por religiosos fanáticos quando tinha, aproximadamente, 60 anos.

Vítimas de uma cultura machista e patriarcal, essas são só algumas das mulheres que tiveram seu nome riscado da História. Se eu fosse contar a história de cada uma que eu achei, levaria dias escrevendo, mas eu percebi uma coisa boa: eu consegui achar a história delas. Ou seja, as coisas estão mudando, muito lentamente, mas estão. Vários movimentos têm se levantado em defesa da participação da mulher em todos os âmbitos da sociedade e, inclusive, ressuscitando cada uma dessas histórias, exaltando a participação da mulher e lhe dando o reconhecimento roubado por tanto tempo.

Colunas

A evolução das princesas Disney e seu reflexo da sociedade

A primeira animação feita por Walt Disney foi Branca de Neve e os sete anões, em 1937. A princesa submissa que canta com os passarinhos, limpa a casa dos anões, prendada e suspirante por um príncipe reflete o conservadorismo da época e o que acreditava-se ser o papel da mulher na sociedade. Em 1950, temos Cinderela que ainda mantém algumas características de Branca, mas, ao contrário da antecessora, vai até o príncipe em um ato rebelde de desobedecer sua madrasta e ir ao baile. As duas ainda precisam de um casamento no final para serem felizes e ainda são salvas por príncipes em cavalos brancos, pensamento retrocesso de que a mulher era feita para casar e ter filhos.

Em 2009, essa história começa a mudar com o surgimento da primeira princesa Disney negra: Tiana. A princesa e o sapo conta a história de uma garotinha de Nova Orleans que vê seu pai trabalhar duro a vida toda sem conseguir construir nenhum patrimônio, o que a faz ter o sonho de, um dia, conseguir ter seu próprio restaurante e ter uma vida diferente da do pai. Para isso, ela trabalha como garçonete e poupa cada centavo que ganha, até que um sapo falante cruza seu caminho e, ao beijá-lo na promessa de que ele virará um príncipe e a recompensará, Tiana vira uma sapa e tem que se salvar e salvar o príncipe desastrado que não tem a mínima ideia do que está fazendo.

Este ano, tivemos a primeira princesa Disney latina, Elena, da série de desenhos do canal Disney, Elena de Avalor. Ao contrário das outras, essa princesa não tem um príncipe e vira rainha de Avalor quando salva seu povo de uma perigosa feiticeira. Outra também que dispensou o resgate de um príncipe é Moana, a nova princesa Disney que estreia dia 05 de janeiro. A primeira princesa Disney polinésia mostra que a força da amizade é maior do que a força do amor e, com a ajuda de seus amigos, parte em uma expedição cheia de aventuras em busca da ilha mística de seus ancestrais. Ah, ela também tem um certo poder mágico de controlar o mar, uma grande evolução desde 1937.

Há quem defenda que não se deve mais contar histórias de princesas para as meninas, pois todas defendem que o final feliz só existe com um casamento e que o príncipe é sempre o herói que salva o dia. Não nego, mas elas também mostram que ser uma pessoa boa e não se entregar à vingança traz mais benefícios do que ser má e que o bem sempre vence no fim.

O que acontece é que as princesas de antigamente refletem os valores de suas respectivas épocas e, com o avanço do feminismo, as princesas também mudaram. Tiana, Elena, Moana e até a Rapunzel que é mais antiga, mas foi trazida pela Disney em uma releitura onde é mais corajosa e, no fim, salva o príncipe, refletem uma sociedade onde as mulheres também são heroínas, também podem trabalhar, realizar seus sonhos e escrever suas próprias histórias. As princesas Disney mostram a evolução da mulher na sociedade e representam as milhares de princesas da vida real que trabalham, estudam, criam seus filhos e correm atrás de seus objetivos.

 

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9 livros feministas indicados por Emma Watson

A atriz Emma Watson, famosa pela personagem Hermione Granger na saga Harry Potter, criou, em Janeiro de 2016, um clube do livro feminista denominado Our Shared Shelf, no Goodreads, rede social voltada para os amantes de livros. Formada em Literatura Inglesa pela Universidade Brown, Emma é porta-voz da campanha He For She da ONU, cujo objetivo é lutar pelo fim da desigualdade de gênero.

“Como parte do meu trabalho para a ONU Mulheres, comecei a ler o maior número de livros e ensaios sobre igualdade de gênero que podia. Descobri que existem muitos textos maravilhosos – engraçados, inspiradores, tristes, provocantes – que tratam de empoderamento feminino”, disse Emma Watson.

Os livros escolhidos pela atriz são relacionados a mulheres e à discussão sobre gênero para compartilhar e discutir com os participantes do grupo. Ao longo de 2016, o clube ganhou mais de 160 mil participantes  e nove obras foram abordadas. Confira abaixo quais foram elas:

1 – All About Love: New Visions, Bell hooks (2001)
A feminista e ativista bell hooks oferece uma nova perspectiva sobre o amor: ao longo da obra, ela explica como as noções perpetuadas do sentimento são ultrapassadas e oferece uma forma de repensar o amor próprio.

2 – Minha Vida na Estrada, Gloria Steinem (2016)
Em seu livro de memórias, a jornalista conta sua trajetória, das viagens pelos Estados Unidos com os pais ao início de seu envolvimento com o movimento feminista, e revela como se tornou uma das principais vozes do ativismo americano.

3 – A Cor Púrpura, Alice Walker (1982)
Ganhador de um Pulitzer de Melhor Ficção, A Cor Púrpura acompanha a vida das irmãs Celie e Nettie que sofrem várias opressões por serem mulheres e negras, mas tomam as rédeas das próprias vidas.

4 – Metade do Céu – Transformando a Opressão em Oportunidades para as Mulheres de Todo Mundo, Nicholas D. Kristof e Sheryl WuDunn
O livro-reportagem acompanha, a partir da perspectiva de diferentes personagens, as diferentes opressões que mulheres sofrem ao redor do mundo, e reflete sobre formas de como mudar essa realidade.

5 – Como Ser Mulher, Caitlin Moran (2012)
No livro, a escritora britânica Caitlin Moran usa o humor para trazer à tona vários acontecimentos de sua infância e adolescência, ressaltando como se envolveu com o feminismo.

6 – Hunger Makes Me a Modern Girl, Carrie Brownstein (2015)
Conhecida por atuar na série Portlandia, Brownstein abre, em sua memória, diferentes aspectos de seu passada e de sua vida atual. Dos dias sendo fã fervorosa de bandas até seu envolvimento com o punk e a comédia.

7 – The Argounauts, Maggie Nelson (2015)
No livro de memórias, Nelson oferece novas visões sobre assuntos como identidade, desejo, amor e linguagem.

8 – Mom & Me & Mom, Maya Angelou (2013)
O livro é o sétimo de uma série de autobiografias escritas por Angelou. No último volume, ela disseca a relação que desenvolveu com a mãe ao longo da vida.

9 – Persépolis, Marjane Satrapi (2000)
Satrapi usa o formato de graphic novel para contar sua experiência de crescer no Irã durante a revolução Islâmica.

Como incentivo a leitura do livro da vez, Emma Watson espalhou no mês passado cerca de 100 livros com dedicatórias especiais pelos metrôs de Londres. O livro escolhido foi o número 8 da lista “Mom & Me & Mom”. A ação de Emma no metrô de Londres contou com o apoio do projeto Books on The Underground, que incentiva os cidadãos a lerem e compartilharem livros no transporte público da cidade.