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Crítica: Joy (2015)

Mimi é uma senhora esperançosa, que sempre procura observar o lado bom da coisa. O lado bom da vida (Você se lembra bem desse filme, não é JLaw?). Mimi é a narradora da fantástica e imprevisível vida de Joy, uma dona de casa que faz de mil e uma coisas para deixar seu lar na perfeita harmonia, mesmo que ele nunca tenha ouvido falar essa palavra. Harmonia. Joy mora com seus dois filhos, a mãe que não larga o controle remoto e nem levanta da cama, com o ex-marido que habita seu porão, o pai que volta e meia está por ali e sua avó, a nossa amada e primeira conhecida, Mimi. A história de Joy é confusa, para nós e para a própria. O filme é inspirado na história real de Joy Mangano, e por ser um longa biográfico aceitamos algumas técnicas que em um filme de outro gênero não conseguiríamos nem ver. Comumente apontamos os acertos da trama nas críticas por aqui, comumente. Mas hoje começaremos pelos erros, pelos graves erros de “Joy”, indicado pela academia em apenas uma categoria, essa fora a de melhor atriz, pois não deveria ter ganho nem esta indicação, mas acredito que a Academia observou a tentativa de Jennifer Lawrence de trazer uma boa personagem para as telas, a massante tentativa de encorporar alguém resiliente quando a própria fora muito resiliente para fazer esse papel. Imagino Lawrence nos bastidores, pensando, pensando… como isso é ruim.

Comecemos por nosso amigo, David O. Rusell. O diretor tentou repetir a dose de “O lado bom da vida”, chamou De Niro, Lawrence, Cooper, todos aqueles com quem vem trabalhando habitualmente em diversos filmes, Rusell sabia que poderia produzir um belo filme com esse elenco, com essa história, infelizmente correu em direção ao pote com muita sede. Nem se convocasse um batalhão de medalhões e revelações do cinema mundial ele conseguiria transformar “Joy” em um novo “O Lado bom da Vida”, mesmo que esse segundo não tenha sido grande coisa, mas para a Academia fora. Oito indicações não é para todos. Para “Joy” uma já é de grande valor. Rusell só não peca, como foi mostrado no início, na escolha de elenco, ao menos supervisionou bem esta parte junto à Mary Vernieu , mas em todo o processo do longa você simplesmente se perde no labirinto criado pelo diretor, labirinto esse que nem ele teve consciência de ter fabricado.

O enredo de “Joy” falha bruscamente em várias cenas, vou dar um exemplo. Existe um momento, em que Joy e sua amiga, Jackie (Dascha Polanco) estão conversando, e bem ai, no meio da conversa o diálogo congela, não propositalmente, mas porque ali, bem no roteiro que foi revisado milhões de vezes, tenho certeza, houve um intervalo longo sem falas, um intervalo que prejudica o desenrolar da história e deixa a coisa toda artificial demais. O rosto de Lawrence muda totalemente, e nem falemos de Polanco, você não acredita primeiramente. Volta a cena, duas, três vezes, enfim cai em si que não é técnica ou expressão adicional das atrizes, mas sim um tremendo buraco no roteiro que deveria nos emocionar, deixar explícito o desespero da personagem. Falho até demais. Quando pensamos que o filme vai engrenar, lá pelos setenta minutos, ele nos decepciona. É uma cena que tem tudo para dar certo, Joy está se mostrando para o mundo por meio da televisão, ela e seu produto, você deve pensar: AGORA VAI. Não, não vai. Aquele era o momento de superação da personagem, ela iria vender enfim sua maior invenção até aquele dia, iria por fim deslanchar, mas a própria JLaw, com seu rostinho bonito e todo crédito que o cinema mundial lhe oferece, não consegue efetuar isso. Não a culpo por tudo, longe disso, falaremos mais a frente como a atriz carregou o filme nas costas, por hora continuemos no roteiro, que em todo caso é o maior culpado aqui. Nesta cena vemos o sangue nos olhos de Joy, sentimos que está se aproximando aquele ápice que tanto aguardamos, aquela cena que pode salvar o filme inteiro. Se fui tolo? Ah, foi por horas. Não vem, não aparece, Joy fala mais do mesmo e fim, acaba ali toda a emoção contida para o clímax da produção, acaba ou não? Bem, segura essa informação, todas essas na verdade, sobre o roteiro trágico e vamos para o próximo quesito.

A bela fotografia, obrigado senhor, odoyá Iemanjá, um ponto que comentarei feliz e sorridente como criança que vê Harry Potter pela primeira vez. Que incrível fora a fotografia de Joy, e junto à ela a mixagem de som, tudo isso ficou bem encaixado. Sobre a fotografia guardo na mente dois momentos incríveis, um desses é a cena final, a que aparece no poster divulgado para divulgação, imagem essa em que Joy está olhando para cima, não sabemos para onde até assistir o longa. Belíssima cena (UMA LUZ NO ROTEIRO) e mais um acerto da fotografia. Em todos os indicados do Oscar vemos lindas produções na fotografia, Mad Max, Sicario e O Regresso nem se falam, mas se observamos a sutileza de Carol, Joy, Brooklyn e A Garota Dinamarquesa ficamos surpresos, por tanta delicadeza e sentimentalismo nas tomadas e ângulos usados.

Sobre JLaw, exclusivamente neste filme, prometo que não citarei nenhum outro (novamente). É uma atuação esforçada, uma constante de tentativas que fazem da atriz uma heroína, sem exagero algum, nesta produção. Lawrence consegue se destacar mesmo o longa tendo diversos problemas, ela carrega, como falei, o filme nas costas. Todo o tom cômico e sarcástico que tentaram empregar na obra, não funciona bem, mas Lawrence arruma um jeito de consertar isso, colocar o trem nos trilhos, que pena que ele não chega na última estação inteiro. Os vagões de “Joy” vão se perdendo estrada a fora, cai roteiro de um lado, atores coadjuvantes do outro, enredo no meio do caminho, direção, bem, nem chegou a embarcar.

Um filme biográfico geralmente nos trás mensagens claras, ou de superação ou de avisos alarmantes, sempre foi assim e sempre vai ser. “A Teoria de Tudo” ano passado foi claro quanto a isso, o mesmo com “O Jogo da Imitação”, “Selma” foi uma explosão de bom filme desta categoria, agora “Joy” não atinge o que tanto esperamos, atrai o fã do cinema, o leva a se preparar totalmente para um bom filme, mas decepciona. No meio desta crítica falei que vocês deveriam guardar uma informação, ou melhor, uma pergunta: Acaba a emoção ali? Quase na segunda metade do filme? Não, a pouca emoção ainda ressurge no fim da obra. Por incrível de pareça, “Joy” começa a ficar bom no final,  inicia sua largada na última curva da corrida e nos deixa palpitando e com raiva por só ter melhorado ali. É um filme que não deveria se fazer presente na lista dos indicados pela Academia, mas como está, o que temos para hoje é assistir e conseguir sair vivo após a exibição do longa, vivo e sem traumas.

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