Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Carol (2015)

Therese Belivet é o cumulo da normalidade. Trabalho, casa, namorado, trabalho, casa… e por ai vai. Ela convive assim dia após dia, da loja em que é empregada até o apartamento de pequeno porte em Nova York, mas uma de suas clientes aparenta ser diferente, aparenta ser “de outra galáxia”, por assim dizer. Therese conhece Carol.

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O longa dirigido por Tood Raynes foi indicado em seis categorias pela Academia (Melhor Atriz, Melhor Atriz coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Trilha ORIGINAL e Melhor Figurino), tem Cate Blanchet estrelando seu elenco e uma das mais belas canções compostas para o cinema ano passado. Falar sobre “Carol” é uma tarefa difícil, mas a faremos com todo o cuidado e zelo possível, pois assim fora produzido o filme, com todo esmero e calma necessária. Belo, do início ao fim em todos os sentidos imagináveis, a história de Carol e Therese é algo anormal no cenário cinematográfico atual.

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O filme é uma adaptação do livro “The Price of Salt” de Patricia Higsmith, publicado em 1953 (Na época a obra foi publicada sob o pseudônimo Claire Morgan). Você pode adquirir o romance aqui no Brasil pela editora L&PM, assim como outros livros da autora, entre eles um famoso intitulado de “O talentoso Ripley”.  Algumas coisas diferem do livro para o longa, mas a história preserva sua essência, colocando sob a luz dos holofotes Therese primeiramente e depois apresentando Carol para o público. A adaptação foi feita com uma excelência de se espantar, os diálogos encaixados de uma forma que deixa qualquer um boquiaberto, a força das palavras se enquadraram perfeitamente com a voz firme de Blanchet, graças a isso “Carol” concorre na categoria de roteiro adaptado (merecidamente), e não me espantaria se o mesmo levasse o prêmio, é um dos pontos fortes do filme e devemos ficar de olho nessa possibilidade.

A história como foi dito logo no inicio, transcorre ao redor de Carol Aird e Therese Belivet. Carol compra um presente para sua filha na loja em que Therese trabalha e esquece suas luvas no estabelecimento. Cria-se ai uma ponte entre a aspirante à fotografa profissional e a mulher em processo de divórcio. Do outro lado desta ponte temos Carol encarando a separação, com um marido que conhece sua bissexualidade mas se recusa a aceitar, mesmo estando prestes a se divorciar da mulher. No meio de tudo temos a pequena Rindy, filha do trágico casal. Também marcando presença na trama podemos ver Abby, interpretada por Sarah Pulson, está que tivera um caso com Carol, mas que no presente momento não passa de fiel amiga. O cenário está montado para uma apresentação de sensibilidade imensa.

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Cate Blanchet aparece com sua genialidade típica, seu dom se espalha, em certos momentos assusta a quem lhe assiste. Indicada na categoria de “Melhor Atriz”, Blanchet explode em cada cena, seu olhar conquistador, sua forma de deixar transparecer cada sentimento, ódio, raiva, amor, tristeza,  é encantador vê-la atuar. Do mesmo modo temos Rooney Mara no papel de Therese. A sutileza que era necessária para a performance de Therese, Rooney disponibilizou, o que era preciso para termos a Therese ideal foi feito, e muito mais que isso, Mara deu um toque extra na personagem, fez com que sua dúvida constante, sua descoberta da verdade que há tanto já estava presente se transforma-se em algo casual, de uma realismo tremendo, de como é e nada mais. Assim como a interpretação das atrizes principais é a trilha sonora, uma das mais belas que vi, cada música composta especialmente para aquela situação caiu como uma luva, desde a cena em que Therese se encanta com Carol até o fim do longa, as músicas entraram em harmonia com o visual e isso não pode passar despercebido, a Academia vai ter um certo trabalho para escolher quem leva a estatueta de melhor trilha ORIGINAL esse ano, e temos “Carol” como candidato fortíssimo para o prêmio. Antes que me esqueça, voltemos para as interpretações, quero dar uma atenção especial para a pequena Sadie Heim, que atuou no papel de Rindy. A desenvoltura da garota em todas as cenas é de uma naturalidade imensa e mesmo com poucas aparições faz um trabalho excepcional.

A fotografia de “Carol” surpreende, mas não chega a ser a melhor entre todos os indicados, é uma belíssima fotografia que capta todos os sentimentos necessários para o filme mas não se compara a de “O Regresso”, que utilizou de diversas técnicas para a produção. Um detalhe sobre a fotografia de “Carol” me deixou em êxtase, em uma das cenas, entre os minutos finais, esse ponto da adaptação explode e se mostra bem maior do que fora durante cem minutos, somos jogados para a visão de Therese, no mesmo momento vemos planos horizontais do acontecimento, inverte-se a tela, muda-se o panorama, é incrível como lidaram com a cena e isso agrada a qualquer admirador cinematográfico (E a trilha sonora marcando presença com sua beleza de outro planeta nesta cena). Um último quesito a levantarmos, que também fora destacado pela Academia é o figurino, uma das indicações do longa. Todo o poderia de Carol Aird, seu andar encantador, suas curvas destacadas por roupas e mais roupas feitas singularmente, o mesmo ocorre com todos os outros personagens, isso nos leva para a época de uma forma genial, nada se encontra fora de seu lugar, não se comete anacronismos na elaboração do figurino e temos que aplaudir de pé, pois a maioria dos filmes o faz nem que seja em um detalhe aqui ou acolá.

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“Carol” nos coloca em duas posições, na de telespectador e de responsável por tudo aquilo, é engraçado pois a história se passa há quase um século atrás e mesmo assim o enredo se repete atualmente. Somos telespectadores a medida em que a paixão de Carol se encontra com a de Therese, a indecisão e o medo de ser o que não é, isso tudo vemos de longe, apenas captando pontos específicos, mas chega o momento em que o filme nos obrigada a invadir a história, em se mover perante tudo aquilo. “Carol” é um alerta de que evolução não significa progredir, de que mesmo com o passar do tempo o preconceito, a intolerância e a ignorância prevalecem, mas Carol também é sinal verde para a busca por direitos, por lugar na sociedade e nela poder atuar. No ano em que temos temáticas LGBTs em foco esse é um daqueles filmes que marcam época, principalmente por conseguir captar a pressão e rejeição posta sobre as pessoas por conta de suas respectivas essências, rejeição por pessoas que nada mais são do que elas próprias. É um desmascaramento do pior que o ser humano possui, ao mesmo tempo que mostra o melhor que podemos oferecer. “Carol” é um filme de extremos e isso mexe com todo o público, não é algo sarcástico ou passageiro, é obra para se ver centenas de vezes e sempre que vista conseguir observar um novo tópico, uma nova visão, mas sempre, em qualquer situação, a mensagem principal do filme aparecerá como uma placa imensa piscando na beira da estrada, dizendo: Deixe-nos amar. Deixe-nos viver. Incrível, eletrizante e perfeccionista do começo ao fim, que leve a maior quantidade de estatuetas que conseguir entre as suas seis indicações, que faça o que de melhor sabe fazer: conquiste. Assim como conquistou um fã árduo e encantado por todo o enredo e produção.

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